Reino Unido: Grandes mobilizações pela Palestina
Um milhão de pessoas marcharam em 11 de novembro exigindo cessar-fogo, o fim da ocupação e o fim do apartheid. Muitos exigiam o fim do genocídio. Foi a segunda maior manifestação na história do Reino Unido.
Por: International Socialist League (Liga Socialista Internacional)
As animadas manifestações pró-Palestina em várias cidades toda semana precisam ser enxergadas como um produto dos grandes ataques feitos para preservar essa ordem mundial decadente e os interesses do imperialismo contra a luta pela revolução socialista mundial. Os grandes antagonismos dentro da Grã-Bretanha são dominados pelos eventos internacionais e pelas crises nacionais. O declínio do país continua depois de 13 anos de austeridade, o péssimo gerenciamento da crise da pandemia da Covid-19 que levou a muitas mortes, o custo de vida, o fracasso do Brexit (e a falta da expansão do comércio), e a ganância e egoísmo dentro dos governos e corporações.
Tudo isso significa crise social. A pobreza cresce rapidamente e os interesses dos negócios são tratados como supremos, como na questão dos aluguéis: acontecem muitos despejos “inocentes” por parte de proprietários que aumentam os aluguéis implacavelmente, particularmente em Londres. Significa que muitos jovens ficam muito mais tempo nas casas de suas famílias porque os aluguéis são insustentáveis com salários baixos ou precários.
No entanto, é o horror dos bombardeios e massacres contra o povo de Gaza, e a deplorável e enviesada cobertura da mídia burguesa, que levou centenas de milhares para as ruas em apoio aos palestinos e exigindo um cessar-fogo por parte de Israel. A terrível verdade não pode ser escondida, e os palestinos estão mostrando via redes sociais para todo o mundo que as forças armadas de Israel estão jogando bombas e fósforo branco, destruindo vidas e devastando a Faixa. O bombardeio e obliteração de hospitais, escolas, centros infantis e campos de refugiados está movendo muitos jovens e trabalhadores na Grã-Bretanha. Apesar dos esforços de líderes mundiais, governos e da mídia burguesa para apoiar Israel e criminalizar e desumanizar os palestinos, o apoio à Palestina está crescendo exponencialmente. E agora os ministros de Israel caracterizam os ataques a Gaza como uma Segunda Nakba – não estão nem fingindo mais.
Nesta guerra, o papel das redes sociais é enorme pela quantidade de jovens que as usam. Muitos não leem os diários burgueses – conseguem suas notícias diretamente de Gaza e as difundem. Conseguem ver que muitas pessoas pensam e sentem como elas na questão na defesa de Gaza, então a solidariedade está sendo construída antes das manifestações. Produzem e escrevem análises e tem uma imagem bastante precisa do que está ocorrendo. Aqueles com os quais nós conversamos têm a mesma conclusão: qualquer ideia de dois estados está morta. Isso conta com dirigentes sindicais como os do FBU (bombeiros) e os do PCS (sindicato dos setores público e comercial).
Há greves escolares que irrompem em manifestações, principalmente em regiões mais pobres e imigrantes. Essas manifestações incluem pessoas de diversas comunidades como parte de sua solidariedade entre a Palestina, outros povos oprimidos e uma nova geração da juventude. Muitas organizações de judeus estão participando dos atos e condenando o sionismo.
Da Real News: “Dois dias antes do enorme protesto, centenas de trabalhadores da saúde se manifestaram fora do Departamento de Saúde em Londres exigindo repúdio aos ataques a hospitais, escolas, casas e mesquitas palestinas, chamando o Reino Unido a suspender todos os tratados de vendas de armas com Israel, e o fim de sua cumplicidade com o genocídio dos palestinos.
“Também ouvimos detalhes perturbadores dos médicos palestinos sobre as condições desumanas sob as quais estão tendo que trabalhar, inclusive o risco de morte constante.
“Isso foi tudo organizado sob a bandeira dos Health Workers For A Free Palestine, um dos numerosos grupos auto-organizados que surgiram em Londres nas últimas semanas conforme o movimento rapidamente cresce para parar a limpeza étnica israelense.”
O governo conservador está destruindo o NHS e o Partido Trabalhista se recusa a defendê-lo. Há um movimento de massas em defesa da saúde pública e muitos dos que lutaram por salários e pela defesa do NHS agora estão se mobilizando pela Palestina.
A oposição história dos sindicatos ao sionismo, e de forma mais generalizada na classe trabalhadora, também está sendo captada pela juventude. O governo do Reino Unido é pró-genocídio – pró Segunda Nakba. Estão tentando deportar palestinos e quaisquer estrangeiros que cometa “crimes de ódio” contra Israel. O governo está tentando deportar um líder da sociedade palestina da Universidade de Manchester, que falou na TV sobre seu apoio à Palestina. Mas há muito apoio a ela. Recentemente o governo ordenou à polícia que investigue incidentes em que discursos sejam menos que criminosos, mas contra Israel, para poder deportar participantes estrangeiros. Esses ataques revoltam muita gente.
Enquanto isso acontece, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, em 15 de novembro, que a política governamental de deportar solicitantes de refúgio vindos de Ruanda é ilegal, num revés para o governo de Rishi Sunak. Essa proposta tinha sofrido oposição por parte de alguns sindicatos e muitos ativistas.
Há um número crescente de estudantes palestinos e árabes. Por exemplo, quando a sociedade estudantil Liverpool-Palestine começou três anos atrás tinha apenas uns poucos palestinos. Agora são muitos e são apoiados por muitos estudantes árabes.
Em sete de outubro, grupos de sindicalistas negros imediatamente começaram a pressionar seus sindicatos para apoiar à Palestina. Conversaram sobre a rica história de laços entre os ativistas americanos negros e os ativistas palestinos, bem conhecidas por esses grupos na Grã-Bretanha. Falaram sobre conexões que vem desde a fundação de Israel, que se aprofundaram na última década, conforme os ativistas negros enxergam suas causas como relacionadas ou explicitamente conectadas. Dois especificamente mencionados foram Bassem Masri, palestino-estadunidense, um dos ativistas mais vocais de Ferguson, que morreu em 2018 aos 31 anos de idade. Outro foi George Floyd; murais em homenagem a Floyd foram pintados na Palestina e quando atacados pelas forças de Israel, os pintores protestavam com “não conseguimos respirar”.
Há eventos organizados de negros falando sobre a história de genocídios na Palestina, Sudão e Congo. Sem dúvida o genocídio cometido pelo colonialismo e imperialismo britânico na Índia vai surgir no debate.
Outras forças impulsionadoras são defensoras de povos oprimidos da Ásia, da América Latina e etc. no Reino Unido, setores das velhas comunidades irlandesas e muitos na Escócia. Os torcedores do Celtic levaram centenas de cartazes para as partidas de futebol em Glasgow, a gerência do clube tentou banir isso, mas fracassou.
Existe uma longa história de apoio aos palestinos na classe trabalhadora britânica, incluindo no movimento trotskista. A campanha de solidariedade à Palestina (PSC) começou em 1982, durante o governo Thatcher, e é hoje a maior organização pró-Palestina no país. A PSC, como todas as organizações dirigindo as manifestações, são inadequadas ou pior. A PSC é baseada nos sindicatos, mas controlada pela burocracia sindical.
Por exemplo, a PSC suspendeu quatro dirigentes palestinos de sua seção de Manchester – que é renomada por ser implacável em seu apoio à luta de libertação palestina.
“Manchester Apoia a Resistência Palestina”, e “Lutadores pela liberdade palestina na Gaza sitiada destruíram barreiras coloniais e entraram em assentamentos construídos na terra palestina dentro da Palestina de 49”, publicaram digitalmente antes de serem removidos.
Eles foram suspensos sem aviso e não parecem ter direito a recurso. [ii]
Tentativas de retirar nossos direitos democráticos
O governo tentou banir os protestos como “antissemitas” e disse à polícia para prender aqueles que cantam “Palestina livre do rio ao mar”, mas a polícia não tem o poder legal de banir marchas e o slogan.
A então secretária de assuntos internos, Suella Braverman (demitida em 13 de novembro), queria banir a manifestação de 15 de novembro porque caía no mesmo dia em que o “Dia da Lembrança”, que marca a morte dos soldados britânicos nas guerras mundiais. Essa tentativa de proscrição fez ainda mais pessoas quererem ir.
Todos conseguem ver que Braverman discursa para a ultra-direita e o fascismo, tentando ganhar suporte nas ruas para suas posições. Mas o apoio a imigrantes e sua defesa está crescendo.
Ao mesmo tempo, trabalhadores da educação estão sendo forçados a monitorar seus estudantes e tem se tornado alvos de investigação sob a Prevent [parte de uma lei de combate ao terrorismo]. Na educação superior, um ministro caluniou membros do sindicato UCU que apoiaram à Palestina mesmo que apenas em particular. “Como resultado, a UK Research and Innovation (UKRI, uma entidade que coordena financiamento de pesquisa) suspendeu seu conselho de Igualdade, Diversidade e Inclusão. Pior ainda, descobrimos que empregados do governo estão produzindo dossiês secretos sobre nossos membros que demonstram apoio via posts nas redes sociais a temas como”[i] Palestina, Black Lives Matter, direitos de pessoas trans, greves e críticas ao governo. Uma campanha de denúncia foi iniciada pelo sindicato.
O governo está elaborando uma lei para tornar a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel) ilegal. A central sindical TUC aprovou uma moção no congresso de setembro de 2023 em apoio ao BDS e contra qualquer tentativa de torná-lo ilegal, refletindo a pressão de sua base
Uma nova situação
Há profundas mudanças acontecendo na Grã-Bretanha e em sua classe trabalhadora, começando com a onda de greves e continuando com as manifestações pró-Palestina. Há uma crescente campanha de BDS no país que conseguiu algumas vitórias, incluindo o fechamento de três fábricas que produziam armas para Israel.
O SNP, Partido Nacional Escocês, em 15 de novembro propôs uma moção por um cessar fogo. Ela foi derrotada e apenas 52 deputados do Partido Trabalhista votaram a favor. Keir Starmer, o líder dos trabalhistas, não apoia um cessar fogo, mas defende o “direito de Israel se defender”.
Precisamos construir um novo partido de trabalhadores grevistas, de pessoas oprimidas e jovens que estão nas ruas pela Palestina livre. Todos os deputados, conselheiros e membros que seriamente estejam a favor de defender a Palestina tem um único caminho em frente: sair do Partido Trabalhista e começar a construir um novo partido para a luta nacional e internacional. Esse partido precisa ter independência de classe, ser parte da luta palestina e lutar contra todas as relações diplomáticas e militares com Israel.
Esse seria um enorme passo na luta pelo internacionalismo de classe e o poder operário.
Nossa tarefa é construir a centralidade da classe trabalhadora na luta, através de colunas sindicais nos atos, da construção do BDS a partir dos sindicatos, e do encorajamento de ações como os boicotes declarados por trabalhadores portuários em Oakland nos EUA, Barcelona no Estado Espanhol, Sidney na Austrália e Liverpool no Reino Unido.
Chega de armas para Israel! BDS JÁ!
Fim do genocídio!
Palestina livre, do rio ao mar!