dom dez 10, 2023
domingo, dezembro 10, 2023

Massa não é opção para derrotar a “direita”

Esta semana, a Esquerda Socialista (IS) divulgou um comunicado no qual – embora declare respeitar aqueles que chamam a votar em branco, impugnar ou não votar – chamam a um voto crítico em Sergio Massa para que Javier Milei não ganhe. Argumentam que este último personagem é um “facho” (fascista) que “encarna um projeto de ultradireita e retrógrado”.

Por: PSTU-Argentina

Em toda a declaração, é visível a ausência da centralidade da única e verdadeira opção para a crise: a luta operária e popular contra o FMI e os seus agentes, contra a repressão governamental e o entreguismo e traição dos dirigentes. Uma saída que deveria estar no centro de todas as propostas de um partido revolucionário e trotskista, particularmente numa situação como a atual.

No entanto, os camaradas da IS parecem ter esquecido que se nós, revolucionários, dissermos aos trabalhadores que para deter a ultra direita não temos de lutar contra ela, mas sim votar na direita “não ultra”, dificilmente seremos capazes de, amanhã, convencer, que a democracia dos ricos não é a nossa democracia. Menos ainda seríamos capazes de fazê-los concluir que devemos derrota-la para impor um governo dos trabalhadores e do povo.

Caindo diante do pacifismo e da legalidade patronal

Pelo contrário, a afirmação da IS vai na direção oposta. As leves acusações de “fachos” a alguns candidatos com chance de vitória não levam a uma convocatória à organização da autodefesa. Apesar de tudo, nosso mestre comum, Nahuel Moreno, nos ensinou que “com o fascismo não se discute, mas sim se destrói”.

Perante as posições desastrosas de Milei com respeito à Ditadura, às privatizações, e assim por diante, a declaração da IS coloca mais ênfase no voto em Massa do que na organização de mobilizações e na exigência de que os dirigentes sindicais e populares convoquem a planos de luta.

Para finalizar, no pacifismo que permeia toda a declaração, Milei é criticado por defender o livre porte de armas, em vez de apelar às organizações operárias e populares para que comecem a organizar grupos de autodefesa assim que esta lei for aprovada, para enfrentar a repressão legal ou clandestina.

Abandonando a independência de classe

Mas o mais grave de tudo é que em vez de dialogar tanto com os trabalhadores que votaram em Massa por medo de Milei, como com aqueles que votaram em Milei por rejeição a Massa, a posição da IS cede às superstições dos primeiros.

Sabendo que aqueles que votaram tanto num candidato como no outro estão insatisfeitos com a situação desastrosa que temos sofrido, nós, revolucionários, temos que propor a ambos os sectores, não se dividirem no apoio aos dois agentes do FMI, adversários, mas sim unir-se para lutar contra ambos, agora e depois do segundo turno.

Neste momento da história, com uma burguesia que dificilmente consegue controlar o seu declínio, o caminho para a construção de uma alternativa política para os trabalhadores começa pela denúncia da armadilha do voto. Votar no Governo cujo ajuste fez crescer a alternativa de direita de Milei é entrar num ciclo sem fim. Ceder às pressões do peronismo kirchnerista não nos permite ganhar respeito pela sua militância de base, nem nos ajuda a construir essa alternativa.

Seguir o caminho de Trotsky e Moreno

Não se trata de se envolver em discussões de princípios para mandar a bola para fora: aqui é preciso ver a realidade na forma como nossos mestres nos ensinaram.

Não é o movimento de massas que está em crise, mas a burguesia e os seus partidos. A classe operária não foi derrotada. Se a política é a arte de concentrar as forças próprias e dividir as dos outros, devemos ter consignas que unam a nossa classe e a coloquem em movimento contra os exploradores. Caso contrário, essa queda de braços que é a luta de classes poderá mudar e dar origem a uma terrível ofensiva patronal. Por esta razão, apelamos à militância e à direção da IS para que revejam esta posição e a corrijam: como Moreno nos ensinou, temos que saber corrigir os nossos erros quando erramos. Nos próximos dias, tal retificação será mais do que necessária.

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