qua jul 24, 2024
quarta-feira, julho 24, 2024

Genocídio e limpeza étnica na Palestina avançam, mas também resistência e solidariedade

Mais de 10.300 palestinos mortos, entre os quais 70% são crianças e mulheres, além de milhares de desaparecidos sobre os escombros. Entre os assassinados, ainda, 31 trabalhadores da Defesa Civil e outras dezenas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), 192 profissionais da saúde e aproximadamente 50 jornalistas. 

Por Soraya Misleh

Já são cerca de 30 mil feridos, sem água, eletricidade, combustível, bem como comunicação. Quarenta e cinco mil casas completamente destruídas e 250 mil, parcialmente. E, também, 119 mesquitas, sete igrejas, 290 escolas (das quais 50 da UNRWA), 40 ambulâncias, 120 instituições de saúde, 40 hospitais danificados e 16 sem condições de funcionar, por conta dos bombardeios e cortes de insumos básicos. 

Esse é saldo de um mês de genocídio em Gaza, segundo a organização internacional Hashd.

Duas bombas de Hiroshima

Entre 7 de outubro e 7 de novembro, o Estado terrorista de Israel lançou, ininterruptamente, 30 mil toneladas de explosivos sobre as estruturas e os 2,4 milhões de palestinos e palestinas da estreita faixa de Gaza. O volume equivale a duas bombas de Hiroshima. 

A cada dia, o horror e a barbárie inundam as redes sociais, assim como os clamores por socorro. No dia 6, um jovem médico em Gaza informava sobre o colapso total iminente nos hospitais, o que foi reafirmado pelo Crescente Vermelho Palestino. 

Em 48 horas tudo seria paralisado, com risco de morte para bebês em incubadoras e pacientes que dependem de aparelhos para sobreviver. Sem combustível, água, eletricidade, já inclusive com as cirurgias tendo que ser realizadas sem anestesia e os pacientes gravemente feridos precisando ser atendidos no chão, o genocídio segue em curso sob bombas, mas também sob a mão assassina sionista que impõe escuridão, sede e fome a toda a faixa de Gaza.

A única água disponível é a do mar

Uma jornalista denunciava, às lágrimas, que não tinham mais o que comer. Outro palestino mostrava as cinco tâmaras que eram o que restava como alimento. Outros, que a única água disponível para beber é a do mar, o que tem potencial de causar sérios problemas à saúde a quem sobreviver aos bombardeios, o que se converte em uma macabra loteria. 

A cada momento as cenas de horror se superam: tudo vira escombro e sangue. Absolutamente tudo: um bairro inteiro, um campo de refugiados estabelecido após a Nakba (catástrofe palestina desde a formação do Estado racista e colonial de Israel, em 15 de maio de 1948, mediante limpeza étnica planejada), um hospital, uma escola, uma ambulância, uma sede do Crescente Vermelho ou da UNRWA, com as poucas doações autorizadas a passar pela também bombardeada passagem de Rafah pelo Egito. 

Prisões e torturas

Para completar o cenário macabro imposto pelas forças de ocupação sionistas em aliança com o imperialismo estadunidense, 3.200 trabalhadores palestinos que estavam desaparecidos desde 7 de outubro foram devolvidos por Israel para contar sobre as torturas bárbaras que sofreram nos cárceres dos algozes. 

Eles e elas eram parte dos 18.500 que serviam de mão de obra barata em Israel, com permissão para sair do gueto de Gaza (que já dura 15 anos, resistindo a vários bombardeios massivos ou a conta-gotas). Ainda outros seguem desaparecidos, com relatos de que alguns foram abandonados na Cisjordânia e outros continuam nas terríveis prisões sionistas. 

Todos os demais tiveram suas licenças cassadas para morrer de fome junto com os seus na estreita faixa, um verdadeiro campo de concentração a céu aberto, enfrentando o genocídio por ar, mar e terra.

Uma nova Nakba

Morte e tortura também na Cisjordânia

Na outra parte da Palestina ocupada militarmente em 1967 – a Cisjordânia –, já são mais de 150 mortos nos últimos 30 dias e 2.200 feridos, além de 2 mil presos políticos que se somam aos 5.200 que já se encontravam nos cárceres odiosos sionistas, sob tortura e toda sorte de maus tratos. Há relatos do desaparecimento de prisioneiros palestinos, cortes de eletricidade, quase nenhuma alimentação.

A limpeza étnica, que já avançava, deixando até 7 de outubro, 270 palestinos mortos, entre os quais 65 crianças, acompanha, agora, o estágio da solução final empregada com extrema brutalidade e crueldade em Gaza nesta nova fase da Nakba. 

Os pogroms (perseguições e ataques), que vinham acontecendo também antes do início de outubro, ganham impulso após Netanyahu ter dobrado a aposta no extermínio, distribuindo ainda mais armas para os colonos sionistas. Seu grito de guerra unilateral contra o povo palestino é expresso também nas paredes: “Morte aos árabes!”, “Uma segunda Nakba está vindo!”. Ganha, agora, a versão “Cemitério de Gaza!”.

Mobilizações e a exigência ao Brasil

Lula, rompa relações com o Estado terrorista de Israel!

A esperança, agora, é na heroica resistência palestina, nas ruas e nos distintos protestos, com destaque para a classe trabalhadora europeia e estadunidense que tem barrado, nos portos, a saída de navios carregados de armas para o genocídio em Gaza e a ação de milhares de judeus antissionistas que levantam a bandeira: “Não em nosso nome!” “Nunca mais é nunca mais para todo mundo!”

Milhares têm ocupado as ruas nos EUA, na Europa, na América Latina, na África, na Oceania, na Ásia, no Oriente Médio. O dia 4 de novembro levou milhões às ruas pelo fim do genocídio e pela libertação da Palestina, nos quatro cantos do mundo.

No Brasil, houve manifestações do Norte ao Sul. A maior delas ocorreu em São Paulo, reunindo cerca de 12 mil pessoas. Os protestos têm trazido a exigência fundamental a Lula de ruptura imediata de relações econômicas e diplomáticas com o Estado terrorista de Israel. 

O Brasil não pode continuar a adiar essa ação, sob a tentativa de negociar a libertação dos 34 brasileiros de Gaza. É uma chantagem sionista que o país não deve sucumbir. Por seu papel de liderança na região, sua responsabilidade em romper a cumplicidade internacional histórica é ainda maior. Se o Brasil der esse passo, é provável que mais e mais países da América Latina o sigam. 

A melhor forma de proteger os brasileiros e suas famílias aprisionados no gueto de Gaza é cessar o genocídio. E isolar o Estado terrorista de Israel é passo fundamental nessa direção. Não há mediação com genocídio e limpeza étnica. É urgente que o Brasil ouça as vozes das ruas e se coloque, de uma vez por todas, do lado certo da História. É questão de vida ou morte.

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