qua jul 24, 2024
quarta-feira, julho 24, 2024

“Somos milhares, somos milhões, somos todos palestinos”

No dia 04, uma gigantesca onda de solidariedade à Palestina varreu o mundo!

Por: Wilson Honório da Silva

As centenas de milhares de pessoas que saíram às ruas nas principais cidades do mundo em 4 de novembro, exigindo o imediato cessar fogo em Gaza, engrossaram o grito de “Basta é basta!”, se colocaram na contramão da cumplicidade criminosa com o genocídio em curso por parte da maioria de seus próprios governos e seus agentes nas Nações Unidas e na imprensa, clamando por ações concretas.

Foram registrados protestos em praticamente todas as partes do mundo. Os maiores foram nas capitais dos Estados Unidos (Washington D.C.), Inglaterra (Londres) e França (Paris), mas milhares também tomaram as ruas das principais cidades da Europa, Ásia, África, Oriente Médio e Américas, muitas delas se enfrentando com seus próprios governos.

Intensificar este tipo de solidariedade ativa é fundamental, até mesmo pela dimensão das atrocidades praticadas por Israel que, nas últimas semanas, ao bombardear e atacar a cidade de forma generalizada. Também no sábado, a organização “Médicos Sem Fronteiras”, que está tentando prestar atendimento em Gaza, reforçou o chamado pelo imediato cessar-fogo.

“Este é um novo nível de baixeza em um fluxo interminável de violência inaceitável. Os repetidos ataques a hospitais, ambulâncias, áreas densamente povoadas e campos de refugiados são vergonhosos. Quantas pessoas terão que morrer antes que os líderes mundiais acordem e peçam um cessar-fogo?”, disse o grupo em um Tweet.

Também no dia 4, as entidades da Saúde em Gaza divulgaram que o número de palestinos mortos subiu para, no mínimo, 9.488; crianças e mulheres, na enorme maioria. Segundo a ONG “Save the children” (Salvem as crianças), o número de crianças mortas (cerca de 4 mil) é superior ao de todos os conflitos ao redor do mundo nos últimos quatro anos.

Dentre os mortos, encontram-se cerca de 70 jornalistas, uma quantidade similar de agentes da ONU e, além disso, há cerca de 23 mil feridos e um número desconhecido de pessoas sobre os escombros.

Assim como no Brasil, a “grande imprensa” tem atuado descaradamente ao lado de Israel, contribuindo para sua campanha de propaganda que vende o genocídio como uma “guerra da civilização contra terrorista” ou omitindo tudo que diz respeito à Palestina e seus apoiadores. Por isso, até mesmo a cobertura dos atos do dia 4 foi ignorada ou minimizada. De qualquer forma, confira como foram os atos em alguns países mundo afora (em ordem alfabética).

Alemanha

Segundo a agência de notícias “France 24”, cerca 17 mil pessoas tomaram as ruas de Berlin, apesar do governo local ter proibido manifestações em solidariedade aos palestinos, sob a esfarrapada desculpa de que elas incentivam o antissemitismo.

Neste mesmo sentido, foram proibidos cartazes que fizessem acusações ao genocídio praticado pelo Estado terrorista de Israel e o governo colocou mais de 1 mil policiais nas ruas para conter as manifestações, o que resultou, no mínimo, em cerca de 60 prisões.

Mesmo assim, muitos portavam cartazes exigindo o fim do genocídio e com a palavra de ordem “Do rio ao mar, exigimos igualdade”. Também foram registrados atos nas demais cidades importantes da Alemanha, como Duesseldorf (com 9 mil manifestantes), Hamburgo e várias outras.

Canadá

Houve protesto em pelo menos 25 cidades canadenses. O maior deles aconteceu em Toronto, onde há quatro semanas consecutivas têm acontecido manifestações pró-Palestina. Desta vez, estima-se que mais de 20 mil canadenses se reuniram em frente ao Consulado dos Estados Unidos e marcharam pelo centro da cidade, exigindo o fim dos ataques e do cerco a Gaza e uma Palestina livre.

Em entrevista ao portal “CP24”, Dalia Awwad, do Movimento da Juventude Palestina, falou sobre a importância das manifestações realizadas neste 4 de novembro e o recado que foi enviado para governantes mundo afora. “Se Israel continuar se recusando a cumprir os pedidos de cessar-fogo, o Canadá tem que parar de vender armas para Israel. Os EUA podem parar de vender armas para Israel e, assim, dificultar que eles continuem bombardeando civis”, disse a ativista.

Chile

As principais manifestações ocorreram na capital Santiago e em Valparaiso. Assim como no Brasil, em relação ao governo de Lula-Alckmin, uma das principais reivindicações no momento é que Gabriel Boric rompa as relações com o Estado terrorista e racista de Israel, como estampado na faixa dos companheiros e companheiras do “Movimento Internacionalista dos Trabalhadores”, o MIT, seção chilena da Liga Internacional dos Trabalhadores e partido-irmão do PSTU.

Estados Unidos

Como resultado de uma articulação que uniu cerca de 500 entidades de movimentos sociais e civis norte-americanos, houve manifestações em todas as grandes cidades do país, como San Francisco, Nova York, Seattle, Portland, Madison, dentre várias outras.

O maior protesto aconteceu na capital federal, Washington D.C., onde um número de manifestantes estimado em até 100 mil pessoas (veja o vídeo) se concentrou nos arredores da Casa Branca para mandar um recado para o presidente. “Biden, Biden, você não pode se esconder, você se alistou para um genocídio” e “Você tem as mãos sujas de sangue” foram algumas das palavras de ordem mais repetidas.

Acontecendo em meio a um complicado cenário pré-eleitoral, os protestos também são um prenúncio dos problemas que o atual presidente irá enfrentar ao não se diferenciar em nada da política da extrema direita “trumpista” que ele diz combater. Em todos os cantos do país foram vistos manifestantes carregando faixas e cartazes com os dizeres “Biden nos traiu” e “Em novembro, nós iremos lembrar”.

Segundo artigo publicado pela agência Reuters, muitos também carregavam faixas e cartazes denunciando o Partido Democrata e organizações e personalidades que dizem defender os direitos civis como sendo “liberais de duas caras”, que não servem como “refúgio para os direitos humanos”.

A dimensão e composição do protesto em Washington D.C. foram sintetizadas pela repórter da agência “Al Jazeera”. “Estou cercada por um mar de manifestantes, mais do que já vi desde o início da guerra em Gaza. A multidão ao meu redor não é formada apenas por árabes americanos, que estão se manifestando em apoio aos palestinos em Gaza, mas também por muitos americanos de todas as classes sociais”, disse Heidi Zhou-Castro.

Na reportagem da Al Jazeera também foi destacada a forte presença de judeus norte-americanos antissionistas. “Sou um ser humano e me preocupo com as pessoas em Gaza que estão sendo assassinadas. Eu me preocupo com o genocídio que está ocorrendo em nome do povo judeu, levado a cabo pelos sionistas que não representam o judaísmo. Eu me oponho ao fato de os EUA financiem essa guerra genocida. É isso que estamos fazendo – isso não aconteceria se os EUA não financiassem Israel”, disse um judeu norte-americano à agência de notícias.

Já em uma mensagem enviada para a CNN, Yara Shoufani, do Movimento da Juventude Palestina, uma das organizações que convocou a Marcha a Washington, destacou a importância do Dia de Ação Global em Solidariedade à Palestina: “Essa onda de protestos que estamos fazendo nos EUA e em todo o mundo está entre as maiores que já vimos em favor da Palestina e mostra que os palestinos já estão fartos. Por 75 anos, o povo palestino tem enfrentado a colonização e a ocupação militar e, no caso de Gaza, tem sido mantidos em uma prisão a céu aberto devido ao bloqueio de Israel”.

França

Segundo a imprensa local, as principais cidades francesas também foram sacudidas pelos gritos de “Basta é basta!” e “Palestina Livre!”. Apesar de já terem acontecido outras manifestações no país, estas foram as primeiras “autorizadas” pelo governo que, em seus esforços para acobertar os crimes de Israel, estava tentando impedir que a juventude e os trabalhadores franceses manifestassem seu repúdio à guerra.

Um dos maiores atos foi em Lyon, onde se reuniram cerca de 5 mil pessoas. Em Paris, onde houve o maior protesto, a polícia divulgou um número de 20 mil pessoas, enquanto a central sindical CGT estima que 60 mil trabalhadores e jovens saíram às ruas, exigindo o fim imediato dos ataques aos gritos de “Fazer nada, dizer nada é ser cúmplice”.

Mesmo autorizada, a manifestação em Paris teve sua área de circulação restrita, foi cercada por fortíssima vigilância e marcada por atos de repressão. O que, contudo, não pode conter os protestos e os gritos uníssonos que tomaram as ruas denunciando também o presidente francês: “Macron, cúmplice!”,

Itália

A imprensa de Milão noticiou que cerca de 4 mil manifestantes marcharam pela cidade sob o “slogan” “Parem a guerra, não ao racismo”. Não muito distante do local do ato, o partido Liga Norte, de ultradireita, realizou um protesto pró-Israel, bem menor e com um asqueroso chamado em “defesa da civilização”.

Em entrevista à agência de notícias francesa “Le Monde”, Yara Abushab, uma estudante de Medicina da Universidade de Gaza e que se transferiu para Milão no início do mês, descreveu a situação em seu país. “Eles bombardearam minha universidade, meu hospital. Perdi muitos entes queridos e, neste momento, a última vez que tive notícias de minha família foi há uma semana. A situação é indescritível”, disse a jovem de 22 anos.

Reino Unido

Foram registrados protestos nas principais cidades da Inglaterra, como Manchester, Oxford, Newcastle e Liverpool, e em outros países do Reino Unido, como Escócia e Irlanda. O maior deles foi em Londres, capital da Inglaterra. Todos foram marcados por um forte repúdio ao primeiro ministro Rishi Sunak, que tem sido um dos principais aliados de Israel e dos Estados Unidos no bloqueio de qualquer iniciativa em direção ao cessar fogo. No mínimo, 29 pessoas foram presas. Assim como nas ruas dos EUA, uma das palavras de ordem mais ouvidas foi “Somos milhares, somos milhões! Somos todos palestinos!”.

Em Londres, onde a polícia falou em 40 mil pessoas (apesar da própria instituição ter estimado que o número por ter chego a 100 mil), os manifestantes fizeram um “sit in” (ocupação, sentados no chão) em pontos chaves da cidade, como as estações ferroviárias de Edinburgo e Glascow, as ruas do Centro e as praça Picadilly e Trafalgar, interrompendo as operações e paralisando o tráfego.

Segundo reportagem do portal do jornal “The Guardian”, em um dos vagões de trem ocupado por manifestantes, as principais palavras de ordem ouvidas foram “A resistência é justificada quando a Palestina está ocupada” e “Só há uma solução: uma revolução intifada”.

Senegal

No país de enorme maioria islâmica e localizado na África Ocidental, o governo também tem proibido a realização de protestos. Mesmo assim, neste sábado, milhares saíram às ruas, concentrando-se na principal mesquita da capital Dakar, exigindo o cessar fogo.

Turquia

Manifestações nas duas principais cidades do país, Ankara e Istambul, reuniram milhares de turcos que também carregavam cartazes em protesto contra a presença do Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que está no país. “Israel bombardeia hospitais, os EUA pagam por isto” foi uma das palavras de ordem mais ouvidas durante o protesto.

Como parte do dia de ação global em solidariedade aos palestinos, os turcos também organizaram um “Comboio da Liberdade para a Palestina”, com milhares de veículos se dirigindo à base militar mantida por turcos e norte-americanos em Incirlik, no Sul do país.

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