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sexta-feira, julho 26, 2024

A União Europeia e seus governos apoiam o genocídio e a limpeza étnica promovida por Israel

A campanha de propaganda da União europeia (UE), dos seus governos e de toda a grande mídia europeia é simplesmente brutal. Quem defender o povo palestino e não apoiar incondicionalmente o massacre genocida de Israel é criminalizado, tachado de cúmplice de terrorista e antissemita.

Por: LIT – Europa

Por trás da bandeira do “direito à defesa” há um plano de limpeza étnica

Toda esta campanha quer ocultar que não estamos diante de nenhum legítimo “direito à defesa” de Israel. Não há guerra entre dois exércitos, mas um genocídio. Os palestinos não têm aviões, nem tanques, nem artilharia, nem marinha de guerra. Por trás da falsa bandeira do “direito à defesa” há um plano em marcha para destruir Gaza, exterminar setores inteiros de sua população e expulsar o resto para o deserto do Sinai, no Egito.

O bombardeio do hospital Al Ahly com 500 mortos é mostra viva da política sionista de extermínio. A escandalosa imputação de responsabilidade à guerrilha da Jihad Islâmica é uma ignomínia. Não por acaso, Biden que aceita a versão israelense, se nega a uma investigação internacional.

O Estado de Israel, com o apoio dos EUA e dos governos europeus, está implementando um plano de limpeza étnica. Assistimos à aplicação cruel da segunda Nakba [catástrofe][1], que não se limita à Gaza, mas abarca também Jerusalém oriental e Cisjordânia, onde bandos de colonos armados, protegidos e apoiados pelo exército israelense, se apropriam das terras palestinas e aterrorizam e massacram a população local, buscando sua expulsão para a Jordânia.

Desde o ano de 2000 até este 7 de outubro, dia da incursão do Hamas, 2.287 palestinos foram assassinados na Cisjordânia. A partir de 7 de outubro e até o dia 23, mais de 5.000 pessoas morreram na Faixa de Gaza, das quais mais de 2.000 eram menores de idade. Entretanto, Israel concentra tropas na fronteira de Gaza e mantém os bombardeios aos bairros, enquanto prepara uma invasão por terra. Até agora, mais de um terço dos edifícios de Gaza foram demolidos pelas bombas.

Os métodos empregados por Israel contra os palestinos de Gaza podem ser comparados com os que os nazistas usaram para esmagar o levante do Gueto de Varsóvia em 1943. Do mesmo modo, a atuação dos colonos na Cisjordânia pode ser equiparada aos pogroms antissemitas contra os judeus. Como os nazistas fizeram com os judeus, o Estado de Israel não vacilou em negar a humanidade aos palestinos e os reduziu, nas palavras do ministro de Defesa Yoav Gallant, à condição de “animais”.

A UE e os governos europeus são fossas de hipocrisia

A UE e os governos europeus enchem a boca falando de condenações contra o “terrorismo” do Hamas, cujo maior crime foi deixar no ridículo o sexto exército do mundo. Iluminaram com a bandeira sionista a sede da Comissão Europeia, a torre Eiffel e o Portão de Brandemburgo. Perseguiram manifestações em defesa dos palestinos e contra os crimes de guerra israelenses na França, Alemanha e Grã Bretanha, com a desculpa de que são “suscetíveis de gerar alterações da ordem pública”. Na França e na Alemanha ameaçaram ilegalizar as organizações pró-palestinas e Macron aproveita a ocasião para militarizar o país. Apesar disso, não puderam evitar grandes mobilizações de milhares de pessoas nas ruas europeias.

Os chefes de governo europeus acudiram, solícitos em abraçar Netanhayu e prestar-lhe seu apoio incondicional. O alemão Scholz foi o primeiro chefe de governo a visitá-lo e declarar que “a segurança de Israel é uma questão de Estado” para a Alemanha e só Israel deve decidir até quando durará a operação genocida contra Gaza.

Também estiveram a italiana Meloni, Macron ou o britânico Rishi Sunak…A presidenta da Comissão Europeia, Von der Leyen, e a do Parlamento europeu, Metsola, foram rápidas em prestar seu apoio incondicional a Netanyahu. Von der Leyen nem sequer mencionou as palavras rituais sobre o “respeito ao direito humanitário”. Enquanto isso, seu Comissário para a Vizinhança, Várhelyi, declarava que a Comissão suspendia unilateralmente toda ajuda humanitária aos palestinos.

O comportamento de Von der Leyen foi tão escandaloso que diferentes governos europeus, presididos pelo comissário Borrell, a criticaram por não fazer nem uma só referência ao “respeito do direito humanitário”. Com esta “crítica” queriam se resguardar perante suas opiniões públicas, uma vez que expressavam seu temor à extensão do conflito na região. Da mesma forma, se opuseram que a Comissão suspendesse a ajuda humanitária (que, de qualquer maneira, Israel não deixa entrar).

Mas a apelação ao “respeito ao direito humanitário” não é mais que uma formalidade vazia, pois todos eles sabem perfeitamente que Israel não o respeitou antes, não respeita agora e não respeitará amanhã. Pelo contrário, sob o rótulo do “direito de Israel a defender-se”, estão apoiando abertamente um genocídio sem que saia de sua boca uma só denúncia contra os massacres israelenses; sem exigir que o Tribunal Penal Internacional processe seus responsáveis; sem tomar nenhuma medida de punição contra eles; mantendo as relações diplomáticas e comerciais plenas ou continuando o fornecimento de armas a Israel. A UE e os governos exigem a libertação dos reféns em mãos das milícias palestinas, mas não dizem uma só palavra dos 6000 presos palestinos nas prisões israelenses, mais de 1000 deles em detenção administrativa.

Todos os governos da UE, desde os que aparecem mais descaradamente ao lado de Netanyahu até os que querem parecer mais “equidistantes” como o espanhol, compartilham esta mesma política.

A “soberania europeia” não é mais que a submissão aos EUA

Em suas cúpulas, falam de “soberania europeia” para depois subordinarem-se totalmente aos EUA, cujo apoio a Israel, nas palavras de Biden, é “sólido como uma rocha e inabalável’. Se a visita de Biden a Israel mostrou uns EUA decadentes, a política da UE mostra sua submissão e deixa em evidência sua crescente irrelevância no mundo. Muitas das armas de Biden para armar Israel e bombardear Gaza, saem da base italiana de Sigonella, na Sicília.

Os EUA não só concederam neste ano 4,4 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel, mas agora também se dispõem a entregar-lhe mais 14 bilhões de dólares. Estão entregando com urgência armas avançadas que Israel utiliza para o massacre de Gaza, enquanto se negam a facilitá-las para a Ucrânia se defender da agressão russa. Enviaram dois porta-aviões à zona, com seus respectivos grupos de combate e colocaram em estado de alerta 2.000 soldados para intervir na zona, se for necessário. Sua embaixadora na ONU declarou que não é o momento de se preocupar com os “danos colaterais”, embora isto signifique demolir a cidade de Gaza. Os EUA vetaram uma proposta de cessar-fogo humanitário no Conselho de Segurança da ONU.

As únicas vozes discordantes associadas a governos europeus foram as de algumas ministras do Podemos-Sumar do Executivo de Pedro Sánchez, em particular a de Direitos Sociais, Ione Belarra e a da Igualdade, Irene Montero, que exigiram o fim dos ataques sobre a população de Gaza, tacharam a resposta israelense de genocídio planificado e sugeriram – com certeza infrutiferamente – que o governo interino de Sánchez, do qual fazem parte, suspenda relações diplomáticas com Israel, aplique sanções econômicas e leve Netanyahu à Corte Penal Internacional. Porém, mais além de suas palavras, que se separam da unanimidade criminosa da UE e seus governos, sua posição é hipócrita porque sabem que se Pedro Sánchez finalmente conseguir formar governo (com elas dentro) sua política em relação a Israel continuará sendo, como até agora, perfeitamente alinhada com a da UE e dos EUA.

A “solução dos dois Estados”

Há um aspecto no qual tanto Sánchez como Podemos-Sumar concordam e que foi mencionado pelo próprio comissário europeu Borrell: a reivindicação dos dois Estados como “a única solução viável para alcançar uma situação de paz e estabilidade na região”. Borrell disse também que o interlocutor palestino da UE é Mahmud Abas, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina). Sumar- Podemos, em suas negociações com o PSOE para formar governo, pedem a Sánchez que o próximo governo reconheça unilateralmente a Palestina, porque se esperar que a UE o faça, não o fará nunca.

A verdade é que neste momento há vários Estados da UE que já reconhecem o “Estado” palestino. É o caso da República Checa, Chipre, Bulgária, Suécia ou Hungria. Será que Sumar-Podemos pensa que acrescentar a esta fútil lista o nome do Estado espanhol mudará alguma coisa?

É comum entre a esquerda europeia a defesa dos dois Estados como “solução” ao conflito. China e Rússia também a defendem, assim como os regimes árabes reacionários. Mas esta opção nunca foi solução para nada e agora muito menos. A “solução” dos dois Estados pressupõe legalizar a ocupação colonial israelense, renunciar ao retorno dos 5,9 milhões de refugiados e refugiadas palestinas e aceitar a formação de um pseudo- estado sem sequer continuidade territorial e sem as competências básicas que definem um Estado, que ficariam nas mãos do Estado de Israel.

Porém, além disso, esta “solução”, depois de 75 anos de colonização, da ocupação de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Leste a partir de 1967 e da política, cada vez mais frenética de assentamentos ilegais em terras palestinas, se tornou uma piada macabra e uma quimera impossível. Israel controla atualmente 60% da Cisjordânia mediante um sistema de Apartheid, instalou 279 colônias ilegais e instaurou uma política de terror em combinação com os colonos. Um dos ministros israelenses responsáveis pela administração da Cisjordânia, Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional é um sujeito que foi processado como terrorista pelos próprios tribunais israelenses e que declarou publicamente que “deve-se matar todos os árabes”.

Por outro lado, a ANP, dirigida por Mahmud Abbas, é uma estrutura corrupta, reduzida a uma parte da Cisjordânia, cuja missão fundamental é agir como polícia interna a serviço do ocupante israelense. A ANP é odiada nas ruas palestinas e especialmente pela juventude. Por esta razão, não realiza eleições presidenciais desde 2005 e para o parlamento palestino desde 2006, nas quais o Hamas venceu. É esta ANP sinistra que se quer reconhecer como “Estado” palestino?

A solução é aquela que as ruas palestinas e os judeus antissionistas defendem: o estabelecimento de uma Palestina laica, democrática e não racista em todo o território histórico da Palestina (“do rio ao mar”). Uma Palestina sem muros, sem postos de controle, sem assentamentos armados e para onde possam retornar os milhões de refugiados palestinos das famílias que foram expulsas de suas casas em 1948 e depois. Uma Palestina onde possam conviver livremente árabes e judeus dispostos a viver em paz e igualdade. Só a derrota do Estado sionista, o desmantelamento deste Estado racista e opressor pode abrir caminho para a solução.

Por que a UE e os governos europeus apoiam Israel?

Muitos europeus se perguntam qual é a razão pela qual os governos europeus apoiam os planos genocidas e de limpeza étnica de Israel. O judeu antissionista francês Pierre Stambul, porta-voz da UJFP (União dos Judeus Franceses pela Paz) respondeu com precisão a esta pergunta em uma entrevista concedida em 14 de outubro passado:

Alguns pensam que este alinhamento vem de um sentimento de culpa em relação aos judeus. É falso. Se é incontestável que a Europa é culpada de séculos de antijudaísmo cristão e antissemitismo racial que levaram ao genocídio nazista, isto não tem nada a ver com o apoio a Israel. Por outro lado, a ideologia dos dirigentes israelenses atuais é mais próxima dos que realizaram o genocídio[2] do que dos que a sofreram (entre eles, minha própria família). Não, o Ocidente apoia Israel porque é seu Estado. É um exemplo de reconquista colonial, é um pedaço do Ocidente instalado no Oriente Próximo. Tornou-se um laboratório de tecnologias de ponta de vigilância e reclusão de populações consideradas perigosas. É o lugar onde os exércitos e as polícias do mundo inteiro vêm ‘formar-se’. Israel é indispensável para dominar e submeter a região”. É, em síntese, um enclave militar dos EUA e do Ocidente no Oriente Médio. Por isso a UE e os governos europeus, seguindo os EUA, chamam a cerrar fileiras com Israel na defesa dos “valores compartilhados”, “a civilização, a democracia e o mundo livre”.

Os governos europeus, além disso, não têm vergonha de nos mostrar Israel como a “única democracia no Oriente Médio”, outra mentira abjeta. Israel é um Estado racista colonial desde seu nascimento. Para começar, é um Estado onde a população árabe que vive em território israelense só tem a cidadania, mas lhe é negada a nacionalidade. São cidadãos de segunda, legalmente discriminados e privados de direitos básicos como o de possuir a terra que lhes foi expropriada. Quanto aos territórios ocupados, a população palestina vive submetida a um brutal regime de apartheid, denunciado por numerosos organismos internacionais como Anistia Internacional, Human Rights Watch ou a ONG israelense B’Tselem.

O que o antissionismo tem a ver com o antissemitismo?

Os governos dizem que opor-se ao genocídio e defender a população palestina é antissemitismo. Mas nos ocultam que a principal base de apoio internacional do sionismo são os cristãos e evangélicos norte-americanos de extrema direita, uma das bases principais de Trump que são abertamente antissemitas. Em troca, muitos judeus, cada vez mais, em todo o mundo e em especial nos EUA, levantam sua voz contra a limpeza étnica israelense. A associação Jewish Voices for Peace (JVP)tem 440.000 membros e simpatizantes mobilizaram-se massivamente contra o massacre sionista em múltiplas cidades norte-americanas, protestando no interior do próprio Capitólio.

Este é um fragmento do comunicado que JVP emitiu em 7 de outubro passado: “O governo israelense pode ter acabado de declarar guerra, mas sua guerra contra os palestinos começou há mais de 75 anos. O apartheid e a ocupação israelenses – e a cumplicidade dos Estados Unidos nessa opressão – são a fonte de toda esta violência. A realidade é montada segundo a quando você coloca o relógio em marcha (…) Durante 16 anos, o governo israelense sufocou os palestinos em Gaza sob um regime draconiano, bloqueio militar aéreo, marítimo e terrestre, encarcerando e matando de fome dois milhões de pessoas e negando-lhes atendimento médico. O governo israelense massacra rotineiramente palestinos em Gaza; as crianças de dez anos que vivem em Gaza estão já traumatizadas por sete grandes campanhas de bombardeios em suas curtas vidas”.

Se hoje há uma fonte de antissemitismo no mundo não é outra que a campanha infame para identificar o Estado genocida de Israel com o povo judeu. Pierre Stambul dizia na entrevista mencionada acima: “o sionismo é um crime contra os palestinos. Para os judeus, é um insulto à sua memória, à sua história, às suas identidades”.

Fim imediato do cerco a Gaza! Não ao massacre, à ocupação e ao apartheid!

Ruptura imediata das relações diplomáticas com Israel! Fechamento de suas embaixadas e consulados!

Fim de toda colaboração acadêmica, cultural e científica com Israel!

Boicote ao envio de armas!

Fim de toda colaboração econômica! Apoio à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)!

Apoio incondicional à resistência palestina! Chamamos a redobrar as mobilizações e instamos todas as organizações políticas, sindicais e estudantis de classe a apoiá-las!

Assim como defendemos o povo ucraniano na luta para recuperar seu território frente à agressão de Putin, apoiemos a luta legítima do povo palestino pela sua terra! Por uma Palestina única, laica, democrática e não racista, do rio ao mar!


[1]  O Estado de Israel nasceu em 1948 com a Nakba [catástrofe], mediante métodos terrorristas, aplicando uma limpeza étnica que expulsou 800.000 palestinos de suas terras e os converteu em refugiados. Israel nasceu como um Estado racista e colonial. Agora, após 75 anos de opressão, ocupação e sofrimentos indescritíveis, como o povo palestino não se rende, Israel quer concluir a tarefa iniciada em 1948.

[2]  O sionismo na verdade não enfrentou o nazismo, mas o utilizou para forçar a ida de judeus para a Palestina. Há episódios macabros ocultos da opinião pública como o memorando de apoio que a Federação Sionista da Alemanha enviou ao partido nazista em 21 de junho de 1933 ou, nesse mesmo ano, a rejeição da Organização Sionista Mundial, por 240 votos contra 43, de uma resolução que chamava a lutar contra o nazismo (ver Ralph Schoenman, “A história oculta do sionismo”) Nota nossa.

Tradução: Lílian Enck

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