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domingo, setembro 8, 2024

Rede Sindical Internacional realiza 5º Encontro vitorioso no Brasil

A Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas realizou seu V Encontro nos dias 10, 11 e 12 de setembro na importante cidade industrial de São José dos Campos, próximo à São Paulo no Brasil.

Por: Fábio Bosco

Participaram cerca de 150 companheiros/as de 15 países (Brasil, Argentina, Chile, Equador, Costa Rica, Estados Unidos, Reino Unido, França, Estado Espanhol, Itália, Polônia, Ucrânia, Palestina, Togo, Botswana e Angola). Houve companheiros/as que não participaram por questões de VISA (Cuba, RD Congo, Paquistão) ou por questões financeiras (vários da África e da América Latina). Entre a delegação internacional destacou-se a presença de 8 delegados da recém-formada Confederação Sindical Solidariedade do Equador. (I)

A Rede foi fundada no Encontro de Paris em 2013. Desde então a Rede se tornou um ponto de apoio às lutas dos trabalhadores em todo o mundo, unindo diferentes culturas e tradições operárias e sindicais.

Exemplo disso foi a solidariedade internacional que a Rede e os seus sindicatos e organizações realizaram com as grandes lutas ocorridas no último ano: a luta contra a reforma da previdência social na França e Espanha; greves por melhores salários no Reino Unido e na Venezuela; a campanha de ajuda operária aos trabalhador@s da Ucrânia; a defesa d@s trabalhador@s imigrantes e refugiad@s; protestos de povos indígenas na Argentina, Chile, Brasil e Equador; Resistência palestina, saharaui, zapatista e curda; a luta das mulheres iranianas; a luta pelo direito à água na França, no Uruguai e no México; e muitas outras lutas d@s trabalhador@s em todo o mundo.

O Encontro foi organizado em 6 sessões: abertura/debate sobre meio-ambiente (cujo centro foi a luta pela água em Sainte Soline na França e o plebiscito do Yasuní no Equador), informes dos países, grupos por categoria profissional, Campanha de Ajuda Operária à Ucrânia, grupos por tema (repressão, racismo e imigração, sistema de aposentadorias/pensões, mulheres e meio-ambiente) e plenária final.

Na abertura foi feita uma homenagem à classe trabalhadora marroquina que perdeu cerca de 3 mil pessoas em um terremoto. No dia 11 de setembro, a sessão foi iniciada pelos companheiros/as do Chile devido ao aniversário de 50 anos do golpe militar de Pinochet. 

Foi garantido o serviço de tradução em 4 línguas: Português/Castelhano/Inglês/Francês pela Brigada Dirceu Travesso, um grupo de companheiros/as que trabalham voluntariamente para garantir a comunicação entre os participantes de diferentes países.

Manifesto reafirma pilares da Rede

O manifesto aprovado reafirmou os pilares que caracterizam a Rede Sindical: (II)

1) Defesa dos direitos da classe trabalhadora contra a exploração capitalista que tem levado à precariedade, à terceirização, à uberização…;

2) Sindicalismo combativo baseado na democracia operária. Sindicalismo de transformação social e revolução.

3) Independência da classe trabalhadora de todos os governos e patrões;

4) Contra os planos de austeridade impostos pelos governos ao serviço do capital

5) Oposição a todas as formas de opressão: machismo, racismo, lgbtqifobia, xenofobia e capacitismo;

6) Oposição à destruição do meio ambiente. Em defesa da vida;

7) Contra o colonialismo e o neocolonialismo em todo o mundo;

8) Em defesa da auto-organização, da autogestão, da autodefesa e de outras formas de poder da classe trabalhadora;

9) Luta contra a extrema direita! Lutamos pelas liberdades democráticas e contra a repressão!

10) Contra a criminalização das lutas!

11) Abaixo a corrida armamentista imperialista! Não às guerras capitalistas!

12) Solidariedade internacional!

Ajuda Operária à Ucrânia

No 5º encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, estiveram presentes dois camaradas da Ucrânia, Oksana, enfermeira em Lviv do “Be like Nina” e Yuri do sindicato dos metalúrgicos de Krivih Ryh. Ambos puderam testemunhar diretamente a numerosos sindicalistas de outros países sobre a realidade da situação na Ucrânia desde a invasão do território e a ocupação pelo exército do regime russo.

Dando continuidade às moções aprovadas no nosso encontro anterior, em abril de 2022, as organizações membros da Rede:

– continuam o seu apoio à resistência sindical e popular ucraniana, materializada em particular pelos comboios de solidariedade operária; nossos camaradas na Ucrânia lideram a luta contra o imperialismo russo, mas também contra os capitalistas do seu próprio país.

– reafirmam a sua oposição a todos os imperialismos, a todos os blocos militares, incluindo os seus serviços (OTAN e OTSC), à militarização do mundo que se traduz, em particular, em orçamentos militares cada vez maiores e numa militarização da sociedade. (III)

Protestos contra o G20

O Encontro aprovou a organização de protestos contra a reunião do G20 que ocorrerá em novembro de 2024 no Rio de Janeiro. Diz a resolução:

As cúpulas de organizações internacionais como o G7 e o G20 são meios para perpetuar o controle imperialista em todo o mundo e envolver outros países neste processo. Os países imperialistas apoiados por grandes corporações utilizam uma política de intervenção militar em diversas regiões. Impõem os seus interesses e influência a todas as nações, seja através de guerras, sanções econômicas ou acordos comerciais que visam apenas manter a atual divisão global do trabalho em que os países do “sul global” são meros fornecedores de matérias-primas e importadores de matérias-primas. tecnologia e produtos industriais dos países imperialistas. Estas ações violam sempre a soberania dos povos e perpetuam um sistema global injusto.

Em 2018, a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Luta participou da organização e convocação das mobilizações “Contra-cúpula” em Buenos Aires. O Brasil assumirá a presidência do G20 a partir de dezembro de 2023 e em novembro de 2024 realizará a cúpula na cidade do Rio de Janeiro. Da mesma forma que os movimentos sindicais e sociais de vários países assumiram a construção de mobilizações internacionais contra essas organizações, convocamos junto com a CSP-Conlutas do Brasil para construir “Contra-cúpula” e mobilizações em 2024, com ações no Brasil e em outros países.

A solidariedade internacional

Foram aprovadas 24 moções de solidariedade com diversas lutas em todo o mundo. Também foi decidida a realização de assembleia virtual de integrantes da Rede a cada 4 meses, sendo a primeira em dezembro. Além da assembleia virtual, a Rede dará continuidade às reuniões regionais de integrantes da Rede na Europa e na América Latina (que é realizada de forma virtual). 

São José dos Campos

A cidade industrial de São José dos Campos foi escolhida para a realização do V Encontro da Rede pela importante presença de sindicatos filiados à CSP-Conlutas, entre os quais o tradicional Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. (IV)

Durante o Encontro, a delegação internacional participou de assembleias operárias na porta da Avibrás (fábrica de armamentos na qual os operários estão em greve há um ano), e na frente do complexo industrial da General Motors. Também participaram de assembleia dos operários da GM em lay-off no sindicato e da assembleia dos trabalhadores dos correios para deliberação de greve que foi antecedida de reuniões nos locais de trabalho com a participação de um companheiro da Palestina. Além disso foi organizada uma visita à uma ocupação de terra liderada pelo movimento de moradia Luta Popular, filiado à CSP-Conlutas.

A realização do Encontro nesta cidade foi importante para aproximar as delegações internacionais da realidade do movimento operário brasileiro como também para alimentar o internacionalismo proletário entre os ativistas brasileiros.

Congresso da CSP-Conlutas

O Encontro foi antecedido por um vitorioso Congresso da CSP-Conlutas nos dias 7, 8, 9 e 10 de setembro em São Paulo. Baseado na democracia operária, o Congresso se constituiu claramente como um fórum de oposição de esquerda ao governo de frente ampla do presidente Lula da Silva. Foi um congresso combativo e democrático com a participação de cerca de 1500 pessoas, sendo mil delegados.

Durante o congresso houve uma sessão para apresentação da delegação internacional e outra para a Campanha de Ajuda Operária à Ucrânia durante a qual se iniciou uma campanha de arrecadação de fundos para a construção de um poço artesanal de água potável na cidade de Kryvyi Rih. Durante a visita do sindicalista Yuri Petrovich ao Brasil foram arrecadados USD 1.100 para esta campanha, com um destaque para a comunidade ucraniana de São Paulo que doou mil reais.

O Congresso da CSP-Conlutas como um todo teve um impacto muito positivo junto à delegação internacional.

Calendário de lutas

Ao final do V Encontro foram definidas algumas datas de luta comuns à Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas:

● 8 de março: Dia internacional da luta das mulheres

● 28 de abril: Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho

● 1º de maio: Dia da luta internacional d@s trabalhador@s

● 15 de maio: Aniversário da Nakba. A luta do povo palestino é o símbolo de múltiplas resistências. Continuamos apoiando a Campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)

● 21 de março: Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial

● Junho: mês do orgulho LGBTQI. 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBTQI em comemoração à Revolta de Stonewall de 1969.

● 25 de julho: Dia Latino-Americano de luta pelas mulheres negras e afro-caribenhas

● 28 de setembro: Dia global de ação em defesa do aborto legal

● 25 de novembro: Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres

● 20 de novembro: Dia da Consciência Negra

● 18 de dezembro: Dia Internacional dos Migrantes.

Os revolucionários e a solidariedade internacional

Para o revolucionário Nahuel Moreno, fundador da LIT-QI, a tarefa mais importante de todo militante revolucionário é a construção da Internacional. Paralelamente à construção da Internacional, Moreno defendia a formação de um organismo de frente única para levar a frente a solidariedade internacional entre a classe trabalhadora: 

“Os operários necessitam dos sindicatos para lutar por seus salários, por estabilidade no trabalho, etc., contra seus exploradores nacionais. Necessitam de partidos políticos para defender seus interesses de classe. No terreno internacional, necessitam de um movimento sindical unido. Desgraçadamente, essas organizações se perderam, devido à divisão do movimento operário internacional em tendências pró-ocidentais e pró-soviéticas. A economia mundial exige o desenvolvimento de grandes organizações sindicais internacionais. Sua ausência significa um grande atraso para o movimento de massas.” (Conversando com Moreno)

Infelizmente a divisão do movimento sindical internacional continua e as centrais sindicais mundiais existentes não constroem a solidariedade internacional necessária com as lutas existentes. A majoritária Confederação Sindical Internacional (CSI) reúne o sindicalismo amarelo de parceria com os patrões. A Federação Sindical Mundial (FSM) reúne os restos do estalinismo e o neoestalinismo que estão vinculados com as ditaduras capitalistas em Cuba, Venezuela, China e Rússia.

A Rede foi formada em 2013 para impulsionar a solidariedade internacional. A Rede é uma organização de Frente Única que ainda é minoritária em relação às duas centrais sindicais mundiais (CSI e FSM) mas é a única que impulsiona a solidariedade internacional com completa independência frente aos governos e patrões. Daí sua importância na atuação dos revolucionários e revolucionárias.

Notas:

(I) – https://litci.org/pt/2023/09/26/confederacao-de-trabalhadores-solidariedade-equatoriana/

(II) – https://litci.org/pt/2023/09/26/manifesto-do-5o-encontro-da-rede-sindical-internacional-de-solidariedade-e-lutas/

(III) – https://laboursolidarity.org/arquivo/editor/file/Mociones%20-%20Motions.pdf

(IV) – https://www.sindmetalsjc.org.br/

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