As tragédias da Líbia e Marrocos: Produto da ambição, negligência e corrupção capitalistas
Entre os dias 8 e 10 de setembro, populações do norte da África sofreram uma terrível tragédia.
No fim de semana (9-10/09) chuvas torrenciais na região do Mediterrâneo, provocaram grandes inundações, com consequências mortais. Na Grécia provocaram 15 mortos, mas na Líbia o desastre foi imenso, porque as chuvas intensas se combinaram com a destruição de duas represas. A mais afetada foi a cidade costeira de Derma, que ficou submergida sob as águas. Calcula-se que haja 10 mil desaparecidos, 30 mil desalojados e milhares de mortos.
Por: Alícia Sagra
Na noite da sexta anterior (8/09), um terremoto de 6,8 da escala Richter, equivalente a 30 bombas nucleares[1], deixou mais de 2 mil mortos[2], milhares de desaparecidos e muitos milhares desabrigados.
Estas catástrofes têm um responsável
A imprensa mundial, televisiva e escrita, nos mostram as dramáticas cenas das vítimas, mães que perderam seus filhos, filhos que ficaram sós depois de terem perdido toda sua família. Casas transformadas em escombros. Mulheres, homens, jovens, idosos, escavando com suas mãos para tentar encontrar sobreviventes. Cidades que perderam a metade de sua população.
E, junto com isso, mencionam a quase inexistente resposta estatal frente à tragédia.
Nos falam também de como estão vulneráveis, frente às mudanças climáticas, países desérticos como a Líbia. Mencionam as deficiências infra estruturais, não apenas nas represas que colapsaram, mas também nas falhas dos sistemas de alarme.
Nos mostram as casas das vítimas, a grande maioria muito precárias, feitas de pedra e barro. Nos dizem que o Rei Mohamed VI, o Chefe de Estado e o homem mais rico do Marrocos, estava em Paris quando ocorreu o terremoto e demorou a voltar ao seu país. E que agora não aceita toda a ajuda internacional oferecida. Apenas 4 países amigos estão autorizados a entrar no Marrocos para buscar sobreviventes: Espanha, Qatar, Reino Unido e Emirados Árabes. Nos falam de que as duas facções líbias enfrentadas se acusam mutuamente de corrupção e de ter desviado dinheiro destinado a obras de infraestrutura.
Nos dão todas essas informações, mas não nos dizem o que está por trás de tudo isso. Não nos dizem que por detrás destas catástrofes (e das que virão) está a ambição desmedida, a negligência e a corrupção do sistema capitalista mundial.
Já diziam Marx e Engels há 175 anos que “…a vida da burguesia se tornou incompatível com a sociedade”[3]
Não sabemos qual das facções líbias é a mais corrupta, mas seguramente os bolsos de seus dirigentes se encheram de dinheiro destinado a obras de infraestrutura, moradia, saúde pública, como acontece em todos os países do mundo. E sabemos que a grande maioria dos mortos no Marrocos vivia sem nenhuma proteção do estado, em casas miseráveis, enquanto que os luxuosos e protegidos palácios estão destinados ao rei, príncipes e demais burgueses do país.
Mas não podemos dizer que os únicos, nem os principais responsáveis, são os burgueses desses países africanos.
Ninguém discute que as mudanças climáticas potencializaram estes desastres naturais, assim como a terrível pandemia da Covid, que sofremos até há pouco tempo. Mas essa degradação das condições ambientais não são produto da casualidade. São produto da ambição em obter super lucros que leva à destruição da natureza. E esta tarefa destrutiva está sendo realizada pelo conjunto do imperialismo, com seu chefe, o imperialismo ianque na liderança.
Como uma revolução derrotou uma grande epidemia.
Pode-se dizer que desastres naturais, terremotos, inundações, pandemias, sempre ocorreram e podem voltar a ocorrer, independentemente do sistema econômico-social que exista.
Isso é assim, mas, como já dissemos, o afã de lucro capitalista não só potencializa, mas em alguns casos gera esses desastres “naturais” e, além disso, está a questão de com que critério são enfrentados.
A revolução russa é um grande exemplo nesse sentido. Em 1918-1919, enquanto a guerra civil estava se desenvolvendo, além de sofrer o ataque dos russos brancos[4] e a invasão de 14 exércitos estrangeiros, sofreram o ataque de uma grande epidemia de tifo (que depois se combinou com a da gripe espanhola), que estava provocando mais mortos que a própria guerra.
Como o tifo é transmitido pelos piolhos, Lenin lançou uma consigna: “Ou o socialismo acaba com os piolhos ou os piolhos acabam com o socialismo”, e, em plena guerra civil, foi lançada uma campanha sanitária, e criado Comitê de Trabalhadores e Soldados para implementá-la. Fábricas foram destinadas para a produção de medicamentos, e como toda a indústria farmacêutica estava nacionalizada e se acabou com os especuladores, a distribuição era igualitária. Mas o estado operário não se limitou à parte médica, também se voltou a construir moradias, para criar melhores condições para combater a doença.
Houve um pouco de ajuda internacional, a Cruz Vermelha norte-americana entrou na Rússia. O Estado Soviético autorizou sua entrada, apesar de saber que toda sua ajuda seria destinada aos exércitos brancos e a civis antibolcheviques.
O novo estado operário teve muitos mortos pelas epidemias, entre eles o pai de Trotsky, Sverdlov, o grande organizador do partido e da revolução e John Reed, o grande cronista da revolução. Mas, com essas medidas, conseguiram controlar a epidemia de tifo e acabaram com a gripe espanhola antes da maioria dos países europeus.
Nada disso poderia ter sido feito, se existisse um estado capitalista que defendesse a propriedade privada dos grandes laboratórios e farmácia e o “sagrado direito” ao lucro de seus proprietários, assim com o “direito” desses burgueses de ter o melhor atendimento médico e as melhores casas.
Conclusão
As catástrofes da Líbia e Marrocos são uma confirmação a mais de que o capitalismo mata e que se quisermos salvar a humanidade temos que acabar com o capitalismo.
Para voltar a ter um equilíbrio harmônico com a natureza e para enfrentar as catástrofes que virão, como os bolcheviques o fizeram, é necessário fazer o que eles fizeram: destruir o estado capitalista, substituí-lo por um estado operário, a ditadura do proletariado, e assim iniciar o caminho para uma nova sociedade, sem exploração e sem opressão, a sociedade socialista.
Tradução: Lílian Enck
[1] O professor de Riscos Geofísicos e Climáticos da University College London, Bill McGuire, declarou que a energia desse sismo é equivalente a 30 bombas atômicas, como a lançada pelos EUA em Hiroshima em 1945.
[2] Número que seguramente aumentará com o correr dos dias.
[3] Manifesto Comunista, Cap. Burgueses e proletários.
[4] Assim eram chamados os russos que defendiam o regime capitalista anterior.