sáb nov 02, 2024
sábado, novembro 2, 2024

Os sírios se levantam novamente

Desde 20 de agosto, a população síria faz protestos contra o aumento de 170% no preço da gasolina e do óleo diesel em particular e contra a pobreza e a carestia em geral. Em alguns protestos, o povo exigiu a queda do regime. Há também muita insatisfação contra a presença das milícias iranianas e russas, que ocupam o país.

Por: Fábio Bosco

Houve protestos relâmpago em Damasco e Ghouta. Mas os principais protestos foram no sul do país, em Deraa e Suweida, onde se concentra a população sírio-drusa. Em Deir Az-Zour no leste do país também houve protestos. 

O regime sírio reprimiu os protestos. Em Latakia, uma cidade com grande presença alauíta no litoral do país, ativistas foram presos. Em Nawa, a polícia atirou contra os manifestantes. O ditador Bashar el-Assad sabe que esses protestos podem rapidamente se transformar em uma revolução contra o regime. Os manifestantes sabem que o regime vai recorrer à violência, mas não há outra saída.

A economia síria está arrasada. Os bombardeios da avião síria e russa, e a ação do exército sírio e das milícias iranianas arrasaram vilas e cidades em todo o país. Doze milhões de sírios tiveram que sair de suas casas, metade das quais se tornaram refugiados no exterior. A força aérea sionista realiza bombardeios semanais contra a Síria, com cumplicidade da Rússia. Cerca de 27% do território nacional está sob controle das milícias curdas PYD com o apoio do imperialismo americano. As provincias de Idlib e Afrin estão sob controle turco.

A única força social que pode reconstruir o país é a classe trabalhadora, os camponeses e o povo pobre, com o apoio dos milhões de refugiados que estão no exterior. Essa reconstrução passa necessariamente pela expulsão de todas as forças estrangeiras do país e a derrubada do regime sírio. 

10 anos do massacre de Ghouta Oriental

No dia 21 de agosto de 2013, o regime sírio lançou um ataque com armas químicas em Ghouta Oriental (Ain Tarma, Zamalka, Irbin, Saqba, Kafr Batna, entre outros) no qual 1.729 morreram.

A ativista de esquerda Razan Zaitouneh relatou: “Jamais vi tanta morte em toda a minha vida. As pessoas jaziam no solo, nos saguões, na beira das estradas, às centenas. Não havia quadro médico suficiente para tratá-los. Nãao há medicamento suficiente. Cabia-lhes apenas escollher quem medicar, pois não havia remédio para todos. (…) Nos cemitérios que visitei, as vítimas foram enterradas em valas comuns, 15 ou cadáveres em cada cova, devido ao alto índice de atingidos. Também havia pânico. As famílias procuravam por suas crianças em cada cidade de Ghouta. As crianças nas bases médicas choravam e chamavam pelos pais. Era inacreditável.” (País em Chamas – Sírios na revolução e na guerra de Leila al-Shami e Robin Yassin-Kassab, Editora Sundermann, página 154).

O ditador Bashar el-Assad decidiu lançar o ataque pois grupos da oposição síria conseguiram se estabelecer em Jobar e na Praça Abbassiyeen de onde poderiam lançar ataques na capital, além dos ataques à Latakia.

O presidente dos Estados Unidos, que prometera que Assad sofreria represálias em caso de uso de armas químicas, se limitou a fazer um jogo de cena com o ditador russo Vladimir Putin de retirada de armas químicas. Em seguida, novos ataques do regime contra a população com armas químicas foram realizados. A população síria percebeu que nenhum apoio viria do imperialismo ocidental.

Este ataque com armas químicas foi o maior contra a população civil no Oriente Médio desde os ataques realizados por Saddam Hussein contra a população da cidade curda de Halabja no norte do país em 16 de março de 1988, no qual morreram cerca de cinco mil pessoas. No mundo, os campeões no uso de armas químicas foram os Estados Unidos durante a guerra do Vietnã (1954-1974).

Este massacre de Ghouta Oriental ocorreu poucos dias depois do massacre de Rabaa al-Adawiya no qual o regime do ditador egípcio Al-Sisi assassinou mais de mil manifestantes em 14 de agosto de 2013.

Caberá à classe trabalhadora lutar pelo julgamento e punição de todos os responsáveis por estes crimes contra o povo.

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