Encontro virtual reúne representantes de mais de 10 países latino-americanos
Reunião levantou discussões sobre conjuntura, crise econômica e a necessidade da organização e solidariedade internacional
Em 19 de Julho, representantes de doze países latino-americanos se uniram em um encontro virtual para discutir questões cruciais que impactam a região. Com vozes vindas do Brasil, Argentina, Chile, Costa Rica, El Salvador, Equador, México, Colômbia, Venezuela, Peru, Paraguai e Uruguai, o encontro reuniu líderes de diferentes setores, incluindo trabalhadores, sindicalistas e defensores dos direitos indígenas.
Desafios da crise econômica em nível mundial
Fábio Bosco, dirigente do Setorial Internacional da CSP-Conlutas, abriu a reunião destacando a crise econômica global, que teve um salto significativo com a pandemia. Ele ressaltou as contradições entre os imperialismos, mencionando guerras em países como Sudão e Ucrânia. “O cenário de desemprego, retirada de direitos dos trabalhadores e cortes em investimentos básicos têm levado a classe operária em vários países a se mobilizar contra essa situação”.
David Blanco, da Secretaria de Relações Internacionais da CGT do estado Espanhol, reforçou que as lutas e os problemas da classe trabalhadora são cada vez mais problemáticos, sob governos cada vez mais opressores, fascistas e muito mais à direita. Ao mesmo tempo, destacou que “há 10 anos o que parecia uma utopia, encontrar um elemento de união da classe trabalhadora e criar um organismo para organizar em defesa dos trabalhadores, hoje é uma realidade”, se referindo à Rede.
Construindo a solidariedade operária internacional
Em meio a essas lutas, Fábio Bosco destacou a importância de construir a solidariedade operária internacional, uma vez que os capitalistas já têm instituições organizadas em seus interesses. “Eles têm o FMI, a OTAN, estão muito bem organizados. Nós temos que organizar a classe trabalhadora contra isso”.
Ele enfatizou a necessidade de criar uma Rede independente e combativa, que pratique a democracia operária e se oponha aos governos e patrões. “Nossa Rede permitirá divulgar lutas e promover ações de solidariedade internacional entre os países representados. Por isso deixo o convite a todos para que se juntem à Rede, com o objetivo de fortalecer a solidariedade e as lutas internacionais”.
Manifestações e lutas pela soberania e direitos
Ao longo do encontro, foram mencionados diversos casos de protestos e mobilizações em diferentes países da América Latina. David Campos, representante do Sintrande, do Paraguai, relatou a luta contra um governo reacionário que atende aos interesses do imperialismo e busca o controle energético do país. O dirigente ainda falou sobre como o Paraguai é prejudicado em detrimento dos interesses do Brasil no Tratado de Itaipu.
Venezuela e Peru compartilharam suas batalhas contra governos opressores que desrespeitam a constituição e perseguem trabalhadores que se mobilizam. O México e o Uruguai enfrentam intentos pela privatização da rede de distribuição de água e a ameaça aos direitos trabalhistas.
Defendendo o direito à organização sindical
Representantes sindicais de vários países compartilharam suas experiências de enfrentar governos que não respeitam a liberdade de organização sindical. Adriana Urrea, sindicalista mexicana do Sutnotimex, denunciou a repressão à liberdade de expressão e aos jornalistas no México, enquanto Luis Cortés, presidente do Sindicato Sintrasar, do Chile, destacou as perseguições e o desmantelamento dos direitos trabalhistas.
Por outro lado, camaradas do Generando Movimiento, organização que criou o Sindicato Independente da General Motors de Silao, no México, serviram de exemplo de superação e organização sindical independente e combativa. Israel Cervantes, demitido da GM, agradeceu pelo apoio internacional recebido durante as eleições sindicais, e afirmou que “podemos dizer que hoje temos um sindicato verdadeiro e que trabalha em prol dos direitos. E estamos acompanhando, de diferentes empresas, manifestações de trabalhadores que querem sair dos sindicatos corruptos e desejam ingressar ao Sintia”.
Dirigentes da Venezuela, do Comitê Nacional de Conflitos dos Trabalhadores em Luta, compartilharam a grave situação de perseguição e criminalização dos sindicalistas mobilizados no país, e pediram apoio internacional para pressionar o governo e as autoridades. Seis trabalhadores foram condenados a 16 anos por suposta conspiração.
Lutas dos povos indígenas e movimentos territoriais
Outros temas importantes que emergiram foram as lutas dos povos indígenas e dos movimentos territoriais. Xavier Solis, advogado dos povos indígenas, relatou os desafios enfrentados no Equador com o aumento da violência, exploração mineral e falta de respeito aos direitos dessas comunidades. “Temos enfrentado muita violência no Equador, com domínio do narcotráfico, e instituições cada vez mais corrompidas. As forças armadas estão muito envolvidas com o crime, a cada 10 delitos cometidos pelo do narco, em apenas um a polícia não participa”.
Segundo o advogado, o movimento indígena tem sido a força de mais destaque no país, contra governos interesses de petrolíferas e mineradoras. Ele explica que a exploração capitalista tem provocado intensa “contaminação ambiental, nos rios e afluentes do Amazonas, Napo, etc.”, com a participação de empresas chinesas e outras multinacionais.
Ainda sobre o mesmo tema, o advogado argentino Mario Villarreal trouxe para a discussão a luta em Jujuy, província da Argentina que se tornou o local de intensas mobilizações populares contra o avanço da exploração do lítio e a reforma provincial constitucional que retirava direitos de povos do campo e indígenas. O advogado informou que “cinco advogados estão detidos, 160 trabalhadores foram presos, e universidades foram invadidas pelas forças armadas”. Em sua avaliação, a repressão fez com que diversos setores se unissem, como docentes, trabalhadores do funcionalismo público, estudantes, petroleiros, trabalhadores do campo e povos originários, em “unidade popular que poucas vezes se viu na Argentina”.
Desde o Brasil, Vanessa Mendonça, do Movimento Luta Popular, filiado à CSP-Conlutas, compartilhou da organização pelos direitos básicos e à terra, “Moro em São Paulo, onde tem cerca de 600 mil espaços, entre terras e habitações abandonados, e cerca de 300 mil pessoas sem casa. Desde a pandemia trabalhamos articulados a outros movimentos em uma Campanha chamada Despejo Zero, mas sabemos, segundo levantamento, que temos mais de um milhão de famílias com risco de serem despejadas”, denunciou.
União e resistência internacionais
As discussões foram intensas, ressaltando a importância da unidade entre os sindicatos e a classe trabalhadora em suas lutas. Os representantes destacaram o papel crucial dos movimentos sociais na resistência contra os retrocessos, reformas neoliberais e ofensivas do capital.
O sindicalista paraguaio Eduardo Aguayo, da ANAIPS, destacou as semelhanças de ataques contra os fundos previdenciários, elencando como exemplos a Argentina, o Chile e a França. “Esta iniciativa é um importante intercâmbio entre companheiros e as lutas que ocorrem. Isso nos enriquece e nos faz conhecer os processos de luta nos países e nos dá experiências para nos organizarmos de uma melhor maneira. Eles continuam jogando a crise do capital sobre o povo. Por isso, temos um desafio de nos conectar com outros setores e a Rede é muito importante para fortalecer laços e seguirmos nos organizando”, conclui.
E a partir desta troca de experiências, os participantes concordaram em fortalecer a solidariedade operária internacional e defender seus direitos em meio a uma conjuntura tão crítica e desafiadora.
Uma reunião para o dia 16 de agosto foi marcada, e um dos temas centrais será a solidariedade às mobilizações em Jujuy, Argentina.
Essas reuniões virtuais são parte da construção do 5º Encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, que ocorrerá de 10 a 12 de setembro no Brasil, na cidade de São José dos Campos.
Viva a luta operária internacional!