sáb jul 27, 2024
sábado, julho 27, 2024

A guerra na Ucrânia esquecida pela esquerda

A guerra na Ucrânia é, sem dúvida, o epicentro da luta de classes a nível mundial. No entanto, em nosso país, desde seu início, ela é quase omitida pelo conjunto da  esquerda na política cotidiana, e uma clara expressão disso foi o último 1º de Maio.

Por: Luciana Danquis – PSTU Argentina

Os revolucionários e as guerras

É necessário lembrar que as guerras, para os marxistas revolucionários, não são apenas mais um evento. Ao longo da história, elas têm sido o divisor de águas, bem como as parteiras das revoluções, pois na guerra tudo adquire uma dimensão brutal. Vale lembrar que foi a posição da II Internacional diante da Primeira Guerra Mundial (com os deputados votando os créditos de guerra de seus respectivos países) que fez com que Lenin, juntamente com Trotsky, Rosa Luxemburgo e os socialistas internacionalistas, rompesse com ela em 1915, considerando-a fora de seus princípios. Em outras palavras, não consideravam como apenas mais um desvio.

Mas as grandes guerras não tiveram como consequência apenas a divisão, há também exemplos de como elas geraram grandes e amplos movimentos sociais e políticos que se unificaram em torno de uma tarefa comum: a Guerra do Vietnã (1955 – 1975) é um bom exemplo disso. A motivação pelo fim da invasão ianque se espalhou e se massificou por todo o mundo, incluindo não apenas o conjunto da esquerda, mas também setores ainda mais amplos. Era impensável ter um ato ou ação que omitisse a questão do Vietnã como uma questão central.

O internacionalismo, para quando?

Hoje, na Ucrânia, estamos enfrentando uma nova guerra de libertação nacional, no entanto, um setor da esquerda é neutro (favorecendo o invasor) e outro, que tem uma posição correta de apoio à resistência ucraniana, a subordina aos acordos eleitorais. Ambas as posições têm em comum a perda da questão internacional como o problema central, característico daqueles que reivindicam o legado de Leon Trotsky.

Certamente muitos companheiros e companheiras nessas organizações pensam que, embora seja bom falar sobre a questão internacional, é difícil fazer com que os trabalhadores e trabalhadoras entendam que o que está acontecendo na Ucrânia não é algo alheio, que tem consequências para nós, que, como classe operária, não temos pátria e que qualquer vitória da classe no mundo nos beneficia aqui. E sim, é difícil, mas é uma batalha fundamental contra a ideologia dominante que não pode ser abandonada, se quisermos dar crédito à perspectiva revolucionária.

Os companheiros e companheiras certamente podem nos dizer que o ato da FIT-U foi internacionalista, porque falou um trabalhador francês, que é uma das principais lutas do momento em nível mundial. Sem dúvidas saudamos a luta na França, da qual a LIT-QI também faz parte, mas isso não pode justificar a omissão de uma guerra que já dura quase 15 meses.

E o apoio à Resistência?

Como já mencionamos, do nosso ponto de vista, o problema da Guerra da Ucrânia deveria ter sido um centro deste 1º de Maio, mesmo para aqueles que defendem uma posição neutra/pacifista, se fossem coerentes com seu internacionalismo.  No entanto, é ainda pior o fato de que aqueles que apoiam a resistência ucraniana convocam um ato para o 1º de Maio, nem mais nem menos que o Dia Internacional dos Trabalhadores, omitindo o tema dessa tragédia em sua convocação. E em seus próprios discursos o tema aparece de passagem, como mais uma saudação, assim como em 24 de março assinaram um documento que declarava “Não à guerra” como política central.

Com os companheiros e companheiras da Izquierda Socialista (IS) e do Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), compartilhamos, nesses quase 15 meses de heroica resistência da classe trabalhadora e do povo ucraniano, várias atividades nas quais falamos sobre a importância dessa guerra e de seu resultado para os trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo.  Mas se é assim: por que o acordo eleitoral da FIT-U é sempre colocado acima? Por que tanto no dia 24 de março (no qual propusemos fazer uma coluna comum pelo triunfo da resistência) quanto no 1º de Maio o problema da Ucrânia não tem nenhum peso? Por que nem mesmo aproveitar o ato da FIT-U para polemizar sobre isso? Realmente pensam que o problema de se a FIT-U vai ou não às eleições primárias é mais importante para a luta de classes a nível mundial do que a guerra na Ucrânia e o triunfo ou não da resistência?

É evidente que as eleições são importantes na política nacional, é evidente que, como PSTU, temos uma posição sobre o que significa ir às eleições primárias e por que isso é um erro muito grave. No entanto, entender isso como o centro de um dia internacional de luta em um momento em que há uma guerra é, por um lado, dar centralidade absoluta às eleições. Para os revolucionários, essa ainda é uma instância importante, mas essencialmente a serviço da difusão do programa. Por outro lado, é uma falha grave colocar a política nacional e os acordos eleitorais nacionais acima das tarefas impostas pela luta de classes a nível internacional. Para os grupos políticos que pertencem a correntes políticas internacionais, isso é criminoso no que diz respeito à educação da vanguarda e da militância.

O PSTU convoca os companheiros da IS e do MST a refletir e trabalhar juntos em uma grande campanha, que atravesse os principais acontecimentos políticos do país em torno do que hoje comanda no nível mundial: o rechaço à invasão de Putin, o triunfo da resistência operária e popular e o repúdio a qualquer intervenção da OTAN.

E a Ucrânia?

A convocatória política e de luta da FIT-U para este 1º de maio se realizou sob as seguintes palavras de ordem:

*Promovemos e apoiamos as lutas operárias, populares, das mulheres e da juventude.

*Pela derrota do ajuste e do pacto do governo com o FMI, apoiado por todos os partidos patronais. Que os capitalistas paguem pela crise.

*Por um governo das e dos trabalhadores.

*Viva a luta dos trabalhadores na França. Pela greve geral.

*Apoiamos o povo peruano contra a ditadura da China.

*Solidariedade com o povo palestino agredido por Israel.

Tradução: Tae Amaru

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