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domingo, maio 26, 2024

Crise ministerial de Petro: uma mudança na negociação para continuar cortando as reformas

Em 26 de abril, Gustavo Petro anunciou as mudanças em seu gabinete, após pedir a renúncia de todos os seus ministros. Esta alteração é resultado da saída dos partidos Liberal, Conservador e a U da coalizão, ao afirmarem que não apoiariam as reformas da saúde, trabalho e pensões que tramitam no parlamento.

Por: Antonio Romero  – PST Colômbia

A análise da mídia mostra que Petro afastou os ministros dos partidos que saíram da chamada coalizão de governo, para formar um gabinete mais ‘petrista’, mas a saída da ministra da Saúde, Carolina Corcho, mostra o contrário. As mudanças no gabinete se devem a uma nova negociação de Petro com setores burgueses e suas expressões nos partidos tradicionais, não mais com as lideranças dos partidos, mas diretamente com os parlamentares.

Os que saem, os que entram

Sandra Urrutia deixa o Ministério das Tecnologias de Informação e Comunicação entra Mauricio Lizcano, do Partido U, que trabalhava como diretor do Departamento Administrativo da Presidência, ao qual chega Carlos Ramón González, da Aliança Verde.

Ricardo Bonilla chega ao Ministério da Fazenda, figura fundamental nas propostas econômicas do progressismo, que acompanhou Petro desde a Prefeitura de Bogotá, além disso, continua sendo uma ponte com o santismo e substitui o liberal José Antonio Ocampo. Chega ao Ministério da Saúde outro próximo a Petro, Guillermo Alfonso Jaramillo, substituindo a ministra que representou as reformas petristas, Carolina Corcho, cuja cabeça foi entregue de bandeja à burguesia para uma nova negociação.

O santista Alfonso Prada também deixa o Ministério do Interior e chega o liberal Luis Fernando Velasco. Deste ministério, Velasco, que vem das entranhas do Partido Liberal, seguramente tem a missão de conquistar grande parte deste partido para se manter na coalizão governista, e para isso é preciso contrariar o poder de César Gaviria. Na agricultura, sai um liberal – Cecílio Orozco – e entra uma nova ministra próxima a Petro, Jhenifer Mojica. Nos transportes, sai Guillermo Reyes e entra William Camargo, que acaba de presidir a Agência Nacional de Infraestrutura (ANI). Por fim, sai Arturo Luna, Ministro da Ciência, que é substituído por Yesenia Olaya.

Para além dos nomes

Com as mudanças nos ministérios, saem dois dos signatários da carta contra a reforma da saúde, que sobreviveram ao primeiro choque em que Alejandro Gaviria deixou a pasta da educação: José Antonio Ocampo e Cecilia Lopez.

Essas mudanças não significam que o governo Petro rompe com os partidos tradicionais, mas que há uma renegociação. No gabinete ainda há liberais como Catalina Velasco na Habitação e Néstor Osuna na Justiça. No entanto, há uma evidente virada para o círculo interno da administração do Petro em Bogotá que não é uma ‘virada à esquerda’, mas sim para a tecnocracia social-democrata a serviço da burguesia.

As crises ministeriais são comuns nos governos burgueses e servem para negociar com os diferentes setores que têm voz no Congresso da República, que financiam campanhas ou que influenciam diretamente porque as leis que aprovam beneficiam seus negócios. Os presidentes tradicionalmente controlam os parlamentares com burocracia e contratos, em um país como a Colômbia onde a Presidência da República tem a capacidade de violar as ilusões republicanas do equilíbrio entre os poderes públicos. No passado chamavam os parlamentares que votavam sem levar em conta sua bancada de “lentilhas”, aludindo a passagem bíblica, há alguns anos chamam de “geléia”, mas continua sendo a mesma estratégia que aparentemente é o caminho que Petro não abre mão.

Mas a crise ministerial, além de ser um mecanismo de transação para a “governança”, para um governo de Frente Popular como o do Petro, ou seja, aliança e colaboração de classes, as crises ministeriais e as convulsões internas da coalizão de governo também são expressão da correlação entre as classes. Os interesses da burguesia colidem frontalmente com as ilusões e expectativas reformistas das massas, sobretudo quando estas se transformam em luta direta. Os acalorados debates em torno da reforma da saúde demonstram isso. O que Petro está tentando fazer é resolver essas contradições indissolúveis em uma coalizão altamente instável. Mas, infelizmente, as limitações de Petro e desse tipo de governo acabam favorecendo os interesses mais gerais da burguesia, embora paradoxalmente, nesta tarefa tenha de enfrentar algumas frações burguesas. Tudo para manter a aliança de classes que compõe seu governo, em detrimento dos interesses da classe operária e de setores populares, que acabam paralisados ​​ou abertamente traídos.

Do clamor das ruas às intrigas palacianas

Do governo Petro, que se apresenta como o ‘governo da mudança’, as massas esperam que ele responda às demandas da Revolta Social que o levou à Presidência, respeite o clamor nas ruas que exige reformas reais e enfrente os setores burgueses que não hesitarão em colocar obstáculos até mesmo aos lencinhos de água morna que até agora foram propostos como reformas.

Mas Petro, fiel à sua campanha eleitoral e à sua aspiração de unir o impossível, de reconciliar exploradores e explorados, opressores e oprimidos, vítimas e vitimizadores, enveredou pelo caminho de cortar as reformas negociando diretamente com os parlamentares, seus votos por algumas reformas que ele pactuou com setores burgueses e com o imperialismo.

As mudanças no Gabinete não são uma mudança na política do Petro, que continua insistindo em acertar as reformas com a burguesia, mas uma mudança em sua equipe negociadora e um retorno à forma tradicional de negociar os votos dos parlamentares individualmente.

O mais grave é que as direções do movimento social e da classe trabalhadora têm trilhado o caminho de apoiar essas minirreformas em troca de migalhas burocráticas e seus tímidos apelos às ruas são para “deter a revolução” e não para alcançar as mudanças de metas que são necessárias.

Tradução: Vitor Jambo

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