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Palestina

Declaração| Gaza sob ataque e sangue derramado em toda a Palestina nos 75 anos da Nakba

Gaza, sob ataque sionista. Getty Images
maio 14, 2023

Mais de 130 palestinos já foram assassinados pelas forças de ocupação israelenses somente em 2023. Apenas nos últimos dias de uma nova onda de bombardeios criminosos a Gaza, 31 dos seus habitantes perderam a vida, incluindo crianças e mulheres. Uma das maiores injustiças da era contemporânea segue a todo vapor, por sete décadas e meio.

Por: LIT-QI

São 75 anos da Nakba, catástrofe palestina desde a formação do Estado racista de Israel mediante limpeza étnica planejada em 15 de maio de 1948. Naquele período, em apenas seis meses, as gangues paramilitares sionistas – fortemente armadas pela União Soviética sob Stalin, via Tchecoslováquia – expulsaram violentamente 800 mil palestinos de suas terras e destruíram cerca de 500 aldeias. Algo como 20 mil foram assassinados nesse processo, inclusive em genocídios deliberados em dezenas de vilarejos que serviram de propaganda à limpeza étnica.

A sociedade desde então encontra-se inteiramente fragmentada. Hoje são 13 milhões de palestinos, metade em campos de refugiados/diáspora, impedidos do legítimo direito de retorno. A outra metade – em áreas ocupadas em 1948 ou em 1967 – enfrenta racismo institucionalizado, apartheid, contínuas colonização e limpeza étnica.

Nos 75 anos da Nakba, os palestinos se veem abandonados pela chamada comunidade internacional, com razão, uma vez que esta segue cúmplice historicamente da catástrofe; resistir para estes não é uma opção, é sua existência. A juventude que não tem mais nada a perder tem dado sua vida por liberdade, inclusive adotando formas de resistência armada mais recentemente.

Para quem teve até o amanhã roubado, parafraseando o poeta palestino Mourid Barghouti, a morte segue à espreita desde o nascimento. E Israel tem assassinado de diversas formas: no começo do mês de maio, o sheikh Khader Adnan pereceu após 87 dias de greve de fome, na cela em que foi jogado sem qualquer acusação formal – no sistema de detenção administrativa em que mais de mil presos políticos palestinos estão submetidos, de um total de 4.900, incluindo mulheres e crianças. Era sua 12ª. passagem pelos sórdidos cárceres israelenses e sua sexta greve de fome contra a injustiça que, como seu povo, vivia. Sheikh Khader Adnan – que era padeiro em sua aldeia, Arraba, e distribuía pão para as crianças – morreu de fome.

Crise interna

A resistência e a indignação com o assassinato dele, que era bastante popular entre os palestinos e palestinas, têm sido usadas como a desculpa da vez de que Israel está se defendendo. Na verdade, vidas palestinas não importam; o massacre em curso na estreita faixa de Gaza, onde vivem amontoados – e sob cerco desumano há 16 anos – 2,4 milhões de palestinos, visa desviar a atenção para a crise interna enfrentada pelo sionismo sem máscaras, com a “extrema direita” no governo, numa tentativa também de reverter a queda livre de apoio a Netanyahu e sua coalizão. A busca de ganhos políticos às custas do sangue palestino não é novidade.

Segundo reportagem publicada na Al Jazeera, pesquisa da TV pública sionista Canal 2 revelou que 74% dos israelenses consideram que o governo vai mal. São meses de protestos gigantescos contra pretendida reforma judicial proposta por Netanyahu, em que têm se juntado e liderado reconhecidos assassinos do povo palestino. No último dia 6 de maio foram mais de 100 mil às ruas de Tel Aviv, que levantam a bandeira sionista sob o mote de que a tal democracia israelense está ameaçada – uma farsa. Não há democracia sob apartheid. Qualquer denúncia, mesmo que mínima, da segregação e do racismo intrínsecos a um estado colonial como Israel, enclave militar do imperialismo na região do Oriente Médio e Norte da África, não é bem-vinda entre aqueles que defendem sua “democracia” etnocrática.

A crise interna se espraia para o coração do imperialismo, os Estados Unidos. Milhares de jovens e organizações judaicas, como Jewish Voice for Peace e Rede de Judeus Antissionistas, dizem: “Não em nosso nome.” Demonstração disso é a repercussão do protesto ocorrido neste 11 de maio por mais de duas dúzias de jornalistas exigindo justiça no caso do assassinato há um ano de sua colega palestino-americana Shireen Abu-Akleh, quando estava trabalhando em Jenin, por um sniper israelense.

Mais: o fracasso do congressista republicano Kevin McCarthy em conseguir impedir a realização no mesmo dia 11 de um ato pelos 75 anos da Nakba promovido pela congressista democrata americano-palestina Rashida Tlaib, juntamente com o Jewish Voice for Peace, no campus do Capitólio. A sala, próxima ao Senado americano, lotou.

Tlaib apresentou uma resolução à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pelo reconhecimento da Nakba. A proposta diz que, sem enfrentá-la e “remediar suas injustiças contra o povo palestino”, não pode ser estabelecida uma “paz justa e duradoura. O texto evidencia que a Nakba está na raiz da questão.

No evento desta quarta, Tlaib foi categórica: “Digo alto e claro ao apresentar uma resolução histórica no Congresso: a Nakba aconteceu em 1948 e nunca terminou.” A ação é parte do processo de declínio do sionismo no seio da sociedade, sendo cada vez mais difícil obliterar seus crimes contra a humanidade. Há no Congresso americano pressão crescente contra o envio dos bilhões de dólares anuais em ajuda militar dos EUA a Israel.

No entanto, e apesar da iniciativa de Tlaieb, o Partido Democrata é plenamente cúmplice dos crimes e espólio cometidos pelo Estado de Israel. Historicamente apoiou seu financiamento e, mais recentemente, as leis que criminalizam nos EUA toda crítica ao sionismo. Em 25 de abril, o governo Biden emitiu uma declaração pública, “parabenizando” o estado sionista por seu 75º aniversário e “reafirmando a amizade de longa data e o compromisso com a segurança de Israel” de sua administração.

Solidariedade urgente

Isso se reflete em cada vez mais vitórias do movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções), como o cancelamento da Feira das Universidades Israelenses na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no início de abril último e a suspensão de acordos entre a cidade de Barcelona e Israel.

Fortalecer esse movimento e exigir de todos os governos, cúmplices do apartheid e colonização sionistas, o fim das relações com o Estado racista de Israel é parte da luta internacionalista, contra a exploração e opressão em qualquer parte do mundo. Uma luta conjunta com os aliados da causa palestina, trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo aqueles que enfrentam o genocídio pobre e negro nas periferias e o extermínio indígena com as mesmas armas israelenses, testadas sobre as “cobaias” palestinas e depois compradas pelos governos, mas também os judeus antissionistas.

Ao mesmo tempo, no curso dessa luta, é necessário resolver a crise de direção revolucionária palestina, bem como reconhecer e enfrentar os clássicos inimigos da causa palestina, identificados pelo revolucionário palestino marxista Ghasan Kanafani (1936-1972) em sua obra “A revolta de 1936-1939” (Editora Sundermann): além do imperialismo/sionismo, os regimes árabes, que avançam em sua normalização com Israel; e a própria burguesia árabe-palestina, que coloca o lucro acima da libertação de seu povo. Exemplos são empresários que apertam as mãos sujas de sangue palestino, como o bilionário Bashar Masri, parceiro de Israel na construção da cidade planejada de Rawabi, ao norte de Ramallah, já objeto das denúncias feitas por organizações palestinas de normalização com o apartheid.

Nestes 75 anos de contínua Nakba, urge expor ao mundo os crimes contra a humanidade de Israel e ampliar a solidariedade internacional com o povo palestino. A inspiração é sua resistência heroica e histórica, que não se dobra. A ela, apoio incondicional. Até a Palestina livre, do rio ao mar, com o retorno dos milhões de refugiados às suas terras.

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