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sexta-feira, maio 17, 2024

Colômbia:  dois anos depois da paralisação nacional, o que aconteceu com a mudança?

O primeiro de maio de 2021 não foi normal na Colômbia, como é tradicionalmente comemorado. A paralisação nacional explodiu três dias antes, em 28 de abril, e finalizou em junho. Estendeu-se desde a capital até as demais cidades e municípios do país; os colombianos no exterior participaram com grandes mobilizações nas principais cidades da Europa, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e América Latina. As exigências poderiam ser traduzidas como: exigimos uma mudança!

Por: PST – Colômbia

Quando se luta sem medo de morrer, os governos podem cair

Na paralisação nacional de 2021 a raiva e o descontentamento foram maiores que o perigo de morrer pela repressão do governo. Na insurreição de 1948 e na paralisação nacional de 1977 também se perdeu o medo da morte, e o inimigo era um só: o governo vigente. Em 2021 se somava outro: o vírus da Covid-19. Devemos lembrar que o Tribunal de Cundinamarca decretou não realizar a paralisação devido à existência da pandemia, entretanto, as massas não acataram.

Assim descreveu a revista Semana, não exatamente uma publicação de esquerda, o que houve em 28 de abril de 2021: “A chuva foi incapaz de umedecer o pavio que começou a acender nesse dia, junto com uma quantidade de pólvora acumulada desde décadas atrás”… “O país está atiçado por dois extremos políticos e por uma chamada ‘luta de classes’ que nunca se manifestou dessa forma. Talvez, a faísca que ajudou a acender o pavio foi posta por Duque quando se jogou na água com uma reforma tributária e ameaçou mexer no bolso de milhares de colombianos que sentem que não aguentam mais. O mandatário decidiu aguentar o temporal. Mas teve que retroceder. Começou por dizer que não retiraria o projeto (da reforma tributária); depois, que não sabia de onde tinham saído propostas como o imposto funerário; e, no fim, acabou retirando o texto definitivamente em uma coletiva de imprensa no domingo 2 de maio.” (Revista Semana 15 de maio de 2021).

Com uma direção consequente teríamos derrubado Duque

Um fato que mostrou a força da paralisação e a possibilidade de derrubar o governo de Duque, foi o acordo assinado entre o Comitê de Paralisação de Buenaventura e dois vice-ministros dos transportes que permitia que esse comitê de paralisação conferisse o conteúdo dos caminhões para deixá-los sair do porto. Duque desaprovou o acordo por exigência de Álvaro Uribe, mas o fato mostrou que se houvesse uma direção consequente da paralisação, que orientasse organizar o controle das massas, teria sido possível derrubar o governo. Não foi possível disputar o poder nas ruas porque a direção do Comando Nacional de Paralisação desde o primeiro dia buscou desativar a mobilização.

A paralisação de 2021 derrotou a contrarreforma tributária e a contrarreforma da saúde. Também derrubou dois ministros: o da Fazenda Alberto Carrasquilla, autor da contrarreforma tributária, e a das Relações Internacionais, Claudia Blum. Também derrubou a proposta da Colômbia como sede da Copa América de Futebol; a população não queria circo, queria uma mudança.

Das ruas às urnas

As direções das centrais operárias e da maioria dos partidos de esquerda, assim como Petro, deixaram que a paralisação se desgastasse para canalizar o descontentamento transferindo-o para as urnas. Foi assim que Petro ganhou a presidência. A vitória eleitoral de Petro foi um triunfo distorcido das massas, pensando que com este governo poderia se conseguir uma mudança.

Das urnas ao congresso

Uma vez ganha a presidência, Petro preparou os projetos da reforma trabalhista, previdenciária e da saúde, para satisfazer os empresários e apresentá-los ao congresso. Cada um destes projetos, apesar de não terem o conteúdo de uma verdadeira reforma, mas a intenção de recuperar parte do que foi perdido com contrarreformas anteriores, tensionou as forças no interior do próprio governo e com os partidos burgueses que participam do gabinete.

Os trabalhadores e a juventude embora ainda com a expectativa de mudança veem cada vez mais longe a possibilidade de sair desse congresso alguma coisa do que foi exigido na paralisação nacional.

No ministério do Trabalho tudo continua igual

Pensando que no Ministério do Trabalho as coisas iriam melhorar, a realidade é que isso não tem sido assim. Há descontentamento porque esse ministério não responde às petições dos sindicatos e continua funcionando como nos governos anteriores. Por exemplo, são muitas as ações judiciais que foram interpostas para que o ministério exija às empresas que atendam à negociação das listas de reivindicações, pois tudo parece indicar que os empresários se organizaram para atrasar e não negociar. Só para dar alguns exemplos: os trabalhadores da Domesa, Brinks, da Transportadora de Valores do Sul (TVS) e da Funtrition, apresentaram listas de reivindicações desde o ano passado e como as empresas não se sentaram para negociar, os sindicatos apresentaram ações judiciais junto ao ministério, entretanto, passaram-se meses e essa instituição não respondeu.

Das urnas às ruas

Do jeito como as coisas estão, os trabalhadores pouco a pouco se darão conta de que com a política de conciliação de Petro, das direções das centrais operárias e da maioria dos partidos de esquerda, não haverá nenhuma mudança; se convencerão de que é preciso voltar às ruas; que o que não se consegue lutando, não se conseguirá no congresso, porque nele a grande maioria dos congressistas foram eleitos com o financiamento dos empresários e, portanto, são seus representantes. Por sua vez, os congressistas dos partidos de esquerda, insistem em acompanhar o governo de Petro, buscando conciliar com esses empresários.

Tradução: Lílian Enck

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