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8M 2023

8M: Chile e a experiência do Governo de Boric

março 6, 2023

Há quase um ano, em 11 de março de 2022 Gabriel Boric assumia como o primeiro governo dito feminista da nossa história. Com o objetivo de conseguir a Paridade, a “transversalização de gênero” era o critério para formar os novos ministérios; critério, definido como uma “vontade política” para alcançar a equidade e a igualdade de gênero impulsionando três eixos feministas:  inserção para o emprego feminino, Sistema Nacional de Cuidados e Lei integral contra a violência.

Por: MIT Chile

Esta “vontade” se apoiava, por sua vez, no processo da Convenção constitucional, através dos setores feministas dos partidos do governo, inclusive o partido comunista e outros aliados como os chamados movimentos sociais liderados pela Coordenadora Feminista 8M, na plataforma feminista. Entretanto, a ilusão de que basta aumentar a representação numérica das mulheres nos cargos de todas as instituições do estado burguês, só tem sido isso: uma ilusão que não transformou substancialmente as vidas das mulheres trabalhadoras e isso porque nem a Convenção Constituinte – que culminou com a rejeição majoritária da população – nem as políticas do governo enfrentaram os verdadeiros responsáveis pela desigualdade que são as transnacionais e as dez famílias que governam em nosso país.

Hoje, a situação da mulher trabalhadora no Chile, está intimamente atravessada pela situação econômica do país, sendo a inflação um dos principais fatores que intervêm no empobrecimento paulatino de nossas famílias: a brecha salarial entre homens e mulheres, se mantém, o custo médio da mão de obra masculina por hora total é de $7.112, enquanto que para as mulheres é de $6.750, ambos insuficientes para cobrir as necessidades básicas de nossas casas.

Os salários acumularam uma depreciação de 15 meses de queda real pelos aumentos sobretudo na alimentação, aluguéis ou créditos para conseguir uma moradia (ao aumento de barracas de famílias completas que vivem nas ruas, devemos agregar mais de 1.500 casas sinistradas pelos incêndios florestais no sul do país) e o aumento do emprego informal pós pandemia onde 98% do emprego recuperado desde o pior momento da pandemia é informal ou frágil, com altas probabilidades de ser um emprego precário (Fonte Fundación SOL).

Tudo isto, em um país onde 3 de cada 4 mulheres – ou seja, 48%- se declara mantenedora da casa, a maioria delas localizadas nos setores de rendas mais baixas e com 69% que reconhece ter dívidas (Fonte CADEM). Embora haja avanços na tipificação do delito de feminicídio, que incorpora a figura legal de “suicídio feminicida”, estes não são detidos, inclusive aumentam, pois do próprio Serviço Nacional da Mulher e Equidade de Gênero (Sernameg), informaram que janeiro de 2023 representa o princípio de ano com mais vítimas de feminicídios consumados em mais de uma década, com seis vítimas de violência feminicida, além de 18 feminicídios frustrados; a isso devemos somar que nos últimos 12 meses se intensificaram o tráfico e exploração sexual de mulheres e meninas negras introduzidas por quadrilhas criminosas através da fronteira norte do país.

Frente a toda essa realidade, as políticas de Boric e de sua coalizão vão no sentido contrário das nossas necessidades e daquelas demandas apresentadas em 18 de outubro. As políticas do governo supostamente feminista, fortalecem o padrão de acumulação da riqueza em poucas mãos sem tocar nos grandes capitais das AFP (Administradoras de Fundos de Pensão/Aposentadoria), militarizando o Ngulumapu para proteger as grandes empresas florestais e aumentando a violência ao povo mapuche, suas mulheres e seus filhos.

Pior ainda, com a assinatura do Tratado de Livre Comércio TPP  11 (processo liderado pela ministra do interior e segurança pública Carolina Tohá) não só se condiciona as futuras políticas de desenvolvimento econômico (como o sistema de pensões/aposentadorias) mediante uma série de mecanismos que resguardam os lucros das grandes  multinacionais; mas também legaliza o roubo do nosso principal recurso com o qual poderíamos solucionar nossos problemas de moradia, saúde, aposentadorias/pensões, educação etc. : o cobre. Quanto maiores os lucros dos grandes grupos, dos bancos e das AFP, maior será nossa miséria.

Devemos dizer basta às promessas do governo Boric, organizar-nos com total independência de classe e mobilizar-nos para recuperar o cobre e todos nossos recursos naturais, para acabar com a carestia de vida, do pão, da moradia, porque só um governo operário e popular pode levar a fundo todas nossas demandas e assim por um fim à opressão e à exploração.

Tradução: Lílian Enck

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