sáb jun 15, 2024
sábado, junho 15, 2024

Pensar a saúde mental a partir do coletivo

Nossa saúde mental em números

Apesar da cobertura midiática sobre saúde mental – sobretudo durante e depois do início da pandemia – os dados testemunham a magnitude do problema e mostram uma tendência que recrudesce cada vez mais. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 12,5% de todos os problemas de saúde está representado pelos transtornos mentais. Tanto é assim que uma em cada quatro pessoas no mundo terá um transtorno mental ao longo de sua vida; entre 35 e 50% das pessoas com problemas de saúde mental não recebem nenhum tratamento e mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com depressão. Cerca de 800.000 pessoas se suicidam a cada ano no mundo, sendo esta a primeira causa de morte não natural em pessoas entre 15 e 29 anos.

Por: M. Roure e A. Guerrero – Corriente Roja

No Estado Espanhol 6,7% da população sofre de ansiedade, exatamente o mesmo número de pessoas com depressão. Em ambas é mais que o dobro em mulheres (9,2%) que nos homens (4%). Entre 2,5% a 3% da população adulta espanhola têm um transtorno mental grave; 88% das tarefas de cuidado e apoio são realizados por cuidadoras informais (familiares e amigos/as) e mais da metade das pessoas com transtornos mentais que precisam de tratamento, não o recebem.

Calcula-se que no Estado Espanhol haja cerca de 400.000 pessoas que padecem de transtornos compulsivos alimentares (TCA), que constituem a terceira doença crônica mais frequente entre adolescentes, especialmente em meninas jovens entre 12 e 21 anos.

O pessoal é político?

Entre 11% e 27% dos problemas de saúde mental têm sua origem e/ou são agravados, pelas condições de trabalho e de vida. Nos defrontamos com reiteradas crises pessoais de grandes massas de indivíduos. O sofrimento psíquico e emocional se tornou uma doença de primeira ordem que, embora tenha sempre existido, hoje se manifesta em amplas camadas da sociedade, se enxerga com maior força e acarreta graves consequências sociais e pessoais.

O drama dos suicídios no Estado Espanhol é alarmante: em 2020 ocorreram na Espanha 3.941mortes por suicídio ou lesões auto infligidas, o maior número nas últimas quatro décadas. O índice de suicídios entre a juventude LGTBI (que só pelo fato de sê-lo, está exposta a sofrer múltiplas situações de assédio, discriminação e violência de todo tipo), é igualmente preocupante: segundo o Observatório Espanhol contra a LGBTfobia, as tentativas de suicídio entre jovens LGBTI são de três a cinco vezes mais numerosas que entre os jovens em geral. Em média quase 50 jovens LGBTI se suicidam a cada ano e outros 950 jovens LGBTI tentam o suicídio.

Os padecimentos que sofremos e com os quais convivemos são, regra geral, produto e consequência do nosso entorno. Vivemos em uma sociedade profundamente doente que nos condena ao stress, à insônia, ao ritmo frenético, aos obstáculos administrativos, à pressão estética ou à violência estrutural e institucional, entre outras. Mais ainda, nós adolescentes e jovens que nunca conheceremos o trabalho estável ou o fácil acesso à moradia. Pelo contrário, estamos destinados à precariedade, aos salários miseráveis, ao desemprego, aos apartamentos (obrigatoriamente) compartilhados ou à impossibilidade de concretizar nossos projetos de futuro. Todos estes problemas não têm a ver com nossa capacidade individual de gerenciá-los; não são consequência da nossa motivação ou falta dela nem está em nossas mãos resolvê-los. Frente à falta de uma saída coletiva, a partir da saúde mental se acaba psicologizando o desemprego, a precariedade ou a solidão, tratando os problemas apenas em suas manifestações individuais e definindo-os em termos pessoais.

A (necessária) exigência de tomar medidas para cuidar da nossa saúde mental não pode se voltar contra nós, eclipsando problemáticas sociais e usando-a para evitar tomar medidas econômicas vigorosas, atuando unicamente sobre o efeito e não sobre a causa. Embora não se trate de negar a existência de sofrimentos subjetivos, para garantir uma boa (e estável) saúde mental não há atalhos que evitem transformar as bases sociais que nos levam a adoecer e padecer.

“Você não precisa de um psicólogo, precisa de um sindicato”…mas também de um psicólogo!

A citação cunhada pelo psiquiatra asturiano Guillermo Rendueles que se tornou viral já há alguns anos, acabou encarnando um significado perverso de tanto usá-la. É mais do que evidente que nem tudo pode ser abordado a partir do consultório privado do nosso psicólogo/a ou psiquiatra e que nenhum psicólogo/a ou médico, por mais profissional que seja, pode resolver aquilo que nos leva ao transtorno. Porém também não podemos ignorar a eficácia (e a necessidade) da psicoterapia e, em alguns casos, do tratamento farmacológico como medida para aliviar o sofrimento emocional e psíquico e tornar o cotidiano de nossas vidas mais suportável. Além disso, há pessoas com doenças mentais crônicas – tais como esquizofrenia, bipolaridade, transtorno de personalidade limítrofe (TPL), etc.- que precisam de acompanhamento de um/a profissional da mesma forma que uma pessoa em diálise precisa do acompanhamento de um/a nefrologista ou um paciente oncológico precisa do acompanhamento de seu médico.

Qualquer mal estar, seja qual for sua causa e origem, tem repercussões em nossa saúde mental e emocional. A falsa dicotomia entre psicoterapia versus organização coletiva, nos leva a dar respostas que não ajudam, de forma imediata, a apaziguar o mal estar alheio, embora nosso horizonte deva ser a articulação de respostas coletivas que considerem a saúde mental individual no contexto da organização social e da luta contra o capitalismo em crise e suas expressões de barbárie.

O verdadeiro problema está em separar quem de fato precisa de um psicólogo/psiquiatra, um tratamento ou um medicamento e quem, na realidade, está clamando por uma licença médica no trabalho porque não aguenta mais, algumas férias, uma noite de sono direto, um amigo/a que o/a ouça, uma redução de horário para poder conciliar a vida familiar ou um aumento salarial para poder chegar até o fim do mês. O sistema diz: seu stress, sua insônia, sua dor e tristeza são seus problemas e você deve resolvê-los. Nós dizemos: seu stress, sua insônia, sua dor e tristeza são um problema social com sua expressão individual e você pode fazer algo para superá-los, porém pouco. E você sozinho/a, menos. Frente à horda de coaches, os conselhos de psicologia barata, a ideologia positivista do “se você quiser, você pode” ou as explicações astrais que voltaram a viralizar entre os jovens, há que se reforçar e solidificar os vínculos sociais nas escolas e institutos, no trabalho (ou fora dele) e nos bairros.

O medicamento: parte do problema ou da solução?

O Estado Espanhol é um dos países com maior consumo de ansiolíticos e antidepressivos da OCDE: mais de 2 milhões os tomam diariamente.  Dessa forma o Orazepan,  Orfidal,  Lexatin ou  Diazepan são  os medicamentos mais vendidos na Espanha, mais que aspirinas e  analgésicos. Em 2020 – coincidindo com o início da pandemia – o consumo de ansiolíticos aumentou exponencialmente, batendo o recorde da última década.

Apesar dos tratamentos farmacológicos serem imprescindíveis em muitos casos, a resposta a numerosos transtornos de personalidade ou de conduta ou a muitos padecimentos como a ansiedade, a depressão, a insônia, os TCA ou a ideação suicida são tratadas muitas vezes, unicamente com a prescrição e consumo de fármacos devido à insuficiência de psicólogos/as ou psiquiatras no atendimento básico, fomentando assim a patologização e a medicalização como via prioritária de resposta ao mal estar.

A medicalização ao extremo, nas palavras de Rendueles, acaba se enquadrando em uma profecia auto cumprida, que se transforma em um processo inválido que engendra sujeitos dependentes por toda vida, que precisam, segundo os protocolos atuais, de vigilância e controle permanentes sem nenhuma possibilidade real de alta médica.

A grande maioria de pessoas com problemas e transtornos de saúde mental, independentemente de sua gravidade, diagnóstico, frequência de recaída ou histórico clínico, são tratadas com psicofármacos. Por sua vez, os representantes das grandes empresas e multinacionais farmacêuticas destacam que sua contribuição é chave para o bem estar da população e que, sem elas, não teria sido possível avançar no conhecimento das bases biológicas (que muitas delas têm, sem dúvida) das doenças mentais.

Os interesses comerciais das grandes empresas farmacêuticas estão influenciando e determinando os ensaios clínicos e as linhas de investigação em psiquiatria e saúde mental. Seria um absurdo pensar que as farmacêuticas são organizações solidárias que velam pelo bem estar físico e emocional das pessoas. Ao contrário, são corporações que fazem negócios com nossa saúde física e psíquica, que velam pelos seus interesses econômicos e vivem de tirar rendimentos da doença. E isto ocorre no terreno da psiquiatria, mas também em outras áreas médicas.  Foi assim que as farmacêuticas se negaram a liberar as patentes das vacinas contra a Covid-19, ação que poderia ter salvado milhões de vidas em todo o mundo. Assim como uma empresa cosmética que precisa proporcionar e vender seus produtos para que sejam consumidos, as grandes farmacêuticas usam o mesmo critério para promover e vender os psicofármacos.

A medicação, em muitos casos, ajuda a superar as afecções e inclusive salva muitas vidas. Mas se não for acompanhada de medidas sociais e recursos que ajudem as pessoas a melhorar sua qualidade (material e social) de vida, os problemas de saúde mental tendem a se perpetuar e a fincar raízes:

 “O restante dos transtornos psíquicos – depressões, angústias, transtornos de personalidade, mal estar por stress – são falsas doenças que são rotuladas como tais para individualizar sujeitos frágeis para que possam ser tratados com técnicas que não coloquem em questão o papel desencadeador da má vida urbana que está na base de seus sofrimentos” (Rendueles, 2011). 

A saúde mental no seio da família

A família é um dos lugares mais hostis para uma grande quantidade de mulheres, adolescentes e crianças. É uma instituição condenada a reproduzir em escala doméstica a ideologia dominante, chegando a criar entornos de violência dos quais é muito difícil sair quando não se tem recursos, se é muito jovem ou não se tem autonomia.

Tanto é assim, que durante a pandemia da Covid-19, a violência machista cresceu exponencialmente: as chamadas ao 016 (Telefone de Atendimento às vítimas de violência de gênero) aumentaram cerca de 12,43% em relação ao mesmo período do ano anterior, e as consultas online cerca de 269,57%. Mas não só as mulheres vivem presas com seus agressores. Muitos/as jovens do coletivo LGBTI são oprimides por sua família e estão condenades a continuar vivendo com seus agressores por não disporem de alternativa habitacional.

Por tudo isto, é necessário não apenas oferecer acompanhamento psicológico a toda pessoa que sofra violência de gênero ou lgbtifobia, mas também oferecer alternativa habitacional e recursos para poder fugir desse lugar hostil que coloca em perigo sua integridade física e emocional.

O socialismo como base, não como solução

Não é desejável viver em um mundo onde milhares de pessoas precisam de antidepressivos para sair da cama de manhã e ansiolíticos para voltar a ela de noite. O sistema capitalista é um sistema que se mantém, entre outras coisas, baseado na criação de falsas necessidades permanentemente. Coloca diante de nós fantasias impossíveis que o mercado, em lugar de satisfazer, frustra. É uma máquina de gerar não só desigualdade e pobreza, mas também dor, ódio, violência e opressão.

Não obstante seria bastante ingênuo pensar que com a transformação socialista da sociedade desaparecerão as doenças mentais e, como por magia, todos seremos mais felizes. Os TPL não desaparecerão nem a esquizofrenia, mas sim mudará qualitativamente como tratamos tais doenças e os recursos que serão destinados a isso. As condições materiais não proporcionarão a aparição de ansiedades pelo medo do desemprego ou ao despejo; as depressões reativas ao desemprego e à miséria ou os transtornos alimentares potencializados pela objetivação das pessoas na mídia.

No capitalismo, viver com uma doença mental é viver com o estigma da loucura. Se você não serve para trabalhar, você é um peso. Por outro lado, em uma sociedade onde prevaleça o ser sobre o ter, e não a produtividade a todo custo, podemos confiar que as doenças mentais que se desenvolvem, o façam em um entorno muito menos hostil, dispondo das ferramentas necessárias para tratá-las e conviver com elas.

O socialismo é apresentado como uma necessidade cada vez mais nítida para amplas camadas da população. Isso não significa, entretanto, que em uma sociedade socialista a infelicidade e o mal-estar não existirão mais. As desgraças ocorrem e, para muitas delas, nunca estamos preparados/as. Por isso, os profissionais da saúde mental continuarão sendo necessários mental para nos dar as ferramentas para entender como nos sentimos e poder administrar nossas emoções, e caminhar para um cuidado coletivo da saúde mental, respeitando os processos de cada um, priorizando o bem estar das pessoas acima de sua produtividade ou ausência dela.

É necessário um plano de luta: educação emocional para decidir, medidas sociais para não adoecer, recursos na saúde mental para não morrer

Do mesmo modo que sabemos que só uma sociedade socialista pode nos garantir uma saúde 100% pública, gratuita, de qualidade e universal, nem por isso deixamos de exigir que se invista mais em saúde e que os cortes sejam revertidos, exigimos também mais investimento em saúde mental e um plano de emergência para reforçar o atendimento em saúde mental.

Os problemas de saúde mental foram os grandes esquecidos; sempre foram negligenciados e nunca foram investidos recursos suficientes por medo, desinformação e estigma. Antes do início da pandemia, o Estado Espanhol já era um dos países com menos profissionais de saúde mental de toda a Europa: 11 psiquiatras para cada 100.000 habitantes e 6 psicólogos para cada 100.000 (Eurosdat, 2019).  O pior de tudo isto é que as enormes listas de espera e a falta de profissionais que atendam estes problemas empurram os/as pacientes para o sistema privado, o que constitui um importante obstáculo para acessar um tratamento e uma diferenciação entre aqueles que podem pagar um/a psicólogo/a e aqueles que não. É por isso que apresentamos uma proposta de programa que parte da resposta imediata a esses problemas, combinada com medidas que apontam para a ruptura com o capitalismo:

  • Mais investimento em saúde pública: precisamos de um atendimento psicológico público, gratuito e de qualidade. Não é possível que dependamos dos/as psicólogos/as e psiquiatras privados/as para podermos ser atendidos/as em condições. A saúde mental não pode ser um privilégio. Precisamos aumentar os/as psicólogos/as e psiquiatras até chegar, para começar à média europeia de 18 psicólogos para cada 100.000 habitantes, e caminhar até chegar aos 85 para cada 100.000. 
  • Saúde pública, gratuita, de qualidade e universal.  A luta por uma melhor assistência à saúde mental passa pela luta por uma saúde pública de qualidade para todos e todas. Isto começa por revogar lei 15/97, reverter os cortes e municipalizar os serviços privatizados. É necessário nacionalizar a saúde privada sob controle operário e expropriar os hospitais privados para integrar todos os setores em uma rede de saúde pública, adequada às necessidades da classe trabalhadora. Nem um euro para o privado! Não é possível que a saúde seja uma questão de classe, ninguém deveria ter privilégios por ter nascido onde nasceu. Precisamos construir novos centros médicos e unidades de terapia intensiva e contratar mais pessoal com condições dignas de trabalho.
  • Mais profissionais nos institutos com formação em questões de saúde mental e ajuda psicológica para que cada aluno/a tenha um bom acompanhamento em todos os níveis de cada etapa educacional. Profissionais e formação em assédio escolar para detectar e intervir rápida e eficazmente. Garantir o acompanhamento e tratamento das vítimas e os/as autores do bullying
  • Reforçar o Atendimento Básico e garantir a formação dos e das profissionais. A formação deve ser para todo/a aquele/a que trabalhe com pessoas em situações de vulnerabilidade. É necessário trabalhar para uma gestão da saúde mental comunitária: desde a educação até a saúde.
  • Expropriação sem indenização das grandes farmacêuticas. Os tratamentos e a medicação devem ser gratuitos e garantidos para todas as pessoas que deles precisarem, com um acompanhamento psiquiátrico. Liberação das patentes de qualquer tratamento médico: o conhecimento a serviço das pessoas e não do negócio.
  • Centros de desintoxicação públicos, gratuitos e de qualidade, que garantam o acompanhamento de seus usuários/as e estejam dotados de recursos para as terapias de desintoxicação.

Como mencionamos, o sistema capitalista atual é responsável por muitas situações de mal estar emocional e, por isso este plano de choque está intrinsicamente ligado à luta pela revogação das reformas trabalhistas que generalizam as demissões e endossam os contratos de meio período, condenando-nos assim à mais absoluta precariedade; a proibição imediata de todos os despejos: Nem uma pessoa na rua sem alternativa de moradia! Para isso é necessário expropriar sem indenização as mais de 3 milhões de moradias vazias em mãos de especuladores, bancos e fundos abutres e colocá-las a serviço de criar um parque público de moradia. É necessário reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários para garantir trabalho para todos e todas; acabar com o desemprego estrutural e garantir a conciliação real entre o trabalho e a vida para poder ter acesso ao lazer, à cultura, à natureza e à arte. É imprescindível a proibição e fechamento imediato das casas de apostas para combater a ludopatia que espreita os bairros mais pobres.

Além disso, precisamos de uma lei LGBTI e lei Trans dotadas de recursos, que incluam uma cota trabalhista LGBTI para garantir nossa independência econômica, que proíbam as terapias de conversão, que dotem de formação e pessoal especializado na saúde pública, que nos proteja de agressões e nos garantam uma vida plena. Basta de subvenções à Igreja! É necessário colocar as escolas privadas e subsidiadas a serviço de uma rede de escolas públicas e totalmente gratuitas; eliminar as PAU (Provas de Acesso à Universidade) para acabar com o sistema elitista que expulsa as filhas da classe trabalhadora da universidade.

Por último, a socialização das tarefas domésticas e dos cuidados liberará as mulheres e setores oprimidos da dupla ou tripla jornada de trabalho, desencarregando-as de uma responsabilidade que nunca lhes pertenceu e colocando-as sob responsabilidade coletiva: refeitórios, lavanderias, creches e residências para idosos públicas e gratuitas.

Todas estas medidas passam pela luta por um programa socialista que tenha como horizonte o governo dos e das trabalhadoras, que levante uma sociedade a serviço dos povos e suas necessidades e não a serviço de uma minoria parasitária. Uma sociedade que lute para acabar com a opressão de todos os setores da sociedade atual e da exploração, que viva em harmonia com a natureza.

Uma última reflexão 

O modo de produção no sistema econômico capitalista engendra a alienação do indivíduo e, por fim, a perda de sua identidade. Com a brutal densidade de população das grandes cidades, as relações sociais atuais se tornam impessoais, superficiais, transitórias e segmentadas, sem existir um espaço comum de convivência. Amplas camadas da sociedade experimentaram isolamento e solidão apesar de viverem rodeadas de muitas pessoas.

Frente a esta realidade, não há outro caminho que construir, fortalecer e consolidar as redes vicinais, as organizações sociais, sindicais e populares. É evidente que ninguém, por dispor de uma forte rede social, de bairro ou vicinal, evitará cair em uma depressão (se tiver predisposição genética ou se essa depressão for reativa a uma dificuldade social, de trabalho ou pessoal) ou sofrer um surto psicótico. Mas não temos nenhuma dúvida de que a vida em comum, a coletividade e as relações sociais profundas são indispensáveis para prevenir e aliviar os efeitos psicológicos do mal estar e para superar os padecimentos referentes à saúde mental. A organização e a ajuda mútua são chaves, além disso, para melhorar nossa qualidade de vida, podendo dar respostas aos nossos problemas que, individualmente, seria impensável fazê-lo. Todas estas medidas, embora não sejam simples, são fundamentais para nos cuidar e construir vidas que valham a pena de ser vividas.

Tradução: Lilian Enck

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