25N: Não basta mudar as leis! Depuração do sistema judicial, chega de precariedade
Há alguns anos, graças à luta das mulheres nas ruas, o feminismo tornou-se um território de disputa institucional. Não é de estranhar que o governo autoproclamado “mais progressista da história” tenha como bandeira a de “uma nova geração de direitos feministas”, como a Lei Orgânica de Garantia Integral da Liberdade Sexual (Lei “Só sim é sim”), o anteprojeto da nova Lei do Aborto para acabar com as restrições aos nossos direitos sexuais e reprodutivos ou o anteprojeto da Lei Trans, que parte do governo mantém bloqueada por motivos eleitorais.
Por: Corriente Roja
São conquistas parciais, como o fato de, desde setembro, haver uma nova estatística para tornar visíveis todos os feminicídios, ou o anunciado aumento do orçamento para enfrentar a violência machista, com 51 milhões a mais no próximo PGE de 2023. Embora a rigor, esse dinheiro é troco, em comparação com o aumento oficial da Defesa de 25,8% chegando a 12,3 bilhões. E, além disso, não mudará um modelo de Estado baseado na redução da esfera pública, na privatização dos serviços públicos e na precarização e instabilidade no trabalho dos trabalhadores/as do setor. Mas todas essas leis e medidas não vão acabar com a desigualdade, discriminação e violência que as mulheres sofrem, principalmente as mulheres trabalhadoras!
Um sistema judicial e um regime corrupto herdeiro do franquismo, que faz parte do problema e não da solução
As leis deste governo para acabar com a violência machista se concentram sobretudo em medidas punitivas que nos levam a confiar em uma justiça herdeira do franquismo e de um regime corrupto que este governo aplicou para deixar intacto. Queremos julgamento e punição para quem comete violência contra as mulheres, porque precisamos acabar com tanta impunidade. Mas não temos confiança em um sistema judicial que continua revitimizando a quem ousa denunciar e ditando sentenças machistas.
Um exemplo é o que está acontecendo com a lei “só sim é sim”, com a qual alguns juízes estão revisando e reduzindo as penas impostas a agressores sexuais e pedófilos. Segundo o governo, é preciso “ler bem a lei, falta formação em gênero, unificar doutrinas …” Dizemos que o que falta é expurgar de uma vez por todas esse regime e sistema judicial corrupto e antidemocrático, que se apoia em uma suposta divisão de poderes que é uma mentira.
Basta lembrar o caso de dois policiais locais de Estepona que, aproveitando-se de sua posição e autoridade, estupraram uma jovem de 18 anos em 2018. Foram condenados a dois anos por abuso e não por agressão sexual, libertando-se da prisão em troca de receberem curso de educação sexual e indenização financeira à vítima. E este não é, infelizmente, o único caso de policiais envolvidos em crimes de agressão sexual, nem a única condenação machista.
Não basta mudar as leis: Fora os juízes machistas e a eleição dos juízes/as pelo voto direto do povo, com salários iguais aos de um operário/a qualificado.
Basta de privilégios e que a cúpula judiciária seja intocável!
Governo do PSOE-UP, cúmplice e responsável pela violência machista
Cúmplice ao aprovar uma reforma trabalhista que aprofunda nossa precariedade e mantém a demissão fácil e barata. Por mais leis que existam, alguém acredita que com a reforma trabalhista de Yolanda Diaz é fácil denunciar assédio e agressão sexual no ambiente de trabalho? (Em 2019, apenas 4% dos acordos das empresas incorporavam a definição de assédio sexual) Como escapar mesmo da violência machista, sem independência financeira nem recursos públicos suficientes onde recorrer?
Porque, apesar do que a pandemia nos mostrou, o governo continua a permitir a privatização e o desmantelamento dos serviços públicos, cujas consequências recaem sobretudo sobre as mulheres. Sem mais orçamento para saúde e educação, a nova Lei do Aborto ou a Lei Trans será letra morta!
Porque continua mantendo milhões de mulheres com aposentadorias/pensões de miséria ou na economia clandestina e milhares de pessoas sem regularização. Acham que sem revogar a Lei dos Estrangeiros, as imigrantes em situação irregular ousarão denunciar a violência sexista que sofrem?
A pandemia primeiro, e a inflação depois, agravaram a crise econômica capitalista. Isso significou um retrocesso geral nas condições de vida da classe trabalhadora na Europa, deixando-nos em uma situação de enorme vulnerabilidade diante da violência machista. Uma vulnerabilidade que se agrava nas zonas rurais, onde os comportamentos machistas são mais normalizados, muitas mulheres trabalham em casa ou com horário reduzido e há ainda menos meios específicos para atendimento das vítimas.
Aumento emergencial de salários e aposentadorias/pensões! Cláusulas de revisão salarial automática! matemática de acordo com o IPC!
Revogação de todas as reformas trabalhistas e previdenciárias!
Mais recursos para nos proteger da violência machista e NÃO para pagar a dívida! Serviços 100% públicos e de qualidade!
Regularização administrativa AGORA!
As mentiras da direita e como combatê-las
O discurso machista, racista e lgtbifóbico, e as farsas da direita e da extrema direita falam de “chiringuitos” (pequenos negócios), para nomear as organizações e instituições que trabalham contra a violência de gênero, de “inversão do ônus da prova”, e continuam incansavelmente repetindo a existência de milhares de denúncias falsas. Parte de seu negacionismo consiste em fazer passar essa violência por violência doméstica ou intrafamiliar (como a violência vicária pela qual sete menores foram assassinados por seus pais em 2021, para prejudicar à mãe).
Como os dados matam a história, é preciso lembrar que, entre 2009 e 2021, o número de condenações por falsas acusações foi de 0,0084%; que, das 733 vítimas mortais nascidas na Espanha entre 2004 e 2021, apenas em 70 casos os agressores eram de outro país.
E que 35.359 das 38.715 registradas como vítimas de violência doméstica em 2021 são mulheres, ou seja, mais de 90%. Isso prova que a grande maioria das alegações são verdadeiras! A violência doméstica é, em grande parte, violência machista. A maioria dos agressores NÃO são imigrantes, e a família e o ambiente mais próximo continuam sendo o lugar mais perigoso para as mulheres de qualquer origem.
O que também ficou claro é que este governo não tem sido um baluarte contra a direita. A qual não é derrotada com discursos de “social-patriotismo”, nem com medidas que favoreçam a burguesia, como têm feito.
Denunciamos a hipocrisia e o cinismo da direita e da extrema direita, que pouco se importam com nossos direitos. Além de sair em defesa desse judiciário, assim como tem feito o PSOE, está tentando usar a comoção causada pela Lei do “só sim é sim” para fins partidários.
Neste 25-N voltaremos às ruas para denunciar o discurso mentiroso e de ódio daqueles que negam a desigualdade e a violência machista, e insistem em associar o crime à imigração. Mas também para exigir medidas efetivas e recursos do governo. Esta e nenhuma outra, é a única forma eficaz de combater a direita e a extrema-direita.
O machismo e sua violência crescem na juventude
Até outubro de 2022, 37 mulheres foram assassinadas, 23 não tinham apresentado queixa. Mas os feminicídios são apenas a ponta do iceberg da violência machista, que mantém uma “cifra sombria” desconhecida, porque não é noticiada e não há dados oficiais. O que sabemos é que só no segundo trimestre de 2022 foram 45.743 denúncias e o telefone 016 de violência machista recebia um pedido de socorro a cada cinco minutos.
Conhecemos também a alta prevalência da violência entre as mulheres jovens, bem como o aumento nos meninos de uma masculinidade reacionária ao avanço da igualdade. Um exemplo que viralizou nas redes são os cânticos machistas dos alunos do colégio Elias Ahuja, em Madri.
Uma de suas manifestações mais graves é a violência sexual. Os dados indicam um aumento exponencial de denúncias de crimes sexuais, onde metade das vítimas são menores de idade! Da mesma forma, há um aumento de penas para menores de até 13%.
Na Espanha, ocorrem cerca de seis estupros por dia. Não há dados oficiais sobre quantos são perpetrados em grupos, e estima-se que mais de 80% permaneçam ocultos. A maioria deles é cometida por conhecidos da vítima, o que dificulta a denúncia. E, quando o fazem, se deparam com um permanente interrogatório policial e judicial, quando não são diretamente culpabilizadas. Chama a atenção que, apesar da gravidade do crime, existam apenas 2 unidades de atendimento 24 horas em todo o estado, destinadas a atender vítimas 365 dias por ano, de forma interdisciplinar.
Apesar de estarem em sociedades formalmente igualitárias e de as jovens e adolescentes estarem na vanguarda da luta contra o machismo, sem educação sexual e em igualdade, sem recursos para implementar as leis ou medidas suficientes nos centros educativos, o machismo e a sua violência continuam permeando uma parte da juventude. O Observatório Estadual da Violência contra a Mulher alerta para a polarização na juventude em relação ao feminismo e à violência machista.
O aumento alarmante destes ataques a menores é também reflexo da sociedade e da barbárie e podridão moral a que nos conduz este capitalismo em crise, em que os nossos corpos fazem parte de um mercado global.
Educação sexual de qualidade em todos os níveis educacionais
E este governo é responsável. Porque aprovou uma lei que fala sobre educação sexual, mas continua primando pela ausência, como disciplina curricular. Porque apesar do alarido do direito com a lei, a igreja continua na escola pública, exibindo seu discurso misógino e lgtbifóbico. Enquanto isso, a pornografia, em sua maioria violenta e acessível com um único clique, é a educação sexual de muitas crianças e adolescentes.
As mulheres continuam a sofrer situações de “terror sexual”, como aconteceu este verão com o tsunami de denúncias de pinchazos[1] em espaços de lazer e entretenimento, criando um clima de pânico e sensação de insegurança. Quer tenham sido uma tentativa de submissão química ou uma brincadeira macabra, essas ações fazem parte da doutrinação e do controle das mulheres, dessa pedagogia do medo, na qual somos educadas desde a infância. No entanto, muitas campanhas de prevenção continuam centradas quase exclusivamente no que as mulheres -e não os homens- fazem ou não fazem.
Centros de Crise 24H suficientes para todas as vítimas de violência sexual!
Educação sexual como disciplina curricular!
Fora a Igreja Católica de nossas salas de aula!
O machismo é funcional para este sistema capitalista. Lutar contra isso é tarefa de toda a classe operária
Milhões de mulheres no mundo não têm garantidos os mínimos direitos democráticos e sofrem violências de todos os tipos, pelo fato de serem mulheres.
Enquanto comemoramos este 25-N, a Copa do Mundo será realizada no Catar. Em um país ditatorial onde as liberdades democráticas não são garantidas, onde a comunidade LGBTI e qualquer dissidência de gênero são reprimidos com prisão ou açoitamento, e onde as mulheres são submetidas à tutela masculina em todas as áreas.
Este governo que enche a boca a falar de igualdade deu ao Sheikh Tamim Bin Hamad Al Thani, em recente visita ao país, o Colar da Ordem de Isabel La Católica por comportamentos extraordinários em benefício das Nações. Mais um exemplo de que, quando há dinheiro envolvido, os direitos humanos desaparecem e os valores que este governo supõe ficam em suspenso.
O machismo é justificado e normalizado com base na religião, ideias pré-concebidas, estereótipos e preconceitos diversos, mas existe porque a burguesia tem interesse em promovê-los, já que a opressão das mulheres gera benefícios econômicos multimilionários. Um exemplo é a prostituição, um negócio muito lucrativo para os cofres do Estado (há países cujas economias dependem dos lucros gerados pelo tráfico e prostituição) e para alguns setores da burguesia. Assim como todos os negócios capitalistas que lucram com a objetificação do corpo feminino, que nos é mostrado diariamente nas redes sociais ou nos espaços publicitários.
Alternativas habitacionais e sociolaborais digna para mulheres em situação de prostituição! Não à objetificação e mercantilização dos corpos das mulheres!
Mas também é usado para dividir e enfraquecer a classe operária como um todo. É por isso que as organizações operárias, estudantis e populares da classe devem organizar as trabalhadoras em suas fileiras e lutar com independência de classe e com estas à frente, contra a violência machista e outras opressões. E fazê-lo, antes de tudo, em suas próprias fileiras. Se quisermos eliminar todo tipo de violência, é preciso mudar as bases materiais desse sistema baseado na exploração e na opressão. E essa não pode ser uma luta só das mulheres, mas de toda a classe operária.
A Corriente Roja chamamos a participar nas mobilizações convocadas para o 25-N, para apoiar as demandas e reivindicações das mulheres, especialmente as mulheres trabalhadoras, todos os dias do ano e a fazer do 25-N um dia internacionalista, de classe e combativo.
[1] Picadas: Os relatos das vítimas falam de estar em uma discoteca dançando com seus amigos ou cercado por muitas pessoas e sentir uma picada no braço ou na coxa e depois perceber que o membro começa a ficar dormente a ponto de sentir tonturas e indisposição geral. Feita a façanha, esperam cerca de 15 minutos, até que os entorpecentes façam efeito e as meninas percam sua autonomia e faculdades, para se aproveitar e abusar sexualmente delas ou roubar seus pertences. acessível em: https://www.laopiniondemalaga.es/malaga/2022/08/06/sumision-quimica-pinchazos-discotecas-como-actuar-72043219.html
25N: Não basta mudar as leis! Depuração do sistema judicial, chega de precariedade
Há alguns anos, graças à luta das mulheres nas ruas, o feminismo tornou-se um território de disputa institucional. Não é de estranhar que o governo autoproclamado “mais progressista da história” tenha como bandeira a de “uma nova geração de direitos feministas”, como a Lei Orgânica de Garantia Integral da Liberdade Sexual (Lei “Só sim é sim”), o anteprojeto da nova Lei do Aborto para acabar com as restrições aos nossos direitos sexuais e reprodutivos ou o anteprojeto da Lei Trans, que parte do governo mantém bloqueada por motivos eleitorais.
Por: Corriente Roja
São conquistas parciais, como o fato de, desde setembro, haver uma nova estatística para tornar visíveis todos os feminicídios, ou o anunciado aumento do orçamento para enfrentar a violência machista, com 51 milhões a mais no próximo PGE de 2023. Embora a rigor, esse dinheiro é troco, em comparação com o aumento oficial da Defesa de 25,8% chegando a 12,3 bilhões. E, além disso, não mudará um modelo de Estado baseado na redução da esfera pública, na privatização dos serviços públicos e na precarização e instabilidade no trabalho dos trabalhadores/as do setor. Mas todas essas leis e medidas não vão acabar com a desigualdade, discriminação e violência que as mulheres sofrem, principalmente as mulheres trabalhadoras!
Um sistema judicial e um regime corrupto herdeiro do franquismo, que faz parte do problema e não da solução
As leis deste governo para acabar com a violência machista se concentram sobretudo em medidas punitivas que nos levam a confiar em uma justiça herdeira do franquismo e de um regime corrupto que este governo aplicou para deixar intacto. Queremos julgamento e punição para quem comete violência contra as mulheres, porque precisamos acabar com tanta impunidade. Mas não temos confiança em um sistema judicial que continua revitimizando a quem ousa denunciar e ditando sentenças machistas.
Um exemplo é o que está acontecendo com a lei “só sim é sim”, com a qual alguns juízes estão revisando e reduzindo as penas impostas a agressores sexuais e pedófilos. Segundo o governo, é preciso “ler bem a lei, falta formação em gênero, unificar doutrinas …” Dizemos que o que falta é expurgar de uma vez por todas esse regime e sistema judicial corrupto e antidemocrático, que se apoia em uma suposta divisão de poderes que é uma mentira.
Basta lembrar o caso de dois policiais locais de Estepona que, aproveitando-se de sua posição e autoridade, estupraram uma jovem de 18 anos em 2018. Foram condenados a dois anos por abuso e não por agressão sexual, libertando-se da prisão em troca de receberem curso de educação sexual e indenização financeira à vítima. E este não é, infelizmente, o único caso de policiais envolvidos em crimes de agressão sexual, nem a única condenação machista.
Não basta mudar as leis: Fora os juízes machistas e a eleição dos juízes/as pelo voto direto do povo, com salários iguais aos de um operário/a qualificado.
Basta de privilégios e que a cúpula judiciária seja intocável!
Governo do PSOE-UP, cúmplice e responsável pela violência machista
Cúmplice ao aprovar uma reforma trabalhista que aprofunda nossa precariedade e mantém a demissão fácil e barata. Por mais leis que existam, alguém acredita que com a reforma trabalhista de Yolanda Diaz é fácil denunciar assédio e agressão sexual no ambiente de trabalho? (Em 2019, apenas 4% dos acordos das empresas incorporavam a definição de assédio sexual) Como escapar mesmo da violência machista, sem independência financeira nem recursos públicos suficientes onde recorrer?
Porque, apesar do que a pandemia nos mostrou, o governo continua a permitir a privatização e o desmantelamento dos serviços públicos, cujas consequências recaem sobretudo sobre as mulheres. Sem mais orçamento para saúde e educação, a nova Lei do Aborto ou a Lei Trans será letra morta!
Porque continua mantendo milhões de mulheres com aposentadorias/pensões de miséria ou na economia clandestina e milhares de pessoas sem regularização. Acham que sem revogar a Lei dos Estrangeiros, as imigrantes em situação irregular ousarão denunciar a violência sexista que sofrem?
A pandemia primeiro, e a inflação depois, agravaram a crise econômica capitalista. Isso significou um retrocesso geral nas condições de vida da classe trabalhadora na Europa, deixando-nos em uma situação de enorme vulnerabilidade diante da violência machista. Uma vulnerabilidade que se agrava nas zonas rurais, onde os comportamentos machistas são mais normalizados, muitas mulheres trabalham em casa ou com horário reduzido e há ainda menos meios específicos para atendimento das vítimas.
Aumento emergencial de salários e aposentadorias/pensões! Cláusulas de revisão salarial automática! matemática de acordo com o IPC!
Revogação de todas as reformas trabalhistas e previdenciárias!
Mais recursos para nos proteger da violência machista e NÃO para pagar a dívida! Serviços 100% públicos e de qualidade!
Regularização administrativa AGORA!
As mentiras da direita e como combatê-las
O discurso machista, racista e lgtbifóbico, e as farsas da direita e da extrema direita falam de “chiringuitos” (pequenos negócios), para nomear as organizações e instituições que trabalham contra a violência de gênero, de “inversão do ônus da prova”, e continuam incansavelmente repetindo a existência de milhares de denúncias falsas. Parte de seu negacionismo consiste em fazer passar essa violência por violência doméstica ou intrafamiliar (como a violência vicária pela qual sete menores foram assassinados por seus pais em 2021, para prejudicar à mãe).
Como os dados matam a história, é preciso lembrar que, entre 2009 e 2021, o número de condenações por falsas acusações foi de 0,0084%; que, das 733 vítimas mortais nascidas na Espanha entre 2004 e 2021, apenas em 70 casos os agressores eram de outro país.
E que 35.359 das 38.715 registradas como vítimas de violência doméstica em 2021 são mulheres, ou seja, mais de 90%. Isso prova que a grande maioria das alegações são verdadeiras! A violência doméstica é, em grande parte, violência machista. A maioria dos agressores NÃO são imigrantes, e a família e o ambiente mais próximo continuam sendo o lugar mais perigoso para as mulheres de qualquer origem.
O que também ficou claro é que este governo não tem sido um baluarte contra a direita. A qual não é derrotada com discursos de “social-patriotismo”, nem com medidas que favoreçam a burguesia, como têm feito.
Denunciamos a hipocrisia e o cinismo da direita e da extrema direita, que pouco se importam com nossos direitos. Além de sair em defesa desse judiciário, assim como tem feito o PSOE, está tentando usar a comoção causada pela Lei do “só sim é sim” para fins partidários.
Neste 25-N voltaremos às ruas para denunciar o discurso mentiroso e de ódio daqueles que negam a desigualdade e a violência machista, e insistem em associar o crime à imigração. Mas também para exigir medidas efetivas e recursos do governo. Esta e nenhuma outra, é a única forma eficaz de combater a direita e a extrema-direita.
O machismo e sua violência crescem na juventude
Até outubro de 2022, 37 mulheres foram assassinadas, 23 não tinham apresentado queixa. Mas os feminicídios são apenas a ponta do iceberg da violência machista, que mantém uma “cifra sombria” desconhecida, porque não é noticiada e não há dados oficiais. O que sabemos é que só no segundo trimestre de 2022 foram 45.743 denúncias e o telefone 016 de violência machista recebia um pedido de socorro a cada cinco minutos.
Conhecemos também a alta prevalência da violência entre as mulheres jovens, bem como o aumento nos meninos de uma masculinidade reacionária ao avanço da igualdade. Um exemplo que viralizou nas redes são os cânticos machistas dos alunos do colégio Elias Ahuja, em Madri.
Uma de suas manifestações mais graves é a violência sexual. Os dados indicam um aumento exponencial de denúncias de crimes sexuais, onde metade das vítimas são menores de idade! Da mesma forma, há um aumento de penas para menores de até 13%.
Na Espanha, ocorrem cerca de seis estupros por dia. Não há dados oficiais sobre quantos são perpetrados em grupos, e estima-se que mais de 80% permaneçam ocultos. A maioria deles é cometida por conhecidos da vítima, o que dificulta a denúncia. E, quando o fazem, se deparam com um permanente interrogatório policial e judicial, quando não são diretamente culpabilizadas. Chama a atenção que, apesar da gravidade do crime, existam apenas 2 unidades de atendimento 24 horas em todo o estado, destinadas a atender vítimas 365 dias por ano, de forma interdisciplinar.
Apesar de estarem em sociedades formalmente igualitárias e de as jovens e adolescentes estarem na vanguarda da luta contra o machismo, sem educação sexual e em igualdade, sem recursos para implementar as leis ou medidas suficientes nos centros educativos, o machismo e a sua violência continuam permeando uma parte da juventude. O Observatório Estadual da Violência contra a Mulher alerta para a polarização na juventude em relação ao feminismo e à violência machista.
O aumento alarmante destes ataques a menores é também reflexo da sociedade e da barbárie e podridão moral a que nos conduz este capitalismo em crise, em que os nossos corpos fazem parte de um mercado global.
Educação sexual de qualidade em todos os níveis educacionais
E este governo é responsável. Porque aprovou uma lei que fala sobre educação sexual, mas continua primando pela ausência, como disciplina curricular. Porque apesar do alarido do direito com a lei, a igreja continua na escola pública, exibindo seu discurso misógino e lgtbifóbico. Enquanto isso, a pornografia, em sua maioria violenta e acessível com um único clique, é a educação sexual de muitas crianças e adolescentes.
As mulheres continuam a sofrer situações de “terror sexual”, como aconteceu este verão com o tsunami de denúncias de pinchazos[1] em espaços de lazer e entretenimento, criando um clima de pânico e sensação de insegurança. Quer tenham sido uma tentativa de submissão química ou uma brincadeira macabra, essas ações fazem parte da doutrinação e do controle das mulheres, dessa pedagogia do medo, na qual somos educadas desde a infância. No entanto, muitas campanhas de prevenção continuam centradas quase exclusivamente no que as mulheres -e não os homens- fazem ou não fazem.
Centros de Crise 24H suficientes para todas as vítimas de violência sexual!
Educação sexual como disciplina curricular!
Fora a Igreja Católica de nossas salas de aula!
O machismo é funcional para este sistema capitalista. Lutar contra isso é tarefa de toda a classe operária
Milhões de mulheres no mundo não têm garantidos os mínimos direitos democráticos e sofrem violências de todos os tipos, pelo fato de serem mulheres.
Enquanto comemoramos este 25-N, a Copa do Mundo será realizada no Catar. Em um país ditatorial onde as liberdades democráticas não são garantidas, onde a comunidade LGBTI e qualquer dissidência de gênero são reprimidos com prisão ou açoitamento, e onde as mulheres são submetidas à tutela masculina em todas as áreas.
Este governo que enche a boca a falar de igualdade deu ao Sheikh Tamim Bin Hamad Al Thani, em recente visita ao país, o Colar da Ordem de Isabel La Católica por comportamentos extraordinários em benefício das Nações. Mais um exemplo de que, quando há dinheiro envolvido, os direitos humanos desaparecem e os valores que este governo supõe ficam em suspenso.
O machismo é justificado e normalizado com base na religião, ideias pré-concebidas, estereótipos e preconceitos diversos, mas existe porque a burguesia tem interesse em promovê-los, já que a opressão das mulheres gera benefícios econômicos multimilionários. Um exemplo é a prostituição, um negócio muito lucrativo para os cofres do Estado (há países cujas economias dependem dos lucros gerados pelo tráfico e prostituição) e para alguns setores da burguesia. Assim como todos os negócios capitalistas que lucram com a objetificação do corpo feminino, que nos é mostrado diariamente nas redes sociais ou nos espaços publicitários.
Alternativas habitacionais e sociolaborais digna para mulheres em situação de prostituição! Não à objetificação e mercantilização dos corpos das mulheres!
Mas também é usado para dividir e enfraquecer a classe operária como um todo. É por isso que as organizações operárias, estudantis e populares da classe devem organizar as trabalhadoras em suas fileiras e lutar com independência de classe e com estas à frente, contra a violência machista e outras opressões. E fazê-lo, antes de tudo, em suas próprias fileiras. Se quisermos eliminar todo tipo de violência, é preciso mudar as bases materiais desse sistema baseado na exploração e na opressão. E essa não pode ser uma luta só das mulheres, mas de toda a classe operária.
A Corriente Roja chamamos a participar nas mobilizações convocadas para o 25-N, para apoiar as demandas e reivindicações das mulheres, especialmente as mulheres trabalhadoras, todos os dias do ano e a fazer do 25-N um dia internacionalista, de classe e combativo.
[1] Picadas: Os relatos das vítimas falam de estar em uma discoteca dançando com seus amigos ou cercado por muitas pessoas e sentir uma picada no braço ou na coxa e depois perceber que o membro começa a ficar dormente a ponto de sentir tonturas e indisposição geral. Feita a façanha, esperam cerca de 15 minutos, até que os entorpecentes façam efeito e as meninas percam sua autonomia e faculdades, para se aproveitar e abusar sexualmente delas ou roubar seus pertences. acessível em: https://www.laopiniondemalaga.es/malaga/2022/08/06/sumision-quimica-pinchazos-discotecas-como-actuar-72043219.html