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segunda-feira, junho 17, 2024

Catar 2022 | As expectativas não devem nos fazer esquecer

O entusiasmo pelo início da Copa do Mundo já se faz sentir. Nas fábricas se organizam para entrar mais tarde ou sair mais cedo, nas escolas os alunos perguntam vão ter falta nos dias de jogo da seleção. O ímpeto de ter conquistado a Copa América nos deixa entusiasmados com a possibilidade de vencer este torneio.

Por: PSTU-Argentina

Fazemos parte desses setores entusiasmados, mas ao mesmo tempo temos a obrigação de denunciar todo tipo de injustiça contra a classe trabalhadora e os setores oprimidos pelo sistema capitalista, e a Copa do Mundo da FIFA não é exceção. Neste caso, o país-sede será o Catar, questão decidida há vários anos. Um país que, para ser o organizador, “subornou” toda a direção da FIFA que acabou com prisões e a renúncia de grande parte de seus dirigentes, anos depois.

Embora esse tipo de negociação não seja novidade na FIFA, neste caso no Catar as mortes de trabalhadores chegam aos milhares, as perseguições e proibições à comunidade LGBT+ são um sinal de que para quem dirige, o futebol não passa de negócio.

No Catar, ser imigrante e trabalhador é igual à morte

Este país foi escolhido como sede em 2010, um país de apenas 3 milhões de habitantes, 80% dos quais são imigrantes. Esse número sobe para 96% se falarmos de trabalhadores que geralmente vêm de países como a Índia, Bangladesh, Quênia e Nepal, que em busca de uma vida melhor e conseguir dinheiro para enviar para suas famílias, acabam sendo submetidos a condições extremas de exploração e sem direitos. Isso, obviamente, pode ter resultados fatais para os trabalhadores e suas famílias. Assim aponta o jornal inglês The Guardian: “… o número pode subir para 6.500 trabalhadores mortos desde 2010, quando o Catar foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2022.”

O Governo do Catar não considera problemática a maioria dessas mortes, como evidenciam os seguintes dados: 69% das mortes de trabalhadores indianos, nepaleses e bengaleses são classificadas como “naturais”. No caso dos trabalhadores de nacionalidade indiana, esse número sobe para 80%.

Esses números terríveis são resultado de trabalhos em altura sem nenhum tipo de proteção e longas jornadas de trabalho sob o sol do Catar (média de 36 graus).

Como se não bastasse a morte, são pouquíssimos os que têm a possibilidade de repatriar os restos mortais do seu familiar devido ao custo excessivo da transferência. Outra razão pela qual muitas famílias não tiveram essa oportunidade é que as construtoras retêm os documentos dos trabalhadores, para que eles não possam sair, e o fazem apesar de apresentarem denúncias por esse motivo.

Uma FIFA que oficializa a condenação das mulheres e da comunidade LGBT+

O governo do Catar, uma monarquia islâmica, foi muito nítido sobre isso.

No caso das mulheres, a lei deste pequeno país não deixa dúvidas: “Mulheres que tenham filhos fora do casamento podem ser presas, já que a lei do Catar proíbe relações sexuais antes do casamento”.

Sobre as diversidades: “O Governo já havia prometido que visitantes de todas as orientações sexuais seriam bem-vindos, desde que evitassem demonstrações públicas de afeto”. Isso significa, por exemplo, que casais de lésbicas ou gays que se beijam na via pública estão em condições de serem condenados. Também é proibido o uso da bandeira LGBT+ multicolorida.

Para ser mais sério, no caso do Qatar, quando se trata de quebrar as leis para mulheres e LGBT+, pode significar até uma sentença de morte.

Por uma Copa do Mundo que inclua todos, todas e todes

É claro que a opressão e exploração de trabalhadores, mulheres e lgbt+ não é algo que surgiu com a organização desta copa do mundo. Mas é preciso aproveitar a visibilidade que um evento dessa magnitude dá para denunciar e, assim, promover a solidariedade com lutas, como as do país vizinho Irã onde o povo, liderado por mulheres, luta contra o regime ditatorial dos aiatolás.

Precisamos construir eventos esportivos a serviço da maioria, não omitindo os problemas dos/as trabalhadores/as, e não a serviço dos lucros de algumas multinacionais que aumentam notavelmente suas fortunas a cada quatro anos. O capitalismo está contaminando um esporte popular e bonito com sua ganância sem fim.

Dirigentes, jogadores e “ídolos” milionários do futebol em primeiro plano e atrás de um rastro de mortes operárias, silenciados pelos governos e pela mídia que defendem esse sistema horrível. Mais um motivo que revela porque temos que nos organizar para destruí-lo.

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