75 anos depois de Rincón Bomba: um genocídio cometido no primeiro governo de Perón

Em 10 de outubro de 1947, um massacre perpetrado pela Gendarmeria Nacional Argentina com o apoio da Força Aérea contra milhares de trabalhadores rurais, mulheres, idosos e crianças do povo originário Pilagá começou em Rincón Bomba (um lugar perto da cidade formosana – Provincia de Formosa – de Las Lomitas). Um ato genocida que causou pelo menos 1.500 vítimas, que incluiu torturas, estupros, enterros em covas clandestinas e terminou com os sobreviventes reduzidos à uma virtual escravidão.
Por: PSTU Argentina
As vítimas pertenciam a uma das etnias nativas do Chaco, norte da Argentina, que resistiu à colonização até o século XX. Eram trabalhadores rurais que haviam sido enganados pelo oligarca Robustiano Patrón Costas no engenho El Tabacal, em Salta, que os demitiu sem qualquer compensação depois de tentar pagar-lhes muito menos do que o salário acordado.
Abandonadas à sua própria sorte, as centenas de famílias nativas viajaram a pé até Las Lomitas (a 450 km) para tentar obter ajuda do Governo Nacional, já que não só havia um esquadrão da Gendarmeria, como o Governo de Formosa que dependia diretamente da Casa Rosada. No entanto, os Pilagás não receberam mais do que uma atitude racista repudiável das instituições locais e dos pecuaristas, incluindo o latifundiário Rolando de Hertelendy nomeado por Perón em 1946 como governador de Formosa.
Esse desprezo traduziu-se, a partir daquele terrível 10 de outubro de 1947, em três semanas de massacres coletivos, acompanhados de todos os tipos de abusos cometidos contra os indígenas que conseguiram sobreviver, incluindo estupros de meninas menores em troca de poupar a vida de suas famílias. Apenas algumas centenas de indígenas sobreviveram, mas foram submetidos a um regime de trabalho quase escravo nas “reduções” controladas pela Direção Nacional Aborígene.
Embora Cristina declare que o peronismo nunca reprimiu…
Não precisa nem dizer que ninguém convocou os envolvidos nesses eventos a prestar contas: nem o governo peronista nem aqueles que o derrubaram em 1955 se preocuparam em fazer justiça aos Pilagás. Ao contrário, o fato foi intencionalmente relegado ao esquecimento, fora daquela comunidade nativa, até que em 2005 foram encontradas valas comuns ao redor de Rincón Bomba. Foi o que deu início ao processo em que a Federação do Povo Pilagá acusa o Estado Nacional pelo genocídio sofrido, genocídio reconhecido pela justiça em 2020, em uma decisão que levou à investigação dos autores sobreviventes.
Entretanto, para além dessa justiça histórica, o despejo dos povos indígenas continua, e não poderia ser de outra forma: governe quem governe, até agora o verdadeiro poder deste país é exercido por um grupo concentrado de bilionários que são parceiros menores na exploração dos recursos naturais. que o capital estrangeiro exerce sobre nosso território. Exploração que, além de nos condenar ao atraso colonial e à destruição ambiental, é cruel com aqueles que vivem onde estão os recursos a serem saqueados: principalmente os povos originários, vítimas de campanhas de extermínio e perseguições para facilitar a desapropriação, pois vêm sofrendo até agora, como atesta a recente repressão do governo peronista da família Fernández contra a comunidade mapuche de Villa Mascardi, na província de Río Negro.
Por mais “nacional e popular” que um governo se diga, ao não romper com a ordem capitalista colonial e o papel que o mercado mundial atribuiu à Argentina, a política em relação às vítimas do saque será sempre a mesma.
Para travar esta barbárie que se alastra ao longo dos séculos, é necessário tomar o poder político e econômico daquele setor social que se enriquece entregando o país ao capital estrangeiro e impor um governo dos trabalhadores e do povo que consiga uma Segunda e Definitiva Independência, impulsionando a revolução socialista em nossa América.
Tradução: Vitor Jambo