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quarta-feira, julho 24, 2024

COP27 tem como anfitrião ditador do Egito

Aprofundamento da crise climática e retrocessos nos compromissos dos países dão a tônica da COP27 que será realizada sob a ditadura egípcia de Al Sisi.

Por: Lena Souza

Mais uma vez a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que se realizará entre 6 e 18 de novembro de 2022 vai apresentar balanços negativos das metas necessárias para manter o aumento global das temperaturas em 1,5 graus Celsius, previsto no Acordo de Paris. E além disso, se realizará no Egito, país governado pelo ditador Al Sisi, que proíbe e criminaliza reuniões e protestos, bloqueia o acesso à informação e prende e assassina ativistas, passando por cima de qualquer direito humano.

Fracasso climático e aprofundamento da crise

O 13º relatório sobre os compromissos atualizados pelos países desde a COP26, realizada em Glasgow, Reino Unido em 2021, mostra uma mudança insignificante entre o que deveria ser a redução das emissões previstas até 2030 para limitar o aquecimento global abaixo de 2°C, de preferência 1,5° C como previsto no acordo de Paris. Com base nas NDCs, as chamadas contribuições nacionalmente determinadas, as políticas atualmente em vigor no mundo apontam para um aumento de temperatura de 2,8º C até o final do século, segundo o relatório.

Há uma diferença grande em relação ao que os países se comprometem em diminuir na emissão de gases de efeito estufa e o que é necessário para impedir que a crise climática continue se aprofundando. E há que considerar que, de acordo com os estudos sobre o tema, mesmo que houvesse um processo de descarbonização, os gases de efeito estufa já presentes na atmosfera e as atuais tendências de emissões teriam impactos climáticos até 2040.[1]

De acordo com a cientista e coautora do relatório, Joana Portugal: “Nós temos uma redução de emissão de menos de uma gigatonelada, 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, o que é um pouco frustrante, porque por um lado, nós vivemos uma emergência climática que foi, na verdade, também condizente com uma crise pandêmica que tivemos no contexto da pandemia e agora uma grande crise energética devido aos conflitos que estamos sentindo na Europa. Então, na verdade, talvez pareça que face a outras emergências que surgiram na humanidade, a questão climática fica um pouquinho posta numa crescente paralela, quando na verdade nós temos tudo numa grande sinergia e uma grande correlação entre todas as crises e emergências que estamos vivendo na atualidade.”[2]

De fato, a crise provocada pela pandemia e pela invasão da Rússia à Ucrânia deixou o aquecimento global de lado, colocando por terra discursos como o de Biden que, durante sua campanha, prometeu implementar política para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis. Porém, na realidade incentivou o aumento da produção das empresas de petróleo e gás usando como justificativa o aumento dos preços e a redução no fornecimento pela Rússia. Diversos países da União Europeia também estão reativando usinas de carvão e recorrendo a países da África e outros em busca de novos fornecedores de gás. 

O argumento utilizado por Biden e governos europeus para o investimento em petróleo e gás e, até mesmo usinas de carvão, é que não há outra saída. No entanto, um novo informe publicado pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) afirma que “os investimentos previstos em novos campos de petróleo e gás para 2030 poderiam financiar totalmente o aumento de energia eólica e solar necessário para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento global a 1, 5º.”[3]

Enquanto isso…

A crise climática continua causando impactos diretos nas vidas e nos meios de subsistência das populações pobres em todo o mundo, causando perdas e sofrimentos principalmente aos setores marginalizados nos países mais pobres.

Secas que devastam plantações, calor extremo e inundações nunca vistas já ameaçam a segurança alimentar. De acordo com o Sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), entre 2008 e 2022, mais de 20 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas devido a inundações e tempestades e a previsão do mesmo relatório é que as mudanças climáticas vão colocar entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas na pobreza extrema, ao longo da próxima década. 

Somente neste ano de 2022, desde junho, 1.695 pessoas morreram no Paquistão em consequência das inundações causadas pelas chuvas das monções e de acordo com o relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), as inundações aumentarão a insegurança alimentar de 5,7 milhões de pessoas que vivem nas zonas afetadas pelas inundações. Calcula-se mais de 2 milhões de casas destruídas e centenas de milhares de famílias vivendo em campos temporários, para não falar da propagação de doenças que podem levar a mais mortes, principalmente de crianças.

E enquanto acontecem esse tipo de catástrofe provocando verdadeiro caos para a vida da população pobre e vulnerável, a implementação de um mecanismo para financiamento de perdas e danos proposto pelos países em desenvolvimento na COP26 ainda não saiu da mesa de diálogo sobre possíveis acordos financeiros, a qual está prevista para durar até 2024. 

Mais uma Cúpula fracassada no país do ditador Al Sisi

Além de apresentar resultados que mais uma vez comprova o fracasso dos administradores do capitalismo mundial em garantir a preservação do planeta, a COP27 acontecerá no Egito, país onde o governo sequer garante os direitos humanos. No país está proibido protestos e reuniões, e de acordo com informações levantadas pela ONG Human Rights Watch[4], “o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, disse que seu governo planeja designar ‘uma instalação adjacente ao centro de conferências’ em Sharm el-Sheikh, na Península do Sinai, onde a reunião será realizada, para os ativistas poderem realizar protestos e expressar suas opiniões”. Ou seja, não haverá liberdade de manifestação.

A mesma ONG prevê que, dado os abusos aos direitos humanos praticados pelo regime de Al Sisi, é muito provável que haja “vigilância física e digital contra os participantes da COP27”, inclusive com maior risco para participantes LGBTs, já que o governo prende e processa pessoas LGBTs no Egito. Além disso prevê que a possibilidade de que ativistas ambientalistas egípcios façam manifestações durante a COP é pequena, já que experiências passadas mostram que pode haver represálias contra os mesmos, pós-evento.

 O capitalismo não garante futuro nem liberdade

Com o sistema capitalista cada vez em maior decadência o que nos espera, e o que espera as gerações futuras, é o aprofundamento da barbárie que já estamos presenciando em todos os âmbitos de nossas vidas. Aumento do custo de vida, da violência, do desemprego, precarização dos nossos direitos e, além disso, um planeta em completo desequilíbrio provocado pelas políticas aplicadas por uma classe que, para garantir seus lucros, nos leva para o caminho da destruição.

E para garantir a aplicação de seus planos, aprofundam e intensificam a utilização da força contra a liberdade de expressão e de organização para que trabalhadores e trabalhadoras e a juventude não busquem um novo caminho para a necessária destruição deste sistema.

Por isso afirmamos sempre que somente destruindo o sistema capitalista e construindo uma sociedade socialista que garanta a liberdade e a igualdade podemos modificar o futuro do nosso planeta e garantir um futuro com qualidade de vida para as futuras gerações.


[1] https://www.wribrasil.org.br/noticias/impacto-das-mudancas-climaticas-6-descobertas-do-relatorio-do-ipcc-de-2022-sobre-adaptacao#:~:text=Mesmo%20se%20o%20mundo%20passar,clim%C3%A1ticos%20inevit%C3%A1veis%20significativos%20at%C3%A9%202040.

[2] https://news.un.org/pt/story/2022/10/1804412

[3] https://elperiodicodelaenergia.com/todo-el-dinero-que-se-invertira-en-petroleo-y-gas-hasta-2030-financiaria-todas-las-necesidades-de-renovables-para-alcanzar-los-objetivos-climaticos/

[4] https://www.hrw.org/pt/news/2022/10/26/cop27-qa#:~:text=A%20COP27%2C%20prevista%20para%20novembro,previsto%20no%20Acordo%20de%20Paris.

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