qui abr 18, 2024
quinta-feira, abril 18, 2024

Cinco anos depois de 1º de outubro

O governo Esquerda Republicana da Catalunha – ERC e Junts está integrado nos mecanismos autonomistas da Monarquia espanhola e emaranhado em disputas dolorosas devido à sua incapacidade de realizar políticas consistentes com a autodeterminação.

Por: Corriente Roja

O falso diálogo com o Estado, através da Mesa de Diálogo, encaixou cada partido dentro do Regime de 78, um Regime herdado do franquismo, que já deixou de ser questionado. Através deste falso diálogo, a última novidade foi o anúncio do presidente catalão, Pere Aragonès, defendendo um novo referendo acordado com o Estado (via Canadense). A ERC apoia o governo de Pedro Sánchez, um governo que vai contra as exigências nacionais da Catalunha e contra os interesses básicos da classe trabalhadora.

Como se não bastasse, agora que já dialogaram com o Estado e têm sua cadeira autonomista protegida e sua Anistia, deixaram de se preocupar com as represálias que surgiram como resultado da defesa do referendo 1-O e a defesa dos presos políticos. A Generalitat continua como acusação particular em mais de trinta casos, utilizando as declarações dos Mossos d’Esquadra[1] como prova para processar os ativistas. Não vemos em nenhum lugar a Anistia de que falam: é claro que as promessas de Aragonès são uma farsa e que não vão realizar uma verdadeira Anistia, para além da de Oriol Junqueras e companhia.

A partir deste abandono na defesa da República Catalã, a ANC[2] (Assembleia Nacional Constituinte)questiona todas as partes pró-independência, incluindo a CUP (Candidatura de Unidade Popular). Na verdade, não é tão estranho assim. A CUP há muito faz parte do “bloco governante”, juntamente com os partidos pró-independência no governo (https://www.corrienteroja.net/la-cup-de-fuerza-rupturista-al-bloque-de-gobernabilidad/). Apesar destas críticas, a ANC repete mais uma vez a mesma estratégia errada da qual se queixa, colocando o fardo apenas sobre os políticos traidores, e mostrando um excesso de confiança nas instituições deste Regime, repetindo a mesma fórmula que Junts pel Sí fez nas Eleições Autônomas de 2015. Tudo isso se reflete na forma como usa a mobilização popular com o objetivo de levá-la a novas eleições, onde a ANC se apresentaria com uma lista cívica composta de diferentes personalidades e membros da cidadania: “Independência ou Eleições”. Mesmo assim, está confiante de que quando o regime atacar através da repressão, a luta não-violenta será a única estratégia para combatê-la.

Diante desta distorção da realidade, não nos esquecemos dos golpes com bastões e das agressões contra o povo organizado com as ações da Polícia Nacional e da Guarda Civil em 1º de outubro, ou da resposta enérgica da polícia de choque, incluindo os Mossos d’Esquadra, nas mobilizações pós-sentença. Nós de Corriente Roja defendemos a autodefesa organizada para combater a repressão estatal.

Mesmo assim, a ANC esquece que os líderes da ANC (e Òmnium) participaram dessa orientação e que foram cúmplices necessários para legitimar a política derrotista dos partidos oficiais pró-independência. Nem a ANC diz nada sobre a confiança cega que eles (e ela também) promoveram na União Europeia, quando a realidade mostrou que a UE era, e continua sendo, um dos maiores inimigos da República Catalã.

Continuamos pela República Catalã e pelo o Socialismo.

A experiência nos mostra que, com o Estado espanhol e suas instituições, o direito de decisão do povo catalão não tem lugar. Nunca conseguiremos alcançar a República Catalã à qual aspiramos se não questionarmos o sistema social e político capitalista em que vivemos, que leva a juventude à miséria, a classe trabalhadora à pobreza e continua a enriquecer às nossas custas os bancos, as grandes empresas e os políticos que governam para aqueles que estão no topo.

Por outro lado, sem questionar a União Europeia, não podemos esperar uma República Catalã que seja social ou soberana. Mudar de amo de Madri para Bruxelas com as mesmas legislações opressoras, como os tratados internacionais da OTAN, a lei de imigração, os cortes na saúde e educação ou a não promover um modelo público de aposentadoria, não levará a nenhuma melhoria social. A União Europeia é uma prisão de povos oprimidos e uma ferramenta de guerra contra a classe trabalhadora.

Nós de Corriente Roja defendemos que um plano de luta para a construção do socialismo alcançará a autodeterminação antes do processo de “independência” parlamentar liderado pelo capitalismo. Sem luta social, não haverá libertação nacional.

Reiteramos que este governo burguês será incapaz de defender a autodeterminação, a Anistia das represálias e a língua catalã, pois isso significaria mobilizar a classe trabalhadora e o povo, construir a auto-organização coletiva e a autodefesa e satisfazer as reivindicações operárias e sociais, expropriando os bancos e as grandes empresas.

Se, 5 anos depois do 1-O, queremos avançar na luta pela autodeterminação da Catalunha e exigir do Estado a Anistia para as presas/os políticos, precisamos sair às ruas novamente, questionando os partidos políticos pró-independência e seu programa, para nos organizarmos a partir de baixo como classe trabalhadora.

A República Catalã será obra da luta independente dos trabalhadores/as e do povo. A classe trabalhadora é a única que, por seus laços sociais e históricos, pode conquistar a simpatia e a solidariedade ativa do resto da classe trabalhadora no Estado espanhol e na Europa. Para ganhar a maioria da classe trabalhadora catalã para esta luta, é necessário associar a batalha pela República Catalã às tarefas sociais que ela deve realizar, ou seja, lutar pela revogação imediata das Reformas Trabalhistas; defender o Sistema Público de Previdência, elevando seu valor para o IPC e garantindo-o por meio dos orçamentos; reverter os cortes em todas as áreas (saúde, educação, etc.); proibir os despejos; e naturalmente, dada a crise energética que estamos atravessando e do abuso das contas de luz, a nacionalização das empresas de energia elétrica e empresas estratégicas que nos levem a planejar a economia, saindo assim da crise econômica em que estamos imersos.

Estamos convencidos de que somente respeitando o direito dos povos de decidir, podemos estabelecer uma relação fraterna entre eles. Só assim poderemos alcançar para uma República Catalã que rompa com o Regime monárquico, que esteja na vanguarda da luta por uma União Livre das Repúblicas Livres com os outros povos do Estado espanhol, e por uma Europa socialista dos trabalhadores/as e dos povos.


[1] O Mossos d’Esquadra, oficialmente Polícia da Generalitat – Mossos d’Esquadra é a polícia autônoma da Catalunha. É um órgão de segurança policial fundado em 1983, e dependente do Governo da Catalunha, ndt;

[2] ANC e Òmnium Cultural – são as duas principais associações separatistas catalãs, ndt;

Tradução: Rosangela Botelho

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