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Colômbia

PST Colômbia: 45 anos de luta por um partido operário revolucionário internacionalista

outubro 10, 2022

Este ano celebramos os 45 anos de fundação do Partido Socialista dos Trabalhadores da Colômbia (1977), 40 anos da Liga Internacional dos Trabalhadores, IV Internacional – LIT-QI-(1982), e 10 anos da reconstrução de nosso partido irmão da Espanha, Corriente Roja – CI (2012).

Para a militância internacional da LIT é um orgulho contar hoje com partidos em vários países, e para nós em especial ter feito parte importante de sua fundação. Nos orgulha e alegra contar ainda com muitos dirigentes da “velha guarda” em diferentes países que viveram o grande ascenso das décadas de 60, 70, 80 do século XX, a segunda onda das lutas pelos direitos da mulher e de outros setores oprimidos como os negros e LGBTI e que hoje vertem sua experiência sobre as novas gerações dos setores operários e populares e sobre a juventude militante de nossa internacional.

Por:  Rosa Cecilia Lemus

A volta do pêndulo

Celebramos nossa idade madura em meio a uma situação muito semelhante à que nos deu nascimento: estamos presenciando a volta da luta dos explorados e oprimidos.

Os efeitos desastrosos deste sistema capitalista-imperialista, se repetem e aprofundam década após década deixando um rastro de guerras, miséria e depredação do planeta, que ao mesmo tempo, servem de faísca para a luta, a rebeldia da juventude, as greves como na Inglaterra, berço do capitalismo, e protestos em massa dos explorados e oprimidos nos 5 continentes.

Movimentos eclodem como os recentes em Sri Lanka, Colômbia, Chile, Equador, Panamá, EUA, entre outros, atiçados pela fome, desemprego e pela desconfiança de que os governantes e os de cima mudem as condições de vida dos de baixo, provocando eclosões sociais acompanhadas de mobilizações multitudinárias e métodos radicais de luta. Há protestos contra a carestia, contra o alto custo ou a ausência de serviços públicos, contra a violência de gênero ou pelo direito ao aborto, contra as guerras e deslocamentos, mas também contra a devastação provocada pelas guerras, como a de Putin contra a Ucrânia, a extinção das espécies e desastres naturais como o do Paquistão que deixa na miséria milhões de famílias trabalhadoras como efeito indiscutível do aquecimento global provocado por esse 1%, os empresários do mundo em seu afã infinito de lucros.

45 anos de experiência direta

Em 23 de setembro de 1977, no Teatro Lux de Bogotá com lotação total, foi fundado O PST ratificando que queria se construir como um partido da classe operária, que se comprometia a estar em cada uma de suas lutas, de suas greves, de suas batalhas ofensivas ou defensivas, apenas 9 dias depois de sua participação na primeira paralisação cívica nacional em 14 de setembro desse mesmo ano. Aquele dia, o antigo Bloco Socialista, esteve em diferentes pontos de Bogotá e do país. A zona industrial de Puente Aranda – Bogotá que naquela época era um enxame de fábricas, se transformou desde as primeiras horas da manhã em um rio de operários e operárias, dispostos a não deixar passar um só ônibus, um só carro, e a garantir a paralisação total das fábricas. Era o primeiro ensaio de greve geral.

Muitos de nós jovens estudantes, recebemos nosso batizado na luta direta, na luta de classes e no confronto com as forças repressivas. Esta marca de nascença nos permitiu reconhecer que as duas paralisações nacionais de 1990 e de 2021 começavam a mudar a situação da luta de classes em nosso país no marco de uma situação mundial muito mais favorável. Podemos dizer que estas duas paralisações foram outros ensaios de uma greve geral porque diferente da de 77, em que a classe operária foi mais protagonista, nas paralisações recentes, produto dos golpes políticos e organizativos que receberam nas três últimas décadas, a vanguarda foi ocupada pelos jovens dos setores populares, a juventude precarizada e os trabalhadores participaram de forma diluída.

Naquele momento, as consignas que orientaram nossa construção foram, SINDICALIZAR E BOLCHEVIZAR. Com isto queríamos expressar que nossa atividade era acompanhar e ajudar os trabalhadores, a classe operária em sua organização sindical, ganhando-os para a construção de seu partido independente contra a exploração, a opressão e o capitalismo. Que para isso é necessário um partido disciplinado para a ação, para intervir nas lutas, ganhar a confiança da classe operária e elevar seu nível de consciência fazendo parte e substância dela. Com bolchevizar queríamos dizer que em nosso partido o lema é tarefa votada tarefa cumprida: discussão democrática e disciplina na ação.

O PST nasce como um partido internacionalista.

O Bloco Socialista BS (corrente estudantil de vanguarda), havia sido forjado nas lutas e rupturas com o estalinismo, o maoísmo, e correntes guerrilheiras. Fez parte do grande ascenso estudantil e operário dos finais dos anos 60 e 70 na Colômbia, como expressão do ascenso mundial que teve como cenários o maio Francês, a revolução portuguesa, a segunda onda de luta das mulheres e oprimidos, os levantes contra a guerra imperialista no Vietnã. Alguns anos antes de fundar o PST, o BS entrou em contato com a Fração Bolchevique, da IV Internacional Trotskista, dirigida pelo revolucionário argentino Nahuel Moreno, quem junto com seu partido o PST argentino e outros grupos semelhantes ao BS, como Convergência Socialista do Brasil, faríamos parte da Liga Internacional dos Trabalhadores LIT- QI como uma corrente interna da IV Internacional fundada por León Trotsky.

No interior da IV Internacional havia uma forte batalha política originada na caracterização dos Estados surgidos no Leste Europeu no imediato pós-guerra, como a Iugoslávia, ou os que foram criados com a passagem do exército vermelho da URSS em meio à expulsão dos exércitos nazistas. Pablo da Grécia, Hansen dos EUA e Moreno sustentavam que haviam surgido novos Estados operários burocratizados. Mandel da Bélgica e Cannon dos EUA sustentavam que eram Estados capitalistas. Finalmente, todos chegam à conclusão de que haviam surgido novos Estados operários, mas já dirigidos por burocracias.  Entretanto, as diferenças se agravam. Pablo e Mandel, sustentavam que a III guerra mundial era inevitável e que os partidos comunistas, em seu afã em defender a URSS, enfrentariam o imperialismo com métodos violentos, levando à tomada de poder em vários países do mundo. Movimentos nacionalistas burgueses em países atrasados fariam o mesmo. Organizativamente, segundo eles, os partidos da IV tinham que entrar nos partidos comunistas, ou nos movimentos nacionalistas burgueses e acompanhá-los até a tomada de poder sem fazer uma só crítica. Isto de fato significava a destruição da IV Internacional.

Mais adiante, se comprova também que o internacionalismo não se reduz ao terreno organizativo, mas também no apoio ativo às lutas dos trabalhadores no mundo, ao esforço militante para que essas lutas e revoluções triunfem. Em 1979, quando eclode a revolução contra a ditadura de Somoza na Nicarágua, o PST colombiano e a LIT-QI declaram seu apoio à revolução e para isso se convoca a formação da brigada internacional de combatentes – Simón Bolívar.  É formada com militantes da nossa corrente e revolucionários independentes da Colômbia, Panamá, Costa Rica, EUA e Argentina. A brigada entra no exército sandinista aceitando sua direção militar, mas mantendo sua total independência política e desempenha um papel muito importante na libertação da frente sul. Ganha a simpatia e confiança dos trabalhadores e da população pelo seu combate e os mortos e feridos que sacrificaram suas vidas pela revolução. A dinâmica da revolução não é freada com a queda do ditador, se mantém em um sentido permanente. Os trabalhadores organizam sindicatos e começam a expropriar os burgueses, os camponeses também começam expropriando terras. Nosso programa e nossa política se conectam com a dinâmica a partir da base, mas se choca profundamente com os interesses e a política da direção sandinista, que propõe um Governo de Reconstrução Nacional liderado por uma ala da burguesia opositora. Não querem uma revolução socialista. Esta foi a política de Stalin e dos partidos comunistas que foi resumida em uma célebre frase de Fidel Castro: a Nicarágua não deve ser outra CUBA.

A brigada SB é então expulsa com o apoio da guarda nacional do Panamá e com o apoio do Secretariado Unificado da IV Internacional. O SU se negou a defender os militantes revolucionários e com isso rompia de fato com a moral revolucionária. Outro fato que agravava ainda mais as diferenças entre as tendências da IV Internacional.

A corrente trotskista dirigida por Pierre Lambert, que não fazia parte da IV Internacional, foi a única que defendeu a brigada e os militantes trotskistas contra o ataque do sandinismo e da burguesia. A Fração Bolchevique de Moreno tenta então uma aproximação com esta corrente, com a intenção de nos unificar. Esta tentativa não duraria muito, pois a corrente de Lambert capitulou ao governo de Frente Popular de Mitterrand na França.

A LIT nasce com forte implantação na América Latina. E rapidamente se converte na corrente mais dinâmica do trotskismo, fortalecida por várias provas – o enfrentamento à ditadura militar argentina, com um saldo de mais de 250 militantes presos e torturados e de mais de 100 mortos e desaparecidos, convertendo-se em peça fundamental na luta pela derrubada da ditadura e da defesa das Malvinas frente ao imperialismo inglês. Impossível condensar neste artigo a experiência de tantos anos, muitos fatos e lições importantes que ficam de fora.

E a luta continua…

Mais uma vez ratificamos nossa história, nossa herança genética, nossa experiência direta, e nossos compromissos com o futuro. Neste novo ascenso e com as lições do passado tenhamos o desafio de intervir nele para junto com a classe operária, e os explorados e oprimidos buscar uma verdadeira mudança, uma revolução socialista. Nenhuma reforma no marco da defesa do capitalismo acabará com a exploração, com a miséria e com a opressão, no máximo melhorará um pouquinho a situação de um pequeno setor dos explorados, mas nada mais. Precisamos de uma revolução que exproprie as enormes fortunas acumuladas durante séculos de exploração e as coloque a serviço dos verdadeiros produtores da riqueza: a classe operária, trabalhadora, os camponeses pobres, boias frias, indígenas e setores oprimidos. Mas para isso, precisamos construir uma direção consequente que não entregue nem traia.

Ajude-nos a seguir construindo o PST e a LIT!

Venham companheiros/as que aqui estamos formando um grande partido operário!

Tradução: Lílian Enck

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