sáb jul 27, 2024
sábado, julho 27, 2024

Turquia | Trabalhadores municipais não concordam com salários de fome

Desde os anos 2000, o tamanho da terceirização aumenta rapidamente na Turquia. Estima-se que 1,1 milhão de trabalhadores trabalhem como terceirizados nos estados e municípios. E 2,5 milhões de trabalhadores terceirizados trabalham no setor privado sob condições de miséria.

Por Kadim Fırat

Os trabalhadores que não aceitaram esta onda de ataques desenvolveram lutas significativas de tempos em tempos. Durante o último ano, os trabalhadores municipais terceirizados criaram uma organização suprassindical nos municípios baseada na democracia operária. Suas principais reivindicações são os direitos trabalhistas e igualdade de remuneração. Os trabalhadores organizados em torno do TABİB (Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados) travam uma luta contra os empregadores e as burocracias sindicais. Os trabalhadores, que aumentaram seus protestos nos últimos meses, finalmente declararam uma decisão de greve em Istambul, a maior cidade da Turquia. Kadim Fırat, trabalhador municipal e um dos porta-vozes do movimento, avaliou este processo.

Os trabalhadores municipais de Kadıköy (distrito de Istambul), cujos direitos foram transferidos das empresas subcontratadas para a empresa municipal, entraram no processo de greve. Os trabalhadores, cujos rendimentos diminuíram nos últimos anos, receberam um aumento de 9% em julho de 2021. Com a inflação em 3 dígitos, os trabalhadores são sobrecarregados por intensas dificuldades financeiras e, portanto, falam sobre economia todos os dias. Os trabalhadores, que perderam seus direitos com o Decreto-Lei de 2018, tentaram preencher esta lacuna com acordos coletivos nos últimos anos. Os dois acordos coletivos de trabalho anteriores correram mal economicamente, devido às manipulações dos dirigentes do sindicato Genel-İş1. A perda salarial é grande. Tendo em mente a memória das práticas passadas e antecipando a destruição experimentada hoje, os trabalhadores de Kadıköy começaram uma luta com o Protocolo Adicional no início deste ano e a alguns meses do início da negociação coletiva. Os dirigentes sindicais regionais descartaram as exigências dos trabalhadores, dizendo: “Se o tomarmos agora, não poderemos obtê-lo no Acordo Coletivo de Trabalho”, para se alinharem com os dirigentes nacionais do Genel-İş e ter vantagens na próxima eleição regional do sindicato. Em fevereiro, os representantes de base que expressaram as exigências dos trabalhadores sobre o Protocolo Adicional na reunião da DİSK2 (Confederação de Sindicatos de Trabalhadores Revolucionários) foram demitidos.

Estes desenvolvimentos levaram a um aumento no significado atribuído ao Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). As negociações para o ACT começaram em 2 de junho. A proposta do ACT, cuja espinha dorsal foi criada pelo sindicato, foi entregue ao empregador há alguns meses. Enquanto isso, a alta inflação levou a um novo aumento do salário mínimo, levando a que muitos trabalhadores falem sobre a necessidade de rever a proposta. Mas o sindicato não concorda com isso. Os ACTs dos municípios de Kartal, Maltepe e Atasehir foram concluídos em uma única reunião de negociação, especialmente quando foram discutidas questões salariais. E como as propostas não foram revisadas, a demanda por um aumento salarial conforme a taxa de inflação também foi levantada. Nestes três municípios, os salários diminuirão novamente para o nível do salário mínimo no fim do ano.

Na noite de 2 de setembro, os dirigentes sindicais nacionais e regionais quiseram concluir abruptamente o ACT de Kadıköy, assim como fizeram nos outros três municípios. Os trabalhadores do Kadıköy, que estavam fazendo operação padrão há muito tempo, não desistiram do direito de aumentar o salário conforme a taxa de inflação nas negociações de 14 horas de 2 de setembro, onde foram discutidos itens salariais. Os trabalhadores não permitiram que um contrato fosse assinado contra sua vontade, fazendo vigília no jardim até a manhã seguinte. As negociações revelaram-se infrutíferas, pois os trabalhadores não concordaram com um salário de fome.

Assim, a estratégia de concluir as negociações da noite para o dia, que foi implementada nos outros três municípios, desmoronou. Outra reunião foi realizada com o empregador e nenhum progresso foi feito.

Com o fim do processo de mediação, a raiva e os problemas econômicos mobilizaram os trabalhadores. Os trabalhadores pressionaram o sindicato. A sede regional, que não tinha um programa adequado, virou-se para onde vinha a pressão e não conseguiu administrar o processo de forma transparente, o que aumentou a raiva dos trabalhadores.

As negociações foram bloqueadas e a crença de que a única opção era a greve estava se espalhando entre os trabalhadores. Os dirigentes sindicais tentavam desviar a luta com várias desculpas. Os trabalhadores, por outro lado, queriam que o aviso de greve fosse feito o mais rápido possível, que fosse afixado na porta do local de trabalho e que a greve ocorresse dentro de 6 dias úteis.

O processo acelerou na semana passada. A reunião de informação que deveria ser realizada na quinta-feira, transformou-se em uma assembleia no jardim. Na sexta-feira, foi decidido afixar o AVISO DE GREVE no prédio da prefeitura, uma ação acompanhada por tambores e buzinas.

Enquanto os trabalhadores esperavam para entrar em greve após 6 dias úteis, foi notado que o aviso de greve afixado não tinha data de início. Uma onda de raiva surgiu novamente entre os trabalhadores. Muitos trabalhadores começaram a dizer “eles estão brincando conosco, tentando nos enganar”. Eles acusaram o sindicato de afixar documentos falsos. A burocracia sindical teve que admitir que havia cometido um erro ao aceitar as acusações. Este não foi um erro simples, foi o resultado natural da implementação de uma política frouxa. Em 19 de setembro, novos documentos foram publicados e se não houver acordo, uma greve começará em 28 de setembro no distrito de Kadıköy.

Naturalmente, o empregador tenta concluir um acordo de negociação coletiva a baixo custo.
O sindicato também deve lutar para melhorar os salários e os direitos sociais de seus membros. Entretanto, nosso sindicato, com sua atitude passiva na luta pelo Protocolo Adicional, no Acordo Coletivo de Trabalho, e “esquecendo” a data na carta de implementação da greve, reduz a confiança dos trabalhadores. Não operar adequadamente estes processos prejudica os trabalhadores e aumenta o empobrecimento.

Os trabalhadores, que fazem todos os trabalhos do município todos os dias, que trabalham duro e merecem condições de vida humanas e respeito, não veem isso de seus empregadores e seus sindicatos. O único setor em que o sindicato pode confiar no processo de negociação coletiva são os trabalhadores. Aqueles que confiam nos burocratas, não nos trabalhadores, tanto perdem como fazem os trabalhadores perderem. Os empregados não podem mais se dar ao luxo de perder. Os trabalhadores do distrito de Kadıköy aprenderam que há vários anos estão passando por um processo de luta onde são apunhalados pelas costas a cada momento em que dão um passo à frente, e suas reivindicações não são atendidas, e são confrontados com o sindicalismo burocrático que os cerca. Eles também veem aqueles que tentam conseguir um lugar nesta pirâmide burocrática. Os trabalhadores municipais terceirizados também veem aqueles que tentam construir a democracia operária. Não há atalhos nas lutas dos trabalhadores. Com teimosia e paciência, eles se desenvolvem acumulando experiências em cada período de luta.

Agora é a hora dos trabalhadores municipais de Kadıköy se reunirem e cooperarem com suas irmãs e irmãos de classe.


1 – Genel-İş: Sindicato dos Trabalhadores em Serviços Públicos da Turquia.

2 – DISK: Devrimci İşçi Sendikaları Konfederasyonu. A tradução literal é Confederação de Sindicatos dos Trabalhadores Revolucionários, mas eles preferem ser chamados de Confederação de Sindicatos Progressistas da Turquia.

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