dom jun 16, 2024
domingo, junho 16, 2024

Abaixo a “mobilização” forçada e os “referendos” de Putin, redobrar o apoio à resistência ucraniana!

O avanço das tropas ucranianas na região de Kharkov pressupõe uma reviravolta importante na guerra de Putin, a ocupação rápida e “fácil” através das “forças especiais” e mercenários foi derrotada. A resposta de Putin: impor um falso referendo sob as botas e os fuzis das tropas ocupantes e decretar o recrutamento forçado na Rússia! É uma reação a esta derrota.

Por: LIT-QI

Se na Ucrânia urge a tarefa de boicotar e obstruir a realização do falso referendo, não menos importante é redobrar o apoio militar à resistência ucraniana para continuar a ofensiva: Armas para a resistência ucraniana!

Putin agora transforma sua guerra contra o povo da Ucrânia em uma guerra contra o povo russo e os povos da região. A massiva resposta contra a mobilização forçada é a resposta do povo russo: 1.300 detidos, ações de descontentamento nos comissariados militares nas regiões das nacionalidades oprimidas da Rússia como o Daguestão e o Cáucaso, êxodo importante daqueles que podem desertar, tudo isso são provavelmente a ponta do iceberg de uma ruptura mais profunda com o governo de Putin.

O avanço das tropas ucranianas na região de Kharkov é o fato militar político decisivo da nova situação da guerra, da continuidade da mudança da relação de forças militar sobre o terreno depende a derrota de Putin e a integridade territorial da Ucrânia.

O anúncio desses “referendos” tem como objetivo tentar legitimar a mobilização do exército russo para retomar a ocupação militar das zonas perdidas e ameaçar com o eventual uso de todo seu poderio militar, incluindo a opção nuclear, no que, segundo ele, se converteria em uma guerra de defesa do território russo.

Putin, está cada vez mais isolado a nível internacional e precisa de uma “vitória” parcial para uma guerra que já fracassou em seus objetivos. E por isso a escalada de Putin acentua cada vez a opressão na região pois a “mobilização” é também uma agressão ao proletariado da região e em particular ao belorusso, sob a ditadura do colaboracionista Lukashenko.

Por outro lado, o imperialismo estadunidense e o europeu querem evitar a “humilhação” de Putin e o colapso de seu regime, precisam do fim de uma guerra economicamente custosa para o imperialismo por causa da crise energética e a chegada do inverno, ou seja, colocam seus interesses acima dos do povo ucraniano.

Apoio à resistência ucraniana! 

Devemos denunciar o falso referendo como uma manobra para legitimar uma anexação e ocupação dos territórios ucranianos do Donbas e do sul do país, e continuar seu espólio. Estes referendos são feitos sem nenhuma garantia democrática, pelo contrário, são votações sob as botas e fuzis das tropas ocupantes. A Rússia se apoderou de uma das partes, do território ucraniano, mais ricas em jazidas minerais e metais valiosos (titânio, ouro, lítio e carvão) avaliados em bilhões de dólares, e em recursos energéticos (gás e petróleo)[1]. Para isso se apossou tanto das fábricas e das minas, como os oligarcas ucranianos associados com os russos também o fizeram com as safras produzidas pelos camponeses ucranianos. E impôs um regime ditatorial nas zonas ocupadas sem nenhuma liberdade democrática real, menos ainda de organização, nem de livre circulação. Putin impôs prefeitos e governadores títeres a dedo pagos pelo Estado russo, excluindo o ucraniano das escolas e retomando o passado racista e colonial de opressão ao povo ucraniano. Trata-se de zonas de ocupação administradas militarmente como campos de detenção.

Frente a esses referendos que buscam legitimar uma anexação, devemos apoiar incondicionalmente todas as iniciativas e possíveis mobilizações do povo ucraniano para boicotar e obstruir a realização dos referendos nas zonas ocupadas e redobrar o apoio militar à resistência ucraniana. Os imperialismos estadunidense e europeu anunciaram e celebraram o envio de mais armas votando orçamentos de bilhões de ajuda militar de proporções históricas. Sua propaganda de guerra é muito nítida: tem que aproveitar a contraofensiva para debilitar militarmente ao máximo o aparato militar russo sem expandir o conflito. Porém a propaganda não se traduz no envio do armamento pesado necessário à resistência ucraniana. Trata-se de orçamentos para rearmar seus próprios exércitos e para estimular a indústria armamentista de seus respectivos países. Prometem armas ainda não produzidas, sabendo que chegarão em sua grande maioria no ano que vem, mas a resistência precisa de armas hoje.

Além disso, os orçamentos militares astronômicos se chocam cada vez mais com a realidade cotidiana dos trabalhadores nesses países, vítimas de uma inflação desenfreada e políticas de austeridade, que estão provocando explosões sociais como a onda de greves na Grã Bretanha. Por isso devemos continuar nos mobilizando em apoio à consigna “armas para a Ucrânia” em todos os países, bem como combater o rearmamento próprio dos exércitos imperialistas e a expansão da OTAN. Na Ucrânia em particular, temos que exigir do governo de Zelensky que entregue as armas para a resistência operária e popular organizada nas “Defesas Territoriais” e que suspenda imediatamente as medidas antioperárias aprovadas nesta primavera e verão, que são uma punhalada nas costas dos trabalhadores em plena guerra e debilitam material e moralmente de fato os esforços de guerra da resistência.

Por isso na Ucrânia, em resposta aos “referendos” e à “mobilização” forçada na Rússia, são necessárias todas as medidas para fortalecer a luta pela libertação completa do país:

– Ampliação da organização militar: treinamento geral do povo no manejo das armas.

– Estabelecer a produção das armas necessárias e de todos os produtos necessários nas fábricas no marco de um plano único de defesa nacional.

– Provisão completa, com todo o necessário, dos trabalhadores na frente de batalha e suas famílias na retaguarda, detenção com confisco para todos os comerciantes de ajuda humanitária, abolição de todas as leis antioperárias do governo de Zelensky em interesse dos oligarcas.

Para sua realização, é necessário que as tarefas de defesa na frente de batalha e na retaguarda sejam colocadas nas mãos da classe operária, e que avancem em organizar sua luta e a resistência à invasão russa sem confiar em Zelensky, a única forma de vencer é a organização dos trabalhadores de forma independente do governo.

Todo apoio aos protestos do povo russo contra as mobilizações

Putin tem a intenção de enviar os trabalhadores ao matadouro para conservar seu poder e defender os interesses do FSB[2] e dos oligarcas. Com esta medida de mobilização parcial, a primeira desde o final da Segunda Guerra Mundial, pretende aumentar drasticamente o exército de ocupação e usar a classe operária russa como carne de canhão para continuar a guerra (como há tempo exigem os setores mais ultras de seu governo).

Na realidade é uma fuga para frente para garantir que o conflito chegue ao inverno (o que interessa a Putin dado seu braço de ferro com a UE pelos preços do gás) é reconhecer a derrota de sua estratégia de apoderar-se dos territórios da Ucrânia pelas forças de mercenários de estratos marginais, contratados nas prisões em troca de uma absolvição da condenação, ou por empresas privadas. Ou seja, a ocupação rápida e “fácil” apenas através do uso de “forças especiais” foi derrotada.

 A ideia de que Putin está massacrando só os ucranianos, enquanto supostamente protege o povo russo, é profundamente errônea. Para o regime de oligarcas de Putin e do FSB, a vida dos trabalhadores russos é o mesmo pó que a vida dos trabalhadores da Ucrânia, Síria, Cazaquistão, Chechênia aos quais mataram, ou da Belarus sob a ditadura de Lukashenko. Segundo algumas fontes, calcula-se que nestes 7 meses de guerra morreram entre 50.000 e 70.000 soldados e mercenários russos. A crise moral e política na tropa russa é real, várias fontes destacam por exemplo que os mobilizados são enviados para a frente de batalha sem equipamento nem uniforme, que são os próprios soldados que têm que comprar, muitas vezes com contribuições da família. Putin ofereceu ajuda financeira estatal aos mobilizados para refinanciar os empréstimos e dívidas daqueles que fossem chamados para a frente de batalha, e impôs sanções severas aos desertores. Os desertores ou soldados que se recusarem a combater enfrentam agora penas de até 10 anos de prisão. E os que decidem hoje quem vai para a frente de batalha lutar são a gerência e comandos das empresas em aliança com o governo.

As medidas de Putin aumentaram qualitativamente o descontentamento com o governo, setores da classe trabalhadora estão entendendo que o regime de Putin está disposto a enviá-los para a frente de batalha para morrer em uma guerra que não defende seus interesses, mas os dos oligarcas. Existe nervosismo e incerteza entre setores burgueses e do comando militar. A principal prova de que os trabalhadores russos não querem ir combater a Ucrânia são as novas mobilizações espontâneas em 38 cidades um dia depois do anúncio de Putin, e houve mais de 1.3000 detidos, mas também o importante êxodo daqueles que podem desertar, as passagens de avião estão esgotadas.[3] Ocorreram também ações de descontentamento nos comissariados

militares nas regiões das nacionalidades oprimidas da Rússia como o Daguestão e o Cáucaso[4]. Estas ações são provavelmente a ponta do iceberg de uma ruptura mais profunda das massas russas com o governo de Putin que não podem se expressar a curto prazo com mobilizações de massas pelo caráter altamente repressivo do regime. Por isso devemos organizar uma grande campanha de solidariedade com os ativistas russos que se manifestam contra a guerra e com os soldados que decidem não ir à frente de batalha ou deixar as armas, organizando protestos em seu apoio e exigindo a liberdade de todos os presos políticos na Rússia. As mobilizações de massas e greves dos trabalhadores contra as agressões militares de seus governos tiveram historicamente um papel chave para derrotar a frente invasora nas guerras. A guerra da Ucrânia também será ganha pelo debilitamento do sangrento regime de Putin por seu próprio povo. A guerra de Putin contra o povo da Ucrânia está se transformando em uma guerra contra os próprios trabalhadores russos. A derrota de Putin nesta guerra é boa para o povo trabalhador russo. Incluindo a derrota da “mobilização”.

Para o povo trabalhador da Belarus, isto significa que novas unidades podem voltar a ocupar a Belarus para aumentar a agressão contra a Ucrânia a partir deste território sob o colaboracionismo de Lukashenko e sob o pretexto de “cumprir com as obrigações aliadas” durante um “ataque à Rússia” (na forma de territórios ocupados anexados com falsos referendos). Lukashenko declara constantemente: “estamos com a Rússia”, “não permitiremos que a Rússia seja apunhalada pelas costas”, “temos forças armadas comuns”. A guerra em grande escala na qual o governo da Belarus está envolvido e o aumento do jogo de pressões, inevitavelmente afetará ainda mais a Belarus. Qualquer ameaça para a Ucrânia é também uma ameaça para a Belarus. A ditadura e a dependência da Belarus estão indissoluvelmente unidas à vitória da Ucrânia sobre os ocupantes, por isso dizemos que a luta dos ucranianos é a luta do povo da Belarus.

Pela derrota militar de Putin ou uma “paz justa para todas as partes”?

Não há dúvida de que os EUA e a UE querem debilitar o Estado na região que desejam controlar. Quando falam de uma “paz justa para todas as partes “Biden e Macron sugerem uma saída para Putin que será inevitavelmente às expensas da Ucrânia, já que nunca se comprometeram a

defender até o final a soberania nacional desta[5]. Putin e os governos imperialistas da OTAN embora estejam em competição pelo controle da Ucrânia colaboraram em suprimir os levantes dos trabalhadores na Ucrânia e nos territórios da ex -URSS. Os governos ocidentais temem a vitória total do povo ucraniano sobre eles, temem a classe operária armada da Ucrânia, que não renunciará à independência do país e é pouco provável que queira trabalhar para os oligarcas e as finanças ocidentais.

O que o imperialismo e Zelensky mais temem é que sejam os trabalhadores ucranianos, belorussos e russos os que tomem o controle da situação para lutar pelos seus interesses. Agora a velocidade da ofensiva ucraniana para impedir a reorganização das tropas de ocupação é o mais importante para consumar a derrota militar de Putin. Se isso não acontecer, seriam “os meios diplomáticos” pelas costas do povo ucraniano. Se configurar este quadro, estaria nas mãos da reação da classe operária armada a luta para defender a soberania nacional íntegra e completa.

Por isso afirmamos que aqui não existe uma saída justa “para todas as partes”, já que a saída “justa” que defendemos é a vitória da resistência ucraniana e a recuperação da totalidade de seu território nacional para afirmar sua independência. Essa seria uma vitória não só do proletariado ucraniano, mas também uma vitória para todos os povos oprimidos pela Rússia na região e para o proletariado russo que seria incentivado a levantar-se contra o cruel ditador que atua como seu presidente. Mas essa saída também seria uma derrota categórica para Putin e a burguesia russa assim como para os interesses dos imperialismos estadunidense e europeu na Ucrânia. Para nós uma paz justa é uma paz sem anexações e também é uma paz sem o endividamento econômico que o FMI e a UE estão impondo à Ucrânia, ou seja, uma paz que estabeleça uma Ucrânia livre, soberana e verdadeiramente independente, e essa paz hoje só o proletariado ucraniano aliado com os proletários da região, da Rússia, Europa e EUA pode garantir.

Pela derrota de Putin! Tudo pela vitória da Ucrânia!

Abaixo os “referendos” e a “mobilização”! Liberdade imediata de todos os presos políticos na Rússia!

Armas para a resistência Ucraniana já! Solidariedade material com a classe trabalhadora ucraniana!

Por uma Ucrânia soberana, livre e independente! Nenhuma anexação! Não ao endividamento!

Dissolução da OTAN e da OSTC!


[1] https://www.washingtonpost.com/world/2022/08/10/ukraine-russia-energy-mineral-wealth/

[2] Serviço Federal de Segurança. Polícia russa herdeira da KGB. Ver https://litci.org/pt/2022/02/27/a-russia-sob-putin/

[3] https://www.aljazeera.com/news/2022/9/21/russian-group-calls-for-protests-against-putins-war-mobilisation

[4] https://www.npr.org/2022/09/23/1124678888/russia-ukraine-military-draft-protests-flight

[5] Talvez na assembleia da ONU realizada esta semana, o presidente turco Erdogan, encarregado de negociar a paz entre os dois lados, diga em voz alta o que Washington e a UE pensam: “precisamos de uma saída digna desta crise e isso só pode ser possível através de uma solução diplomática que seja racional, justa e exequível”. https://www.nytimes.com/video/world/100000008543509/erdogan-turkey-united-nations.html

Tradução: Lilian Enck

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