seg jun 17, 2024
segunda-feira, junho 17, 2024

Sobre a ofensiva ucraniana em Karkiv e as condições para a derrota militar de Putin

A bem-sucedida ofensiva ucraniana em Kharkiv mostra o caminho para a vitória na guerra

Por: Ivan Razin

As forças ucranianas realizaram uma bem-sucedida ofensiva em Kharkiv. Pela segunda vez durante a guerra, a classe trabalhadora ucraniana forçou os ocupantes russos-fascistas[1] a uma fuga humilhante. Em poucos dias, os soldados do exército e das defesas territoriais [ucranianos] libertaram mais territórios do que o Exército Russo havia conseguido capturar desde abril. Isto incluiu a libertação de povoamentos importantes como Kupiansk e Izyum, ameaçando o fornecimento desde Belgorod para todo um agrupamento [russo] e forçando-o a recuar apressadamente. A população das cidades e aldeias libertadas dos ocupantes saudou com alegria os combatentes ucranianos.

Esta ofensiva se dá em condições aparentemente impossíveis. No front, os ucranianos enfrentam um exército muito mais bem armado. Os governos ocidentais não estão fornecendo armamento necessário na quantidade necessária. Na retaguarda, se está comercializando a ajuda humanitária, tão necessária na frente. O Governo Zelensky aprova leis contrárias aos trabalhadores e de interesse dos oligarcas, confiscando os salários civis dos combatentes. O sucesso da ofensiva cabe inteiramente ao povo comum da Ucrânia.

Se tudo dependesse apenas de heroísmo, Putin já teria sido derrotado há muito tempo. A ofensiva ucraniana e a fuga dos ocupantes não mostrou apenas que Putin pode ser derrotado. Mostrou também que derrotar militarmente Putin é a tarefa mais urgente e mostrou como ela pode ser alcançada.

Dois exércitos

Na última edição de nosso jornal Vyzvalnnya[2] escrevíamos que há duas forças armadas distintas, do ponto de vista militar, se enfrentando na Ucrânia. E é bem isso o que se expressou nos recentes acontecimentos na região de Kharkov.

A Ucrânia está sendo defendida por sua classe operária. Ela luta massivamente por sua terra, por suas casas e por suas famílias, seja no front, sob ocupação ou na retaguarda. Mas lhe falta armamento pesado.

Já o exército de Putin, por outro lado, possui enorme quantidade de armamentos, mas não tem gente para combater, nem para usar estas armas. Mesmo os trabalhadores russos, embriagados de propaganda [governamental], não querem ir para a guerra. Putin não consegue mobilizá-los para as trincheiras. Ele se vê obrigado a recrutar mercenários entre marginais e gente muito empobrecida dos rincões da Rússia, e de povos ainda mais oprimidos [que vivem dentro da Federação Russa]. As reservas de Putin estão limitadas àquilo que resulta de uma sociedade em putrefação. O cozinheiro de Putin, Prigozhin[3], percorre pessoalmente as prisões, recolhendo os criminosos mais rudes para enviar ao front. A “valentia militar” desta escória humana se expressa principalmente na capacidade de ocupar ruínas vazias, realizar saques, estupros, usar de brutalidade contra a população dos territórios ocupados. Mas quando confrontado com uma força viva, tal “exército” começa a desmoronar.

Duas táticas para a guerra

O exército russo é incapaz de guerra móvel: a mobilidade implica, ou em bom treinamento, ou em motivação e disposição para morrer. As unidades russas bem treinadas já foram eliminadas, e a escória não possui nenhum treinamento, e muito menos comprometimento, dedicação ou ânimo. Para o exército russo é conveniente a clássica guerra do século XX, com uma frente estática e de pouca movimentação, e a capacidade de bombardear continuamente as posições do inimigo a grande distância e evitar um confronto cara a cara. Durante a ofensiva no Donbass, o exército russo conseguiu impor este tipo de guerra, resultando em pesadas baixas entre os combatentes ucranianos.

A tática vantajosa para o lado ucraniano é o combate móvel, com pequenas unidades bem motivadas agindo a curta distância, reduzindo o papel da artilharia, com armamento de produção e uso relativamente simples, impondo um confronto cara a cara e tendendo a convergir com as ações de resistência nos territórios ocupados. Na ofensiva em Kharkiv, os combatentes ucranianos conseguiram impor com sucesso exatamente este tipo de guerra.

A extensão desta tática vitoriosa no front exige medidas adequadas na retaguarda

A vitória em Kharkiv é um exemplo do grande sucesso das táticas assimétricas, adequadas para superioridade em combatentes, mas com falta de armamento pesado. E esta tática assimétrica de sucesso precisa ser ampliada. Para isso é necessário:

– Garantir provisões para a principal força de resistência – os operários do front – e de suas famílias na retaguarda, com tudo o que precisam;

– Expandir a organização militar em base ao princípio das unidades móveis de defesa territorial, que têm mostrado sua eficácia, além de treinamento universal do povo no uso de armas, e armamento do mesmo.

– Focar as fábricas na produção do armamento e de todos os produtos necessários, no marco de um plano único de defesa nacional.

A política do Governo Ucraniano é o oposto

Entretanto, o Governo usa a tática oposta. Ao invés de táticas assimétricas, aposta em uma guerra simétrica em armamentos, o que significa grandes perdas, estando de antemão fadada à derrota. Em vez de montar sua própria produção de armas e um plano de defesa unificado à escala nacional, fica esperando por armas ocidentais, que nunca chegam na quantidade necessária, fechando empresas ucranianas porque são “não-lucrativas” para os oligarcas, e despedindo operários, dividindo a Ucrânia em uma parte militar e uma parte onde “não há guerra”, como se houvesse duas Ucrânias. Em vez de garantir provisões aos operários no front e a suas famílias na retaguarda, e de ajudar os refugiados, [o Governo] aplica leis antioperárias, comercializa ajuda humanitária e alimenta um mercado negro de moradias. Em vez de ampliar o papel dos esquadrões de defesa territorial, implementar treinamento militar universal e o armamento do povo, o que vemos são subornos dos ricos para não precisarem servir ao exército e um recrutamento centrado nos ativistas operários, para enfraquecer as lutas da classe operária nas fábricas.

Para o sucesso da classe operária no front, é necessário seu êxito também na retaguarda

Para implementar as medidas necessárias, não se pode confiar nos governos ocidentais e nem no governo Zelensky. É necessário que os trabalhadores da Ucrânia tomem em suas próprias mãos a tarefa de defender o país tanto no front, quanto na retaguarda.

Não ao fechamento de empresas e demissão de trabalhadores! A classe operária deve tomar as fábricas sob seu próprio controle e, em ligação com os operários do front, organizar a produção dos produtos necessários para a defesa.

Nenhum prejuízo aos interesses dos trabalhadores por parte dos proprietários das fábricas! Pelo cancelamento das leis antioperárias do Governo! Pela provisão completa dos trabalhadores do front e de suas famílias! Prisão com confisco dos bens de todos que comercializarem ajuda humanitária. Pelo controle operário da ajuda humanitária.

Pelo treinamento militar universal por local de moradia, armamento e ampliação das Unidades de Defesa Territorial. Prisão com confisco de bens dos que “compram dispensas” do serviço militar.

Pela total derrota de Putin!

A Ucrânia pode e deve vencer.

Tudo em nome da vitória da Ucrânia!

Glória à Ucrânia!


[1] Na Ucrânia os agressores são chamados de “rashisty”, mistura intraduzível entre “russo” e “fascista” (NdoT)

[2] Libertação, em bielorrusso (NdoT)

[3] Oligarca russo, homem de confiança de Putin, dono de várias empresas, inclusive rede de restaurantes que atende ao governo, de onde o apelido de “cozinheiro de Putin”. É o dono do grupo mercenário Wagner, que combate na Ucrânia e numa série de outros países. Mais sobre o grupo Wagner aqui e aqui (NdoT)

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares