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sexta-feira, outubro 11, 2024

Paquistão| A natureza respondeu aos agentes imobiliários

Nas últimas décadas, em pouco tempo, a natureza se vingou de nós após a destruição imposta pelos opressores à natureza. São muitos os alertas sobre as conseqüências do aquecimento global, que testemunhamos e sentimos como s inundações, secas, furacões, tempestades e incêndios florestais. Sem dúvida, esta é a forma de reação que, em curto prazo, resultou em graves conseqüências para o cenário mundial e que faz parte da mesma, e única crise. Se não derrotarmos o capitalismo, a Natureza pode derrotá-lo, mas nos derrotará junto com ele.

Por: Mehnatkash Tehreek – Paquistão

A situação humanitária no Paquistão se deteriorou ainda mais nas últimas três semanas, após as fortes chuvas que continuam causando enchentes e deslizamentos de terra, resultando em deslocamentos e danos em todo o país. Sessenta e seis distritos foram oficialmente declarados “afetados pela calamidade” – 31 no Baluchistão, 23 no Sindh, 09 em Khyber Pakhtunkhwa (KP) e três em Punjab. A situação continua dinâmica e outros distritos também foram afetados; o número de distritos declarados em calamidade aumenta à medida que os dilúvios continuam.

As condições climáticas adversas causaram perdas significativas de vidas  humanos e de gado e danos generalizados em residências particulares e infraestrutura pública, especialmente nas províncias de Baluchistão e Sindh. A Autoridade Nacional de Gestão de Desastres (NDMA) informou que cerca de 33 milhões de pessoas foram afetadas no Paquistão. Até 25 de agosto, registrou-se 375,4 mm de chuva, 2,87 vezes mais que a média nacional de 30 anos, de 130,8 mm. Essas chuvas caíram principalmente no Baluchistão, Sindh e partes do Punjab, o Baluchistão recebeu cinco vezes a chuva média dos últimos 30 anos e o Sindh 5,7 vezes sua média no mesmo período.

Desde 14 de junho, mais de 218.000 casas foram destruídas e outras 452.000 danificadas de acordo com o NDMA. Os meios de subsistência também foram severamente afetados: mais de 793.900 cabeças de gado – uma fonte chave de subsistência e vida para muitas famílias – morreram, dos quais 63% estão no Baluchistão e 25% no Punjab. Cerca de 2 milhões de acres (1 acre = 046,86 m2, ndt.)  de plantações e pomares também foram afetados, incluindo pelo menos 304.000 acres no Baluchistão, 178.000 acres no Punjab e cerca de 1,54 milhões de acres no Sindh.

Dera Allah Yar, cidade situada no Baluchistão, Paquistão (Photo by Fida HUSSAIN / AFP)

Os danos às infraestruturas agravaram ainda mais a situação humanitária, uma vez que a destruição parcial ou total de mais de 3.000 km de estradas e 145 pontes impede as pessoas de ir para áreas mais seguras ou deslocar-se para acessar mercados, serviços de saúde ou outros serviços vitais, e restringe a prestação de ajuda às pessoas necessitadas. Também foram relatadas interrupções na Internet, com a Autoridade de Telecomunicações do Paquistão atribuindo as interrupções generalizadas na Internet no centro e norte do Paquistão, em 19 de agosto, a falhas técnicas na rede de fibra ótica decorrentes de chuvas fortes e inundações.

Dados provisórios dos Departamentos de Educação das províncias mostram que pelo menos 17.566 escolas foram danificadas ou destruídas devido à emergência: 15.842 escolas em Sindh, 544 em Baluchistão e 1.180 em Punjab. Além disso, é relatado que pelo menos 5.492 escolas estão sendo usadas para abrigar pessoas deslocadas. Uma rápida avaliação das necessidades realizada em 10 distritos do Baluchistão revelou que 977 salas de aula foram completamente destruídas (304 em Khuzdar, 193 em Lasbela e 167 em Jhal Magsi), enquanto danos menores foram relatados em 975 salas de aula (304 em Khuzdar, 156 em Lasbela e 174 em Jhal Magsi), e 577 escolas estavam sendo usadas como abrigos (254 em Killa Saifullah, 105 em Jhal Magsi e 84 em Lasbela).

As chuvas quase incessantes agravam as inundações repentinas e os deslizamentos de terra provocados pelas chuvas ao encher rapidamente os reservatórios das barragens, representando um risco adicional para as populações do entorno dessa área e rio abaixo.

No rio Indo, que atravessa o Paquistão, a barragem de Tarbela na província de KP, a maior barragem de terra do mundo, já atingiu seu nível máximo de conservação de 472 metros, enquanto a barragem de Chashma na província de Punjab está a apenas 2,13 metros para também atingir seu nível máximo de conservação de 197 metros.

Em 26 de agosto, a Divisão de Previsão de Inundações (FFD) do Departamento de Meteorologia do Paquistão emitiu um alerta de que é esperado até 28 de agosto, inundações de níveis muito altos no rio Cabul em Nowshera, na província de KP, bem como nos afluentes dos rios Cabul e Indo. O FFS também alertou para inundações com níveis muito altos, entre 27 e 28 de agosto, em Kalabagh e Chashma, ao longo do rio Indo representando um risco maior para a população do entorno e rio abaixo.

De acordo com o Índice de Risco de Mudanças Climáticas em 2021, embora o Paquistão ocupe o oitavo lugar entre os países mais vulneráveis a choques climáticos, e contribua com menos de 1% para as emissões globais de carbono, continua a sofrer com os caprichos do clima acima de qualquer magnitude concebível. Desde o início da estação das monções (fenômeno atmosférico que propicia a ocorrência de intensas chuvas em um período do ano e secas rigorosas em outro, ndt), em meados de junho deste ano, cerca de 1.800 pessoas morreram em todo o país e centenas de milhares foram deslocadas. As chuvas torrenciais e as enchentes bíblicas não dão trégua, pois essas duas calamidades combinadas continuam a causar estragos em vidas e propriedades. O Baluchistão, a maior e mais pobre província do Paquistão, foi a mais atingida pelas torrentes causadas pelas fortes chuvas.

De acordo com a Autoridade Provincial de Gestão de Desastres (PDMA), mais de 200 pessoas morreram na província, 58 delas crianças, e mais de 10.000 foram deslocadas de suas casas. As autoridades do Baluchistão dizem que as inundações danificaram mais de 40.000 casas, das quais 22.000 foram destruídas. Quase 280.000 hectares de plantações foram perdidos em toda a província, e as autoridades estimam que as perdas totais causadas pelas inundações sejam superiores a 10 milhões de dólares. Mas a devastação não se limita ao Baluchistão, já que todo o Paquistão está enfrentando quantidades inesperadas de chuva este ano.

Os dados da NDMA indicam que a precipitação média deste ano foi de 267 mm, em comparação com a média de 119 mm nos últimos 30 anos, um aumento de 124%. No Baluchistão era de 55 mm e este ano aumentou drasticamente para 200 mm de chuvas, ou seja, em 289%. Na província vizinha de Sindh, era de 107 mm, mas este ano atingiu 375 mm, registrando mais de 150 mortes relacionadas às enchentes, incluindo pelo menos 66 crianças. Enquanto os deslocados clamam por ajuda e compartilham vídeos de suas angústias nas mídias sociais, os governos federal e das províncias e as autoridades de resgate afirmam constantemente que estão fazendo tudo o que é possível nessas circunstâncias, mas a população aguarda desesperadamente por ajuda.

As enchentes repentinas causadas pelas fortes chuvas das monções estão matando desde junho e inundaram as plantações em todo o país. Milhões de pessoas carecem de abrigo e comida, e o país carece de produtos de socorro. A calamidade chega a nível preocupante, uma vez que o governo está enfrentando uma das taxas de inflação de crescimento mais rápido da Ásia e tentando acabar com a escassez de dólares.

Espera-se que o Fundo Monetário Internacional (FMI) retome um programa de empréstimos de US$ 6 bilhões, enquanto o Catar planeja investir US$ 3 bilhões na frágil economia do Paquistão. As enchentes já danificaram milhões de acres de terras agrícolas, incluindo o algodão. O Banco Central do país advertiu que fortes chuvas podem afetar severamente a produção agrícola. O órgão regulador já espera que o crescimento econômico caía de 3% no ano passado para 2% a 3% no ano que começa em julho.

O número de mortos está aumentando, com as províncias de Sindh e Baluchistão duramente atingidas. A situação é igualmente sombria no sul do Punjab. Imagens de televisão mostram moradores dos distritos atingidos pelas enchentes andando pela água enquanto carregam seus pertences na cabeça.

Em geral, as massas se esforçam para resgatar as vítimas das enchentes. Barcos e caminhões são vistos evacuando pessoas que se protegeram nos terrenos mais altos, enquanto as ferrovias suspenderam algumas de suas operações após as enchentes levar os trilhos.

Para agravar os danos causados pelas inundações repentinas, milhares de pessoas cujas casas foram destruídas estão vivendo em barracas ou sem barracas, a quilômetros de distância de suas cidades e vilas inundadas, depois de serem resgatadas pelo público em geral, por trabalhadores locais e por voluntários. As enchentes agravaram ainda mais a crise econômica do Paquistão. O governo federal emitiu um apelo, instando as instituições filantrópicas a ajudar as áreas afetadas pelas enchentes nessas regiões. Depois de inundar grande parte do sudoeste do Baluchistão e do sul da província de Punjab, as cheias repentinas começaram a afetar também a província de Sindh, no sul do país.

Além disso, as chuvas torrenciais e fortes inundações causaram estragos nas belas regiões do norte da divisão Hazara do KP, desde Swat até Kalam. Da mesma forma, em partes de Dera Ismail Khan, a situação piorou após fortes enchentes. Percebendo o aumento do perigo, as autoridades fecharam escolas no Sindh e no Baluchistão. Imagens comoventes foram postadas nas mídias sociais, mostrando populares atravessando as enchentes com água até a cintura, segurando seus filhos e carregando itens essenciais em suas cabeças.

As equipes de resgate estão usando caminhões e barcos para evacuar as pessoas para lugares mais seguros, e alimentos, barracas e outros suprimentos básicos estão sendo enviados para as áreas afetadas pelas enchentes. Em alguns lugares, as famílias tiveram dificuldades para enterrar seus entes queridos, pois os cemitérios locais também foram inundados pelas águas das enchentes. Imagens angustiantes mostram os enlutados carregando caixões através de áreas inundadas para enterrar os mortos longe das casas submersas. Para piorar a situação, as enchentes danificaram cerca de 129 pontes em todo o Paquistão, interrompendo o fornecimento de frutas e vegetais aos mercados e fazendo com que os preços subissem.

Especialistas dizem que a mudança climática causou condições climáticas erráticas no Paquistão, resultando em chuvas e no derretimento das geleiras, que causaram a subida dos níveis de água nos rios. Eles orientam a limitar as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta, o que ajudaria a diminuir os eventos climáticos mais drásticos em todo o mundo, incluindo este país do sul da Ásia.

Já é hora de elaborar um plano sério para controlar os danos colaterais. Considerando as vastas áreas envolvidas, a vigilância é de imensa importância para identificar rapidamente surtos de doenças, escassez de alimentos e suprimentos, e o estado nutricional das populações afetadas. A vigilância prévia de surtos de doenças é essencial nesta crise. A utilização de software de sistema de informação geográfica, como o Google Earth, pode ser particularmente eficaz nestes contextos. Devem ser usadas para direcionar as intervenções para locais onde há uma alta incidência de doenças e para grupos vulneráveis, como gestantes, recém-nascidos, deficientes e idosos.

Os operadores de campo e os formuladores de políticas devem aplicar estratégias baseadas em evidências que são conhecidas por salvar vidas nesses tipos de emergências complexas. O manual da OMS “Controle de Doenças Transmissíveis em Emergências: um Manual de Campo” inclui medidas que podem ser tomadas para minimizar o risco de doenças infecciosas em emergências complexas. A Biblioteca Cochrane disponibilizou, gratuitamente aos usuários paquistaneses, análises sobre segurança da água e doenças relacionadas à água para o desenvolvimento de diretrizes apropriadas. Portanto, a prevenção da transmissão de doenças infecciosas deve ser o foco principal dos esforços de socorro. A higiene e o saneamento adequados são de suma importância na prevenção de doenças diarréicas. As vítimas das inundações precisam de água potável e informações sobre os benefícios de manter práticas de higiene tais como lavar as mãos com sabão. A vacinação em massa de crianças contra sarampo e cólera é especialmente importante. Necessidade de conscientização pública para pressionar o governo a definir um cenário internacional moderno de saúde e desenvolvimento.

O papel dos setores público e privado no capitalismo das catástrofes:

Desde o início, afirmamos neste artigo que os desastres oferecem oportunidades: para alguns, isso pode significar uma mudança social positiva; para outros, é o momento ideal para lucrar, extrair recursos e reforçar o status quo habitual. Nos últimos anos, este último ficou conhecido como “capitalismo das catástrofes”. Este artigo demonstra que o capitalismo das catástrofes se manifesta através da interação entre reformas neoliberais, as práticas e as catástrofes, e que ele é proeminente tanto no setor público quanto no privado. O papel e a contribuição dos setores público e privado na (re) produção e acumulação de riscos de catástrofes na perspectiva do capitalismo de catástrofes têm sido pouco explorados, tanto na literatura acadêmica como na arena política. O presente estudo responde a esta lacuna e fornece um panorama internacional preliminar das causas fundamentais, os comportamentos e consequências do capitalismo de catástrofes e sua contribuição para a criação do risco de catástrofes e seu papel na natureza sistêmica do risco.

O estudo analisa também as várias experiências ex-ante e ex-post do capitalismo de catástrofes no Paquistão, Brasil, Chile, Colômbia, Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, em um período que vai da era colonial européia até a atual inundação. Isso é feito por meio de fontes secundárias de dados e revisão da literatura, com base em uma abordagem construcionista social dos desastres. Mostramos que quando os desastres não são abordados com estratégias de mudança social positiva, o espaço é preenchido por atores interessados que colocam um desafiam a todos os esforços de redução do risco de desastres e de resiliência por parte dos cidadãos, governos nacionais e locais, e as organizações internacionais.

Além disso, as reformas e práticas neoliberais interligadas, tais como a exploração de pessoas afetadas por catástrofes no Chile, a privatização de serviços públicos essenciais na Itália ou a desregulamentação da proteção ambiental no Brasil, para citar alguns, podem impulsionar à exacerbação e criação de novos riscos. Através da série de experiências de capitalismo do desastre ao redor do mundo, apontamos, em primeiro lugar, por que devemos ser muito cautelosos na hora de desenhar soluções sem questionar as condições sócio-culturais e político-econômicas pré-existentes que contribuíram para criar o problema. Em vez de nos resignarmos e acreditarmos em palavras “simpáticas” e na “Corporação Solidária”, temos que nos organizar e nos preparar para assumir o controle da sociedade, tirando o controle dos irresponsáveis que, é evidente, nos conduzirão por um caminho de destruição junto com a natureza.

Agora, o que o povo deve exigir aos seus governantes:

1. Cortes nos privilégios oficiais.

2. Suspensão, por 10 anos, de todos os pagamentos da dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a outras instituições financeiras!

3. Cortes no orçamento da defesa!

4. Taxação de impostos sobre as classes sócio-econômicas mais elevadas!

5. Nacionalizar todas as terras agrícolas e entregá-las aos meeiros!

6. Não mais impostos sobre a população em nome da ajuda às inundações!

7. Publicar toda a documentação de ajuda estrangeira!

8. Deter o absurdo procedimento de permissão das autoridades para as vítimas das enchentes em nome da segurança!

9. Suspender a permissão aos agentes imobiliários ou aos magnatas imobiliários!

10. Acesso as atividades oficiais de ajuda do governo a todos que queiram verificá-las!

11. Distribuir toda a ajuda e a construção através de comitês de vilas e cidade por meio de assembléias populares!

Estes são os únicos meios eficazes, em longo prazo, para fornecer o apoio econômico necessário para reabilitar a população inundada. Portanto, há uma necessidade urgente de ampliar a base econômica e pública; o momento de agir é agora!

Um chamado internacional

Apelamos aos camaradas e amigos para que permaneçam vigilantes à situação no Paquistão e estendam toda a solidariedade e apoio solicitados por nossos membros e grupos de simpatizantes, coordenando e apoiando os esforços de ajuda e reabilitação, especialmente para alguns de nossos membros e simpatizantes.

Tradução: Rosangela Botelho

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