Diante da repressão do governo equatoriano à mobilização geral da CONAIE, dos trabalhadores e dos pobres
Nós, a Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), seção mexicana simpatizante da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), em vista dos acontecimentos que estão ocorrendo atualmente na república irmã do Equador, queremos expressar o seguinte:
Desde segunda-feira, 13 deste mês, o povo equatoriano está nas ruas. Diante de um cenário de barbárie generalizada em todo o mundo – exacerbado pela guerra de invasão do regime russo ao povo ucraniano, a pandemia de Covid-19 e a crise ambiental – não é de surpreender que o cansaço social leve a mais uma onda de protestos e explosões sociais. O custo de vida para os pobres e a classe trabalhadora pesa cada vez mais e somos nós que arcamos com as consequências do sistema capitalista e seus governos burgueses. A espoliação dos recursos naturais ameaça não apenas a existência de comunidades indígenas ou não indígenas, mas também a natureza.
Equador: entre repetir a história ou dar um salto
A República do Equador, país petrolífero, mineiro e agrícola no centro-oeste da América do Sul, está novamente na mira, tanto dos povos como dos governantes e empresários da região. E não é à toa.
Em 2019, a região viveu um processo de manifestações e protestos que ameaçavam subverter a ordem política, a ponto de questionar o poder político em vários países: Chile, Colômbia e Equador foram os protagonistas desses processos.
Embora os governos desses países tenham conseguido superar a situação e não perder o poder, o fizeram com uma tremenda erosão de seu prestígio político que os afetou, com a derrota do candidato Piñera no Chile (2021) e do candidato Uribismo na Colômbia (2022).
No Equador, essa erosão foi influenciada pela experiência de 10 anos com o governo “progressista” de Correa e seu sucessor, Lenin Moreno, que traiu sua base indo diretamente para o modelo neoliberal, para o qual as massas buscavam uma alternativa dos “progressistas” existentes e, iludidos e cansados, votaram em Lasso (2021).
No entanto, após um ano de gestão, as demandas que motivaram a mobilização de 2019 não foram resolvidas.
As recentes mobilizações no Equador, lideradas principalmente por indígenas trabalhadores agrícolas e camponeses, agrupados na Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), e que estão em pleno andamento (ver artigos de 9 e 17 de junho do LITQI), estão levantando novamente a questão de para onde vai o Equador e qual é a saída?
Essas questões são pertinentes em um contexto em que o governo do banqueiro Guillermo Lasso está dividido entre outorgar concessões que nem a crise nem a burguesia estão dispostas a dar, e manter a governabilidade declarando estado de emergência e reprimindo nas províncias mobilizadas, bem como o dilema da direção da CONAIE de precisar responder às demandas de suas bases e sua visão reformista de atender às demandas sem questionar as bases estruturais que geram os problemas sociais sofridos, ou seja, a sociedade capitalista e o poder político que a sustenta.
Enquanto o governo decreta estado de emergência em Pichincha (Quito), Cotopaxi, Tungurahua, Chimborazo, Imbabura e Pastaza e reprime os manifestantes localmente e tenta impedi-los de chegar a Quito, causando 2 mortes até agora, os confrontos crescem em número e magnitude, bem como a inação das forças de segurança do Estado em seu mandato para impedir e reprimir a mobilização.
A história do Equador é dominada pela instabilidade nos governos, especialmente causada pelos conflitos sociais dos últimos 20 anos que depuseram pelo menos 3 presidentes e colocaram outros em xeque, onde a CONAIE desempenhou um papel relevante. Assim, cada mobilização e protesto de âmbito nacional coloca em questão o grau ou profundidade das mobilizações e a capacidade do governo de contorná-las e conseguir aplacá-las.
Não é diferente neste caso e nós, convictos de que as demandas sociais e econômicas levantadas nos 10 pontos da CONAIE não podem ser resolvidas definitivamente sem uma mudança no sistema econômico capitalista e no Estado que o reproduz e seu governo que o sustenta, vemos a necessidade de apontar o desenvolvimento da mobilização, unificando-a a partir das diversas associações, sindicatos e organizações sociais que congregam os trabalhadores do campo e da cidade, agrícolas, industriais e de serviços, com os demais setores oprimidos e empobrecidos da população (indígenas, negros, feministas, estudantes, LGTBI, etc).
Mas também é indispensável cercá-lo de solidariedade internacional.
O resultado desta luta, em favor do povo oprimido, pobres e explorados, podem impactar diretamente no continente americano, em países com alta incidência de indígenas, como América Central e México. Mas particularmente na região andina; já que o Equador está ladeado por países cujos governos se dizem progressistas, mas que mostraram sua vocação para manter o status quo retardando ou desviando as profundas mudanças exigidas pelos trabalhadores e pelo povo. Uma vitória no Equador pode catapultar as demandas populares das bases desses países, e se tal vitória se expressa diretamente em uma revolução social que coloca no poder as organizações em luta, democraticamente controladas por suas bases, pode ser um exemplo a seguir para desmascarar os governos de Boric (Chile), Castillo (Peru), Arce (Bolívia), Petro (Colômbia) e Maduro (Venezuela), que promovem um discurso de mudança (o último até se declara “socialista”), mas na prática, aspiram a maquiar o Estado, deixando intactos os privilégios da burguesia exploradora, nacional e/ou estrangeira.
Os “progressistas” mexicanos olham para o outro lado…
Aqui no México existe um governo que se diz progressista, mas que não se pronunciou sobre essa luta que já dura uma semana. AMLO (Andrés Manoel López Obrador), apesar de em suas declarações diárias nas “manhãs” falar do divino e do profano, se afastou desse problema candente, que reflete situações vividas por indígenas, camponeses e trabalhadores rurais mexicanos, bem como trabalhadores e pobres em geral. Seu silêncio é um sinal escandaloso de que ele não quer tocar em questões cuja responsabilidade por uma solução aponta diretamente para ele.
Da mesma forma, nem o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), nem o Congresso Nacional Indígena, do qual são membros, se pronunciaram sobre os problemas dos povos indígenas e outros povos ancestrais, como os negros do litoral norte do Equador, ambos ativos na luta atual. Isto é particularmente grave, pois supõe um desinteresse ou desconhecimento dos ataques que as multinacionais agrícolas, petrolíferas e mineiras vêm realizando contra seus territórios, desapropriando-os de suas terras ou causando danos ambientais de difícil reparação. Também supõe um desprezo ou ignorância dos ataques à qualidade de vida que a população equatoriana em geral, pobre e oprimida, está sofrendo, particularmente os trabalhadores do campo e da cidade, produto de um sistema baseado na exploração do homem pelo homem, como é o capitalismo, independentemente do corte ideológico do governo no poder que o administra. As barbas do país vizinho estão queimando e o combustível é o mesmo que está se espalhando por toda a geografia mexicana: capitalismo predatório, opressor e destrutivo do meio ambiente.
Qual é a saída?
Sem atribuir papéis de conselheiros, mas preocupados com a ameaça de repetir a história recente sem solução, acreditamos que os combatentes revolucionários do Equador devem refletir sobre suas experiências passadas e, em geral, a de todos os povos que se lançaram à luta contra os ataques dos governos capitalistas, disfarçados ou não, para não repetir os fracassos e aplicar as lições aprendidas com seus triunfos.
Mais especificamente, é importante exigir das lideranças das diferentes organizações, especialmente dos trabalhadores, como a Federação Única dos Trabalhadores (FUT), ações concretas para alcançar a mobilização e unificação das lutas. As organizações devem realizar assembleias para informar, debater e votar ações que visem unificar e fortalecer a mobilização e a luta. Incorporar demandas específicas de cada organização àquelas levantadas pela CONAIE e, sobretudo, debater e propor a saída de Lasso do governo, substituindo-o por um governo das organizações de trabalhadores, camponeses, indígenas e outros setores oprimidos e empobrecidos, como a única medida eficaz para iniciar a reconstrução do país e resolver as demandas sociais e econômicas em novas bases, onde o desejo de lucro e a exploração do trabalho assalariado dão lugar à organização e ao planejamento coletivo e democrático da sociedade.
As assembleias devem se informar, debater e votar nas comissões encarregadas de participar das mobilizações em Quito, bem como as de logística para garantir transporte, alimentação, hidratação e outras necessidades dos mobilizados e suas famílias. Além disso, devem nomear comissões de propaganda para ajudar a promover e difundir as demandas e combater a desinformação promovida pelo governo e setores burgueses.
Finalmente, as mobilizações passadas, tanto no país como no Chile e na Colômbia, bem como a repressão atual, nos obrigam a considerar a necessidade de estabelecer os grupos de autodefesa das lutas, subordinados às suas organizações e destinados a conter as tentativas para parar a mobilização, para aprisionar seus membros e dirigentes e evitar mais mortes e feridos. Paralelo a isso, é importante iniciar e intensificar um chamado às Forças Armadas e à polícia para que não reprimam o povo, legitimamente mobilizado por causas justas que também lhe dizem respeito, especialmente as tropas, filhas das populações oprimidas e exploradas do campo e a cidade. . Ao contrário de reprimir, é importante somar-se à mobilização.
A saída de Lasso passa pela organização democrática e unificada dos trabalhadores, indígenas e demais povo pobre e oprimido, além de neutralizar e conquistar as tropas das Forças Armadas e setores policiais.
Na CST nos solidarizamos com as demandas das massas em luta e exigimos a saída do governo Lasso, dos banqueiros e dos empresários. É essencial cercar os trabalhadores e os povos de solidariedade internacional para continuar promovendo a mobilização até que o governo caia. Da mesma forma, insistimos em fortalecer a auto-organização dos povos indígenas em união com a classe trabalhadora e o povo pobre. A classe operária deve também se colocar à frente das mobilizações e paralisar as indústrias para atingir diretamente a economia do grande capital.
PELA UNIDADE DOS TRABALHADORES, INDÍGENAS E DEMAIS POVO POBRE E OPRIMIDO PARA ENFRENTAR O ATAQUE CAPITALISTA!
UNIFICAR A LUTA DE FORMA DEMOCRÁTICA!
FORTALECER A MOBILIZAÇÃO EM QUITO!
PARAR A REPRESSÃO CONTRA O POVO EQUATORIANO QUE LUTA!
ABAIXO O GOVERNO LASSO!
POR UM GOVERNO DOS TRABALHADORES E DO POVO OPRIMIDO E POBRE!