Votar Sim contra a LUC e o governo
Qualquer pessoa, inclusive aquelas pouco politizadas, reconhece que no referendo do domingo 27 se votará contra os artigos da Lei de Consideração Urgente (LUC), que vem sendo aplicada e defendida pelo governo de direita. Por essa razão é que o voto pelo SIM expressa inevitavelmente a raiva e o repúdio contra o atual governo.
Por: IST-Uruguai
A LUC que Lacalle Pou, Manini Ríos e Sanguinetti defendem junto com toda a direita reacionária, está elaborada para benefício dos mais ricos, os grandes patrões e as multinacionais. A LUC é ao mesmo tempo uma parte importante, de um plano econômico e político mais geral, que está nos submetendo e rebaixando o nível de vida das e dos trabalhadores. É com esse plano de governo que também atacam os direitos conquistados pela mulher e por meio do qual se aprofundam as carências dos setores populares e dos mais pobres. A disparada na alta dos alimentos (o preço da carne subiu 25% desde janeiro), junto com o aumento frequente dos combustíveis (e já anunciam outro aumento) é só uma amostra do enorme ajuste que querem aprofundar assim que passe o referendo.
Por isso, é importante votar SIM no domingo 27, com esse voto revogaremos não só parte de uma lei, a LUC, mas também repudiaremos o governo que aplica este plano de fome e miséria. Esta lei não é uma abstração, foi escrita e criada pela coalizão da direita e da ultradireita, à qual a princípio a Frente Ampla (FA) se opôs verbalmente, denominou de “lei ônibus” e inclusive chamou de antidemocrática. Depois, lamentavelmente, a alta direção e os parlamentares da FA acabaram negociando e votando junto com a direita mais de 200 artigos, segundo eles, a fim de “melhorá-la”.
A postura inicial da FA e da maioria do PIT CNT com o referendo
Foi por essa razão que a grande maioria dos dirigentes da FA, (salvo Rafael Michelini que queria ir aos bairros juntar assinaturas, como forma de evitar que os jovens se mobilizassem como no Chile), o resto estava contra ou hesitava em coletar as assinaturas que habilitaram esta instância de 27 de março. Fernando Pereira, antes máximo dirigente do PIT CNT (Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores), atual presidente da FA se opôs e estava cético de que as assinaturas necessárias seriam alcançadas.
Foi a enorme força das bases e militantes honestos da FA, de um setor importante da militância independente da esquerda, a fortaleza das mulheres jovens e estudantes que se mobilizaram em massa, que obrigou os dirigentes frenteamplistas e do PIT CNT a dar um giro e colocar-se à frente desta campanha porque o comboio ia sozinho.
O referendo da LUC pode se separar do governo?
Então estes dirigentes de “esquerda” arrancaram o triunfo das 800 mil assinaturas dos abnegados militantes, das e dos operários que assumiram a tarefa. Assim estas cúpulas de dirigentes que estavam afundados no meio de uma crise reapareceram e reviveram. Eles se colocaram na cena pública, saíram na televisão, nos jornais e nas redes, querendo mostrar as 800 mil assinaturas como seu triunfo.
A partir de então, insistiram e insistem que este referendo não é contra o governo, mas apenas contra 135 artigos da LUC. Segundo o jornal El País, Fernando Pereira mantém um “telefone vermelho” com Lacalle Pou, para baixar o tom do debate e “torná-lo mais tolerável”.
O que devemos tolerar?
Os violentos despejos compulsórios que a LUC autoriza e o governo aplicará? Devemos tolerar o desmantelamento da Educação Pública, da Ancap, UTE e ANTEL? São todas políticas atadas às leis que este governo de direita redige. Devemos pedir maior tolerância aos mais de 60 mil demitidos, às trabalhadoras da Casa de Galicia que ficarão na rua? Temos que tolerar mais redução de salários e aposentadorias, junto com o aumento de uma maior precarização trabalhista? Tudo produto das leis e decisões deste governo e algumas que inclusive vieram da administração anterior da FA.
Agora, ante um panelaço convocado nas redes, para quando o presidente Pou faça uso da cadeia de comunicação ou por meio de uma coletiva de imprensa na televisão, a direção da FA saiu pelas redes sociais correndo para se distanciar. Saiu dizendo que não apoia nem recomenda, que não é a forma e chega ao limite de afirmar que o panelaço é uma expressão violenta. Protestar é ser intolerante? As paralisações e mobilizações são intolerância para os dirigentes da FA? Porventura protestar não é nosso direito, não é parte da liberdade de expressão?
Acreditamos que a violência e a intolerância que são geradas vêm do governo. Violência e intolerância é a ação policial cada vez mais repressiva que é legalizada pela LUC, que é aplaudida pelo Ministro e por todo o governo de direita. O próprio Sanguinetti justificando as denúncias de violência policial, afirmou que “a verdade é que sempre houve abusos policiais, há e continuará havendo.” (1) E Manini Ríos foi ainda mais longe dizendo que “aqueles que querem revogar esta lei a veem do ponto de vista do delinquente” (2) Por acaso, os 800 mil que assinamos devemos permitir que nos digam “que temos o ponto de vista do criminoso”? Não têm vergonha, os intolerantes, violentos e os que respaldam os criminosos, torturadores, assassinos e violadores dos direitos humanos que estão no governo.
O problema da direção política para enfrentar o plano de governo
A direção da FA e seus dirigentes se subordinam totalmente à política eleitoral e querem fazer pensar que no dia 27 está em jogo apenas o voto contra os 135 artigos e depois “a vida seguirá”, terá que esperar 2025, já que segundo eles, um novo triunfo eleitoral da FA seria a única forma de mudar este enorme ataque do governo de Lacalle Pou. Não acreditamos que esta direção de “esquerda” light que se incomoda com o ruído das panelas e que negocia por baixo da mesa seja a alternativa para os trabalhadores.
Nós, os de baixo, não temos o mesmo tempo e precisamos de novos dirigentes
As operárias e operários, os pobres que comem em refeitórios populares, os que vivem em assentamentos, as mulheres violentadas e assassinadas não têm o mesmo tempo, nem podem esperar por 2025. Sabem, além disso, que só a luta pode garantir nossos direitos como demonstra a história. Os analistas políticos, inclusive os burgueses, não duvidam em comparar o referendo com uma eleição de meio mandato. No dia 27 não só os 135 artigos estão em jogo, mas o apoio ou o rechaço à violenta política do governo de direita.
E essa violência governamental se destaca quando fazem nossos irmãos depender de um prato de comida que devem ir comer nos refeitórios populares. Violência é não fornecer orçamento, ter tribunais abarrotados de denúncias, enquanto as mulheres continuam sendo assassinadas. Violentas são as denúncias de estupros realizadas por mulheres contra os integrantes da Guarda Republicana. E poderíamos continuar falando da violência e da união inseparável entre as leis e decisões que os governos capitalistas vigentes aplicam.
Mas há alguns dirigentes frenteamplistas e outros seguidores ajoelhados que em seu oportunismo político, direta ou indiretamente, querem salvar a pele da direita governante. Já nem querem bater panelas para protestar. Terminou nisto uma esquerda açucarada e seus parlamentares que votam e negociam projetos em conjunto com a ultradireita. Eles acreditam nesta democracia para os ricos e capitalistas, e se beneficiam, têm também seus suculentos salários parlamentares, só buscam acomodação e cargos nas eleições por isso ficam incomodados com fazer barulho.
Garantir o triunfo do Sim a partir da base
Nós, da IST, chamamos, no dia 27, a votar contra a LUC e o governo. É preciso estarmos conscientes que uma vitória do SIM é um golpe para os capitalistas e seu governo. Que estão se preparando para o dia depois da eleição para aprofundar brutalmente o ajuste.
Uma vitória do SIM fará com que os trabalhadores tenham as energias renovadas para sair à luta. Porque no dia 27 se define o voto, mas nas ruas, nas mobilizações e conflitos. É onde será definido realmente se impusermos a partir da luta de classes um verdadeiro fim a esta sinistra lei e ao governo que aplica um plano anti-operário.
Nós, da IST, convidamos você a batalhar juntos para que o SIM ganhe, queremos também conversar para ir preparando a luta nas fábricas, escritórios, escolas e bairros populares para colocar um freio no governo. Também é necessário estabelecer novas bases, precisamos fundar uma esquerda socialista, revolucionária que se apóie na luta para avançar para o socialismo. Para estas tarefas, colocamos nossas humildes forças à disposição.
- https://www.elpais.com.uy/informacion/politica/sanguinetti-denuncias-abuso-policial-son-ensalada-hechas-delincuentes.html
- https://www.elobservador.com.uy/nota/manini-sobre-la-luc-quienes-quieren-derogar-esta-ley-la-miran-desde-el-punto-de-vista-del-delincuente–2022317205143
Tradução: Lílian Enck