sex jul 26, 2024
sexta-feira, julho 26, 2024

Quem tem medo do confronto programático? Resposta a SCR-IMT

Em resposta a um artigo de polêmica com o seu programa (https://litci.org/pt/sobre-a-ditadura-capitalista-de-cuba-polemica-com-scr-imt-ou-a-importancia-de-se-autodenominar-trotskistas/), SCR (Esquerda, Classe e Revolução, seção italiana da IMT) nos respondeu com um artigo de Francesco Giliani (www.marxismo.net/index.php/teoria-e-prassi/movimento-operaio-italiano/547-pdac-lit-navigazione-a-vista-elevata-a-sistema-2). 

Por: Francesco Ricci

O método do confronto usado por nossos mestres

O que notamos à primeira vista foi o tamanho do texto da SCR (pelo menos duas vezes maior que o nosso). Pareceu-nos, inicialmente, um bom presságio: demonstrando o empenho e o estudo meticuloso, um verdadeiro esforço ao qual Giliani deve ter se dedicado o mês que nos separa da saída do nosso artigo. Devemos reconhecê-lo (essa foi a nossa primeira impressão) por ter dedicado as festas natalinas ao confronto conosco, enquanto outros se empanturravam de carne e panetone.

Isso não é pouca coisa em uma esquerda que diante da polêmica política responde com um silêncio público e a calúnia privada ou com fofocas de corredor.

Infelizmente, às vezes, a primeira impressão está errada.

Na verdade, a leitura do texto revela aquilo que falta na resposta da SCR, que é precisamente… uma resposta. Giliani fala de muitas coisas, mas se esquiva de cada uma das claras críticas programáticas que nós fizemos.

No momento nos perguntamos: se não responde às críticas que fizemos ao programa da IMT-SCR, sobre o que Giliani escreve em vinte páginas?

Evitando a discussão sobre o seu programa, propõe uma sobre o nosso, decepciona os leitores (começando pelos militantes do SCR) e faz uma coisa abstratamente legítima, mas enganosa. Como se à crítica por ter excedido nas libações natalinas respondêssemos com uma pergunta: e você, quanto comeu? Infelizmente, diante da resposta da balança, essa manobra não funciona.

Esse não é um método novo: não é necessário ter lido Cícero e Quintiliano para saber que na milenar arte da retórica é uma manobra para desviar a atenção que se baseia na falácia do “argomentum ad personam”, que consiste em não contestar as afirmações do interlocutor, mas o próprio interlocutor. O erro lógico está no fato de que um argumento é verdadeiro ou falso independentemente dos erros (verdadeiros ou supostos) de quem o defende.

Em outras palavras e para trazer a discussão para o que nos diz respeito: é verdadeiro ou falso que SCR-IMT revisaram a teoria marxista do Estado e, consequentemente, o seu programa em relação aos governos burgueses, como nós escrevemos? Esse deveria ser o ponto de partida de uma resposta, quaisquer que sejam os erros ou desvios do PdAC e da LIT.

Devemos acrescentar que Giliani usa esse artifício retórico antiquíssimo, esse sofisma, de uma forma refinada. Não desvia a atenção das nossas críticas ao seu programa para propor discutir o nosso programa – coisa que nos faria contentes e dispostos a fazê-lo. Mas não, propõe mudar a discussão para velhos erros (supostos ou reais) de Moreno, sem confrontar-se com o nosso programa real e atual. Para exemplificar: seria como se Lênin, em 1917, tivesse acusado Trotsky por ter inicialmente se alinhado com os mencheviques em 1903 (coisa que foi eternamente alardeada, não por Lênin, mas por Stalin). Ou como se Trotsky, em 1917 tivesse acusado Lênin e os bolcheviques por terem apoiado a “ditadura democrática dos operários e dos camponeses” ao invés da revolução permanente. Dado que ambos, explicitamente ou implicitamente, haviam mudado suas posições, o confronto ocorreu sobre o programa que cada um defendia naquele momento (e que, como é sabido, coincidia e foi o programa da vitória de Outubro).

Da nossa parte, no artigo sobre SCR-IMT, indicamos apenas e exclusivamente as posições atuais dessa organização, nos referimos às velhas posições apenas na medida em que SCR-IMT não as tenha superado explícita ou implicitamente de acordo com o que sabemos, e que constituem o fundamento sobre o qual se constrói hoje. Porque isso é o que interessa para quem lê: o programa que as duas organizações reivindicam hoje e sobre o que querem se construir. O resto é aquilo que os ingleses chamam de red herring, ou seja, os arenques vermelhos que os furtivos caçadores ingleses costumavam usar para levar os melhores cães dos rivais a uma pista falsa. Como se entende pelo exemplo canino, é um método que demonstra pouca consideração sobre as capacidades de quem lê para não deixar-se enganar.

Dogmatismo não rima com marxismo

Com uma consideração maior do que tem a SCR por nossa inteligência e pela dos leitores dessa polêmica (em grande parte supõe-se que sejam militantes dos respectivos partidos), vamos aceitar farejar o arenque vermelho que Giliani colocou sob o nosso nariz. E não nos limitaremos a cheirá-lo, mas provaremos alguns. Obviamente para depois nos recolocar, na última parte desse texto, sobre os rastros corretos desse debate programático.

Mas a primeira coisa antes de qualquer palavra sobre como concebemos a elaboração do programa marxista.

Como se dizia, Giliani generosamente sacrificou uma parte das suas festas natalinas pesquisando a história da LIT para encontrar as provas de nossos desvios para exibi-los aos leitores como prova do fato de que, como erramos muito, logo as nossas críticas ao seu programa não merecem uma resposta ao cerne da questão. “Tentaremos ressaltar as raízes teóricas, o morenismo, do gravíssimo desvio oportunista do PdAC e da LIT-QI”, anuncia Giliani antes de nos conduzir por uma longuíssima viagem que começa exatamente em 1943.

Ou seja, Giliani parte não da LIT (que foi fundada em 1982), mas quarenta anos antes, quando eram dados os primeiros passos com aquele que se tornaria, décadas depois, um dos fundadores da LIT. Em 1943, Nahuel Moreno completava 19 anos.

Seria interessante seguir Giliani nessa história de Moreno e dos primórdios da nossa corrente porque Moreno foi, entre os dirigentes do “movimento trotskista”, ou melhor, das várias organizações nascidas da crise da Quarta Internacional nos anos cinquenta, um dos poucos (talvez o único) que sempre soube autocriticar-se. À suposta infalibilidade dos vários Cliff, Lambert, Healy, Ted Grant, Alan Woods etc., sempre opôs uma grande humildade. Se Trotsky e Lênin erraram, nós pensamos (como já dissemos acima), como não se equivocaria um dirigente que, ainda que importante, nunca se considerou nem mesmo de longe, comparável aos nossos mestres.

Mas para discutir seriamente essa história, precisaríamos estudar os textos e as elaborações de Moreno e da LIT. E temos a impressão de que Giliani, ao contrário, para dar uma resposta “rápida” (que, no entanto, o ocupou por quase um mês), se baseou em uma das tantas sínteses superficiais de adversários da LIT. Giliani não parece consciente de estar misturando uma crítica a erros reais que a nossa corrente cometeu e depois superou (em alguns casos há meio século), com erros que nos foram imputados por nossos adversários, mas que não encontram nenhuma correspondência com os fatos históricos. Tudo isso misturado com erros de datas, nos atribuindo posições que eram de outras correntes, e com as quais nos opusemos…

Se Giliani tivesse tido a paciência de ler, ainda que apenas alguns números da revista teórica da LIT (Marxismo Vivo) ou de ver os atos públicos dos Congressos que a LIT faz a cada dois anos ou a revista teórica do PdAC (Trotskismo Oggi), saberia igualmente que, há alguns anos, estamos empenhados em uma tarefa de atualização programática na qual temos criticado e abandonado ou corrigido posições políticas e táticas da nossa corrente. Para fazer uma lista sumária: sobre a posição diante das frentes eleitorais, sobre a intervenção com relação às duplas opressões (que, olhando a nossa história de décadas atrás, nos parece agora insuficiente), sobre a interpretação da Primeira Internacional como “partido único” da classe operária, sobre a relação correta entre propaganda e agitação…

Na elaboração programática, de fato, nós seguimos o exemplo dos nossos mestres, de Marx, Engels, Lênin e Trotsky, que não consideravam o marxismo “um dogma”, mas um guia para a ação. Um guia que precisa de contínuas atualizações correspondentes às transformações da realidade: obviamente (aqui está a diferença com o revisionismo) a partir do reconhecimento da validade dos nossos pilares programáticos do marxismo: o programa da ditadura do proletariado, a independência de classe com relação à burguesia e aos seus governos, a construção do partido de vanguarda. Ou seja, aqueles pilares que, como demonstramos em nosso artigo anterior, SCR-IMT abandonaram e sobre o qual propúnhamos o debate do qual Giliani esquivou-se.

Degustando os arenques vermelhos: a guerrilha

Feita essa importante premissa metodológica, aproximamo-nos do prato de arenque vermelho que nos propõe Giliani para confundir o olfato de quem lê.

Comecemos por aquilo que Giliani define como “desvio foquista: Moreno contra Trotsky”.

É interessante esse tema porque temos uma demonstração de como Giliani procura escapar do confronto programático.

Giliani cita alguns textos escritos por Moreno e pela nossa corrente no período imediatamente posterior à revolução cubana de 1959, para demonstrar que teríamos capitulado ao foquismo guerrilheiro. Trata-se de uma meia verdade (que como todas as meias verdades, é uma falsidade completa). Efetivamente, Nahuel Moreno expressa grandes elogios a Fidel Castro: aqui está a meia verdade. Giliani se esquece de dizer que todas as organizações que se reivindicavam do trotskismo celebraram aquela revolução que, realmente, entusiasmou os revolucionários do mundo todo para o fato histórico de ter expropriado o capitalismo pela primeira vez na América Latina, construindo um Estado Operário. Esquece ainda de dizer que, enquanto todas as outras correntes mantiveram aquela opinião precipitada durante as décadas seguintes, a nossa corrente criticou desde o início a teoria do “foco guerrilheiro” e, mais em geral, logo em seguida corrigiu a análise sobre a direção pequeno-burguesa.

O leitor interessado pode ler o texto: Dois métodos frente à revolução latino-americana (1). É um texto de 1964 (sim, note o ano!): nesse período, enquanto todo o trotskismo sofria efetivamente de uma “embriaguez guerrilheira”, Moreno escreve uma crítica do “guerrilheirismo” do ponto de vista marxista. Os “dois métodos” opostos aos quais se refere o título são precisamente a guerrilha e a construção do partido marxista de vanguarda com influência de massa. Ainda que, reconhecendo uma diferença entre Guevara e a direção cubana dos primeiros anos da década de 1960, com a burocracia de moscou, Moreno explica porque sem uma mudança de percurso estratégico, que abraçasse o programa da revolução permanente, o processo cubano estaria destinado à derrota.

Mas Giliani se esquece de mencionar essa nossa posição e (chega a hora da meia falsidade) até mesmo nos atribui uma “perspectiva mazziniana da época do Ressurgimento[1] sobre os “golpes de Estado”. Ora, levando em consideração que não fica claro o que a referência a Mazzini[2] tem a ver com tudo isso (além de querer nos atribuir a lógica dos “golpes de Estado”, exibindo-se com referências históricas, teria sido mais apropriado falar de Blanqui) porque Giliani nos atribui uma posição com a qual na realidade nos confrontamos?

Porque Giliani não faz referência às Teses sobre a guerrilha elaboradas por Moreno em 1973 (quando a teoria sobre a guerrilha estava dizimando toda uma geração de revolucionários), que constituíam pelo que sabemos, a mais implacável crítica do guerrilheirismo, exatamente enquanto a maior parte das organizações, inclusive as de origem trotskistas, capitulavam a isso? Citemos do próprio texto: “O surgimento de direções pequeno-burguesas independentes do stalinismo, que dirigiram revoluções vitoriosas, como foi no seu tempo o castrismo e agora o sandinismo, podem nos levar ao erro de acreditar que estamos unidos a essas direções por uma estratégia comum (…). Seria um erro grave (…). Em longo prazo é inevitável que elas traiam a revolução, em alguma parte do processo revolucionário, devido a uma profunda questão de classe: porque são direções pequeno-burguesas” (2).

Mas esses “esquecimentos” servem a Giliani para esconder o fato de que não em 1962, mas em 2022 (sessenta anos depois!) a IMT elogia Raul Castro que, nesse meio tempo, de dirigente guerrilheiro se transformou em um dos mais ricos membros da nova burguesia cubana. Nesses sessenta anos (com os quais Giliani não se preocupa) a direção castrista se transformou de direção centrista em direção burguesa. Um detalhe grande (a grosso modo) como a pirâmide de Quéops.

Mas prossigamos a leitura sobrevoando vários erros de reconstrução histórica, apenas para citar alguns (mas existem outros): Giliani fala de uma confluência da nossa corrente com o Secretariado Unificado em 1963, no entanto, isso ocorre depois de um ano de intensas polêmicas, em 1964; ou coloca a fundação da LIT em 1981 (é em 1982). Detalhes pode-se dizer, mas que dão a ideia de como seria melhor, antes de escrever uma história que não se conhece, aprofundar o estudo…

Mas continuemos com uma outra degustação dos arenques vermelhos.

O maior arenque de todos: a guerra das Malvinas

“A Frente Única… mas com a ditadura militar!” anuncia um dos títulos da reconstrução “histórica” de Giliani. Francamente! Ao quê se refere?

O que significa esse título de jornaleco sensacionalista que faz alusão a um suposto acordo nosso com os generais que fizeram desaparecer os militantes da esquerda, jogando-os no oceano? É o que mais se destaca (digamos assim) em todo o artigo. E nos consente (agradecemos Giliani) de voltar, ainda que, alongando um pouco o percurso, ao tema central do Estado. Giliani se aproxima da questão da ditadura argentina com  certa cautela, sabendo que o nosso partido está entre aqueles que tiveram o maior número de vitimas: companheiros e companheiras, muitos ainda muito jovens, sequestrados por militares, torturados e estuprados em Esma, a famigerada estrutura utilizada para essa finalidade.

Giliani nos lembra Huriah Heep dickensiano[3], que começava fazendo algum falso cumprimento, depois, obsequioso, humildemente, sem parar de sorrir e de esfregar as mãos, acrescentava uma vaga alusão, para enfim, caminhando curvo e esgueirando-se pelos muros, sem nunca olhar o interlocutor nos olhos, lançava a frase pérfida que havia mantido em mente. Heep faz isso por toda a história de David Copperfield, até que depois de mil páginas, no final catártico desse esplendido romance, o senhor Micawber, para grande satisfação do leitor, pega Heep e sua falsa humildade com golpes de palmatória sobre os dedos.

Giliani começa lamentando-se pelos nossos companheiros assassinados pela ditadura. Depois, sempre sorrindo e esfregando as mãos, refere-se à nossa imprecisa “adaptação à ditadura”.

Primeiro suspiro. É realmente necessário o frio cinismo de um Huriah Heep para falar de uma “adaptação à ditadura” por parte de nosso partido argentino, que foi um dos principais protagonistas da heroica resistência à junta militar, atuou na clandestinidade, teve mais de 250 companheiros presos e torturados. Obviamente ter perdido companheiros não nos torna isentos da crítica, ainda que dura. Mas… “adaptação à ditadura”?! Giliani sabe por que mais de 100 (cem) dos nossos companheiros depois da prisão e da tortura foram assassinados e desaparecidos? Talvez porque estavam adaptados à ditadura? Mas, com a falta do senhor Micawber e da sua providencial palmatória, prossigamos à leitura e, claro, sem levantar os olhos, Giliani deixa cair outra frase no puro estilo Heep: quando explodiu a guerra das Malvinas, Moreno “pensou que fosse chegada a hora de uma Frente Única Anti-imperialista (FUA) com a ditadura de Galtieri”.

Outro salto sobre a cadeira. Tentemos colocar em ordem.

Em primeiro lugar, é necessário informar Giliani que a “Frente Única Anti-imperialista” foi, ainda que não saiba, uma elaboração da Terceira Internacional.

Foi o IV Congresso (1922) da Terceira Internacional a formular a política de Frente Única Anti-imperialista (FUA). Tratava-se de uma proposta de frente entre o proletariado e a burguesia nacional dos países coloniais ou semicoloniais, ainda que se destacasse a necessidade de uma autonomia política e organizativa do movimento operário no interior dessa frente. Tratava-se, objetivamente, de uma política semi-etapista, que pressupunha a renúncia, em uma primeira etapa, da plena independência das burguesias nacionais. Essa política refletia um atraso na generalização mundial da teoria da revolução permanente aplicada pelos bolcheviques na Revolução de Outubro. Trotsky corrigirá essa posição depois da experiência da Revolução Chinesa de 1927, onde Stalin, elevando aquele erro teórico da Internacional a um princípio, obriga o Partido Comunista Chinês a submeter-se ao partido burguês Kuomintang de Chiang Kai-Shek e, inclusive, a dissolver-se nele, apresentando a burguesia nacional (ou um setor dela) como “progressiva”. Isso que conduz à derrota da revolução e ao massacre das comunas de Xangai e Cantão. Aquela trágica derrota levou Trotsky (que havia apenas indiretamente criticado o erro da FUA em 1922) (3) a estender os ensinamentos da revolução permanente aplicadas em Outubro a todos os países dependentes, afirmando que na China e nos países dependentes apenas uma ditadura do proletariado poderia garantir a solução para as próprias tarefas democráticas.

De acordo com Giliani, Moreno teria defendido em 1982, uma “Frente Única Anti-imperialista” com a burguesia argentina e, assim, com a ditadura.

Ora, quem quer que tenha dedicado, ainda que apenas algumas horas, a estudar a história dos debates do assim chamado “movimento trotskista”, sabe que Moreno foi um dos críticos mais ferrenhos de um “retorno à FUA”. Sobre esse tema escreve um dos seus textos mais importantes e conhecidos, aquele sobre a polêmica com a corrente francesa dirigida por Pierre Lambert. Mas, para nos limitar aos últimos vinte anos, toda a elaboração da LIT possui infinitas criticas a quem propôs o retorno àquela velha elaboração equivocada da Terceira Internacional. Para saber disso não é necessário vasculhar os cestos ou bisbilhotar os boletins internos do PdAC (que Giliani cita…): basta ler as nossas publicações.

Mas a confusão de Giliani não se limita a história da Terceira Internacional ou a história dos debates das últimas décadas. Continuando a leitura, descobrimos que Giliani confunde a política da FUA com a da Frente Militar de um país agredido pelo imperialismo. Demonstrando com isso, não conhecer não apenas as elaborações da LIT (o que poderia parecer diante de tudo, secundário), mas de não conhecer nem mesmo aquelas de Trotsky.

Não é um problema para alguém que, como ele mesmo anuncia no seu texto, se propõe a nos dar lições “do abc do marxismo”?

Giliani mostra pouco interesse pela história do movimento operário porque o seu interesse está direcionado a esbravejar sobre a nossa escandalosa “adaptação” à sanguinária ditadura argentina. Tentemos nós, então, recordar os acontecimentos históricos.

Em 1982, na guerra entre o imperialismo britânico e a Argentina pelo controle das Ilhas Malvinas, o nosso partido argentino se alinhou militarmente com o país dependente (Argentina) contra o imperialismo, reivindicando o armamento da população para enfrentar a agressão imperialista e preparar assim, na mais completa independência política da burguesia nacional, a destruição da ditadura.

Onde falhamos no “abc do marxismo”? Temos aqui um interessante ensaio da escola de marxismo de Giliani. Vejamos.

Moreno, nos explica Giliani, não compreendeu que “foi a ditadura militar, com 30 mil mortos assassinados nas costas, a atacar o império britânico”. Só esta frase já demonstra a essência do quanto Giliani compreendeu da teoria marxista sobre a guerra em geral, e da teoria leninista sobre o imperialismo em particular. Para Lênin, em uma guerra entre um país imperialista (nesse caso a Grã-Bretanha) e um país dependente (nesse caso a Argentina), o agressor não é quem ataca e começa a guerra, mas sempre e apenas o país imperialista.

A mero título de exemplo, leiamos o que escrevia um dos mais confiáveis professores dos fundamentos do marxismo, Lênin: “Por exemplo, se amanhã o Marrocos declarasse guerra a França, a Índia a Inglaterra, a Pérsia ou a China a Rússia, etc., isso seria uma guerra “justa”, guerras “defensivas”, independentemente de quem tivesse atacado primeiro, e todo socialista simpatizaria com a vitória dos Estados oprimidos, submetidos e privados de direitos, contra as “grandes” potências escravistas que oprimem e saqueiam”.

A citação foi tirada do “O socialismo e a guerra” (1915) (4), um dos textos fundamentais com o qual Lênin conduziu a batalha contra o “social – chauvinismo” dos partidos da Segunda Internacional que capitulavam cada um ao seu próprio imperialismo na Primeira Guerra Mundial. Trotsky (não tendo estudado sob o mesmo “abecedário” de Giliani) defende inumeráveis vezes essa mesma posição elementar do marxismo e acrescenta, falando de uma eventual guerra entre a Grã-Bretanha imperialista e o Brasil da época – no qual vigorava o regime semifascista de Getúlio Vargas (que na época, colaborava com Hitler e massacrava os comunistas): “nesse caso eu estaria ao lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática”. Isso porque uma eventual vitória do ditador brasileiro “daria um poderoso impulso à consciência democrática e nacional do país e levaria à destruição da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra seria, ao mesmo tempo, um golpe para o imperialismo britânico e estimularia o movimento revolucionário do proletariado inglês” (5).

A mesma política foi defendida por Trotsky no conflito sino-japonês em 1937. E, obviamente, não porque foram os japoneses a atacar, mas porque os marxistas estão sempre no campo militar – não, obviamente, no político – do país dependente contra aquele imperialista, não importa qual seja o regime do país dependente. Na época vigorava o governo do general Chiang Kai-Shek na China, que, no que toca a massacres de comunistas, não ficou atrás dos generais argentinos dos anos setenta, e mesmo definindo-o como “o carrasco da revolução chinesa” Trotsky propunha aos comunistas fazer “um bloco militar” contra o Japão para depois preparar a destruição política do regime chinês.

No texto A guerra e a Quarta Internacional (1934) Trotsky escreve “A nossa atitude frente a guerra é determinada não pela fórmula jurídica abstrata da “agressão”, mas pela avaliação de qual classe conduz a guerra e com qual finalidade. Em um conflito entre Estados, exatamente como na luta de classes, “defesa” e “agressão” são apenas questões práticas e não normas éticas ou jurídicas” (6).

Por alguma razão, ao ler a resposta de Giliani, não conseguimos pensar em como o velho Marx, que não suportava quem dava lições de matérias que não tivesse estudado, um dia repreendeu Weitling (dirigente da Liga dos Justos): “a ignorância não é uma virtude para um revolucionário”. Santas palavras.

Mas não é tudo. Depois de nos dar uma mostra do quanto estudou e compreendeu daquele famoso “abc do marxismo” que gostaria gentilmente ensinar aos outros, descobrimos que Giliani não conhece nem mesmo as posições da sua Internacional.

Em um dos textos elaborados por Ted Grant (principal dirigente da corrente que depois deu vida a IMT) sobre a guerra das Malvinas, descobrimos que o mesmo Grant começa precisando que o critério marxista diante das guerras não tem nada a ver com quem ataca primeiro. Lamentavelmente, depois dessa afirmação correta que infelizmente não se enquadra no abecedário de seu discípulo Giliani, Grant propõe um outro critério que também parece bem distante do abecedário de Lênin (o que talvez seja mais preocupante).

Segundo Grant, na Guerra das Malvinas não se deveria alinhar-se no campo militar da Argentina porque a Argentina não era um país colonial, mas sim… “capitalista”.

Ora, Lênin já havia explicado no seu célebre texto sobre o imperialismo que a diferença a ser feita era entre países imperialistas e países dependentes, incorporando nessa última categoria não apenas as colônias e as semicolônias, mas todos os países oprimidos pelo imperialismo (7).

Mas deixando de lado por um momento essa diferenciação, ainda que fundamental. No mesmo texto, Grant avança nessa perspectiva: “Nós reivindicamos eleições gerais agora, como forma para fazer cair os tories [partido conservador inglês] e recolocar o Partido Trabalhista no poder sob um programa socialista. (…) Se necessário, os trabalhadores britânicos e os marxistas estarão dispostos a fazer uma guerra contra o governo argentino, para ajudar os trabalhadores argentinos a tomar o poder em suas mãos. Mas apenas uma Grã-Bretanha socialista e democrática teria as mãos limpas” (8).

Esta era a posição da organização internacional que hoje se chama IMT. Uma organização que tinha e tem a sua base principal na Grã-Bretanha, uma das maiores potências imperialistas da época e que, segundo o conhecido ensinamento de Karl Liebknecht, deveria reconhecer “o inimigo principal” no próprio imperialismo.

Mas ao contrário, segundo a IMT-SCR da época, se tratava de mudar – com eleições regulares – o governo conservador de Thatcher, por um governo trabalhista, no reino da Grã-Bretanha; para depois apoiar esse governo (burguês) “de esquerda” na defesa da posse sobre as Malvinas, parte do território nacional argentino ocupado por tropas de Sua Majestade Guilherme IV em 1833.

Queremos ainda analisar rapidamente a posição de Grant sobre o derrotismo bilateral frente não a dois imperialismos (como defendia Lênin), mas em uma guerra entre uma das principais potências imperialistas do mundo e a Argentina, país oprimido. Vale a pena observar que no caso de derrotismo bilateral, para Lênin, isso implicava em cada país “transformar a guerra em guerra civil”, ou seja, na agitação para a derrota do próprio governo. Coisa um pouco diferente de transformar a guerra… em eleições… para “levar ao poder” (sic) os trabalhistas.  E aqui paramos, poder-se-ia dizer, por caridade à pátria…

Alguns restos de arenque no prato

Como dissemos: aceitamos não apenas farejar, mas também saborear o arenque vermelho [aquela pista falsa da nossa metáfora] com o qual Giliani queria nos afastar do cerne do confronto programático. Somos pessoas bem educadas que não recusam a comida na casa de um anfitrião. Mas não podemos abusar da nossa boa educação (e da paciência do leitor) pedindo um bis desse peixe que, sinceramente, não parece fresco.

Chegou o momento de nos levantar da mesa generosamente posta por Giliani. Devemos (e o devemos aos leitores, mais do que a Giliani) retornar ao ponto central da discussão.

Mas voltar a um real debate programático implica evitar responder ao menos algumas dezenas de temas que Giliani disseminou com a intenção de convencer o leitor, sob a base dos seus profundos estudos históricos (realmente profundos, como se viu), da degeneração da LIT. E assim, com o custo de entediar o leitor já saturado, daremos uma breve olhada em alguns dos restos do arenque que sobraram no prato, nos comprometendo a voltar a degusta-los com a atenção que merecem em um próximo artigo.

Em uma lista, ainda que incompleta, além de uma “adaptação” aos torturadores argentinos, também fomos acusados de:

1) uma suposta “teoria etapista da revolução”. Em parte já respondemos a isso a propósito da discussão sobre a Argentina. Bastaria depois ver como atuamos na revolução de 1979 na Nicarágua: aqui a LIT (ou melhor, a organização que a precedeu) enviou uma brigada internacional (Brigada Símon Bolívar) que participou em armas da derrubada da ditadura de Somoza. Para depois fazer oposição ao governo burguês sandinista e prosseguir a revolução para construir uma federação socialista centro-americana. Exatamente por tentar construir durante esse processo um partido revolucionário (que não existia na Nicarágua) para contrapor-se à política de colaboração de classe dos sandinistas, os nossos companheiros foram expulsos da Nicarágua e entregues à polícia panamenha que os torturou. Bastaria esse único fato, muito conhecido na América Latina, para demonstrar a falsidade de que temos uma suposta teoria da revolução por etapas.

2) o abandono da centralidade da classe operária, outra generosa acusação que nos faz Giliani. Sobre isso teria sido suficiente que Giliani estivesse documentado: o último Congresso da LIT discutiu, como um dos textos principais, a reafirmação da centralidade da classe operária, nunca abandonada por nós. Por outro lado, a história das nossas seções principais e do seu enraizamento na classe operária poderia bastar para fechar a discussão.

3) enfim, teríamos apoiado “as contrarrevoluções de 1989 – 1991 que abriram o caminho à restauração do capitalismo”.

Desafortunadamente, Giliani faz confusão ainda aqui, não tendo evidentemente lido os nossos textos. A posição da LIT (com a qual obviamente pode-se não concordar) é que a restauração do capitalismo nos países do leste europeu acontece a partir da metade dos anos 1980, ou seja, que as manifestações de massa que derrubaram os regimes reacionários em 1989 – 1991 foram, nesse sentido, progressivas, ainda que tenham chegado tarde para impedir a restauração do capitalismo. Restauração que foi produto (como Trotsky havia previsto) da conversão da burocracia stalinista em uma nova burguesia, não das mobilizações de massa.

E ainda devemos deixar para trás, nessa primeira resposta, outros temas jogados pela SCR sobre a mesa: a Síria, a Ucrânia (pela reconstrução de Giliani, soubemos que apoiamos “os grupos fascistas”) e por aí vai. Uma longa lista de acusações: a olho nu parece que falta apenas aquela que foi, no seu tempo direcionada a Lênin, de ter conspirado com o Kaiser (mas deve se tratar com certeza de um esquecimento).

Para quem quiser verificar as nossas reais posições sobre esses temas indicamos os muitos artigos publicados nos sites www.alternativacomunista.org [em italiano] e https://litci.org/pt/ [em português].

Infantilismo e dimensões

Em várias partes da resposta da SCR ecoa um assunto que, segundo alguns companheiros que depois de terem conhecido a SCR entraram em diálogo conosco, e é frequentemente usado por dirigentes da SCR para fugir do confronto programático e de mérito: “o PdAC é pequeno”.

No seu texto Giliani informa que “as forças organizadas inicialmente pelo PdAC não fizeram outra coisa que reduzir-se, ainda devido uma série de cisões e conflitos internos”. Ao contrário, SCR “se situa, em quantidade e qualidade, acima do trabalho desenvolvido por qualquer outra organização”.

Nada menos!

E por que a SCR se digna a nos responder apesar de nossas pequenas dimensões?

Lá está Giliani vestido de senhor Heep (infelizmente o senhor Micawber ainda não chegou com a sua palmatória…) que, com doce sorriso, se dispõe a nos explicar que se trata de “uma exceção” para nos ajudar a sair de uma situação de “frustração e desorientação”, no geral, “inspirado por motivações sinceras”. Enfim, nos fornece uma espécie de consultoria psicológica (aquela histórica deixou um pouco a desejar).

Passando da psicologia ao leninismo, nós, diferente da SCR, não temos a pretensão de nos colocar “acima de qualquer organização”. Somos daqueles que, com Lênin, pensam que não seja um problema de dimensões porque em um partido de vanguarda um militante vale por 100.

Para que não restem dúvidas: nós não pensamos já ter construído o partido de vanguarda com influência de massa que infelizmente falta, em nível internacional, há mais de um século. Assim como não escondemos que a LIT atravessou processos de rupturas (assim como novas incorporações), os quais Giliani recorda. Será que não é esse o difícil caminho a atravessar para construir o partido?

E apreciemos as “motivações sinceras” (palavras suas) com as quais Giliani lembra das nossas rupturas. Mas onde pretende chegar? A IMT não nasce de uma ruptura com a maioria da sua maior seção na Inglaterra? E não é verdade que nos últimos dez anos sofreu rupturas significantes na Espanha, Venezuela, México, Colômbia, Suécia, Polônia, Irã, Paquistão (a lista deve estar incompleta)?

É sobre isso que Giliani quer falar? E que diabos isso tem a ver com o confronto programático?

Nós achamos que o PdAC e a LIT sejam pequenas organizações, ainda que o PSTU brasileiro seja, por reconhecimento geral, um dos principais partidos trotskistas do mundo. E isso já nos diz muito sobre como ainda estamos longe de resolver a famosa “crise de direção do proletariado” que equivale, para dizer com as palavras de Trotsky, à “crise da humanidade”.

Da nossa parte, se criticamos a SCR-IMT não é por suas igualmente pequenas dimensões, mas pelo programa semi-reformista que reveste com o nome de “trotskismo”, criando uma confusão entre os jovens que estão a procura do trotskismo sem aspas.

Diagnosticado como doença infantil o confronto obsessivo sobre as dimensões podemos voltar ao programa.

Aqui é Rodes e aqui deve saltar

Seguimos pacientemente Giliani pelo labirinto de temas, acusações, reconstruções históricas fantasiosas, de modo que, não pode reclamar de que não levamos a sério o texto que custou as suas férias. Mas nesse ponto devemos acrescentar que isso nos parece um modo pouco respeitoso de fazer o debate, não tanto pelo PdAC, mas pelos leitores e, em primeiro lugar, pelos próprios militantes da SCR que talvez estivessem interessados em uma resposta da sua organização ao mérito das nossas críticas programáticas, mais que em uma história sobre os supostos mal feitos de Nahuel Moreno desde o quinto ano do ensino fundamental em diante.

Por isso queremos voltar aos verdadeiros pontos da discussão. Não estamos falando de pontos escolhidos por nós arbitrariamente, nem do que fez sobre esse ou aquele tema escolhido ao acaso pela IMT ou SCR. Trata-se dos pilares programáticos de um partido que pretende definir-se como marxista: a ditadura do proletariado, a relação entre Estado e Revolução e a questão do partido de vanguarda.

É a partir dessa ótica que propusemos discutir a posição da IMT-SCR sobre Cuba.

No entanto, tanto sobre esse ponto quanto sobre os demais (em particular sobre a Venezuela) Giliani escapa, repetindo novamente o mesmo esquema: primeiro acusa a LIT de qualquer coisa que passa pela sua cabeça naquele momento, depois cria um alvoroço, nos atribui posições bizarras, sem provas e geralmente demonstrando não conhecer as nossas posições (às vezes, nem mesmo as de Ted Grant, que foi o principal dirigente da sua internacional), finalmente, depois de um longo percurso sob sua cortina de fumaça, às nossas críticas argumentadas, responde dizendo que são calúnias ou citações com conclusões que ultrapassariam o bom senso.

Peguemos por exemplo o tema sobre Cuba, para não responder aos nossos argumentos, Giliani já começa definindo a nossa posição como “capitulação às forças pró-imperialistas”. A acusação se baseia sobre um silogismo bastante grosseiro: nas manifestações contra o regime participaram também forças pró-imperialistas; a LIT (que não tem partido em Cuba) apoiou as mobilizações; logo, a LIT capitulou ao imperialismo.

Em dez por cento da parte sobre Cuba do seu texto, Giliani, ao invés de nos explicar a posição da IMT, dedica-se a falar da nossa capitulação ao imperialismo (no geral, parece que em Cuba fazemos melhor que na Ucrânia, onde capitulamos ao lado dos fascistas…).

Ora, bastaria um rápido olhar apenas nos títulos das nossas declarações para ver que havíamos demarcado claramente cada ingerência imperialista. Em nosso artigo anterior apresentamos em detalhes a nossa posição. Ora, não querendo mais participar do jogo dos quatro cantos[4], pedimos a Giliani: por que não nos explica com quais critérios a IMT define Cuba como um Estado Operário? É verdade ou não, como escrevemos, que não são os critérios utilizados por Trostsky? E ainda: se em Cuba o capitalismo não tivesse sido ainda restaurado, como vocês defendem, por que a IMT não elabora um programa de revolução política, do modo como fazia Trotsky frente aos Estados Operários burocratizados?

Ou, passando ao tema do partido: nós defendemos que a IMT-SCR teoriza sobre o entrismo permanente nos partidos reformistas, enquanto para Trotsky esse não poderia ser um método permanente. Também discutimos os argumentos teóricos com os quais Grant defendia essa posição. Mas se fosse necessário reafirmar, bastaria pedir a Giliani para nos dizer quantos anos passaram fora do Partido Trabalhista na Inglaterra (que por alto, é um partido burguês, enquanto Trotsky defendia a possibilidade do entrismo em partidos operários) a principal seção da IMT e o seu líder, Alan Woods. A resposta é simples: nem mesmo um dia nos últimos oitenta anos.

Mas Giliani não está interessado em defender a posição da IMT e, eventualmente, a argumentar sobre a mesma. Prefere nos atribuir uma suposta recusa absoluta da tática entrista para depois nos perguntar: por que ficaram 15 anos na Refundação Comunista?

E por aí vai. O texto todo é construído desse modo.

Por isso o resultado é uma “resposta” frágil, que não responde a nada. Pode-se inclusive repetir dez vezes que nós capitulamos a isso ou àquilo: mas se fosse realmente verdade, por que não responde à questão central que os mestres aos quais ambos reivindicamos consideraram fundamental para orientar a ação dos marxistas?

Sobretudo, em um texto de quase 70 mil caracteres, no qual encontrou um modo de descrever em detalhes erros, debilidades, crimes do PdAC, a história de Moreno desde quando vestia calças curtas, e de elencar mais uns outros cinquentas temas (muitos dos quais nem conhece), por que Giliani não encontrou uma maneira de dedicar ao menos dez linhas para responder às precisas observações programáticas que fizemos sobre a concepção da IMT-SCR em relação à questão crucial do Estado e da revolução, a relação dos revolucionários com os governos burgueses?

Realmente acredita que quem se dedicará a ler esse intercâmbio não perceberá que a sua “resposta” inteira é apenas um longuíssimo engodo? Um grande prato de arenque vermelho? Como Marx amava repetir a quem procurava malandramente tergiversar (não é um método novo): Hic rhodus, hic salta (9). Rodes é aqui, e aqui deve saltar, companheiro Giliani.

Notas

(1) N. Moreno, Dois métodos frente a revolução latinoamericana.

www.marxists.org/espanol/moreno/obras/05_nm.htm

(2) N. Moreno, Teses sobre o Guerrilheirismo.

www.marxists.org/espanol/moreno/guerriller/tsg_2.htm A tradução do espanhol é nossa.

(3) A Frente Única Antiimperialista (Fua) foi elaborada pelo IV Congresso da Internacional Comunista (IC).

Os principais documentos dos congressos da IC estão disponíveis em italiano na coleção editada por A. Agosti, La Terza Internazionale. História documentada, Editori Riuniti, 1974, em 6 volumes. Para a parte que aqui interessa veja em particular o segundo volume. Mais recentemente, John Riddell publicou uma coletânea que incluem os debates dos congressos. No que se relaciona com o IV Congresso veja: Toward the united front. Proceedings of the Fourth Congress of the Communist International, 1922, Haymarket Books, 2012.

Um aprofundamento útil sobre o tema se encontra em P. Casciola, Trotsky e a luta dos povos coloniais

www.aptresso.org/www.aptresso.org/studi-e-ricerche-n-18-aprile-1990.html

No que se relaciona à crítica de Moreno a FUA veja a sua polêmica com a Oci de Pierre Lambert: A traição da Oci https://www.pstu.org.br/FormacaoConteudo/Livros/16_OK_Moreno_A-traicao-da-OCI.pdf

Nas Teses da LIT sobre a questão nacional afirmamos: «As Teses do Oriente com a sua política frentepopulista de FUA com as burguesias nacionais foram um erro, depois acentuado pelo stalinismo após a morte de Lênin, com relação à revolução chinesa». E ainda: «A FUA foi apresentada como a versão colonial da frente única proposta pelos países capitalistas ocidentais. Mas, na realidade, não tinham nada a ver entre si: um era um bloco proletário, de classe, contra a ofensiva capitalista; o outro era um bloco frentepopulista com a burguesia colonial, a partir de uma concepção etapista da revolução. Trotsky não intervém (nem mesmo Lênin) no debate sobre a questão nacional e colonial no IV Congresso (…)». O texto será publicado em breve na revista teórica da LIT, Marxismo Vivo.

(4) V.I. Lênin, O socialismo e a guerra (1915)

https://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/guerra/index.html

(5) L. Trotsky – Matteo Fossa, «Uma entrevista com Leon Trotsky» (1938)

www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/09/23.htm

A tradução do português é nossa.

(6) L. Trotsky, «A guerra e a Quarta Internacional» (1934). Pode-se ler uma tradução italiana no volume n. 1 de Trotskismo oggi, revista teórica do Pdac

www.partitodialternativacomunista.org/download/category/4-trotskismo-oggi-scaricabile

(7) V.I. Lênin, O imperialismo, fase superior do capitalismo (1916)

https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/index.htm

Nessa obra fundamental, Lênin escreve: «Tal época se caracteriza não apenas pelos dois grupos fundamentais de países, ou seja, países que possuem colônias e colônias, mas também pelas mais variados tipos de países subjugados que formalmente são independentes do ponto de vista político, mas que na realidade estão envolvidos em uma rede de dependência financeira e diplomática» (v. cap. 6).

(8) T. Grant, «The Falklands Crisis – A Socialist Answer»

www.marxists.org/archive/grant/1982/05/falklands.htm

A tradução do inglês é nossa.

(9) Hic rhodus, hic salta. Aqui é Rodes e aqui deve saltar. É como dizer: não tergiversar, demonstre aqui e agora as suas afirmações. A frase está presente em uma fábula de Esopo: diante de um fanfarrão que se gabava de ter pulado o Colosso de Rodes, citando testemunhas ausentes, um dos espectadores o desafiou a repetir a proeza ali diante deles. O ditado foi retomado por Hegel na Filosofia do direito ([parafraseando-o] «Aqui está a rosa, aqui deve dançar») e depois por Marx no Dezoito Brumário.

[1] Ressurgimento (Risorgimento) italiano é como se chama o período de complexas transformações políticas, econômicas, sociais, intelectuais e culturais na Itália, durante o século XIX, após o Congresso de Viena, mas principalmente após a segunda metade do XIX. Além de marcar o processo de unificação da Itália, dividida até 1871 em pequenos Estados independentes entre si, mas com forte influência ou dominação direta de potências europeias da época. (https://www.treccani.it/enciclopedia/risorgimento/ )

[2] Giuseppe Mazzini (1805 – 1872) foi uma liderança política e teórica importante do Ressurgimento italiano, atuando por meio de organizações conspirativas para a tomada do poder através de um golpe de Estado (“colpo di mano”), defensor de uma Itália unida e republicana. (https://www.treccani.it/enciclopedia/giuseppe-mazzini/ )

[3] Huriah Heep é um personagem perverso e fraudulento do romance de Charles Dickens, David Cooperfield.

[4] Lembra o jogo das cadeiras, cada participante ocupa um canto de um quadrado desenhado no chão e um fica no centro esperando a chance de tomar o lugar de alguém. Quando todos devem trocar suas posições, aquele que está no centro tenta ocupar um dos cantos. Quem não consegue ocupar uma nova posição, vai ao centro no lugar do primeiro.

Tradução: Nívia Leão

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