Atos exigem justiça após brutal assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe
O brutal assassinato do jovem Moïse Mugenyi Kabagambe gerou revolta, especialmente nas comunidades de migrantes que vivem no Brasil e nos movimentos sociais e negros. Para denunciar a xenofobia e o racismo contido no crime contra o refugiado congolês de apenas 24 anos, atos estão sendo marcados para o sábado (5).
Por: CSP Conlutas
No Rio de Janeiro, onde residia Moïse, a família da vítima em conjunto com a comunidade congolesa da capital fluminense realizarão uma manifestação, a partir das 10h, em frente ao quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Foi no estabelecimento comercial que Moïse morreu após ser espancado por cinco homens.
Outra importante mobilização vai ocorrer na cidade de São Paulo, no mesmo horário que o ato carioca. Os manifestantes irão se reunir no vão livre do MASP, na Avenida Paulista, para exigir justiça e denunciar a violência e o preconceito sofrido por Moïse e que também afeta milhares de refugiados no país.
Manifestações também já estão previstas para ocorrer em Belo Horizonte (MG) e Belém (PA). Mais informações sobre novos atos serão atualizadas nesta matéria no decorrer dos próximos dias.
Prisões dos suspeitos
Ao menos três suspeitos de participarem do crime foram presos até a terça-feira (1). Dois deles não tiveram a identidade revelada pela polícia. Outro, identificado como Fábio, trabalha como vendedor de bebidas na mesma praia e, segundo a polícia, teria confessado as agressões contra o refugiado.
Nenhum dos três indivíduos trabalha no quiosque Tropicália. Segundo o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, da Delegacia de Homicídios da Capital, o dono do quiosque, cuja identidade ainda não foi revelada, tem ajudado nas investigações, fornecendo as imagens das câmeras de segurança.
Morto por exigir salário
O encaminhamento do processo tem contrastado com a versão apresentada pelos parentes da vítima. Segundo eles, Moïse teria cobrado duas diárias de trabalho atrasadas no valor de R$ 200. Ele era funcionário do quiosque e trabalhava abordando turistas na areia.
Segundo os familiares, as agressões foram motivadas pela cobrança e insatisfação mostrada por Moïse. Uma testemunha ouvida no local confirmou a história e disse que Moïse teria dito que, já que não receberia o dinheiro, pegaria o valor da dívida em bebidas.
No vídeo divulgado nesta semana com imagens da câmera de segurança do quiosque, é possível ver que, antes da confusão começar, Moïse abre a geladeira e tenta pegar uma garrafa de cerveja. Logo em seguida, começam as agressões.
Desde o início da apuração dos fatos, integrantes da Coordenação Negra por Direitos têm defendido a ideia de que há indícios de participação da milícia no crime. A entidade, que reúne mais de 200 organizações do movimento negro, encaminhou uma denúncia ao Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU pedindo providências.
Barbárie
A morte de Moïses é um retrato cruel da violência, do racismo e da xenofobia que assolam o país. O refugiado que deixou sua terra natal, o Congo, para escapar dos horrores da guerra, com apenas 11 anos de idade, foi espancado com socos, chutes e ao menos 30 pauladas.
Com as mão e os pés amarrados para que não se defendesse, ele agonizou por cerca de 10 minutos antes de falecer. Segundo o relatório da perícia, a causa da morte foram as lesões causadas no tórax e no pulmão, o que fez com que sangue fosse aspirado pelo órgão, levando-o a asfixia.
Toda solidariedade
A CSP-Conlutas se solidariza com os familiares de Moïse e todos os refugiados e migrantes, sobretudo os negros e mais marginalizados neste sociedade capitalista. Em cada região, é preciso somar-se aos atos organizados que acima de tudo reivindicam a defesa da vida de trabalhadoras e trabalhadores, além de um mundo sem racismo, xenofobia e exploração.