qua jul 24, 2024
quarta-feira, julho 24, 2024

Nós os acusamos

Ao Poder Judicial, aos políticos de sempre, às forças repressivas, às direções traidoras…

Por PSTU-Argentina

O julgamento de Daniel Ruiz e César Arakaki está em suas instâncias finais. Depois de 13 meses e 1 mês de prisão respectivamente. Depois de 45 audiências por onde passaram dezenas de testemunhas. Depois de quase 4 anos de perseguição de todo tipo, nos quais, entre outras coisas colocaram um preço para a cabeça de Sebastián Romero (um preço maior que o dos genocidas). Como demonstrou o advogado defensor Martín Alderete, do CADEP, não há uma só prova, nem um só testemunho, que possa justificar a condenação que já foi cumprida de fato. Ainda assim, Sebastián continua em prisão domiciliar (que graças à campanha unitária é realizada em sua casa há semanas) e, no fechamento desta edição ditam novos processos contra os lutadores.

Desde o início do julgamento, o PSTU denunciou que era uma farsa, por isso pedimos sua anulação, porque era uma causa armada pelo poder político instrumentada pelo seu cão de guarda o Poder Judiciário, para tentar dar lições aos lutadores e lutadoras, aos milhares que naquele 18 de dezembro enfrentamos com o que tínhamos na mão, a Reforma da Previdência de Macri e o FMI, aos milhares que na mesma noite saímos batendo panelas, a toda a classe operária que tenta resistir frente aos ataques das patronais e dos governos. A respeito do enfoque do julgamento polemizamos com o Partido Operário.

A perseguição histórica

A criminalização do protesto social não é nova, nem uma invenção de Macri ou de algum governo. Faz parte da luta de classes e da história do movimento operário. Sem ir mais longe, o que é o que aconteceu com os Mártires de Chicago, condenados à morte em 1887 pelos protestos que exigiam às 8 horas de jornada de trabalho senão um caso de uma luta heroica do movimento operário, com uma contraofensiva feroz dos poderosos para defender seus privilégios? O que as milhares de prisões e julgamentos contra lutadores e lutadoras em todo o mundo por décadas? A nível mundial o caso de Sacco e Vanzetti ficou na história e, em nosso país, o dos petroleiros de Las Heras.

A forma e as condenações podem mudar, pela época, pelo regime político, pelas particularidades do país, mas o fio condutor é o mesmo sistema capitalista, em que os exploradores, uma ínfima maioria, usa tudo o que tem à mão, e em seu caso nada menos do que o Estado e suas instituições, para submeter mais e mais os explorados, a ampla maioria.

A Justiça dos ricos

Neste sentido, a Justiça é uma das ferramentas mais importantes que os ricos tem. A mentira da igualdade diante da Lei que nos ensinam desde crianças na Escola, marca muito fundo nas cabeças e é incentivada pela direção sindical traidora que, por exemplo, faz com que em muitos conflitos os trabalhadores acabem confiando na via judicial como saída, via que muitas vezes também priorizam correntes de esquerda, lamentavelmente. De qual igualdade podem falar se enquanto prendem Sebastián Romero por não ter se apresentado à Justiça para que o usassem como troféu de guerra, o operador de Macri, Pepín Rodríguez Simón, está abertamente foragido no Uruguai? De que igualdade falam se as prisões estão cheias de pobres, enquanto que os grandes delinquentes, dirigem o país, estão no parlamento e nas direções das empresas? Eles fazem as leis e as usam a seu serviço desde sempre e nesta causa isso fica demonstrado mais uma vez.

Os serviços de inteligência são evidentemente outro elemento chave da perseguição e nesta causa também tiveram muito trabalho. Sobre Daniel Ruiz, Sebastián Romero e nosso partido realizaram todo tipo de perseguição “legal” (acompanhamentos de todo tipo, mandatos de busca, investigação das comunicações e redes sociais) e ilegal, escutando as conversações e perseguindo suas visitas na prisão, motivo pelo qual somos demandantes na causa AFI.

O que querem condenar?

A verdade é que o que a perseguição estatal quer condenar, e ficou evidente na Alegação da Promotoria que foi realizada na audiência de 18 de outubro, é o direito dos trabalhadores e trabalhadoras de nos defendermos com o que temos na mão, da repressão e dos ataques do FMI, dos governos e das patronais. Protestar é uma coisa, e violência é outra, dizem. O que pode ser mais violento do que o roubo que foi consumado naquele dia contra os idosos e os que menos tem? O que pode ser mais violento do que ter no país 60% das crianças pobres enquanto se continua a pagar a dívida externa, enquanto as empresas tem bilhões fora do país?

Uma coisa é protestar e outra coisa é fazer desordens, dizem também. Que conquista o movimento operário teria obtido em sua história, se não fosse pela ação direta e não se deixando vencer pela repressão estatal? Que teria sido de nosso país se ao invés de enfrentar as invasões inglesas com pedras, água ou graxa fervente e armas improvisadas, se limitassem a expressar “pacificamente” seu descontentamento? Como teria conquistado a independência se não fosse pelo enfrentamento armado contra o invasor?

O que tentam com sua perseguição é quebrar a resistência aos seus planos de fome, que são a verdadeira violência. Querem dar lições à primeira linha do princípio do fim de Macri, como Piñera faz com a primeira linha do processo chileno, como Duque faz com a primeira linha da Colômbia. Por que tanta preocupação com as primeiras linhas? Porque são a vanguarda de um processo que, caso se desenvolva, pode mudar as coisas de verdade. Por isso nossa história está cheia de tentativas dos exploradores de derrotar as primeiras linhas, como forma de derrotar os processos operários e populares.

Orgulho e reivindicação

O PSTU e a Liga Internacional dos Trabalhadores na Argentina, na Colômbia, no Chile e em todo o mundo, defendemos as primeiras linhas, estamos orgulhosos e estaremos nela sempre que pudermos. E se pensam que, com a repressão, a prisão, a perseguição vão conseguir nos amedrontar e frear a resistência, estão muito enganados. A história também o demonstra: podem frear uma batalha, mas não o gérmen de resistência e de revolução social, porque nasce da própria injustiça do sistema.

Se pensam que vão nos calar ou a mudar nosso programa, também se enganam, usaremos cada oportunidade para dizer aos trabalhadores e trabalhadoras a verdade, é preciso uma revolução operária e socialista para acabar de uma vez por todas com todos os ajustes, a repressão e os ataques à classe operária e aos setores populares e impor nosso próprio governo, um governo dos trabalhadores. E que precisamos também de um partido, um partido revolucionário que lute sem descanso até fazê-la possível. Para dizer isso é que também utilizamos nossas candidaturas dentro do FIT-U nestas eleições.

O julgamento termina, a luta continua

O julgamento termina e também uma etapa da campanha contra os perseguidos do 18D, agradecemos a todos os que se solidarizaram e os convidamos a continuar trabalhando juntos. Embora a única coisa justa seja a absolvição, não confiamos que esta Justiça para ricos, mesmo apesar da falta de provas e da enorme campanha, dará essa sentença.

A campanha segue, pela liberdade de Sebastián e sua absolvição, pela anulação dos processos dos novos acusados, pela liberdade de Milagro Sala e todos os presos por lutar, contra a criminalização do protesto social e pelo direito de nos defendermos da repressão com o que temos na mão e continuar acusando os verdadeiros criminosos, com a convicção de que algum dia, para o qual trabalhamos incansavelmente, o povo trabalhador vai cobrar a conta. E serão eles, os exploradores, seus políticos, juízes e funcionários pagos, os privilegiados e traidores que terão que prestar contas diante da justiça operária e popular.

Tradução: Lilian Enck

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