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sexta-feira, julho 26, 2024

Estado Espanhol| Mulheres na linha de frente contra a Covid: trabalhadoras do SAD e residências. Chega de precariedade!

Essa pandemia colocou em cima da mesa a vulnerabilidade, precariedade e machismo com que se desenvolve o trabalho de cuidados nesta sociedade. Tanto os que são exercidas de forma gratuita na esfera privada do domicílio, como as que são prestadas em regime de trabalho remunerado.

Por: Corrente Vermelha

Além do realizado por trabalhadoras domésticas, absolutamente feminilizado e precarizado ao máximo e no que não vamos entrar aqui agora, dois dos setores que muito se tem falado nesta pandemia são o Serviço de Ajuda Domiciliar (SAD) e o setor de Residências. E embora muitas vezes digam que as crises são “oportunidades de mudança”, infelizmente, vemos que não é assim.

Não há outra solução: Fora a privatização!

Na primeira onda, muitos auxiliares do Serviço de Ajuda Domiciliar, denunciaram que, apesar dos protocolos enviados pelas Administrações, que têm responsabilidade pública pelo serviço, ainda que sua gestão seja privatizada, não recebiam das empresas nenhum equipamento de proteção individual contra o vírus. E embora, no melhor dos casos, agora recebam máscaras ou luvas, muitos continuam chegando aos domicílios usando o mesmo uniforme.

Como em outros setores altamente feminizados na linha de frente contra a Covid-19, as auxiliares de assistência domiciliar não são reconhecidas por doenças ocupacionais em caso de contágio pela Covid-19 nas residências dos usuários/as, apesar do alto índice de contágios que apresentam. E embora em muitas Comunidades Autônomas já estejam se vacinando atualmente, também não têm sido uma prioridade de vacinação.

Hoje, tanto o governo central como os das Comunidades Autônomas ou os governos locais ainda não respondem ao seu pedido de que este serviço essencial seja devolvido às mãos públicas, como muitas delas, organizadas em diferentes plataformas, reclamam há anos em vários pontos do Estado, visto que, salvo exceções honrosas, este serviço permanece na maioria dos casos privatizado.

Um exemplo das multinacionais que “obtêm os seus lucros através da precariedade laboral e da exploração destas mulheres, muitas em situação de vulnerabilidade e com idades próximas de aposentar, é a Clece. Empresa multisserviços que atua no país desde 1992 e nos últimos anos no Reino Unido e Portugal, subsidiária do Grupo Activities de Construcción y Servicios S.A. (ACS) cujo presidente executivo é Florentino Pérez e que comercializa serviços de assistência, manutenção, limpeza, restauração, jardinagem, logística interna e segurança”.

Neste 8M, nós trabalhadoras nos mobilizamos mais uma vez por um Serviço de Ajuda Domiciliar 100% público e de qualidade!

E fora das mãos privadas das Residências!

O mesmo pode ser dito do setor das Residências, onde o governo central continua fazendo de conta que não vê e os governos regionais não estão dispostos a fazer os investimentos necessários para devolvê-los às mãos públicas. Embora, como esta pandemia demonstrou, acabar com a privatização seja a única forma de deixar de ser parques de estacionamento para idosos e de dignificar a situação laboral de uma força de trabalho altamente feminilizada, que há anos trabalha em condições de terrível precariedade e instabilidade laboral.

Depois da tragédia de mortes vividas nos piores momentos da pandemia, evitáveis ​​se as Residências tivessem os recursos humanos e técnicos, é preciso dizer que o preço para evitar um número ainda mais insuportável de mortes também foi baixo. As Residências se tornaram um bunker onde os residentes foram privados por meses de contato e relações sociais com seus entes queridos. Com a vacina, aos poucos, vão se somando a essa nova normalidade, que não é senão a mesma de sempre: a de uma gestão precária.

Para além da batalha judicial para expurgar responsabilidades por essas mortes que continua um ano depois, a realidade é que TODAS as administrações autônomas, de TODOS os partidos políticos, preferiram ceder nestes anos, a gestão deste serviço a terceiros.

O segundo vice-presidente de Governo e ministro dos Direitos Sociais, Pablo Iglesias, vê “vergonhoso e indecente” que alguém possa fazer negócios com os idosos. Há dez meses que Unidas Podemos anunciou “sua grande proposta” na Comissão para os pactos de reconstrução: um plano específico que envolveria “uma transformação radical do modelo atual”. Mas, no momento, sabemos pouco ou nada sobre esse plano e pouco ou nada mudou. E se nada pode ser feito, a questão é: para que servem eles no governo?

Um ano após a pandemia, nossos governantes não só não têm a intenção de expropriar as Residências privadas, e nem sequer estão falando em administrar os lugares que, SIM são públicos, sem recorrer às subcontratadas. Para piorar, várias das empresas gestoras destas residências, como a citada Clece, têm requerido compensação financeira pela maior parte dos contratos de concessão que mantêm com várias administrações públicas, por alegarem ter tido despesas “imprevistas”, no valor para 7,2 milhões de euros e menos lucros do que o esperado, ao ter perdido usuárias/os.

Essa falta de vontade política fica evidente para os investidores e proprietários das Residências particulares, que acusam a Unidas Podemos de discursos populistas e demagógicos que não se enquadram na realidade, pois devolver esse serviço a mãos públicas, dizem, “seria muito mais caro para a Administração”. Mas, nesse cálculo interessado, se esquecem de dizer que famílias e moradores se endividam para receber um serviço cada vez mais precário com o qual eles embolsam lucros multimilionários. É praticamente impossível encontrar lugar num lar de idosos por menos de 1.500 euros mensais e isso com longas listas de espera e subsídios públicos.

Para evitar que o drama e os assassinatos vividos sejam reproduzidos ante um novo surto de Covid-19 ou de qualquer outra futura pandemia. Pela dignidade dos idosos que não merecem ser tratados como lixo. Pelo pessoal das residências que se empenha sem meios, à custa da sua saúde e com risco da sua vida. Porque não aceitamos este sistema capitalista que faz de tudo uma mercadoria e um negócio para o interesse de poucos.

Neste 8M, exigimos mais uma vez dos diversos governos autônomos e do governo do PSOE-UP, que todas as Residências para Idosos se tornem públicas e de gestão pública, dotadas de pessoal e de meios.

Tradução: Lena Souza

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