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sexta-feira, julho 26, 2024

8M| Polêmicas sobre esta data

Uma série de polêmicas cercam esta data, uma delas tem a ver com a origem do 8 de março. Durante muitos anos, seguindo a historiografia espanhola, esta data esteve associada a um incêndio provocado pelo proprietário da fábrica de tecidos Cotton em Nova York, que teria ocorrido em 8 de março de 1908, onde morreram 129 operárias que ocupavam a fábrica.

Por: Alicia Sagra*

Por outro lado, na historiografia norte-americana, a origem do 8 de março está ligada a uma manifestação de trabalhadoras do setor têxtil, na cidade de Nova York, que exigiam melhorias nos direitos trablahistas e que foi brutalmente reprimida. Algumas fontes afirmam que isso ocorreu em 1857, e outras que foi em 1908.

Mas também há quem sustente que esta data surgiu em homenagem à grande mobilização das mulheres operárias do 8 de março de 1917 (23 de fevereiro do antigo calendário russo), que deu início à revolução russa.

Ligado a isso está a discussão sobre quando essa data comemorativa foi adotada e qual foi o organismo que realizou isso.

Foi a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas a partir de uma proposta de Clara Zetkin em 1910, ou surgiu de uma resolução da Terceira Internacional em 1919?

As últimas pesquisas históricas parecem indicar que houve um incêndio na fábrica da “Triangle Shirtwaist Company” onde morreram muitas mulheres, a maioria delas imigrantes com idades entre 17 e 24 anos, mas não foi em 8 de março de 1908, e sim em 25 de março de 1911. E que a manifestação fortemente reprimida ocorreu, não em 8 de março de 1857 ou 8 de março de 1908, mas em 27 de setembro de 1909, quando os/as empregados/as do sindicato têxtil entraram em greve de treze semanas em busca de melhorias trabalhistas [1].

Não há dúvida de que nos dias 26 e 27 de agosto de 1910 foi realizada em Copenhague a II Conferência Nacional de Mulheres Socialistas, que aprovou a proposta da dirigente alemã Clara Zetkin de instituir um dia internacional da mulher. Mas nessa resolução não está determinada uma data. Assim, a primeira celebração do Dia Internacional da Mulher ocorreu em 19 de março de 1911 na Áustria, Alemanha, Dinamarca e Suécia. E, nos primeiros anos, o Dia Internacional da Mulher era comemorado em datas diferentes dependendo do país.

Somente em 1914, por sugestão das mulheres alemãs, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado pela primeira vez em 8 de março na Alemanha, Suécia e Rússia [2]. E no dia 8 de março (23 de fevereiro do calendário antigo), mulheres trabalhadoras russas se mobilizaram por falta de alimentos, dando início ao processo revolucionário que se encerraria em outubro do mesmo ano com a conquista do poder pelos trabalhadores dirigidos pelo partido bolchevique . A partir daquele momento, o Dia Internacional da Mulher passou a ser celebrado no dia 8 de março em todos os países.

Essas discussões sobre a origem da data, que despertam acaloradas polêmicas, devem certamente ser muito importantes para os historiadores. Mas não acreditamos que tenham grande significado para os revolucionários. De uma forma ou de outra, não há dúvida de que o Dia Internacional da Mulher surgiu de organismos de mulheres revolucionárias, como um dia de luta e em homenagem à mulher trabalhadora, seus sofrimentos e lutas.

A verdadeira polêmica está com quem quer nos roubar essa data, dizendo que o fato qualitativo ocorreu em 1975, quando a ONU celebrou o Ano Internacional da Mulher. São eles que tentam por todos os meios suavizar as arestas de luta desta data. Aqueles que querem nos convencer de que todas as mulheres são iguais e a cada 8 de março nos enviam saudações e flores das direções das empresas e dos órgãos governamentais. Os mesmos que garantem, todos os dias do ano, a nossa opressão e exploração.

Notas:

[1] Dados das historiadoras Liliane Kandel e François Picq.

[2] A pesquisadora Renée Côté aponta como possibilidade o fato de o mês de março ter sido carregado de conteúdo revolucionário, mas sem dar nenhum argumento sólido sobre o porquê esse dia em particular e não de outro.

* Artigo publicado na revista Correio Internacional – Terceira Época nº 4, março de 2011.

Tradução: Lena Souza

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