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8M 2021

Desigualdade de gênero aumenta na pandemia

agosto 13, 2020

Se enfrentar os efeitos da pandemia não tem sido fácil para ninguém, para as mulheres trabalhadoras a situação é pior. Uma pesquisa recente do instituto Gênero e Número, em parceria com a Sempreviva Organização Feminista (SOF), ajudou a entender os efeitos da quarentena sobre o trabalho, a renda e o cuidado com a casa e a família sobre a vida das mulheres. A conclusão foi que a desigualdade de gênero se aprofundou nesse período.

Por: Érika Andreassy, da Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU-B
A maioria absoluta das mulheres relatou que as tarefas domésticas e de cuidados se intensificou, em especial cozinhar (80,5%), lavar louça (81%) e limpar a casa (81%). Metade das brasileiras passou a cuidar de alguém durante a pandemia, sendo maior o índice para as mulheres do campo (62%) e as negras (52%).
Esse aumento da demanda doméstica foi absorvido de forma quase exclusiva pelas mulheres. Para 64% das entrevistadas, a participação de outras pessoas nessas atividades permaneceu igual ou até diminuiu (23%). Em apenas em 13% outras pessoas assumiram mais tarefas. Além disso, 35% das mulheres admitiu serem as únicas responsáveis pelo trabalho de suas casas.
Mais trabalho e menos renda
A jornada de trabalho aumentou, mas a renda não. As mulheres são mais de 70% dos pobres segundo o IBGE, drama que se agravou com a pandemia e o isolamento social. A situação é tão crítica que 4 em cada 10 mulheres atingidas pela pesquisa acreditam que o sustento da casa está em risco. A insegurança é ainda maior para as mulheres negras, maioria das desempregadas (58%). Entre os principais problemas enfrentados, estão as dificuldades para pagar as contas básicas e o aluguel.
As consequências na saúde mental são enormes. Um levantamento realizado pela ID-BR, organização que promove igualdade racial no mercado de trabalho, com 369 mulheres negras, demonstra que 36% das entrevistadas relataram crises de ansiedade e 20%, oscilações de humor devido à incerteza no terreno econômico.
No limite
Mesmo para aquelas que mantiveram seus empregos ou que estão em regime de home office, equilibrar o trabalho remunerado com as milhares de tarefas domésticas, contando com pouca ou nenhuma ajuda de companheiros e outros membros da família, não é fácil. De acordo com a pesquisa Datafolha/C6 Bank, 57% das mulheres que passaram a trabalhar em home office disseram ter acumulado a maior parte dos cuidados com a casa contra 21% dos homens.
Além disso, há toda uma carga mental que as tarefas domésticas geram. Como são as mulheres que em geral assumem o planejamento e o gerenciamento da casa, tentando prever as necessidades do dia a dia e preocupando-se com a saúde de todos, as mudanças provocadas na dinâmica pela pandemia impactam também. Para 64,5% das mulheres a responsabilização pelo cuidado da casa e dos filhos compromete a concentração no trabalho remunerado. O estresse se ampliou ainda mais e está levando muitas mulheres ao limite.
Sem falar na situação das mais de 11 milhões de famílias compostas por mães solo, que acabam sem ter com quem compartilhar as tarefas de casa. Muitas contavam com o apoio de parentes, entre elas pessoas mais velhas, com quem não podem mais ter contato por causa do risco de contaminação.
RESPONSABILIDADES
A saída é socializar o trabalho doméstico
No sistema capitalista, a combinação entre opressão e exploração torna a vida das mulheres trabalhadoras um verdadeiro martírio. Na busca incessante por ampliar seus lucros e reduzir gastos sociais, a burguesia descarrega sobre as mulheres, de forma individual e privada, tarefas que deveriam ser garantidas pelos patrões e pelo Estado. Fazem isso apoiados na ideologia machista de que a responsabilidade por lavar, passar, cozinhar e cuidar dos filhos e dos doentes é exclusiva das mulheres.
Para nós, socialistas, é diferente. Consideramos que são tarefas sociais que devem ser assumidas de forma coletiva e garantidas pelo Estado por meio de serviços como restaurantes e lavanderias públicas, creches e escolas em tempo integral, centros de convivência de idosos e outros serviços de apoio que tirem do âmbito privado o máximo possível da carga de trabalho doméstico.
Enquanto lutamos para que o Estado assuma a responsabilidade por essas tarefas, opinamos que elas devem ser divididas de forma igualitária entre homens e mulheres. Por isso, frente à pandemia, defendemos redução geral da jornada de trabalho sem redução de salários, para todos e todas que tenham trabalho, bem como garantia econômica para os que estão desempregados ou sem remuneração. Isso é necessário para que as mulheres não sejam as únicas responsáveis pela jornada de trabalho em casa e para que os homens exerçam seu papel social de pais, responsabilizando-se junto com as mulheres pela educação dos filhos e os cuidados domésticos.
 

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