Líbano
Bancos entram na mira das manifestações no Líbano

janeiro 15, 2020
Na tarde de hoje (14/01) a polícia libanesa usou bombas de gás e bala de borracha para dispersar uma manifestação em frente ao Banco Central do país. Os manifestantes revidaram com pedras e fogos de artifício.
Por: Jorge Mendoza
Bombas de gás foram arremessadas de volta e várias fachadas e caixas-eletrônicos foram destruídos e alguns bancos estão sendo ocupados. Desde ontem ruas estão sendo bloqueadas com barricadas e pneus em chamas. “A revolução está voltando”, gritam os manifestantes.
Os protestos no Líbano começaram em outubro do ano passado após uma tentativa do governo de taxar ligação por aplicativos como WhatsApp. Esse foi o estopim para expressar uma raiva que se acumulava contra um longo e profundo processo de primitivação dos serviços básicos e do desgaste dos partidos do regime envolvidos em inúmeros casos de corrupção. Um exemplo disso foi a incapacidade do governo em reagir aos incêndios que destruíram florestas libanesas porque o dinheiro para a manutenção da frota de helicópteros havia sido desviado.

Meses de protestos
Na esteira desse processo, o então primeiro-ministro Saad Hariri renunciou ao cargo, embora permaneça como interino. Diante dessa crise todas as tentativas de se formar um novo governo fracassaram. Nem o parlamento conseguiu dar uma resposta emergencial às reivindicações populares.
Para piorar a situação, a libra libanesa sofreu forte desvalorização (cerca de 60%), principalmente no mercado paralelo. A população já começa a sentir os efeitos da inflação em uma das piores crises econômicas do país em décadas. Isso tem levado uma corrida aos bancos para saques de dinheiro.

Estima-se que os depósitos bancários tenham se reduzido a 50%. Os bancos reagiram taxando os saques em dólares e limitando movimentações financeiras para o exterior. A população acusa os bancos de se apropriarem de suas reservas já que agora são obrigados a negociar em libras libanesas.
Entenda
Desde a guerra civil Libanesa (1975-1990), os principais cargos do regime são distribuídos de acordo com os grupos religiosos do país. O presidente da república deve ser cristão maronita; o primeiro-ministro deve ser muçulmano sunita, e o presidente do parlamento, muçulmano xiita.
Cada um desses cargos acaba sendo controlados por sensores da guerra (de difícil comparação, mas algo como o coronelismo brasileiro só que formado durante a guerra civil) e seus apadrinhados. Desde outubro, contudo, quando os protestos começaram, a população pede o fim do regime sectário e a formação de um governo independente.