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Palestina

Quatro mil refugiados palestinos da Síria mortos desde 2011

julho 16, 2019

O Grupo de Ação pelos Palestinos da Síria (AGPS – Action Group for Palestinians of Syria), uma ONG de direitos humanos formada em 2012 e sediada em Londres, noticiou no último dia 9 de julho que 3.987 refugiados palestinos na Síria perderam a vida desde 2011, início da revolução e da guerra no país árabe.

Por: Fábio Bosco

Desses, 1.422 viviam no campo de refugiados de Al-Yarmouk, o maior fora da Palestina ocupada, que foi sitiado e bombardeado pela aviação do regime sírio. Outros 263 eram do campo de refugiados de Daraa; 202, de Khan Eshieh (na zona rural de Damasco); 168, de Al-Neirab, em Aleppo; e 124, do campo de Al-Husainiya. Centenas mais morreram em outras localidades na Síria.

Do total, 1.212 foram mortos por bombardeios, 1.077 foram assassinados a tiros e 604 foram torturados até a morte nos centros de detenção do regime sírio. Outros 311 foram atingidos por atiradores especializados (snipers em inglês), 205 morreram de desnutrição ou falta de tratamento médico em áreas sitiadas pelo regime, 142 em explosões, 92 foram executados extrajudicialmente por milícias ligadas ao regime sírio e 52 morreram afogados no Mar Mediterrâneo.

Sete anos do massacre de 16 palestinos

Em nota de 11 de julho, o AGPS relembra os 16 palestinos integrantes do Exército de Libertação Palestino (PLA – Palestinian Liberation Army) sequestrados quando retornavam do centro militar de Misyaf, próximo a Idlib, para o campo de refugiados de Al-Neirab, em Aleppo. Eles foram torturados e mortos cerca de um mês depois.

Em 2015, forças de oposição ao regime sírio tomaram a Sucursal de Segurança Criminal em Idlib – agência do regime sírio onde foram descobertas as fotos de alguns combatentes sequestrados e torturados até a morte por tropas do regime sírio, entre eles Mahmoud Abu Al-Leil e Anas Karim. Mais de 270 combatentes do PLA perderam a vida na Síria.

O refugiado palestino Ibrahim Reda Samara, residente do campo de Al-Neirab e voluntário da brigada Liwa Al-Quds ligada ao regime sírio, foi morto a tiros pelas próprias milícias do regime ao defender uma mulher que estava sendo assediada por elas na Praça Saadullah Al-Jaberi, em Aleppo.

O AGPS também documentou a morte de 35 refugiados palestinos do grupo Fatah Al-Intifada em combates ao lado das forças do regime contra o Daesh (grupo autodenominado Estado Islâmico) e a Frente Al-Nusra em Al-Yarmouk, Harasta, Al-Kabon e Deir-Zour.

Segundo o AGPS, ativistas denunciaram que as milícias do Daesh sequestraram dezenas de refugiados palestinos procurados e os entregaram para as forças do regime sírio “por questões de segurança”.

O regime sírio obriga palestinos maiores de 18 anos a se alistarem no Exército, o que pressiona os palestinos a buscarem refúgio em outros países.

Professores palestinos assassinados

Em outra nota de 11 de julho, o AGPS relata que o Sindicato Geral de Professores Palestinos homenageou vários professores palestinos em Aleppo.

A nota esclarece que dezenas deles “foram mortos e muitos outros foram torturados até a morte nas prisões estatais sírias”, além de dezenas que desapareceram.

Palestinos detidos

Em nota de 10 de julho, o AGPS relata que o refugiado palestino Omar Yacoob Hejazi, nascido em 1975 e residente no campo de Al-Yarmouk, foi sequestrado por tropas sírias na fronteira sírio-libanesa há sete anos.

Outro palestino de Al-Yarmouk, Haytham Hamouda Naji, nascido em 1969, foi sequestrado por tropas do regime sírio em 28 de agosto de 2014 quando distribuía alimentos na Praça Al-Rijah, no próprio campo de refugiados.

Também de Al-Yarmouk são os refugiados palestinos Mahmoud Tamim, de 58 anos, encarcerado pelo regime sírio desde 3 de agosto de 2013; Salim Mohamed Al-Mawed e Nour Al-Deen Mahmoud Abdullah, preso no posto de controle no campo respectivamente em 22 de maio de 2013 e em 2014.

O refugiado palestino Moad Adnan Al-Khatib, residente do campo de Al-Husainiya, foi preso em 1º de dezembro de 2012. Ele era estudante da Faculdade Al-Fatah Al-Islami e Imã na mesquita de Al-Sahabi Zaher. Pelo menos 35 palestinos do campo de Al-Husainiya foram detidos por forças do regime sírio.

Já a refugiada palestina de 29 anos Rudeina Muhammad Khattab foi presa pelo regime sírio em 2012 em Latakia. Também dessa cidade, o refugiado palestino Mohamed Fatah Hamouda, residente do campo de Al-Raml, foi libertado em 1º de julho após oito anos em cárcere. Ele foi preso em 17 de agosto de 2011 e passou pela famigerada prisão militar de Sednaya antes de ser transferido para a prisão central Al-Sweida.

O AGPS registrou o encarceramento de 1.759 refugiados palestinos pelo regime sírio, incluindo 108 mulheres e meninas, e de outros 606 que foram torturados até a morte.

As famílias continuam a procurar e apelar por informações sobre seus entes queridos.

Palestinos impedidos de retornar a Al-Yarmouk

Em nota de 8 de julho, o AGPS denuncia que as famílias civis têm seu regresso a Al-Yarmouk negado pelas tropas sírias nas principais entradas do campo.

Uma petição de 200 páginas com a assinatura de 3 mil residentes de Al-Yarmouk pleiteia às autoridades sírias que permitam seu retorno para reconstrução das casas e da infraestrutura. Após sete anos de bombardeios, 5.489 construções foram destruídas nesse campo.

A maior parte dos residentes fugiu por causa do bloqueio brutal feito pelo regime sírio desde 2012 e, posteriormente, pela tomada do campo pelo Daesh, em 1º de abril de 2015. E finalmente por conta dos 33 dias de bombardeios e ação militar do regime a partir de 19 de abril de 2015.

Solidariedade

A refugiada palestina da Síria Shadha Abu Weddou entrou em greve de fome em Londres juntamente com outros 47 ativistas em várias cidades, em particular a síria Brita Hagi Hasan, que está em frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, para protestar contra os crimes do regime sírio e da aviação russa no norte do país árabe.

Infelizmente a maioria dos partidos políticos palestinos apoia o ditador sírio Bashar el-Assad ou se omite na denúncia das atrocidades cometidas pelo regime. A causa palestina é uma causa internacional por justiça e liberdade. Não pode se misturar com ditadores assassinos como Bashar el -Assad.

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