qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Sudão: Diário de uma revolução n. 5

Trabalhadores sudaneses mobilizam-se: velhas tradições, novos desafios

Martin Ralph – ISL

Muitas categorias organizam greves por várias reivindicações, mas há uma demanda central, o fim do regime. Mas, quem se juntou à maré crescente e por quê?

Revolução enfrenta cortes de energia elétrica e de água

A ocupação em frente ao QG militar em Cartum tem muitos fóruns, que são reuniões ao ar livre para falar e discutir sobre a revolução e sua organização. Muitos são realizados à noite e a eletricidade é necessária para falar e ver. Mas, quando os oradores começam, a eletricidade é cortada, por ação dos gerentes da companhia de fornecimento – sem dúvida sob ordens dos militares.

À medida que os cortes se tornaram mais regulares, a ocupação mobilizou-se em frente à sede da companhia de energia elétrica, e os trabalhadores eletricitários de Cartum entraram em greve.

No dia 12 de maio, o moradores do distrito densamente povoado de Ombadda, em Omdurman, fecharam a rua da Companhia de Água, em Cartum, em protesto contra a contínua falta de água. “Fechamos a Rua El Jumhuriya [no centro de Cartum] para mostrar à Companhia de Água que estamos cansados ​​de ter que comprar água cara de entregadores de carroça“, disse um morador irritado de Ombadda à Radio Dabanga.

Todo o estado de Cartum sofre de falta de água e eletricidade há mais de um mês.

Os bancários combatem o regime

Os bancários sabem como os administradores dos bancos, parte do regime, estão enganando os trabalhadores e o povo. Os gerentes estão mudando os detalhes das contas de corruptos: nomes, quem foi pago, de onde veio o dinheiro. Eles destruíram documentos em pelo menos duas grandes fogueiras.

Os bancos, como parte do regime, estão saqueando dinheiro, fundos de ajuda e recursos há 30 anos. Como parte dessa rede, empresas de caridade controladas pelo governo mantinham enormes estoques de alimentos, enquanto as pessoas passavam fome em busca de alimentos nos armazéns. Doações de caridade enviadas do exterior foram para esses baluartes do governo e apenas aqueles que o apoiaram receberam assistência.

Os bancários entraram em greve exigindo a remoção desses gerentes. Não é a primeira vez. Em 15 de fevereiro deste ano, um protesto, com outros setores de trabalhadores, foi organizado por vários bancários para condenar o assassinato de ativistas durante as manifestações contra o regime do então presidente Omar Al Bashir. Naquela época, os bancários foram suspensos.

Trabalhadores exigem uma greve geral contra o regime e o controle militar

Por volta de 12 de maio, esses setores, juntamente com trabalhadores da construção civil, motoristas, agricultores, estudantes e muitos outros exigiram uma greve geral para 16 de maio, a menos que um governo civil fosse formado. É por isso que os militares tentaram primeiro a repressão, que fracassou e, um dia depois, tentaram fazer um novo acordo. Também surge a possibilidade de que a Associação dos Profissionais do Sudão (APS) possa se tornar uma central de trabalhadores à medida que os trabalhadores começarem a emergir como força principal da revolução. Como um líder da APS disse a este repórter, “os trabalhadores são muito mais numerosos e poderosos do que nós, eles podem paralisar todo o país”.

Em 12 de maio, a Aliança por Liberdade e Mudança (AFC) repetiu as acusações que confirmaram que as balas que atingiram os manifestantes naquele dia pertencem às Forças de Suporte Rápidas (RSF), a principal milícia do governo do Sudão. Eles mataram seis pessoas, incluindo um capitão do exército. O Conselho Militar de Transição (CMT) continua a negar isso, citando a ação de ‘quinta-colunas’, leais ao presidente deposto Al Bashir.

Mas ninguém acredita. De fato, os EUA estão ficando tão assustados com o fato de que os trabalhadores e outros ativistas podem dirigir a revolução que disseram ao conselho militar que ele deve dar lugar a um governo civil. Os militares não podem controlar a situação e os trabalhadores estão se mobilizando muito mais maciçamente.

Para evitar a greve geral e o rápido aumento do número de ocupações e mobilizações em diferentes partes do Sudão, um novo acordo foi oferecido em 13 de maio pelos militares. Mas muitos ativistas dizem que é mais do mesmo, porque os militares permaneceriam nas instituições do governo. À medida que a fumaça sobre o que o acordo significa dissipa-se, os trabalhadores, se já não estiverem, começarão a planejar novas ações.

Todos esses eventos provam que somente a própria revolução pode se defender. Os militares de patentes inferiores do exército deveriam, urgentemente, combinar-se com os trabalhadores e as organizações revolucionárias da ocupação para defender a ocupação, as greves e as mobilizações. Isso pode acontecer em todas as cidades e áreas, como em Darfur e os Montes Nuba.

O exército está se recusando a desistir do poder, mesmo que esteja camuflando suas tentativas de se manter. Como nos disse um ativista, a proposta deles é manter o mesmo governo islâmico, com os militares ainda envolvidos e apoiados pela Liga Árabe, Arábia Saudita, União Africana (liderada pelo egípcio Sisi), etc. Em outras palavras, esses apoiadores do regime querem matar a revolução agora, enquanto os EUA e outros da “comunidade internacional” precisam de tempo para construir alavancas de controle sobre as massas.

Os trabalhadores estão exigindo a remoção dos gerentes nos locais de trabalho que apoiaram o regime. O único caminho a seguir é continuar lutando por um governo civil de todas as organizações revolucionárias que se opõem ao envolvimento do Conselho Militar. Agora, os trabalhadores estão se mobilizando e, junto com as ocupações e os movimentos de libertação, um novo governo sem o poder militar é possível, e para salvaguardar a revolução isso precisa acontecer.

Por um governo das organizações da revolução sem nenhum militar. Nenhum acordo com os militares! Todos os corruptos, assassinos e torturadores do regime devem ser julgados!

Libertação de todos os prisioneiros desta revolta e de revoltas anteriores e das lutas de libertação em todo o país.

 

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