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Brasil

PSOL: virada à esquerda ou à direita?

outubro 20, 2015

Recentemente, três das principais figuras públicas do PSOL abandonaram a legenda: Randolfe Rodrigues, único senador do partido; Clécio Luís, prefeito de Macapá (AP); e Heloísa Helena, ex-senadora por Alagoas, fundadora do partido, ex-candidata à presidente e atual vereadora de Maceió (AL). Heloísa e Randolfe aderiram à Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva.

Por: Bernardo Cerdeira

Alguns setores da chamada esquerda do PSOL e simpatizantes comemoraram a notícia dizendo que esses dirigentes já não tinham nada a ver com o partido e que essa ruptura deixa o partido melhor e mais coerente. Será verdade?

Relações antigas

Não há dúvida de que esses personagens, especialmente Heloísa Helena, mantêm uma relação antiga com Marina Silva e já tinham ameaçado muitas vezes deixar o PSOL para aderir ao seu novo projeto político, a Rede.

A ruptura de Marina com o PT e a fundação da Rede é claramente um projeto de direita, relacionado, primeiro, com o PSDB e depois com o PSB de Eduardo Campos, do qual Marina foi candidata à vice-presidente em 2014.

A Rede é um partido burguês que tenta capitalizar a insatisfação da classe média e dos trabalhadores com o PT, aproveitando-se que boa parte desses setores não vê o PSDB como alternativa. Sua principal bandeira é a defesa do meio ambiente, mas o enfoque da Rede nessa questão e seu programa são totalmente a favor do capitalismo.

A pergunta que não quer calar é: por que a direção do PSOL não combateu duramente esses dirigentes por sua política de direita e suas relações com a Rede? Por que não os afastou, se eles não representavam os ideais e o programa do partido? A verdade é que eles saíram quando quiseram, por pura conveniência eleitoral.

As notas da Executiva Estadual do PSOL do Amapá sobre a saída de Clécio e de Randolfe mostram bem a relação amistosa do partido com seus ex-dirigentes. Sobre Clécio, a Executiva “lamenta profundamente” sua saída do partido e afirma que “o PSOL reconhece os inegáveis avanços que a administração de Clécio proporcionou ao povo de Macapá”.  E mais: “reitera sua esperança de que o prefeito Clécio Luís se mantenha no campo da esquerda e da luta pelos direitos do povo” .

Para Randolfe, a Executiva Estadual deseja “sorte nos novos caminhos partidários por ele escolhidos” . Sequer uma crítica, apenas lamentos e expectativas diante dos que romperam para aderir a um projeto claramente burguês.

Trocar seis por meia dúzia

Não houve combate contra os que romperam porque o PSOL tem uma concepção de partido que comporta e incentiva a adesão deste tipo de políticos burgueses ao partido.

A prova dessa concepção são outros fatos recentes: o ingresso no PSOL do deputado federal Glauber Braga (ex-PSB-RJ) e do vereador Brizola Neto (ex-PDT-RJ), neto do falecido Leonel Brizola. Ao mesmo tempo, estão sendo feitas negociações públicas entre a direção estadual do PSOL de Pernambuco e Marília Arraes, vereadora pelo PSB de Recife e neta do ex-governador Miguel Arraes.

Ninguém pode acusar esses últimos personagens de socialistas, nem mesmo de reformistas. São herdeiros legítimos de uma tradição burguesa populista que, hoje, não pode ser chamada sequer de nacionalista, algo que o PSB e o PDT deixaram de ser há muito tempo.

Portanto, se por um lado saíram dirigentes políticos identificados com um partido burguês de direita como a Rede, por outro entram alguns políticos também de tradição burguesa e populista. Ou seja, a saída de Heloísa, Randolfe e Clécio não significou para o PSOL nem depuração, nem fortalecimento do seu programa, dos seus princípios e dos critérios políticos para a eleição dos seus dirigentes. O único critério evidente que marca essas rupturas e adesões é o critério eleitoral.

Glauber é mais um deputado federal que conta para o objetivo de chegar ao número de nove parlamentares, tão necessário para que o PSOL possa participar dos debates eleitorais na TV. Brizola Neto e Marília Arraes trazem votos e reforçam a ala dos políticos burgueses.

Seguindo os passos do PT

Quando o PSOL foi fundado, o PSTU alertava que a concepção que estava em sua origem – um partido anticapitalista, que reunia grupos que se reivindicavam revolucionários e políticos reformistas honestos – terminaria, necessariamente, impondo o programa dos reformistas. Hoje, esse alerta já caducou.

O PSOL já ultrapassou, pela direita, o programa dos reformistas e segue o caminho do PT: faz alianças com partidos burgueses, recebe financiamento eleitoral de empresas capitalistas, incentiva a adesão de políticos burgueses e coloca como objetivo fundamental construir um partido eleitoral para governar dentro dos limites do atual regime político.

Identificar e reconhecer essa realidade seria o primeiro passo para os militantes do PSOL, que se reivindicam revolucionários, combaterem essa tendência que ameaça degenerar o partido mais rapidamente do que o PT.

 

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