Especial Grécia-Syriza
Uma viagem internacionalista a Grécia
julho 30, 2015
Este artigo é o primeiro de uma série de reportagens e entrevistas de um correspondente de Corriente Roja na Grécia durante duas semanas. Não deixe de visitar a seção sobre Grécia em nosso site http://www.corrienteroja.net/category/grecia/
A paisagem urbana de Atenas
Toda a Europa esta atenta à Grécia. O ativismo de esquerda, de uma maneira ou outra, coloca suas principais esperanças desenlace futuro deste país. E Atenas tem exatamente o aspecto que se espera de uma cidade que vive, no mínimo, uma forte agitação política. É praticamente impossível caminhar pela cidade sem encontrar os muros e as colunas repletos de cartazes, pichações e adesivos de todo tipo, inclusive nas zonas mais centrais ou turísticas da cidade. As palavras de ordem e convocações da esquerda mais combativa fazem parte quotidiana da paisagem de Atenas.
Saindo do metrô pela primeira vez já encontrei um muro repleto de propaganda política e “decoração revolucionária” por toda a cidade, e imprensa revolucionária nas bancas de revistas. Inclusive a Praça Syntagma está cheia de pichações. Algumas delas dizem: “NÃO até o final”, “NÃO ao novo fascismo alemão”, “Romper com a dívida, FMI volte para casa”, “UE-FMI, vão a m…”.
Irmandade entre os povos
É habitual que nas mobilizações em Syntagma sejam vistas bandeiras espanholas ou portuguesas. Não só por razões da proximidade cultural, senão porque o inimigo e os problemas são partilhados. Todos compreendem que a Grécia está enfrentando os gigantes internacionais como a UE e o FMI, e que os que sofrem com a mesma austeridade necessitam ficar juntos. As referências à nossa Guerra Civil não são estranhas, especialmente o conhecido lema “Não passarão!”. Esta irmandade entre os povos de que falo tem seu reflexo na propaganda que decora a cidade, que está salpicada de slogans em castelhano.
O referendo, o Syriza e a necessária alternativa revolucionária
Se há um tema em destaque atualmente é o acordo renovado do governo de Alexis Tsipras com a União Europeia. De modo geral os gregos tinham menos expectativas no Syriza que as que tínhamos desde o Estado Espanhol, e este acordo foi a gota d’água que faltava. Muitos ativistas queixam-se de que o Syriza tinha prometido muito, e agora não cumpre nada. Viram a eleição do Syriza não tanto como uma aposta numa saída radical, senão como um reflexo de que as pessoas tentam em um primeiro momento buscar alternativas à corrupta política tradicional pelas vias de menor resistência. A questão é o que acontecerá agora? Tudo aponta que o Syriza não conseguirá reverter a crise social, senão que a aprofundará, e portanto é provável que as mudanças políticas continuem. Será que o desânimo vai se espalhar ou, como em minha opinião tudo aponta, continuará a luta? A esquerda revolucionária conseguirá construir uma alternativa com audiência na maioria trabalhadora grega? Para mim, estas duas perguntas são a chave da situação, e nos próximos dias irei entrevistando diferentes ativistas e militantes que serão protagonistas do que está por vir.
A situação social
A Grécia é o país onde a crise e a austeridade causaram maiores estragos. A fatura de governos corruptos que falseavam as contas e a injeção de milhões de euros nos bancos está sendo paga pela classe trabalhadora. O desemprego subiu, as condições trabalhistas e os salários pioraram, os serviços públicos sofreram grandes cortes, vieram as contrarreformas trabalhistas e das aposentadorias, e os impostos aumentaram. Uma dívida odiosa e impagável converteu-se em uma ferramenta política do imperialismo europeu para saquear o país e apossar-se de sua economia, privatização após privatização. O acordo de Tsipras com a UE não faz senão continuar este mesmo caminho, acrescentando sofrimento às costas do povo grego.
Uma imagem serve-nos para exemplificar esta situação, da qual falo. Abaixo lhes apresento uma foto de uma das clínicas autogestionadas pelos trabalhadores da saúde e vizinhos que existem em Atenas. Estas clínicas, que se sustentam graças à solidariedade dos vizinhos e ao trabalho de voluntários, dão assistência àqueles que ficaram de fora do sistema de saúde (público ou privado). Não podem atender os problemas médicos mais graves e complexos, mas sim, prestam uma atenção à saúde básica que alivia o abandono no qual as pessoas na Grécia se veem condenadas.
O rastro das lutas
A Grécia foi famosa nos últimos anos por suas numerosas greves gerais e suas incansáveis mobilizações. Depois do último êxtase do referendo e o acordo com o Eurogrupo, o ritmo do verão vai-se impondo, mas não é difícil seguir o rastro das lutas na cidade. Containers queimados testemunham os confrontos de rua, numerosas pichações e murais antifascistas encorajam a enfrentar a ameaça do Aurora Dourada e um forte bloqueio policial protege, dia e noite, a sede da Comissão Europeia em Atenas.
As atividades tampouco cessaram completamente. No dia de minha chegada celebrou-se uma concentração em solidariedade aos curdos, que sofreram os atentados do Estado Islâmico e os bombardeios da Turquia. Apesar do pequeno número de manifestantes, uma grande “barricada” policial impedia a passagem à embaixada turca. Também nos bairros há movimento. Pude assistir a uma assembleia no bairro de Vironos, onde se discutia que papel podiam jogar os vizinhos depois do recente incêndio no monte Imitos, onde estes mesmos vizinhos tinham se unido para ajudar a apagar o fogo. A assembleia realizou-se em um centro social do bairro, onde semanalmente há atividades e que é um ponto de distribuição de produtos de autogestão.
Tradução: Rosangela Botelho