qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

No meio de uma praça pública: a execução de um trabalhador haitiano

Camaradas operários, trabalhadores e progressistas do mundo inteiro!

Em pleno dia, no meio de uma praça pública de um bairro de Santo Domingo, capital da República Dominicana, logo depois de ter sido torturado publicamente, cortaram a cabeça de um trabalhador emigrante haitiano com um machado.

 

 Chamava-se Carlos Nerilus. O fato ocorreu em frente a uma multidão que ria e aplaudia. Alguns até filmavam com celular. A polícia que estava por perto não moveu um dedo sequer, nem durante nem depois da execução.

 

 
 Segundo o que se diz, se tratava de um conflito de trabalho, onde o trabalhador havia matado um patrão dominicano que lhe devia meses de serviço. Como se comenta, não foi o trabalhador assassinado quem matou o capitalista, mas sim, seu irmão. Por não encontrarem o irmão, o pegaram e abertamente o arrastaram até a praça pública daquele bairro e o decapitaram ali depois de demoradas torturas públicas.
 
No Haiti, surgiu em seguida, uma grande indignação e vários protestos seguem acontecendo.

Essa é mais uma

De fato, depois de acompanhar atentamente as diferentes tomadas de posições, decidimos apresentar a nossa, apoiando a todo trabalhador, a todo progressista, que, sozinho ou organizado, sob uma forma ou outra, em sua vida cotidiana, já tenha denunciado este ato criminoso.

Porém, queremos insistir sobre dois pontos. Primeiro, existe toda uma série de oportunistas que igualmente denunciaram o ato. Estes mesmos que, a cada dia exploram, não deixam viver e assim matam paulatinamente aos trabalhadores haitianos, seja no Haiti, seja na vizinha República Dominicana. Em toda a ilha. Tudo está muito bem para eles! Por cima dos nossos corpos, do nosso suor cotidiano, até por cima do nosso sangue. Abertamente lhes dizemos que nós os trabalhadores não nos equivocaremos, pois não necessitamos da sua falsa piedade nem de suas denúncias hipócritas. Que não venham semear nenhuma confusão! De fato, aquelas lágrimas de crocodilo não vão mais além do que da defesa da “imagem da nação”, com as quais se aproveitam para dividir conscientemente aos trabalhadores dos dois países enquanto já estão preparados para unirem-se com as classes dominantes, as mais reacionárias dominicanas, como sempre fizeram.

Segundo, que há os verdadeiros responsáveis. Certamente, houve pessoas que executaram o crime com suas próprias mãos, houve outras que aplaudiram, rindo… Todas devem ser condenadas! Esse não é um ato humano. Todos devem ser condenados com altíssimas penas. E os trabalhadores dominicanos, devem refletir profundamente sobre o porquê de ter apoiado um patrão e não um irmão de classe, [ainda que] este fosse de “outro país”. Os camaradas operários dominicanos de Santiago não erraram quando apoiaram abertamente a seus irmãos de classe haitianos em luta, na zona franca de Ouanaminthe, Haiti, mesmo que esta seja de um proprietário dominicano!

Contudo, condenar alguns não deve tapar nossos olhos: é um ato de um setor específico da sociedade. E, de fato, aqui existem dois tipos principais de responsáveis. Primeiro são as classes dominantes dominicanas que utilizam e forjam o ódio aos trabalhadores haitianos para melhor assentar sua dominação dentro de seu país. É a partir da ideologia do “ódio” que conseguem estabelecer a escravidão dos trabalhadores haitianos nos conhecidos bateyes¹, assim, desviam a atenção dos trabalhadores dominicanos e os exploram igualmente. Tudo no marco obrigatório de um desprezo pelas massas populares haitianas, para melhor solidificar sua dominação na relação Haiti / República Dominicana. Temos de ser contundentes: Eles são os responsáveis! São eles os principais responsáveis! Um dia, a história tem que fazê-los pagar. Todavia não estão sozinhos…

Estão também as classes dominantes haitianas: lacaias, covardes, capazes de abrir caminho hoje em dia para o capital estrangeiro (particularmente dominicano) vir explorar a força de trabalho haitiana, levada por eles mesmos, a ser a mais barata do continente e uma das mais baratas do mundo. Cada bofetada dada no país é uma carícia para elas. Junto com estes lacaios está o Estado haitiano e principalmente o atual governo que está “dirigindo”: nunca fez nada frente aos crimes que diariamente ocorrem na República Dominicana contra os trabalhadores haitianos. Não pode se enfrentar com o problema já que é uma das principais causas tanto de sua aparição como de sua evolução para pior. Seus subterfúgios e sua total incapacidade diante do drama demonstram mais uma vez a imperiosa necessidade de um outro Estado!

O objetivo de todos estes hipócritas é seguir explorando [tanto] os trabalhadores haitianos como os dominicanos. Seu suposto protesto, além de atiçar o ódio entre os povos, para melhor governarem, serve na realidade, para esconder seu próprio papel no processo. Denunciando, temos que saber muito bem com quem estamos concretamente, para não nos unir de nenhuma maneira e sob nenhum pretexto, com aqueles que são os principais responsáveis pelo drama ocorrido.

A linha política que há que tirar de tudo isso deve corresponder não apenas aos interesses dos trabalhadores haitianos como também aos dos trabalhadores dominicanos, mesmo que saibamos muito bem que deverá ser desenvolvido um trabalho árduo para inserir esses últimos nesse processo, baseado nos interesses comuns.

Devemos ser categóricos: não estamos frente a um simples ato. É toda uma complexidade da qual o drama ocorrido é só a ponta, à qual nos levaram a todos estes verdadeiros responsáveis. Dentro deste marco global, está a dominação permanente das distintas burguesias junto com seus respectivos Estados reacionários; está a relação desigual entre os dois países, em particular a desigual relação comercial; está a questão migratória, utilizada pelas duas classes dominantes para melhor explorar os ilegais; está a presença cada vez mais antagônica dos trabalhadores haitianos com os da República Dominicana mas, sobretudo, a ideologia racista do ódio, nutrida e envenenada pela propaganda da ultra direita dominicana.

É, pois, um processo permanente. Da mesma e igual forma, a nossa resposta deve ser também permanente. Tem que ser um eixo de luta importante. As lutas e a organização dos trabalhadores das duas formações sociais devem caminhar conjuntamente, coordenadas, até chegar a se unirem concretamente em toda a ilha. Se não, nunca chegaremos a sair triunfantes em nenhuma das duas partes. Para isso, é necessário desenvolver uma estrutura permanente que se encarregue deste processo de luta. União, até a vitória permanente dos trabalhadores de ambos os lados e, assim, dos dois povos em geral. Esta estrutura deve permitir acumular forças, planificar diversas formas de lutas comuns, permanentes, progressivamente, publicar boletins conjuntos, organizar manifestações, mobilizações não apenas frente às classes dominantes dominicanas, seus representantes no Haiti, mas também frente aos responsáveis haitianos e seu Estado lacaio, hoje em dia absolutamente apodrecido. Isso deve nos levar a mobilização, outra vez, frente ao governo de turno atual. Tudo isso, dentro de uma linha que permita entender fundamentalmente que se trata primeiro e antes de tudo de Exploração! Os trabalhadores como eixo central é a única forma de abordar o problema de maneira consistente, coerente e projetada.

Neste sentido, a unidade entre os trabalhadores haitianos e dominicanos é fundamental, ainda mais quando estão em um mesmo campo de luta. De igual importância deve ser a demarcação intensa e cada vez mais definitiva com os oportunistas, hipócritas e reacionários. Nós, do Batay Ouvriye, atuamos nesses dois sentidos.

Viva a luta dos trabalhadores haitianos em toda a ilha!
 
Viva a luta de todos os trabalhadores na ilha inteira!
 
Viva a unidade dos dois povos frente aos reacionários dos dois países, com os trabalhadores como eixo central!
 
Viva a luta do campo do povo insular unido até a sua libertação final!
 
Viva o Internacionalismo Proletário!

Porto-Príncipe
Segunda-feira, 11 de maio de 2009

¹ As comunidades de imigrantes haitianos são chamadas de Bateyes. As condições de vida nessas comunidades são de extrema pobreza e os imigrantes moram geralmente em barracos superlotados, sem luz, saneamento básico ou água potável. Não há serviço de saúde, espaços recreativos ou escolas.

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