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quarta-feira, julho 24, 2024

Nossa imprensa

Embora complete 15 anos, o jornal Opinião Socialista é herdeiro de uma tradição de mais de 30 anos de imprensa revolucionária no país.

O jornal chega onde os militantes muitas vezes não conseguem chegar, e com ele chegam as propostas e análises do partido. Por isso, sempre demos muita importância ao jornal. O primeiro jornal lançado por nossa corrente foi o Independência Operária, com seu primeiro número editado em 1974, na Argentina. Significou o ponto de partida para a construção, no Brasil, da corrente que deu origem à Convergência Socialista. Foi publicado até o começo de 1978 pela Liga Operária, impresso em mimeógrafo, em papel sulfite.

Em 1978, o jornal se unificou com o Versus e até março de 1979 trouxe na capa os dois nomes: Versus-Convergência Socialista. A partir de março de 1979, passou a se chamar somente Convergência Socialista (CS). Em agosto de 1982, a CS adota o nome de Alicerce, que também passa a ser o título do jornal e, a partir de maio de 1984, volta a se chamar Convergência Socialista. Com o surgimento do PSTU em 1994, o jornal continua o mesmo, mas adota primeiro o nome de Jornal do PSTU e, depois, Opinião Socialista.

Os nomes dos jornais foram mudando, de acordo com o nome que nosso partido foi adotando em cada momento político. Mas seu conteúdo e a seriedade com que era feito sempre permaneceram. Por isso, podemos nos orgulhar de ser uma das únicas correntes de esquerda no Brasil a manter por mais de 30 anos uma imprensa regular e acessível ao conjunto dos trabalhadores e estudantes.

Independência Operária: quatro anos de lutas!

Em fevereiro de 1974, nasceu o Independência Operária, jornal da Liga Operária. Escrito nas velhas e boas máquinas de escrever, era impresso em papel sulfite, tinha em geral entre 6 a 8 páginas, saía quando dava, e era impresso em mimeógrafo. Os dois primeiros números do Independência Operária foram impressos no exterior. Tinham uma apresentação gráfica muito boa, mas seu conteúdo era bastante geral, reflexo de seu afastamento da luta de classes.

Mas nem por isso tinham uma visão incorreta da realidade. Em seu segundo número, de março de 1974, já trazia um chamado aos “trabalhadores, estudantes e todos os que estão contra a ditadura a lutar pela recuperação das liberdades democráticas” e pela defesa do nível de vida dos trabalhadores.

Somente seis meses depois surgiu a terceira edição do jornal, com algumas modificações. Passou a ser totalmente feito no Brasil e, por não contar com uma grande infraestrutura, em mimeógrafo a álcool. Mas, por outro lado, mostrou que a partir daquele momento (outubro de 1974) começava a se integrar na luta de classes.

O ano de 1975 se inicia com um violento ataque da ditadura. Vários militantes do Partido Comunista foram atingidos pela repressão. O Independência Operária, que sempre se manifestou em defesa de todos os companheiros atacados pela ditadura, lançou um número especial, e um manifesto público, defendendo a libertação imediata de todos os presos.

Convergência Socialista presente na luta de classes

A partir de março de 1979, começamos a publicar o Convergência Socialista (CS), um tabloide com oito páginas em papel jornal. O número zero traz um artigo intitulado “Estamos aprendendo tudo de uma vez só”, de Arnaldo Schreiner e Romildo Raposo Fernandes, com a cobertura da greve dos metalúrgicos em São Bernardo, São José dos Campos e Jundiaí. O número 1 sai na primeira quinzena de julho de 1979, com notícias sobre as atividades do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, e o número 2, na segunda quinzena de julho de 1979, com a matéria central sobre a Revolução na Nicarágua, com o título “Todo Poder aos Sandinistas”. O número 3, publicado na primeira quinzena de agosto do mesmo ano, traz no editorial uma matéria sobre o processo de construção do Partido dos Trabalhadores.

Em junho de 1980, o jornal lança uma “Campanha Nacional pela devolução do Sindicato do ABC”. Seria “parte da luta pela independência dos sindicatos em relação ao Estado, para que não haja mais intervenções e interferências do governo dos patrões sobre os sindicatos dos trabalhadores”. O jornal fala também sobre o 1º Encontro Nacional do PT e faz a defesa de que o “PT é um partido classista, sem patrões”.

Na primeira quinzena de julho, o jornal faz uma análise sobre os rumos da luta de classes, mostrando que o Brasil vive um ascenso de massas mais claro a partir de 1977, em princípio estudantil, depois de setores do proletariado e de classe média. Na edição seguinte, continua a análise sobre os rumos da luta de classes, mostrando agora o papel dos socialistas. A luta pelo socialismo, que começa “quando adotamos como centro de nossa política a bandeira de um governo dos trabalhadores. Porém, o principal inimigo é o governo Figueiredo”. Exigem: renúncia imediata, eleições livre e diretas já. “… queremos uma Assembleia Constituinte democrática e soberana que reorganize e reestruture o país baseado na vontade da maioria trabalhadora da população”.

O CS n° 20, lançado na primeira quinzena de setembro de 1980, traz uma reportagem sobre o ato realizado em São Paulo em homenagem a Trotsky no dia 29 de agosto. O ato contou com a presença de representantes da OSI (Organização Socialista Internacionalista) e da CS, além de históricos trotskistas brasileiros como Hermínio Sachetta, Fúlvio Abramo, José Maria Crispim, Maurício Tragtenberg. No Rio de Janeiro, também foi realizado um ato em homenagem a Trotsky, com a presença de Mário Pedrosa e Edmundo Moniz, Elizabeth Huggins, responsável pela primeira tradução de “A Revolução Russa” no Brasil, e os militantes da LCI (Liga Comunista Internacionalista, primeira organização trotskista no Brasil) Norma Muniz, Barreto Leite e Cursino Raposo.  

Alicerce e as Diretas já!

O Alicerce n° 31 (novembro de 1983) traz na capa: “Aqui, como na Argentina, eleições diretas para presidente. A campanha será mantida nos números seguintes do jornal. O Alicerce n° 37 (dezembro de 1983) anuncia a realização de um Congresso de unificação entre a Convergência Socialista e o Alicerce numa única organização: Alicerce da Juventude Socialista. “Nos unimos pela necessidade de construir um partido socialista e revolucionário, parte do combate pela construção de uma organização revolucionária dos trabalhadores do mundo inteiro: a IV Internacional”. Na edição n° 49 (abril de 1984), o jornal publica a Resolução Política do VIII Congresso da CS. A resolução aponta que a estratégia para derrubar a ditadura é a greve geral pelas diretas e contra a fome. Unificar a campanha das diretas com mobilizações mínimas, as campanhas salariais, e associá-la ao boicote ao colégio eleitoral. Dois eixos de propaganda: não pagamento da dívida externa e Lula para presidente, associados à palavra de ordem “por um governo dos trabalhadores”.

Sobre a retomada da Convergência Socialista, o jornal lembra que em 1983 ocorreu a fusão, entretanto: “Quando o ascenso dos trabalhadores se coloca no centro da situação política, o retorno da Convergência Socialista se faz necessário. Não somente uma organização para a juventude, mas a organização política vinculada às tradições da classe operária, uma ala socialista da CUT e do PT – enfim, a Convergência Socialista”. A partir daí, o jornal volta a se chamar Convergência Socialista.

O CS n° 8 (julho de 1984) publica as Teses sobre a situação nacional: “vivemos hoje a maior onda de lutas revolucionárias de toda a nossa história”. Seriam lutas revolucionárias porque: 1) decretam a agonia do regime militar e poderiam tê-lo derrubado se não fosse a traição das oposições burguesas; 2) contra a fome, lançam os primeiros golpes contra os patrões com ocupações de fábricas que se estendem por todos os lados; 3) começam a desmantelar a estrutura sindical. “Essa revolução começou com os gigantescos atos pelas diretas de antes de 25 de abril e segue agora com a onda grevista. O seu primeiro choque se dá contra o regime militar ditatorial, assumindo um caráter imediato de revolução democrática, para, em seguida, avançar dentro do processo de revolução socialista, para a derrubada da burguesia (…). Na verdade, o processo brasileiro faz parte da mesma onda revolucionária que derrubou as ditaduras boliviana e argentina e que hoje golpeia as ditaduras no Chile, no Uruguai e até mesmo no Paraguai”. “As mobilizações salariais que começaram em meio à campanha das diretas continuam generalizando os métodos mais revolucionários de luta. Assim, os boias-frias incendeiam os canaviais, fazem piquetes armados e pequenos levantes; os operários tornam comum o método das ocupações de fábricas”. “Frente à crise existente, é necessário ainda levantar a bandeira de um Governo dos Trabalhadores como alternativa de rompimento com os patrões e seus partidos”. Por fim, sistematiza: “Governo do PT, da CUT e da Conclat. Não pagamento da dívida externa. Assembleia Constituinte livre e soberana, já!

O CS n° 30 (março de 1985) fala sobre o IX Congresso da Convergência Socialista, o primeiro a ocorrer depois da queda da ditadura militar, e apresenta trechos das Teses sobre a situação nacional. Mostra que o novo governo tentará frear as lutas, as mobilizações e as greves salariais. Estava em aberto a questão se a burguesia conseguiria deter as lutas. Começava um processo de expectativa dos trabalhadores em relação ao governo Tancredo Neves, que, no entanto, seria débil ao assumir.

O CS n° 49 (julho/agosto de 1985) traz uma matéria informando que Nahuel Moreno, expulso pela ditadura, volta ao Brasil. O decreto de expulsão é revogado por Sarney, no Diário Oficial do dia 9 de julho.

A partir do número 77 (março de 1986), o CS sai com um subtítulo: “Um jornal operário e socialista a serviço da CUT e do PT”. O CS n° 83 (maio de 1986) inicia uma série de artigos sobre o tema Constituinte, discussão que tomava conta do país. “A Constituição que queremos: capitalista ou socialista? Não existe meio termo” era o título da primeira matéria sobre o tema. “Através da Constituição poderemos conquistar uma tribuna privilegiada para divulgar a todos os trabalhadores as ideias do socialismo. Isto significa atacar claramente a propriedade privada dos meios de produção propondo a estatização das grandes indústrias nacionais e estrangeiras, do sistema financeiro e o monopólio do comércio exterior. Significa, ainda, propor medidas que transformem completamente as Forças Armadas, colocando-as a serviço do poder operário (…). Em nosso programa deverão estar presentes também as principais tarefas democráticas que existem hoje no país às quais a burguesia não pode responder: a reforma agrária radical e a conquista da soberania nacional através do rompimento da submissão ao imperialismo com o não pagamento da dívida externa”.

Opinião Socialista: cada vez melhor!

Em junho de 1996 nascia o Opinião Socialista, o novo jornal do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Durante dois anos, desde a fundação do partido, o Jornal do PSTU ocupara o honroso posto de um dos mais regulares órgãos de imprensa da esquerda brasileira e fora fundamental para a consolidação desse novo partido e do seu projeto de defesa intransigente das reivindicações dos trabalhadores diante da ofensiva neoliberal e de defesa do socialismo. Mas a história do Opinião não começa em 1996. Pode-se dizer que o jornal é herdeiro de uma longa tradição da imprensa revolucionária no país. Algo que muito nos orgulha.

* primeiro editor do jornal Convergência Socialista
 
Fonte: Opinião Socialista nº 425, de 08 a 29 de junho de 2011.
 

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