Dom May 19, 2024
19 mayo, 2024

A rainha Máxima: orgulho ou repugnância?


Na véspera do Dia Internacional dos Trabalhadores, todos os meios de comunicação da Argentina estavam tomados pelas cenas da coroação da “rainha argentina”, seus vestidos suntuosos, suas princesinhas loiras e sem graça, seu sempre sorridente e majestoso marido, o novo rei da Holanda. Dessa pomposa cerimônia participaram os representantes de toda a monarquia e nobreza europeias, eles também com grande ostentação, jóias e vestuário luxuoso.



E toda essa ostentação se deu no mesmo momento em que se anunciava oficialmente o aumento do desemprego na Europa, que chegou a 12,1%, isto é, 19,2 milhões de pessoas sem trabalho, o que implica a existência de 62 mil novos desempregados. Não é algo repugnante? No entanto, Cristina Kirchner afirma que “devemos nos orgulhar”.



“Pode ser que algumas pessoas não gostem da monarquia, mas… ela é uma argentina!”



Foi assim que a presidenta se manifestou a partir da Casa Rosada (durante o ato de apresentação de um plano de “Desendividamento” e Crédito para Obras), para justificar a presença de Amado Boudou e Beatriz Rojkés de Alperovich na cerimônia de coroação.



Por mais que a presidente insista, não vemos motivos para que as trabalhadoras sintam-se orgulhosas de que o “sangue argentino”, como ela diz, vá engrossar as fileiras da realeza europeia.



Em qualquer outro momento isto seria o mesmo que renegar a heroica luta que há duzentos anos libertou nosso país dos reis da Espanha. Mas agora, quando os trabalhadores espanhóis saem às ruas para enfrentar o desemprego e os planos de fome e gritam “Abaixo a monarquia, que o Borbón vá trabalhar!”, não podemos nos sentir orgulhosos de que uma argentina passe a engrossar esse exército de parasitas que vivem grudados nas costas de seus povos.



E esses “bonitos” novos reis não serão mantidos apenas pelos trabalhadores holandeses, mas pelos trabalhadores de todo o mundo, entre eles os argentinos. Porque a Holanda não é apenas o pitoresco país das tulipas, dos tamancos e dos moinhos que aparecem nos cartões postais. A Holanda é um dos mais fortes países imperialistas. Além de ser um paraíso fiscal, são todas holandesas as grandes empresas multinacionais como Steenkolen Handels Vereniging (SHV), Unilever (a maior produtora mundial no ramo de alimentos e produtos de higiene), a química AKZO, a Hoogovens Groep, a Heineken e a Daf Trucks Royel Dutch Petroleum (que foi fundida com a inglesa Shell) e a Philips.



Nós, trabalhadoras, não temos nada em comun com esta mulher



Longe de nos sentir orgulhosas pela rainha Máxima, nós, trabalhadoras argentinas, devemos dizer que não temos nada em comum com esta filha de um ministro da ditadura de Videla, que foi banqueira nos EUA, que viveu em fastuosas mansões em ilhas gregas paradisíacas e que agora é rainha consorte de uns dos principais países imperialistas e, como tal, defende esses interesses e mordomias. Por isso, não tem o menor escrúpulo de fazer com que o estado gaste cifras fabulosas em sua coroação, ao mesmo tempo em que se impõem terríveis planos de austeridade para todos os trabalhadores e povos europeus.



Por isso, não, nós não dizemos “bem, Máxima”, como diz Cristina. Ela não é “nossa irmã de gênero”, é nossa inimiga de classe.



O empoderamento é a solução para enfrentar a opressão da mulher?



Este tema da “rainha argentina”, que, segundo dizem, é o maior expoente de sua família, coloca novamente em discussão a questão do empoderamento das mulheres. “Empoderamento” é um termo que surgiu da Conferência Mundial das Mulheres em Beijing, em 1995, para se referir ao aumento da participação das mulheres nos processos de tomada de decisão e acesso ao poder. E atualmente é muito utilizado pelas organizações feministas para indicar a maior tomada de consciência das mulheres (a partir dos lugares de poder que são ocupados) para avançar na recuperação da própria dignidade das mulheres como pessoas.



Nós sempre polemizamos contra essa visão, que passa por cima do problema de classe, isto é, que ignora que a opressão da mulher tem uma causa profunda que não é de gênero, e sim de classe. E como o problema é de classe, então, que as mulheres ganhem espaços de poder no sistema capitalista não ajuda a libertar a maioria das mulheres (trabalhadoras e pobres), mas acaba fortalecendo esse poder capitalista que oprime, explora e reprime os trabalhadores e setores populares, mulheres e homens.



Atualmente há muito “empoderamento” de mulheres: no Brasil, na Argentina e na Costa Rica as presidentas são mulheres. Angela Merkel dirige a Alemanha, o principal estado imperialista europeu e Cristine Lagarde é a “número um” do FMI, essa máquina de explorar os povos de todo o planeta. Obama nomeou uma mulher como diretora do Serviço Secreto e acaba de ser eleita uma mulher como Diretora dos Serviços Clandestinos da CIA.



Grande empoderamento, não? Isso por acaso significou alguma melhora para as mulheres nesses países e no mundo? Tanto no Brasil, como na Argentina e na Costa Rica as presidentes mulheres seguem se opondo à legalização do aborto. Por isso, continuam morrendo mulheres trabalhadoras e pobres. Merkel e Lagarde são as pontas de lança para impulsionar os planos de austeridade, que significam o desemprego para grande quantidade de trabalhadoras e o desespero frente à impossibilidade de dar a seus filhos os serviços básicos de educação e saúde. E quem se fortalece com a nomeação como diretora da CIA dessa mulher especializada em centros clandestinos de detenção e tortura? E que papel terá em tudo isto a “rainha Máxima”? Não há muito mistério: realizará algumas ações beneficentes e colocará seus conhecimentos de economia e sua experiência como banqueira (como já vem fazendo) a serviço dos interesses dos capitais holandeses em todo o mundo.



Por isso, não nos resta outra coisa a não ser lutar por nossos direitos como mulheres e como trabalhadoras. Nessa briga, não teremos o apoio dessas mulheres “empoderadas”. Ao contrário: precisaremos enfrentá-las. E no desenvolvimento desta luta teremos que travar também uma importante batalha contra o machismo existente em muitos setores da classe operária, o que é necessário para conseguir a férrea unidade dos trabalhadores, homens e mulheres, para avançar na luta contra o capitalismo, que é o sistema nos explora e oprime.

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