Sáb May 11, 2024
11 mayo, 2024

Sindicato de Mineração de Cuajone: reencontro com sua combativa história

E em homenagem aos lutadores que lhe deram glória

A história da classe operária peruana é intensa em heroísmo, sacrifícios e fatos comoventes, e mais em especial quando se trata dos mineradores que constituem seu setor mais explorado. Uma dessas histórias é a do Sindicato de Trabalhadores de Cuajone, mina do complexo de mineração metalúrgico Southern Perú que funciona no sul do país desde meados do século passado. Jovens operários provenientes de diversas localidades construíram a mina no início dos anos 70 e com sua luta conseguiram que um grupo deles se fixasse como

trabalhadores mineradores. Em 14 de agosto de 1978, quando ainda governava a ditadura militar, um grupo de membros do FOCEP (Frente obrero campesino del Perú), entre eles Ricardo Napurí, Hernán Cuentas e Magda Benavides, após organizar uma Assembleia Popular na cidade de Moquegua subiram em marcha até o acampamento minero onde, vencendo o impedimento das tropas, ajudaram a organizar uma assembleia operária que constituiu o Sindicato.

Desde então se iniciou uma longa história, com greves, marchas, lutas comunitárias, que trouxeram inúmeras demissões, prisões e perseguição, onde se formou uma vanguarda de lutadores que foi exemplo não só por sua combatividade, mas também por seu compromisso de classe, em um contexto nacional onde a classe operária ganhou protagonismo político e social.

Um desses lutadores foi Santos Dávila Bravo, brilhante dirigente minerador que igualmente compreendeu a necessidade de construir seu partido de classe, e tornou-se líder do PST. Santos morreu cedo em um acidente de mina em 1999, o que representou um golpe muito duro para nosso partido já afetado pelo retrocesso geral que se vivia no país.

Com a ditadura fujimorista milhares de trabalhadores, entre eles de Cuajone foram jogados na rua e entre eles quase toda a sua vanguarda. Máximo Apaza Jamachi, membro desse grupo de dirigentes operários que forjaram a organização operária desde a época de construção da mina, hoje a cabeça do novo Sindicato, escreve a história de sua organização da qual ele mesmo foi um de seus protagonistas. Com esta consideração ele reencontra sua organização composta por uma nova geração operária, com seu passado de glória e exemplo.

O PST tem ligado grande parte de sua história e suas batalhas à luta dos trabalhadores mineradores do sul e de Cuajone. Hoje, que o Sindicato de Cuajone faz aniversário, lhe deseja uma calorosa saudação a todos seus membros, e muito especialmente rende homenagem aos numerosos lutadores operários que lhe deram glória e que engrossaram nossas fileiras, deixando uma marca permanente de classe, sobre cuja base hoje, continuamos construindo nosso partido, sempre e até a vitória definitiva da emancipação da classe trabalhadora.

Solicitamos o envio de felicitações através de: freddysala@gmail.com

Por Máximo Apaza Jamachi, secretário geral do sindicato.

O primeiro sindicato foi fundado quando operava a Empresa Construtora Huta, em 1971. No país governava a junta militar do general Juan Velasco Alvarado; governo reformista e nacionalista. O primeiro secretário geral foi Hernán Cuentas Anci. Ao final do mesmo ano se inicia a primeira greve pela pauta de reivindicações, com uma marcha de sacrifício à cidade de Arequipa. Dentre os pontos se levantava também o acesso à planilha principal dos trabalhadores da Empresa Antonio Biondi, onde se pagava aos operários até menos da metade do salário. A greve durou três meses e teve uma ampla solidariedade do povo de Arequipa, e alcançou uma solução parcial.

No ano de 1972 se anuncia o fim do contrato com a empresa Huta e, por conseguinte, se decide a demissão de todos os trabalhadores. Frente a este anúncio nosso sindicato convoca uma assembleia geral onde se decide realizar uma nova marcha de sacrifício à cidade de Arequipa. A polícia sabendo de nossas ações, nos bloqueia a passagem na ponte Montalvo, mas conseguimos burlar os controles e chegamos a El Fiscal (Río Tambo), onde fomos novamente cercados pela polícia. O governo tentava quebrar nossa greve. Depois de quarenta dias de resistência rompemos o cerco policial e prosseguimos nossa marcha a Arequipa, onde fomos recebidos pelo povo e personalidades que se identificavam com nossa luta que já havia ganhado notoriedade. Em Arequipa conseguimos que a plenária Departamental da Federação de Trabalhadores aprovasse uma Greve Geral em apoio à nossa luta. Então chega uma convocação do Ministro do Trabalho com a proposta do governo para que quatro dirigentes viajassem à Lima onde supostamente se estabeleceria o “diálogo”. No trajeto do aeroporto ao ministério, Hernán Cuentas foi seqüestrado e deportado ao Panamá, e ao mesmo tempo foi declarado estado de emergência no departamento de Arequipa ordenando-se a repressão contra nossa greve, que finalmente se quebra e termina derrotada. A nova Empresa, Peruvian Associates, se compromete com o ministro em receber os trabalhadores, mas só o cumpre parcialmente.

Fundação do Sindicato de Cuajone
 
Em 14 de agosto de 1978 se forma o Sindicato de Trabalhadores de Cuajone – SPCC, com o apoio de um grupo de deputados operários da Assembleia Constituinte: Ricardo Napurí, Hernán Cuentas, Magda Benavides e Genaro Ledesma. O sindicato foi reconhecido em 9 de novembro de 1978, mediante Resolução Divisional Nº 107-78-943200. Como primeiro secretário geral foi eleito Francisco Segura Risco, da Apra (Alianza Popular Revolucionaria Americana), mas depois foi substituído por Jesús Paredes Zegarra.

Em novembro de 1979 declaramos nossa primeira greve pela solução de nossa pauta de reivindicações. Antes de seu início o governo ordena a perseguição e detenção de nossos dirigentes, delegados e ativistas de base, que são conduzidos ao quartel de La Breña, na cidade de Moquegua, e de lá à Segurança do Estado em Lima. Frente esta represália os trabalhadores tomam a decisão de iniciar uma greve antes do prazo estabelecido. A greve é duramente reprimida, inclusive foi declarado estado de emergência e o exército ocupou o acampamento minero. Os trabalhadores foram obrigados a embarcar nos ônibus para ir ao centro de trabalhos, e os que resistiam eram levados presos e enviados ao quartel Samegua. No final, a forte repressão consegue quebrar nossa greve e 105 companheiros são despedidos, entre eles todos os dirigentes e delegados.

Os novos dirigentes organizam uma nova greve geral em 1980 pela nossa Pauta de Reivindicações e conseguimos a nivelação dos nossos benefícios com os trabalhadores de Toquepala e Ilo que são as outras áreas da empresa mineradora. Em 1981 realizamos outra greve conjunta com Ilo e Toquepala pela reposição dos despedidos que durou 45 dias, com uma nova marcha de sacrifício a Arequipa; ao final conseguimos a reposição de dez por cento deles.

Fomos protagonistas na formação da Federação de Trabalhadores da SPCC (Southern Peru Copper Corporation), incluídos os sindicatos das empresas trceirizadas. A federação, sem dúvida não teve a atividade protagonista que desejamos por responsabilidade de seus principais dirigentes. Assim realizamos uma paralisação de 48 horas pelo reconhecimento da Pauta, encabeçado por Santos Dávila Bravo, de nossa base.

Participamos também, nas duas históricas greves nacionais pela Pauta Nacional de Mineração, convocadas pela Federação Nacional de Mineração, em 1988 e 1989, onde nosso sindicato teve um papel destacado encabeçando e dirigindo a greve no sul. Em Cuajone a greve se deu com bloqueios desde o hospital até os edifícios do acampamento; ninguém saía nem entrava no acampamento. Planificamos uma estratégia para garantir a greve na base e participar na marcha de sacrifício. Para isso, o Comando de Greve se dividiu em dois grupos onde incluímos as companheiras do “Comité de Damas”, que chegaram a desempenhar um papel preponderante na preparação da luta comunitárias, tanto na cidade de Arequipa como na base. Outra vez marchamos à cidade de Arequipa, com as bases de Toquepala e Ilo, e voltamos a receber a solidariedade do povo desta cidade. Na primeira greve perdeu a vida o companheiro Oviedo da base de Toquepala. Na segunda greve, nossa forma de organização e disciplina se manteve e até realizamos uma greve de “fome”.

A greve fracassa e se viu uma contra-ofensiva de toda a patronal minera que, sob a proteção do autogolpe de Fujimori de 5 de abril de 1992, desencadeou uma onda de demissões massivas, o que em particular nos chega a afetar porque centenas de lutadores de nossa base são jogados na rua. Nestas circunstâncias, nosso Sindicato se manteve em pé defendendo em meio ao retrocesso o pouco que nos restava de direitos. Mesmo nestas circunstâncias os dirigentes, por dignidade e princípios, nunca assinaram a chamada “paz laboral” que a empresa nos queria impor.

Em memória do companheiro Santos Dávila Bravo
 
Santos Dávila Bravo foi um dos mais lúcidos e conseqüentes dirigentes de nosso Sindicato, muito valorizado pelos trabalhadores e pela comunidade de Cuajone. Os mesmos representantes da empresa chegaram a mostrar-lhe um grande respeito. Além disso, participou ativamente na vida política da cidade. Em 1999, quando Santos e um grupo de companheiros se preparavam para reativar o Sindicato, o companheiro morre em um estranho acidente de mina não esclarecido até o dia de hoje. Com o companheiro desaparece não somente o melhor dirigente que teve nosso Sindicato e quiçá a classe operária, e a vanguarda que ele liderou ficou desarticulada. Depois de treze anos de retrocesso e agora com um Sindicato composto por uma nova geração de trabalhadores, hoje tentamos nos reencontrar com nossa história e o glorioso exemplo deixado por uma geração de dirigentes que deram renome a nossa organização sindical e honraram a classe operária ao longo do caminho da luta por nossa emancipação definitiva da exploração capitalista.

Tradução: Jéssica Augusti

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