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quinta-feira, março 28, 2024

Termina a heróica luta dos trabalhadores Ssangyong Motors

Escrito por Young-su Won, membro do Grupo pela Construção de um Partido dos Trabalhadores Socialistas da Coréia do Sul. Para ver fotos e notícias da Coréia, visite a Midia Chungchung: http://www.cmedia.or.kr/

 

6 de agosto de 2009

 

Hoje, 6 de agosto, após dois dias de duro e desumano ataque contra os trabalhadores em greve, o sindicato e a gerência da empresa mantiveram a negociação final, alcançando um acordo: o sindicato aceitou parte dos cortes propostos, salvando aproximadamente a metade dos empregos dos grevistas. O resto solicitará a aposentadoria voluntária, licença sem vencimento por tempo indeterminado, ou aceitará outro posto de trabalho em outros setores da empresas dos novos acionistas.

 

Han Sang-gyun, dirigente do sindicato, pediu desculpas aos companheiros grevistas por não ter sido capaz de barrar todo o plano de “corte de pessoal” da empresa. Solenemente disse que as cicatrizes da luta não serão esquecidas, afirmando que lutou com toda sua força para evitar que os trabalhadores fossem cooptados pelo capital.

 

Esta tarde, os grevistas, incluindo aos dirigentes sindicais, foram detidos pela polícia. Mais de 100 trabalhadores serão indiciados. No caminho às delegacias, os trabalhadores sentiram as gotas de chuva que eles tinham esperado tanto tempo.

 

No entanto, os trabalhadores da [a empresa automotriz] Ssangyng fizeram todo o possível, durante a ocupação de 77 dias. Ainda que não tenham atingido uma vitória completa, estes heróicos guerreiros da classe operária merecem a homenagem dos trabalhadores no mundo capitalista.

 

5 de agosto de 2009

 

Uma guerra de classes no meio da crise econômica: os trabalhadores de Ssangyong Motors ocupam a fábrica contra as demissões.

 

Hoje, 5 de agosto, a batalha de Ssangyong chega a sua etapa final. Esta manhã, milhares de policiais antidistúrbios, com forças especiais de polícia totalmente equipadas, trabalhadores a favor de empresa e capangas contratados começaram um ataque total contra os trabalhadores grevistas, na fábrica de Ssangyong Motors, em Pyongtaek. Do ar, três helicópteros da polícia jogavam bombas de gás lacrimogêneo, e no chão, as equipes da polícia antidistúrbios cercaram cada fabrica que os trabalhadores tinham ocupado, os atacando com canhões de água equipados com gás lacrimogêneo.

 

Desencadeou-se uma verdadeira guerra contra os grevistas. Foram 76 dias desde o início da greve, e dezoito dias desde que a polícia antidistúrbios começou seus ataques, com uma trégua durante a negociação final, entre os dias 30 e 31 de julho. Neste período, a gerência e capangas contratados cortaram o fornecimento da água e o gás durante mais de duas semanas e, depois que foi interrompido o diálogo, cortaram também a eletricidade. Assim, conduziram os grevistas a uma situação extrema, suportando fome, sede e falta de energia.

 

O pano de fundo: dos “erros empresariais” à bancarrota

 

O impacto da crise financeira global golpeia pesadamente à economia sul coreana e, as vítimas imediatas são os trabalhadores. Em todo o país uma dura onda de demissões varreu as fábricas, tirando os empregos de muitos trabalhadores. Em resposta, os trabalhadores começaram sua resistência para defender seus empregos e seu sustento.

 

Em Pyongtaek, a 50 quilômetros ao sul de Seul, Ssangyong Motors quebrou outra vez (as quebras anteriores foram em 1998 e 2004). Após a bancarrota da Daewoo, que controlava a Ssangyong, a empresa passou às mãos de Shanghai Motors, em 2004. No entanto, em princípios de janeiro, após anos de má administração, a empresa apresentou novamente uma solicitação de falência.

 

Os trabalhadores estavam furiosos com a gerência, sobretudo os da Shanghai Motors, porque estavam contra a transferência do controle da empresa para uma automotriz menor e tecnologicamente mais atrasada. A direção da Shanghai nunca cumpriu sua promessa de grandes investimentos, mais sim transferiu a sua tecnologia mais avançada para a sua matriz na China. Os trabalhadores também estavam furiosos com o governo coreano, que conhecia a dinâmica desta situação absurda e não fez nada para evitar que a crise se instalasse.

 

No entanto, todas as consequências desta má política foram transferidas aos trabalhadores. A suposta “solução” sustentada pela gerência era uma futura reestruturação da empresa incluindo demissões em massa. A direção propôs um corte de 2,656 postos de trabalho sobre um total de 7.500 trabalhadores.

 

Uma nova direção sindical combativa

 

O sindicato dos trabalhadores de Ssangyng recusou a oferta da empresa, sobretudo sob a nova direção, eleita em 5 de dezembro de 2008. Desde o início, a nova direção começou uma luta para instalar tendas na fábrica.

 

Historicamente, a seção de Ssangyong Motors, filiada ao Sindicato Coreano dos Trabalhadores Metalúrgicos (KMWU – sigla em inglês), era uma das mais débeis, comparada com as seções combativas de outras empresas automotrizes, como Hyundai ou Kia. Ainda que o sindicato pertencesse ao ramo dos trabalhadores metalúrgicos da combativa KCTU, a seção dos trabalhadores de Ssangyong era dominada por direções corruptas e propatronais que preferiam “o diálogo” às greves e a luta.

 

No entanto, quando a crise se aproximou, a base operária se uniu para salvar seus empregos, para além das divisões e conflitos internos no passado. Considerando a magnitude do impacto da crise e suas lutas subsequentes, os trabalhadores sentiram a necessidade de uma direção forte que pudesse lutar contra os ataques da gerência e do governo. Este foi um ponto importante de inflexão da luta dos trabalhadores.

 

Da greve parcial à ocupação

 

No início de abril passado, quando a gerência propôs despedir 2,656 trabalhadores, o sindicato recusou a oferta e se inicia uma longa luta. No dia 8 de maio, a empresa informou seu plano de demissões ao escritório local do Ministério de Trabalho. Em protesto, o sindicato mobilizou o escritório central da empresa, na Coréia. Neste período, realizaram-se várias greves parciais.

 

Enquanto, a gerência propunha um programa de demissões voluntárias para dividir os trabalhadores. Sob coação, pelo menos de 1.700, dos 5.000 trabalhadores do setor de produção, solicitaram a aposentadoria antecipada. Entre eles, capatazes e delegados sindicais a favor da empresa. No entanto, a direção da gerência insistiu na demissão dos 960 empregados que sobraram.

 

No dia 9 de maio, três dirigentes sindicais começaram um “acampamento” em cima da principal chaminé, no meio da fábrica. Estes dirigentes pintaram a entrada da chaminé, tornando pública sua determinação de ganhar a luta. E o mantiveram durante mais de dois meses.

 

Finalmente, no dia 21 de maio, o sindicato decidiu pela ocupação da fábrica e uma greve por tempo indeterminado. Milhares de sindicalistas uniram-se a greve e ocuparam a fábrica inteira de Pyongtaek. Diante da ocupação repentina da fábrica, os gerentes foram impedidos de entrar nela. E teve muito apoio dos grupos políticos, outros sindicatos, movimentos sociais e grupos da comunidade que se uniram à luta e ficaram na fábrica com os trabalhadores até que começou o bloqueio da polícia na manha do dia 26 de junho.

 

Comitê de Apoio das Famílias

 

Desde o dia 13 de maio, as mulheres dos trabalhadores grevistas começaram a organizar-se em apoio à greve. No início, as mulheres e os filhos estavam impressionados com o ataque da empresa sobre trabalhadores, sem clareza sobre o que fazer. Muitas famílias foram duramente atingidas pela falência da empresa, vivendo com menos da metade do salário mensal como consequência das greves.

 

Rapidamente, como os trabalhadores estavam prontos para a greve, algumas mulheres decidiram se unir a luta. Distribuíram panfletos e foram às reuniões do sindicato, não individualmente senão como um grupo organizado. Juntaram-se aos protestos com os sindicalistas, sobretudo mobilizando o apoio de comunidade.

 

Desde o início da ocupação, as mulheres e os filhos uniram-se às reuniões da tarde, em apoio à luta de trabalhadores. No curso das atividades do Comitê de Apoio da Família, estas mulheres desempenham o papel fundamental de estender a mensagem dos grevistas à população.

 

Os sindicatos: KMWU e KCTU

 

A maioria dos líderes sindicais nacionais visitou a fábrica expressando seu apoio à ocupação da Ssangyong Motors. Nos dias 19 e 20 de junho, o sindicato dos trabalhadores metalúrgicos KMWU realizou uma manifestação em Seul, em protesto contra a política do governo contra os trabalhadores.

 

No entanto, o movimento dos trabalhadores tinha sido bastante desmobilizado e fragmentado, recentemente. Assim, enquanto a direção da KCTU acentuou retoricamente a solidariedade com os trabalhadores da Ssangyong, de fato, sua capacidade real para conduzir uma luta nacional está enormemente debilitada. A atual direção substituiu à anterior que foi forçada a renunciar como resultado de um escândalo de assédio sexual por um dirigente da KCTU. A crise acentuou-se com os esforços de alguns líderes do KCTU para encobrir o escândalo.

 

Deste modo, os trabalhadores grevistas tinham poucas expectativas no apoio organizacional e sistemático do KCTU, tal como uma greve regional ou no nível de toda a indústria, sem mencionar uma greve geral nacional.

 

A rotina diária da ocupação

 

Os trabalhadores organizaram-se como um exército. Como o governo e a gerência consideraram “ilegal” a ocupação, um ataque da polícia era provável, a qualquer momento. Sob uma situação aparentemente pacífica, mas internamente tensa, os trabalhadores grevistas, organizados em grupos de defesa, viviam juntos, comiam juntos e faziam reuniões juntos.

 

Além disto, em preparação contra um possível ataque, os trabalhadores treinavam a eles mesmos em sessões rotativas, de manhã e de tarde. Ao mesmo tempo, tinham assembléias de discussões democráticas, para compartilhar a informação sobre a situação e o processo de negociação, o plano de luta do sindicato, etc.

 

Nas assembléias diárias da tarde, tinham atividades culturais de música, dança e espetáculos para mostrar a solidariedade com os grevistas. As músicas e os bailes animavam os trabalhadores e suas famílias, que também se uniam às reuniões e tinham a possibilidade de ler cartas e fazer suas próprias declarações.

 

Começa a batalha final

 

Como a ocupação continuava, a gerência começou a pôr em prática o plano de retomar a fábrica pela força. Contrataram o chamado “pessoal da segurança” e convocaram, com ameaças, os trabalhadores que não estavam na lista de demissões. Primeiro, rodearam a fábrica e bloquearam as portas de entrada, com a ajuda de milhares de policiais antidistúrbios. Assim, a partir do início de julho, a ocupação ficou isolada.

 

No dia 22 de julho, a polícia antidistúrbios e os capangas da gerência invadiram vários setores da fábrica, ante a resistência dos grevistas. Como a direção retomou alguns edifícios, incluindo o escritório central, a fábrica ficou dividida entre o “bloco da empresa” e o “bloco da ocupação”. Ainda que a polícia antidistúrbios e os capangas contratados atacassem os grevistas, a ocupação das seções de pintura, cheias de materiais inflamáveis, era uma vantagem estratégica para os grevistas.

 

Ao final de julho, a batalha continuava dia a dia, dentro e ao redor da fábrica. Ainda que os trabalhadores estivessem armados com tubos de aço, cocktails Molotov e estilingues eram superados pela enorme força física da polícia e dos capangas da empresa. A cada dia, os helicópteros da polícia sobrevoavam a fábrica atirando gás lacrimogêneo sobre os trabalhadores nos telhados da fábrica. As substâncias químicas tóxicas prejudicaram muitos trabalhadores. E os capangas da empresa usaram indiscriminadamente estilingues com grandes parafusos contra os grevistas.

 

Nessas condições desfavoráveis, sem energia nem água, os trabalhadores sobreviveram comendo arroz. Diante destes ataques brutais, os trabalhadores foram disciplinados e mostraram-se bem organizados para os combates diários.

 

Os trabalhadores resistem e há solidariedade

 

Quando este ataque em grande escala se desencadeou, o KCTU mobilizou o apoio aos trabalhadores: grupos políticos e movimentos sociais reuniram-se na frente da fábrica. Trouxeram água e medicamentos, mas a gerência impediu qualquer tipo de ajuda, com o apoio de polícia.

 

Nos dias 25 a 29 de julho, o KCTU sustentou reuniões nacionais de trabalhadores em apoio aos grevistas de Ssanyong. Mas as passeatas de solidariedade para a fábrica foram bloqueadas pela polícia antidistúrbios e, no confronto, sofreram um ataque de helicópteros combinado com um ataque terrestre com canhões de água. Muitos trabalhadores foram detidos e feridos.

 

No entanto, o acampamento do Comitê de Apoio da Família e outros grupos do movimento continuaram tentando entregar a água e os medicamentos, mantendo reuniões, coletivas à imprensa, e vigílias à luz das velas. Também, centenas de trabalhadores e ativistas passaram suas férias anuais acampados diante da fábrica.

 

Hoje, os capangas da empresa retiraram as tendas desses acampamentos, exercendo a violência sobre os trabalhadores, os ativistas e suas famílias.

 

A ofensiva final após um diálogo enganoso

 

Diante da pressão crescente da comunidade e da opinião pública, a direção da empresa começou um diálogo nos dias 30 e 31 de julho. No entanto, a empresa tinha uma única opção em mente: a rendição incondicional do sindicato e a aceitação das demissões. Isto era inaceitável para o sindicato e o diálogo final foi rompido.

 

Logo que as conversas foram sendo interrompidas, a empresa cortou a fonte de energia para a fábrica, e em 2 de agosto, declarou o ultimato. A partir de 3 de agosto, a empresa começou o ofensiva final, em cooperação com a polícia antidistúrbios. Durante a batalha, os capangas contratados usaram seus estilingues sob a proteção dos escudos da polícia antidistúrbios.

 

Nos dias 3 e 4, o assalto combinado vê-se ainda mais reforçado, e o ataque em massa de hoje retomou a maior parte dos blocos da fábrica, exceto o edifício da divisão de pintura. Durante o ataque, três trabalhadores caíram do telhado e ficaram seriamente feridos, e uma dezena de trabalhadores foi detida. A força especial da polícia usou uma violência extrema, incluindo armas de Taser (de choque elétrico), e escopetas de balas de borracha contra os trabalhadores.

 

Neste momento, 0s grevistas estão isolados no edifício da divisão de pintura, mas seguem a luta, apesar de todas as dificuldades. Em uma entrevista, o dirigente Hahn Sang-gyun proclamou: “Se a gerência e o governo não têm nenhuma intenção de ter um diálogo, que nos ataque. Mas nunca nos renderemos”.

 

Os trabalhadores de Ssangyong Motors ganharam a luta!

 

Sob a nuvem escura da crise econômica, todo o fracasso da empresa é descarregado sobre os ombros dos trabalhadores. Sem a resistência, os trabalhadores, sobretudo os trabalhadores temporários, as trabalhadoras e imigrantes, são alvos fáceis e facilmente vitimados. No entanto, os trabalhadores da Ssangyong levantaram-se para lutar contra as demissões.

 

Durante mais de dois meses, ocuparam a fábrica, combateram contra a força combinada da polícia, da empresa e dos capangas. A ampla solidariedade que emanou das suas famílias, dos outros trabalhadores, dos ativistas dos movimentos sociais e das comunidades religiosas demonstrou a legitimidade de sua luta. As batalhas de Ssangyong Motors foram uma guerra pelo poder entre o trabalho e o capital.

 

Ainda que os trabalhadores da Ssangyong fossem derrotados sob o bombardeio da força bruta, eles já ganharam a batalha. A empresa, negando-se a reconhecer os trabalhadores como seres humanos, quer atribuir o seu fracasso à luta dos trabalhadores. Mas os trabalhadores de Ssangyong expuseram a verdade nua e crua através de sua luta heróica, de modo que a classe operária e as pessoas pudessem testemunhar a verdade. Desta vez, podemos perder uma batalha, mas, em última instância, a classe operária ganhará a guerra!

 

Os trabalhadores da Ssangyong Motors na ocupação da fábrica ainda gritam com seus punhos fechados: A demissão é uma pena de morte! Derrotemos as demissões!

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