sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Trotsky: o terrorismo individual e os assassinatos de Rasputín e Nicolas II

Este artigo está datado em 14 de novembro de 2018. A presente tradução foi extraída do Writings of Leon Trotsky (1938-1939) (Escritos de Leon Trotsky), que Pathfinder editou com a permissão de Harvard College Library, Cambridge, EUA. Para mais detalhes sobre a execução da família real consulte Trotsky´s Diaryn Exile (Diário de Leon Trotsky no exilio), Harvard University Press, 1958; nas anotações dos dias 9 e 10 de abril de 1935.

Me perguntaram qual papel pessoal desempenhei no assassinato de Rasputin[1] e na execução de Nicolas II. Duvido que este problema, já que pertence à história, possa interessar a imprensa. Trata de coisas que aconteceram há muito tempo.

Eu nada tive a ver com o assassinato de Rasputín. Rasputín foi assassinado em 30 de dezembro de 1916. Nesse momento minha esposa e eu nos encontrávamos a bordo de um barco que havia zarpado da Espanha rumo aos Estados Unidos. Esta separação geográfica basta para demonstrar que eu não tive participação no assunto.

Mas existe também razoes políticas profundas. Os marxistas russos não tinham nada em comum com o terrorismo individual. Foram os organizadores do movimento revolucionário de massas. O assassinato de Rasputín foi, na realidade obra de certos elementos que rodeavam a corte imperial. Participaram diretamente no assassinato, entre outros, o deputado ultrarreacionário monárquico da Duma[2], Urishkevich, o príncipe Yusupov, parente da família real, e outras pessoas dessa índole. Parece que um dos Grandes Duques, Dimitri Paylovich, teve participação direta.

O propósito dos conspiradores era salvar a monarquia, liquidando um “mal conselheiro”. O nosso era liquidar a monarquia junto com todos os seus conselheiros. Jamais nos ocupamos de aventuras de assassinatos individuais, mas da tarefa de preparar uma revolução. Como é sabido, o assassinato de Rasputín não salvou a monarquia. A revolução veio dois meses depois.

A execução do czar foi outra coisa totalmente diferente. O Governo Provisório[3] havia prendido Nicolas II; e o manteve sob custódia, primeiro em Petrogrado, depois em Tobolsk. Mas Tobolsk é uma cidade pequena, sem indústrias nem proletariado, e não era residência segura para o czar; era de se esperar que os contrarrevolucionários tentassem resgatá-lo para colocá-lo à cabeça da Guarda Branca[4]. As autoridades soviéticas transferiram o czar de Tobolsk a Ekaterinburgo (nos Urais), um importante centro industrial. Lá se podia garantir uma custodia adequada.

A família real morava em uma casa particular e gozava de certas liberdades. Houve uma proposta de fazer ao czar e a czarina um julgamento público, mas não prosperou. Enquanto isso, o desenrolar da guerra civil preparou outra coisa.

Os Guardas Brancos rodearam Ekaterinburgo e em qualquer momento poderiam entrar. O objetivo fundamental era liberar a família imperial. Nessas circunstancias o soviete local decidiu executar o czar e sua família.

Nesse momento eu me encontrava em outro setor da frente e, por mais estranho que pareça, fiquei sabendo da execução depois de uma semana ou mais. No meio do turbilhão de acontecimentos, o fato não me impressionou muito. Jamais me preocupei em averiguar “como” ocorreu. Devo agregar que demonstrar um interesse especial nos assuntos da realeza, governante ou déspota, evidência certo grau de instinto servil. Durante a guerra, provocada especialmente pelos capitalistas e latifundiários russos com a colaboração do imperialismo estrangeiro, morreram centenas de milhares de pessoas. Se, entre eles estão os membros da dinastia Romanov, é impossível não ver nisso um pagamento parcial dos crimes da monarquia czarista. O povo mexicano, que foi muito duro com o Estado imperial de Maximiliano, possui uma tradição a esse respeito que não deixar nada a desejar[5].

Notas:

[1] Grigori Rasputin (1871-1916), um monge proveniente de uma família de camponeses pobres, chegou a ter tal ascendência sobre o czar e a czarina que se converteu na principal influência política da corte. Sua ignorância e corrupção foram lendárias. Foi assassinado por um grupo de nobres para tirar a família real de sua influência.

[2] A Duna era o parlamento russo na época czarista.

[3] O Governo Provisório se estabeleceu na Rússia com a Revolução de Fevereiro de 1917. O poder estava nas mãos dos burgueses liberais (Partido Democrático Constitucional ou Cadete), mencheviques e social revolucionários (populistas).

[4] Guardas Brancos, ou “os brancos”, era o nome que se deu as forças contrarrevolucionárias russa depois da Revolução de Outubro.

[5] Fernando Maximiliano José (1832-1867), Arquiduque da Áustria, foi coroado imperador do México em 1864, quando a França havia conquistado parcialmente o país. Napoleão III teve que retirar suas tropas por pressão dos EUA e Maximiliano foi derrotado pelas forças mexicanas de Juárez, julgado por uma corte marcial e fuzilado.

Fuente: https://www.magazine.pstcolombia.org/2016/04/la-posicion-marxista-acerca-del-terrorismo-individual-leon-trotsky/

Tradução: Túlio Rocha

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares