qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Centenário do fim da Primeira Guerra Mundial

Em novembro de 1918 terminou a Primeira Guerra Mundial. Junto com uma de suas consequências, a Revolução Russa, significou o início de uma nova época na história da humanidade.

Por: Alejandro Iturbe

Na guerra enfrentaram-se a “Entente” (Inglaterra, França e Rússia) contra os “impérios centrais” (Alemanha e Áustria-Hungria), aliados do império turco. Os combates desenvolveram-se principalmente na Europa, mas houve cenários bélicos na Ásia e África. Foram incorporados novos e modernos equipamentos. Participaram cerca de 70 milhões de soldados e o custo humano foi assustador: quase 10 milhões de mortos e outros tantos feridos e mutilados. Foi uma verdadeira tragédia para a humanidade.

Uma guerra Interimperialista

Para entender esse conceito marxista, é necessário retomar a análise de Lenin em O imperialismo fase superior do capitalismo (1916). Nesse livro, ele define o surgimento de uma fase distinta do capitalismo (o imperialismo), ao mesmo tempo superior e de decadência, caracterizada pelo surgimento e a exportação do capital financeiro, e a criação de grandes conglomerados bancário-industriais.

Sobre esta base, as potencias imperialistas, para assegurar mercados e recursos naturais às suas empresas, dominavam o resto das nações como colônias ou semicolônias. Algumas nações imperialistas não estavam satisfeitas com esta “partilha” e queriam ”rediscuti-la” belicamente, como a Alemanha, grande potência industrial, porém débil em possessões coloniais.

A guerra foi uma lamentável tragédia para a classe operária e para os setores explorados: os trabalhadores e camponeses pobres de ambos os lados se assassinavam entre si, aos milhões, para defender suas burguesias imperialistas. Esta tragédia foi resultado da traição da Segunda Internacional (Socialista) cujos principais partidos (o alemão e o francês) apoiaram seus respectivos países imperialistas e chamaram os trabalhadores a combater por eles. Uma política que Lenin denominou como “socialpatriotismo” e qualificou como “traição”. Para os trabalhadores, esta traição foi uma derrota tão importante como a própria guerra.

A batalha dentro da Segunda Internacional

Esta traição foi enfrentada por um setor minoritário de organizações e dirigentes, com duas alas. Uma era “pacifista”: seus objetivos limitavam-se a deter a guerra e assim acabar a com matança entre trabalhadores. Também acreditavam ser possível uma recomposição futura da Segunda Internacional.

A outra propunha a linha do “derrotismo revolucionário” (“a derrota do próprio imperialismo é o mal menor”) como meio de transformar a guerra interimperialista em uma guerra revolucionária dos trabalhadores e das massas contra sua própria burguesia. Lenin e os bolcheviques russos a encabeçavam, e também a integrava Trotsky (nesse momento, “menchevique de esquerda”), Rosa Luxemburgo e Karl Liebcknecht (líderes da ala esquerda do partido socialdemocrata alemão). Nesse marco, Lenin postulava a necessidade de construir uma nova organização internacional.

Ambos os setores confluíram na Conferência de Zimmerwald (Suíça), em setembro de 1915. Segundo palavras de Trotsky: “Parecia que todos os internacionalistas do mundo cabiam em apenas quatro automóveis”.  Da conferência, saíram algumas declarações e resoluções comuns contra a guerra, mas tratava-se de uma unidade tática, sem acordo estratégico entre ambas as alas.

É interessante ver as análises e perspectivas de cada setor. Considerando mecanicamente a realidade, a combinação entre a derrota objetiva (a guerra) e a grande derrota subjetiva (a falência da Segunda), havia que se preparar para um longo período de retrocesso e de afastamento da perspectiva estratégica da revolução socialista.

Lenin, ao contrario, a grande crise burguesa que a guerra representava, e as penúrias e sofrimentos que impunha aos trabalhadores e às massas, abriam as condições objetivas de uma situação revolucionária na Europa.

Consequente com isso começou a preparar os bolcheviques para intervir na revolução que poderia produzir-se na Rússia. A vida lhe deu razão: o processo revolucionário russo começou em fevereiro de 1917 e, com um sólido núcleo de alguns milhares de quadros e militantes, lucidez e firmeza estratégica, e habilidade tática frente às situações concretas, os bolcheviques ganharam a direção dos trabalhadores e dos camponeses pobres russos, tomaram o poder em outubro de 1917 e começaram a construção do primeiro Estado operário da história.

Pouco depois, fundaram a Terceira Internacional (Internacional Comunista), até hoje a maior tentativa de construir uma direção revolucionária internacional com peso de massas. Trotsky uniu-se aos bolcheviques e também teve um papel central na Revolução Russa e na construção da Terceira.

A guerra pariu outras revoluções. A mais importante foi a iniciada com a queda do Império Alemão (fins de 1918). Rosa Luxemburgo e Karl Liebcknecht tinham decisão revolucionária, porém, diferente de Lenin, não haviam construído uma sólida organização de quadros e militantes e sim uma corrente frouxa e débil. Por esta debilidade, a Liga Espartaquista (racha do partido socialdemocrata alemão) não teve as condições necessárias para dirigir essa primeira onda da revolução alemã até seu triunfo. Pagaram muito caro: Rosa e Karl foram assassinados em janeiro de 1919 pelo governo com maioria socialdemocrata.

Uma nova época

A guerra terminou com o triunfo da Entente e mudou o mapa político da Europa e outras regiões do mundo.  Fundiram-se os impérios alemão, austro-húngaro, turco-otomano e russo. A Alemanha foi submetida a duríssimas condições pelos vencedores, mas ante o fracasso de diversas ondas revolucionárias no país surgiu o nazismo, que voltaria a tentar “rediscutir” a hegemonia imperialista na Segunda Guerra Mundial.

A Inglaterra e a França saíram vitoriosas e ampliaram seus domínios coloniais, mas iniciaram um retrocesso estratégico diante da nova potência imperialista emergente: os Estados Unidos. A mudança essencial no mapa político mundial foi o nascimento da URSS, o primeiro Estado operário da história, um fator que marcou grande parte dos processos do século XX.

A combinação entre a Primeira Guerra e a Revolução de Outubro iniciou o que Lenin havia definido como “época de guerras, crises e revoluções”.  No século transcorrido, esta época expressou-se em diferentes relações de força da luta de classes, mas consideramos que seguimos dentro dela: as guerras, crises e revoluções estão na ordem do dia. Mas, um dos elementos (a crise de direção revolucionária assinalada por Trotsky no Programa de Transição) transformou-se num fator determinante no curso dessas revoluções. Enquanto ela não se resolva, os processos revolucionários se verão frustrados ou “darão voltas em círculo”, na medida em que o capitalismo-imperialista submerge a humanidade em uma decadência e degradação cada vez maiores.

Acreditamos na plena vigência da estratégia da tomada de poder em nível nacional e na necessidade da revolução socialista internacional. Acreditamos também que a resolução da crise de direção, que ajude a avançar nesse caminho, passe pela construção de partidos revolucionários nacionais e uma Internacional revolucionária segundo o modelo da III Internacional (defendido por Trotsky ante o estalinismo, ao fundar a IV Internacional). A LIT-QI, com suas modestas forças, tenta intervir nos processos revolucionários a serviço desta urgente tarefa.

Tradução: Lilian Enck

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares