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sexta-feira, março 29, 2024

Sionismo na linha de frente sob Bolsonaro

Já na transição governamental, Jair Bolsonaro anunciou que cumprirá a promessa de campanha de transferir a Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém.

Por: Soraya Misleh

A confirmação foi feita em entrevista ao jornal Israel Hayom, como divulgado hoje. Uma sinalização evidente do compromisso sem máscaras com o sionismo que ajudou a elegê-lo – inclusive o “cristão”, que se utiliza da fé que serve de alento ao povo oprimido para manter viva a falácia das representações bíblicas sobre Israel.

O mito de que Israel é a terra prometida ou única democracia diante de bárbaros não sobrevive a qualquer análise histórica e da realidade minimamente séria. Mas, infelizmente, diante do oligopólio midiático vinculado ao poder e que mais confunde do que informa em relação à Palestina ocupada, segue a doutrinar desavisados. De olho nos seus interesses econômicos, o sionismo “cristão” esteve na linha de frente da campanha de Bolsonaro.

A sinalização de transferência da Embaixada para Jerusalém demonstra ainda a subserviência ao imperialismo sob Trump. Em dezembro de 2017, o presidente dos Estados Unidos gerou revolta global ao dar esse passo a que Bolsonaro se dirige agora.

Isso levou a uma nova onda de protestos no mundo e por parte de palestinos – cuja resistência é heroica há mais de 70 anos, desde a Nakba (a catástrofe com a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica). Sob pressão, Trump adiou em junho último a transferência por seis meses, embora tenha colocado uma nova instalação diplomática no local pretendido.

Capital histórica e indivisível da Palestina, Jerusalém hoje é o principal foco da política de expansão colonial sionista. Ordens de demolição de casas, humilhação, violência e expulsão dos palestinos compõem o trágico quadro de apartheid a que está submetida essa população.

A transferência da Embaixada representa a adesão plena a esse projeto. Não à toa o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, planeja vir à posse do presidente amigo, em 1º de janeiro próximo. Segundo reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em 30 de outubro, ele expressou a disposição em conversa telefônica com Bolsonaro após o fim das eleições gerais, na qual afirmou a certeza de “estreitamento de laços” entre Brasil e Israel.

O capitão da reserva agora Presidente da República – cujo amor por Israel é declarado – antecipara que, sob seu comando, mais acordos seriam feitos com a potência que ocupa a Palestina. O Brasil se tornou um dos cinco maiores importadores de tecnologia militar durante os governos Lula e Dilma e porta de entrada à indústria bélica sionista na América Latina.

Agora Bolsonaro parece querer galgar posições ainda mais vergonhosas na cumplicidade histórica brasileira com a limpeza étnica na Palestina. Cumplicidade esta demonstrada desde a recomendação da partilha da Palestina em um estado judeu e um árabe feita pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, sob a presidência do diplomata Oswaldo Aranha.  Um sinal verde à limpeza étnica que perdura até hoje.

A militarização que sustenta o apartheid, colonização e ocupação sionistas – e que extrapola o âmbito federal, com governos estaduais armando suas polícias também via acordos com Israel – não atinge apenas os palestinos, mas também promove o genocídio indígena e negro nas periferias brasileiras.

Bolsonaro afirmou agora que não tem nada contra os palestinos. Mas não só não reconhece seus direitos, como falta com a verdade. Chegou ao absurdo de denominá-los “terroristas árabes” em 2014, diante do massacre israelense em Gaza que matou 2.200 pessoas, entre as quais 530 crianças.

Diante inclusive da possibilidade de criminalização dos defensores do povo palestino – na esteira da tentativa de alterar a lei antiterrorismo para silenciar e reprimir os movimentos sociais e qualquer voz dissonante –, a resistência e solidariedade internacional se fazem ainda mais urgentes.

É mister unificar o repúdio a ações como essas sobretudo na América Latina e fortalecer em toda a região a campanha de boicotes, desinvestimento e sanções (BDS) a Israel, que contempla, entre as demandas fundamentais do povo palestino, o retorno dos milhões de refugiados às terras de onde foram e continuam a ser expulsos.

E, mais do que nunca, se inspirar na resistência heroica palestina, que há mais de 70 anos não se dobra, a exemplo das grandes marchas semanais que vêm ocorrendo há mais de sete meses em Gaza. Rumo à Palestina livre, do rio ao mar!

 

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