qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Uma verdadeira conspiração imperialista

Julian Assange, cofundador do WikiLeaks foi preso na quinta-feira, 11 de abril, após passar sete anos exilado na embaixada do Equador em Londres.  WikiLeaks ficou conhecido por publicar comunicações secretas de vários governos em particular do governo norte-americano, Assange também é acusado de “estupro presumido” na Suécia.

Por: Américo Gomes

Com esta prisão Lenin Moreno, entra para a lista de governos que foram eleitos apresentando-se como “progressistas” e acabaram demonstrando-se como grandes aliados, verdadeiros “cachorros do imperialismo”. Ele se junta a Evo Morales que recentemente entregou Cesare Batisti a polícia italiana.

Neste caso se chegou ao ponto de permitir que a polícia inglesa entrasse na embaixada equatoriana e prendesse Assange.  O governo britânico, em completa crise, pelas votações do Brexit, apresentou como uma vitória a prisão do fundador do WikiLeaks, e o ministro britânico do Interior, Sajid Javid ficou muito agradecido: “Estou satisfeito pela decisão do presidente Moreno e transmito-lhe os agradecimentos do Reino Unido por ele resolver esta situação”.

Os advogados de Julian Assange denunciaram que a prisão abre precedentes para mais ataques a direitos democráticos, liberdade de imprensa e individual. Com isso qualquer jornalista pode ser extraditado, para ser processado judicialmente em outro país, por ter publicado informações verdadeiras sobre este país.

Segredos imperialistas

A verdade é que WikiLeaks, assim como Eduard Snowden, cometeram um crime gravíssimo para os governos imperialistas: divulgar informações secretas. Para eles, mais grave que qualquer genocídio.

Os bolcheviques e Lenin sempre defenderam o fim das relações diplomáticas secretas entre os países e denunciavam que elas estavam a serviço dos interesses dos grandes capitalistas internacionais.  Logo após a Revolução Russa, de 1917, os bolcheviques revelaram os tratados secretos firmados pela Rússia czarista com as potências durante a Primeira Guerra Mundial, denunciando a política de anexações imperialistas de todos eles.

O stalinismo retomou a prática dos “tratados confidenciais”, que prejudicavam os trabalhadores e os povos do mundo, como o protocolo secreto do acordo Molotov-Ribertrop, que dividia a Polônia, o Báltico, Finlândia e Romênia entre nazistas alemãs e burocratas russos.

Trotsky dedicou todo uma parte do Programa de Transição a este tema, alertando que mesmo os governos burgueses considerados democráticos “param ao limiar dos trustes com seus segredos industriais e comerciais” [1] e defendem o princípio da “não intervenção” na administração do grande capital. “O segredo comercial, na época atual, é um complô constante do capital monopolista contra a sociedade[2]. Denunciava essa prática como “maquinações da exploração, da pilhagem, do engano”, anunciando como parte do programa revolucionário da classe operaria “A abolição do segredo comercial“, como o primeiro passo no sentido do controle operário e de um controle socialista da economia. Por isso, dizia, a exigência da nossa classe deve ser “Abaixo a diplomacia secreta!”.

Segredos de estado

O primeiro relatório que deu publicidade a WikiLeaks ocorreu em 2008 e se chamou “O Grito de Sangue” que detalhava a política do governo queniano para matar e desaparecer com jovens, incluindo dois advogados que realizavam a investigação.  Com esta divulgação ganharam o Prêmio Amnesty Internacional New Media em 2009.

Assange voltou às manchetes internacionais no início de 2010, quando o WikiLeaks publicou o vídeo de um ataque de helicópteros norte-americanos Apache (com visão noturna e sensores sensíveis de alvo) que matou 18 pessoas em Bagdá, em 2007. Entre os mortos estavam dois repórteres da Reuters. O vídeo era informação confidencial do Exército americano.

Neste mesmo ano, o grupo divulgou mais de 90 mil documentos secretos detalhando a campanha militar dos EUA no Afeganistão; 400 mil relatórios militares internos dos Estados Unidos das operações no Iraque; 250 mil telegramas confidenciais das embaixadas dos EUA, entre outros documentos.

Estas divulgações foram consideradas um crime inadmissível para o governo norte-americano, Assange passou a ser um inimigo declarado do governo dos Estados Unidos (que exigem sua extradição acusando-o de pirataria informática e conspiração) e de vários países imperialistas.

 I love Wikileekes[3]

Mas Assange está longe de ser um revolucionário bolchevique, para manter o seu negócio estabeleceu relações secretas também com governos burgueses e com empresas multinacionais. Na embaixada recebeu visitas ilustres como de Lady Gaga e de atores como John Cusack e Pamela Anderson.

Nos Estados Unidos como os democratas estavam no governo, e demonstraram que na defesa dos segredos de Estado atuam como os republicanos, Hillary Clinton, que era Secretária de Estado, tornou Assange seu arqui-inimigo pessoal. Em contra partida, sem se intimidar, dias antes da Convenção Democrata o WikiLeaks vazou um arquivo com 19.252 e-mails da direção do Comitê Nacional do Partido Democrata, com várias informações de negociatas dos Clinton e da direção democrata. Entre eles os que comprovavam que as primárias do partido forma manipuladas e que Bernie Sanders nunca teve chance.

Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, e que recentemente chamou este, em seu depoimento no Congresso, de “racista, vigarista e trapaceiro”, afirmou que nas eleições de 2016, Trump sabia das articulações e contatos de seu conselheiro Roger Stone com o Wikileaks para vazar e-mails que prejudicassem a campanha de Hillary, e que isso era feito em conluio com empresas ligadas ao Kremlin.

O WikiLeaks sempre negou falar com Stone. Mas o próprio Stone confirmou haver feito contato, durante a campanha, com Assange e com o clandestino hacker “Guccifer 2.0”, supostamente romeno e responsável pelos “grampos”.

Neste mundo cinzento de espionagem é difícil saber a verdade. Mas o fato é que Trump declarou em vários momentos: “WikiLeaks, amo WikiLeaks”, por exemplo, nas convenções da Pensilvânia e Ohio. E representantes WikiLeaks pediram a Trump Jr. que usasse sua influência junto do pai para garantir uma indicação de Assange como embaixador em Washington, com o objetivo de evitar sua prisão.

O alemão especialista em computação, Daniel Domscheit-Berg, que trabalhou no WikiLeaks, e escreveu o livro “Os bastidores do WikiLeaks“, é constantemente ameaçado por Assange, para que ele não divulgue informações de sua empresa, contradições de empresário que administra um “negócio” acima de tudo. Domscheit-Berg afirma que, por causa disso, todos os novos funcionários e colaboradores hoje têm de assinar uma cláusula de sigilo, com uma multa, para quem infringi-lo, de 12 milhões de libras.

Guerra jurídica

Agora várias batalhas jurídicas serão travadas, a primeira sobre a extradição de Assange, que pode durar meses ou anos, e muitas páginas e notícias nos jornais. A seguir o debate se Assange agia como jornalista e editor e, portanto, sobre proteção da Constituição dos EUA e a Primeira Emenda, ou como espião.

O governo dos EUA acusa Assange de espionagem e de ajudar a ex-analista do Exército, Chelsea Manning, a piratear ilegalmente “uma senha armazenada nos computadores do Departamento de Defesa dos EUA.”

Uma fronteira tênue, pois o norte-americano Edward Snowden, ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA) e da CIA, com as provas categóricas obtidas em seu trabalho, demonstrou que as agencias norte-americanos desenvolvem programas de vigilância em massa, monitorando e-mail, mensagens, facebooks e skypes, através de programas de vigilância global da NSA como o XKEYSCORE ou XKS[4] e o PRISM[5].

Assim como denunciou que a NSA coletou registros telefônicos de milhões de clientes da Verizon diariamente, um dos maiores provedores de telecomunicações dos Estados Unidos e que qualquer computador ou laptop pode ser acionado remotamente, em qualquer parte do mundo, pelos agentes da NSA. Inclusive esta agência mantém, na Alemanha, uma fábrica de softwares de invasão, onde contrata hackers de toda e Europa para escreverem códigos visando o acesso a celulares e outros dispositivos conectados, em uma grande operação de espionagem cibervigilância.

Pela ampla liberdade de informação

Liberdade para Assage, Manning e Snowden

É bastante provável que Julian Assange tenha ganhado vantagens pessoais e financeiras por toda divulgação que fez. No entanto, todo este material serviu para que os trabalhadores, de todo mundo, entendessem, mais uma vez, as mentiras e a corrupção de seus governos. Particularmente como estes ganham rios de dólares com armamento e negociatas nas guerras pelo mundo.

Manning e Snowden estavam corretos em divulgar estas informações que Assange e WikiLeaks receberam e distribuíram, como qualquer outro meio de divulgação. O material do Afeganistão, por exemplo, foi coordenando com jornais e revistas como o The New York Times, o The Guardian e a Der Spiegel. Assim como os documentos sobre a prisão de Guantánamo e a corrupção no Quênia. E fundamentalmente as informações eram verdadeiras.

Manning cumpriu sete anos de prisão, dos 35 de sua condenação, numa prisão militar, antes de ser anistiada por Barack Obama. Em março, foi novamente detida, por se recusar a ir a um tribunal testemunhar no processo da WikiLeaks. Snowden vive um auto exilio em Moscou. E agora Assange está preso.

Todos descobriram, da pior forma, que na defesa de suas informações secretas, Democratas anti-Bush não são diferente dos Republicanos, e mesmo durante o governo Obama as chamadas “quebras de segurança operacional” são violentamente reprimidas.

Por isso é uma obrigação de todas as organizações do movimento operário e popular lutarem pela liberdade e o fim da perseguição a Assange, Manning e Snowden. Suas prisões e perseguições significam mais um ataque às liberdades duramente conquistas pelas lutas dos trabalhadores em todo mundo.

[1] Programa de Transição

[2] Programa de Transição

[3] https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/12/internacional/1555095425_235074.html

[4] Programa Mundial de Vigilância da NSA que permite que seus analistas façam pesquisas em e-mails, conversas online e buscas de internet de milhões de pessoas ao redor do mundo.

[5] Mantido secreto desde 2007 até 2013 quando foi noticiado pelo The Guardian, com base em documentos de Edward Snowden. No qual empresas que fornecem serviços na Internet, coletam os dados de seus usuários para prover os serviços. Por exemplo: Gmail, Webmail, Skype e YouTube. Inclui histórico de pesquisas, conteúdo de e-mails, transferências de arquivos, vídeos, fotos, chamadas de voz e vídeo, detalhes de redes sociais e log-ins, com acesso direto aos servidores do GoogleFacebookApple, MicrosoftYahoo!AppleAOLPaltalk e outras gigantes da internet.

 

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