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quinta-feira, março 28, 2024

Por que a ultradireita ganha força?

Nos últimos anos, em muitos países as eleições têm sido marcadas pelo crescimento e até mesmo pela vitória de partidos e representantes da ultradireita. Ainda que demagogicamente se diga defensora do povo contra as elites, a sua principal marca, com distintas ênfases a depender de cada país, é um programa que tem como centro a xenofobia, o racismo, o machismo e o nacionalismo. Como se explicam esses resultados?

Por: Lena Souza

Ascensão da ultradireita institucional

Em países da União Europeia como Itália, Áustria, Hungria, Polônia, Suíça e Dinamarca, a ultradireita já governa ou faz parte de coalizões que estão no governo. Na Hungria e na Polônia, os governos de ultradireita estão no poder. No caso da Hungria, Viktor Orbán é primeiro-ministro desde 2010, através do partido Fidesz, que é, atualmente, o maior partido político do país. Na Polônia, o partido de Jaroslaw Kaczynski, Lei e Justiça (PiS), governa desde 2015, quando teve 37,6% dos votos.

Na Itália, em 2017, o Movimento 5 Estrelas ganhou 32% do eleitorado e, para governar, negociou uma coalizão com o partido da Liga, de ultradireita, formando o governo de Giuseppe Conte, primeiro-ministro que governa à sombra de dois vices: Luigi de Maio (líder do 5 Estrelas) e Matteo Savini (da Liga). No entanto, quem vem se impondo nessa coalização, com seu programa de ultradireita, é Savini, da Liga.

Na Eslovênia, em junho de 2018, Janez Jansa, líder do Partido Democrata (SDS), ganhou as eleições com 24,9% dos votos, mas não conseguiu coalizão com nenhum outro partido para governar.

Na França, na Alemanha e na Holanda, os partidos de extrema direita foram derrotados nas eleições de 2017, mas cresceram em relação a outros anos. Marine Le Pen ficou em segundo lugar na França. Na Alemanha, o Alternativa para Alemanha (AfD), partido político liderado por Jörg Meuthen e Alexander Gauland, obteve 12% nas eleições de setembro de 2017, tornando-se a terceira força política do país. E  o Partido para a Liberdade, de Geert Wilders, se tornou em março a segunda força do Parlamento holandês.

Na Suécia, o Partido dos Democratas Suecos (SD) alcançou 17,6% dos votos, a terceira força, e com mais de cinco pontos acima dos 12% que obteve na eleição de 2014.

Outros países em que a direita cresceu nas últimas eleições e conseguiu entre 10% e 20% dos votos foram Finlândia (17,7%), Letônia (16,9%), Eslováquia (16,6%) e Bulgária (13,2%).

E  na Espanha, que ainda não tinha entrado nessa lista de países, a ultradireita, através do Vox, também conseguiu 12 cadeiras no parlamento de Andaluzia em novembro de 2018, passando de cerca de 18.000 votos nas eleições regionais de 2015 para quase 400.000 votos nas eleições de 2018.

Como consequência, as previsões para o parlamento europeu, que terá eleições de 23 a 26 de maio de 2019, são também de crescimento da ultradireita.

Além dessa realidade na Europa, há os Estados Unidos, onde já em 2016 ganhou Trump que, ainda que tenha sido eleito pelo Partido Republicano, deu voz a propostas nitidamente defendidas pela ultradireita. E, por fim, em 2018, foi a vez de Bolsonaro no Brasil, que cresceu e ganhou as eleições com uma agenda de ultradireita assumida e referenciada em governos como Trump nos EUA e Orbán na Hungria.

A partir desses e de outros resultados, não há dúvida de que a ultradireita tem ganhado espaço eleitoral na Europa e em outros países no mundo. Mas quem é essa ultradireita e por que está conseguindo esses resultados?

Uma “ultradireita institucional”

A ultradireita que hoje está crescendo busca chegar ao aparato estatal através das eleições, com um programa que seduz setores médios e até mesmo pequeno-burgueses, que veem seu nível de vida cair com a crise. Ela se apresenta para os/as trabalhadores/as e setores mais pobres que estão sendo massacrados como alternativa à esquerda e à direita liberal.

Trata-se de um programa que, no que toca à crise econômica, aprofunda os ataques sobre os de baixo para salvar os de cima. Mas vem disfarçado com propostas racistas, xenofóbicas, machistas e nacionalistas que ocupam um papel central em suas campanhas e são defendidas como resolução dos problemas sociais, econômicos e, de acordo com eles, morais que vive a sociedade. Porém, na realidade são concepções que colocam os pobres em confronto, dividindo e enfraquecendo a classe trabalhadora nos âmbitos nacional e internacional. Um exemplo disso é culpar os imigrantes pela falta de emprego ou deterioração dos serviços de saúde e proteção social nos países.

Essa ultradireita tem como objetivo destruir a democracia burguesa e substituí-la por um regime autoritário. No entanto, contraditoriamente, os representantes da ultradireita são obrigados a lançar mão da democracia burguesa, através das eleições, para chegar ao governo, e a utilizar o Parlamento para aprovar suas leis; por isso são chamamos de “ultradireita institucional”. Isso não significa que essa ultradireita deixe de ser perigosa e que grupos e elementos diretamente fascistas não se aproveitem de seu crescimento para buscar se organizar e se fortalecer, mas diferenciamos essa ultradireita do fascismo.

Não somos a favor da generalização que faz a maioria da esquerda de que tudo é fascismo, pois essa caracterização justifica sua política de frente única com organizações e partidos e/ou apoio a governos traidores que têm como objetivo desviar a luta direta para as eleições, com propostas de reformas que mantêm tudo como está.

Por isso, além da caracterização real dessa ultradireita, é também fundamental entender porque ela cresce e ganha espaço eleitoral em vários países.

O que explica esse crescimento?

Como pode ser que partidos e políticos que defendem revogar a memória histórica de sangrentas ditaduras fascistas do passado, que não aceitam a discussão de gênero, que são capazes de fechar as fronteiras para os imigrantes, que têm propostas nitidamente racistas, estejam crescendo? Como pode ser que partidos que há algumas décadas não conseguiam sequer representação parlamentar estejam agora ganhando governos?

A maioria da esquerda explica essa realidade dizendo que há uma ofensiva da burguesia e uma onda reacionária, na qual os/as trabalhadores/as deram um giro à direita e estão em crise ideológica, o que caracteriza o trinfo da reação. Essa explicação subjetiva, que não utiliza os ensinamentos do marxismo de fazer as análises partindo da existência para a consciência, nada mais é que um argumento justificativo para explicar a sua completa capitulação à estratégia reformista, de manutenção do sistema de exploração capitalista, com um pouco da maquiagem que chamam de justiça social ou melhor distribuição de renda.

Nós não temos essa opinião. Acreditamos que a explicação de fundo está relacionada com duas questões:

A polarização da luta de classes

A crise econômica de 2007-2009 abriu a fase descendente da economia e trouxe um desequilíbrio para o capitalismo mundial, pois coloca em disputa a questão de quem vai pagar pela crise, provocando atritos e polarização entre ricos e pobres. Em todo o mundo, a burguesia, que nunca pagou por nenhuma crise, também não quer pagar pela atual e procura jogar nas costas dos/as trabalhadores/as e do povo pobre os seus custos, resultando em uma ofensiva do imperialismo contra a classe trabalhadora, tanto em países periféricos e dominados, que são os primeiros, como também em países centrais. Dessa forma, ainda que de maneira desigual, essa instabilidade se apresenta em todos os continentes.

A ofensiva vem através de reformas e ajustes, que na prática significam um ataque profundo ao padrão de vida das massas, levando a uma grande insatisfação da população trabalhadora e do povo pobre em geral.

No entanto, os ataques da burguesia estão sendo respondidos, embora com ritmos distintos, pela reação do movimento de massas, estabelecendo uma polarização na luta de classes, um enfrentamento entre a revolução e a contrarrevolução.

Essa reação se concretiza em greves e manifestações radicalizadas, como vimos em países como a Grécia em 2015 e 2016 e também na França, em 2016, contra a reforma trabalhista, e atualmente, com o movimento dos coletes amarelos. Na Europa, a Grécia foi o primeiro país periférico onde os planos da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) foram implementados para garantir o pagamento das dívidas do Estado para com o capital financeiro, significando um ataque brutal aos direitos da classe trabalhadora e à assistência social do Estado. Porém o ajuste, além de ser imposto aos países periféricos, também chegou a países centrais como a França. E a reação das massas na França é um dos maiores exemplos das vitórias e derrotas, dos retrocessos e retomadas da luta que essa polarização da luta de classes provoca.

Além dos países europeus que vêm chamando a atenção para o nível de reação do movimento de massas, as lutas estão acontecendo com ritmos diferentes, vitórias e retrocessos, em muitos países de todos os continentes, como na Argentina, no Brasil e na Costa Rica, na América Latina; em países da África, como Sudão e Congo; e também na Ásia, como podemos ver nas lutas na Índia neste janeiro de 2019.

Essa polarização, com enfrentamentos mais fortes e violentos, abre espaço para as posições que se confrontam à direita e à esquerda para a resolução da crise. Isso explica o crescimento das alternativas eleitorais de direita com suas propostas para salvar as massas da crise estabelecida.

Mas isso não significa, como dizem os reformistas, uma “onda conservadora”, onde a reação triunfa e as massas dão um giro ideológico à direita. As massas lutam com todas as suas forças, com novos métodos e até questionando as velhas direções. Sofrem derrotas, voltam a lutar, mas, como não conhecem outro caminho que não seja a democracia burguesa, colocam suas esperanças na mudança de governo e votam em alternativas de ultradireita que prometem resolver seus problemas.

A esquerda reformista se apega a esse cenário eleitoral e transforma em derrota todo o processo, promovendo a desmoralização e o desânimo nos/as lutadores/as. Para nós revolucionários, ao contrário dos reformistas, esse cenário abre espaço para o caminho da luta e dos enfrentamentos e para a alternativa revolucionária de solução da crise, que só pode ser a destruição total do sistema capitalista. É essa saída que tem que ser apresentada para as massas que, a cada dia, mostram mais sua disposição de luta, porém não conseguem vislumbrar o caminho para a solução dos seus problemas.

Entretanto, aqui cabe a pergunta: por que cresce a direita ao invés da esquerda?

A crise do reformismo

Os reformistas, organizados nos velhos partidos da socialdemocracia europeia, sempre foram a “esquerda” conhecida pelo movimento de massas, ou seja, os socialistas. Mas esses socialdemocratas nunca tiveram o socialismo como alternativa de sistema econômico e social. O “socialismo” que eles defendem significa conseguir migalhas da burguesia, já que o problema, segundo eles, está na questão da distribuição da riqueza e, por isso, seu objetivo nunca foi destruir o capitalismo, mas torná-lo mais justo.

Enquanto a burguesia vivia períodos de auge econômico e fazia concessões, esses “socialistas” sobreviviam muito bem e contavam com o apoio e os votos dos/as trabalhadores/as para estar à frente dos governos em muitos países europeus. Porém, com a decadência do capitalismo e, consequentemente, suas crises, a burguesia cortou as migalhas e mais, passou a atacar os direitos da classe trabalhadora. Com isso, o movimento dos socialdemocratas foi o de ir abandonando inclusive a bandeira de defesa de uma distribuição mais justa da riqueza.

Como não pretendem enfrentar o sistema e mudar as relações sociais de propriedade, se veem encurralados pela falta de dinheiro, que a cada dia se concentra mais nas mãos da burguesia, e passam a implementar diretamente, a partir dos governos onde estão, os planos de ajuste exigidos pelo imperialismo, fazendo com que os/as trabalhadores/as paguem pela crise.

Foi a partir dessa prática em governos como os da Itália, da França e da Grécia, que o velho reformismo entrou em crise. Na França, por exemplo, o Partido Socialista (PS), que tinha a maioria absoluta no Parlamento e estava na Presidência com François Hollande, iniciou em 2016, a reforma trabalhista que impôs grandes perdas à classe trabalhadora  francesa. Em 2017, o candidato presidencial do PS conseguiu apenas cerca de 6% dos votos. Com isso, Macron, embora representante fiel da burguesia, apareceu como algo novo e foi vitorioso nas eleições, e Marine Le Pen, representante da ultradireita, cresceu em relação a outros anos e disputou o segundo turno com Macron.

Essa crise também chegou aos partidos socialdemocratas de outros países, como Holanda, Suécia e Áustria. Até mesmo na Suécia, a socialdemocracia impôs cortes no estado de bem-estar social dos/as trabalhadores/as para salvar a burguesia e vive hoje uma crise, ainda que permaneça no governo.

No Brasil, aconteceu o mesmo com o PT. Este aproveitou o crescimento econômico no início dos anos 2000, que possibilitou enganar a classe trabalhadora com as migalhas da mesa farta dos ricos, para ganhar as eleições e permanecer no poder sem nenhum enfrentamento contra os exploradores. Quando a conta da crise econômica chegou, o PT passou a ajudar a burguesia a implementar seus planos de ataque à  classe trabalhadora, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro, candidato de ultradireita, nas eleições de 2018.

A crise do velho reformismo abriu um espaço que foi ocupado pelo novo reformismo, através de partidos e movimentos que se apresentam diante das massas como uma nova esquerda. Apesar das diferenças entre eles, de maneira geral foi assim na Grécia com Syriza, na Itália com a Refundação Comunista, na Espanha com o Podemos ou em Portugal com o Bloco de Esquerda. Da mesma forma, no Brasil também surge o novo reformismo com o PSOL.

No entanto, o novo reformismo mantém a mesma estratégia do velho reformismo e rapidamente evolui para a direita, seja aplicando no governo os mesmos planos de ajuste, seja cumprindo no movimento o papel de desmontar as lutas diretas e desviá-las para as eleições. O caso mais emblemático foi a Grécia, onde o Syriza, que no primeiro momento apareceu como uma alternativa para enfrentar o pacote de austeridade imposto pela União Europeia, durou pouco e, ainda que tenha sofrido algumas crises internas, capitulou como o velho e fiel reformismo aos ditames da burguesia.

O exemplo do Syriza mostra que, diferente dos velhos partidos socialdemocratas, o novo reformismo mostra a sua cara mais rapidamente, pois, como não rompe com o capitalismo e não conta com a possibilidade de concessões da burguesia, acaba rapidamente cumprindo o mesmo papel do velho reformismo de ser cúmplice da burguesia e responsável por acabar com as velhas conquistas.

A política dos reformistas, de contenção das mobilizações e desvio destas para a saída eleitoral, de imposição dos planos de ajuste ditados pelo imperialismo sobre a classe trabalhadora e os pobres, dá munição para a ultradireita fazer propaganda de que é a nova alternativa contra a “esquerda” e contra o “socialismo”, que supostamente esses reformistas representam.

Em conclusão, a grande crise econômica provoca a quebra dos velhos equilíbrios que envolviam os países e as classes sociais. É isso que está na base da polarização social que vemos em vários países do mundo. Essa polarização leva à disputa política entre saídas de esquerda e de direita para a situação que vivem os/as trabalhadores/as e o povo pobre. Desgraçadamente, os reformistas, como muleta da burguesia, cumprem o papel de manchar o nome da esquerda e do socialismo, gerando assim o ódio por parte da classe trabalhadora, que, embora nas lutas concretas esteja buscando uma sociedade justa, que só pode ser uma sociedade socialista, passa a desconfiar de todas as agrupações e direções de esquerda, mesmo aquelas que são verdadeiramente revolucionárias. No campo institucional, abrem caminho para a ultradireita, que se aproveita da traição do reformismo para desmoralizar as alternativas de esquerda e se fortalecer eleitoralmente.

E, para completar a traição e não assumir sua culpa, o reformismo e toda a esquerda que o apoia, mesmo com nuances diferentes na posição defendida, coloca a culpa nas massas afirmando que giraram para o conservadorismo reacionário e votam na ultradireita. Quando o movimento de massas começa a lutar contra os ajustes, essa mesma esquerda taxa o movimento de reacionário e vinculado à ultradireita.

Qual é a saída?

É possível derrotar o imperialismo, a burguesia e os planos de ajuste. Mas essa tem que ser a derrota do capitalismo que está podre e não pode resolver os problemas das massas que hoje sofrem com todas as suas mazelas. A desigualdade social crescente não é uma falha do sistema, é parte de sua própria essência. A ultradireita é mais uma de suas armadilhas para desviar a luta direta para as eleições, enganando as massas com a esperança de que as coisas vão mudar.

A derrota do capitalismo e de seus defensores, o velho e o novo reformismo, a ultradireita e as figuras que aparecem como salvadoras da pátria só poderá acontecer na luta direta, nas ruas e colocando o poder sob o controle dos/as trabalhadores/as.

E, diferente do discurso dos reformistas, os/as trabalhadores/as, longe de estarem derrotados ou ganhos por uma ideologia reacionária, estão mostrando que têm disposição, estão lutando nas ruas em vários países, seja naqueles onde governa o neorreformismo, como na Grécia, naqueles onde governa a ultradireita, como na Hungria, ou nos países onde governa o “novo”, como na França.

A Hungria é um exemplo de que os/as trabalhadores/as, embora tenham mantido Orbán, representante da ultradireita desde 2010, como primeiro-ministro, têm disposição de luta. De acordo com a análise da esquerda derrotista, defensora da “onda conservadora”, isso seria impossível, mas na Hungria está havendo uma onda de protestos desde que o governo de Orbán aprovou a chamada “lei da escravidão”. Além disso, Orbán e seu partido, o Fidesz, vêm passando por várias denúncias de corrupção, mostrando que a ultradireita, além de mentir dizendo que vai resolver os problemas do país, não passa de fiel representante dos exploradores e tem suas mãos sujas com a corrupção, junto com toda a burguesia nacional e internacional. Os protestos na Hungria comprovam que a ultradireita serve diretamente aos exploradores e que também encontra resistência quando aplica seus planos.

A França é outro exemplo: mesmo depois de sofrer uma derrota na luta contra a reforma trabalhista em 2017, as manifestações explodiram novamente diante do aumento dos impostos e, desta vez, conseguiram fazer o governo recuar.

O movimento dos coletes amarelos reflete a necessidade de confrontar o poder político, se chocar com o sistema capitalista. Também comprova mais uma vez o papel dos reformistas, representados pela burocracia sindical da Central Geral dos Trabalhadores da França (CGT), que a princípio tachou o movimento de reacionário e vinculado à extrema direita. E mesmo depois que esse argumento foi desmoralizado pela força, reivindicações e radicalização da luta, mantém uma política de isolá-lo e ao mesmo tempo tentar negociar com o governo pelas costas do movimento.

O que as lutas têm mostrado é que as massas, inconformadas com os ataques que estão sofrendo, buscam alternativas, mostram sua criatividade na organização da resistência, conquistam vitórias e sofrem retrocessos, se chocam com suas direções tradicionais, voltam a ser enganados por elas.

Também têm revelado a necessidade de uma direção revolucionária, que possa ajudá-las a encontrar o caminho para o rompimento direto com o capitalismo. É por isso que aos revolucionários não pode faltar disposição e firmeza para o apoio e intervenção nessas lutas, ao mesmo tempo em que devem apresentar alternativas de organização aos ativistas que estão buscando novas referências, pois a organização é imprescindível para que a força e a disposição do movimento não se desvaneçam.

É fundamental para o movimento que organizações como a CSP Conlutas no Brasil ou como o No Austerity na Itália, que se baseiam na democracia operária e no estímulo à luta direta, sejam construídas e apresentadas ao movimento como alternativas. Assim como também é de vida ou morte que partidos revolucionários, que tenham como estratégia a derrota revolucionária do sistema capitalista que é o verdadeiro culpado pelas desgraças que atingem aqueles que trabalham e produzem para o desenvolvimento da sociedade, sejam construídos e fortalecidos para disputar a consciência dos/as trabalhadores/as e ganha-los para a alternativa revolucionária.

Essas organizações revolucionárias, tanto sindicais como políticas, além de combater os responsáveis diretos pelo sistema de exploração em que vivemos, a burguesia, não podem dar um minuto de trégua para o velho ou o novo reformismo e para as burocracias sindicais. Organizações e governos reformistas ou neorreformistas como Geringonça em Portugal, PSOE na Espanha, Syriza na Grécia, PT e PSOL no Brasil ou centrais sindicais burocráticas como a CGT da Espanha ou da França, sob o argumento de que o movimento está derrotado e que estamos vivendo um retrocesso, acabam sustentando o capitalismo e a burguesia, e por isso têm que ser desmascaradas, combatidas e derrotadas.

A tarefa dos verdadeiros revolucionários não é colocar a culpa nas massas, que procuram desesperadamente um caminho para a solução de seus problemas, e sim mostrar que existe alternativa de poder. É disputar a consciência das massas, disputar a direção do movimento e mostrar para esses/as lutadores/as que podemos governar através de nossos próprios organismos. Que podemos construir uma sociedade com um novo regime, onde não haja exploração e onde as decisões sejam tomadas democraticamente pelo povo trabalhador.

 

 

 

 

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