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sexta-feira, março 29, 2024

Quem é responsável pelos atentados em Paris?

O culpado é o Estado Islâmico, uma organização militar ultrarreacionária que utiliza métodos fascistas de terror contra a população dos territórios controlados por eles e que organiza ataques contra pessoas comuns em outros países.

Por: I. Razin

O culpado é Bashar Al-Assad que, bombardeando o povo que se rebelou contra ele, até apagar da face da terra cidades sírias inteiras, criou condições para o crescimento do Estado Islâmico (EI). Assad é condescendente com o EI porque se beneficia da guerra deste contra os rebeldes e, ao mesmo tempo, tem a oportunidade de convencer o imperialismo “para lutar contra o terrorismo”, recuperando assim o apoio político perdido após a explosão da revolução. A coexistência de Assad com o EI chega até os acordos no terreno energético, que permite ao governo obter petróleo e gás natural das jazidas controladas pelo EI no Leste para as centrais elétricas controladas pelo regime no Oeste.

O culpado é Vladimir Putin, cujos aviões bombardeiam principalmente os rebeldes que lutam contra o EI e contra Assad. Com o mesmo objetivo, Putin sempre armou o regime sírio. Caso não conseguisse salvar Assad, o mais provável é que os sírios que lutam contra a ditadura já tivessem acabado com ela e com o EI, que teria poucas possibilidades para se desenvolver até sua situação atual, o que foi possível somente graças ao enfraquecimento da revolução sob os golpes de Assad. Da mesma maneira, o culpado é o regime iraniano que também apoia Assad.

Os culpados são as ditaduras da Arábia Saudita e dos países do Golfo Pérsico, para quem a existência “razoável” do EI dá uma oportunidade para disputarem seus interesses geopolíticos regionais e negociarem com o imperialismo.

O culpado é o governo turco, que aterroriza os curdos que combatem o EI, mas recebem pelas costas as balas do presidente Erdogan, que não tem nenhuma possibilidade de que o genocídio efetuado pelo EI lhe ajude a “resolver” o “problema curdo”.

Os mais responsáveis são os Estados imperialistas ocidentais, incluindo a França, que devastam economicamente e oprimem os povos da África e do Oriente Médio por meio de suas multinacionais, da dívida externa, das intervenções militares e do apoio às ditaduras que garantem a “estabilidade” do controle imperialista, como fizeram com Ben Ali na Tunísia, Mubarak no Egito, Kadafi na Líbia e Assad na Síria, até que os povos destes países não deixassem de se rebelar contra eles. Com tudo isso, os governos imperialistas constroem a base para que esta política retorne a seus próprios países como um bumerangue, atingindo como sempre as pessoas comuns.

Os culpados são os governos de todos os países que discursam hoje sobre a “guerra contra o EI”, mas que nunca se prontificaram a entregar as armas necessárias para aqueles que de fato combatem o EI e a ditadura de Assad: os rebeldes sírios e curdos. Se François Hollande não vendesse armas para a Arábia Saudita, apoiando este regime ultrarreacionário e os lucros dos produtores de armas franceses, mas, pelo contrário, entregasse-as aos rebeldes sírios e curdos, o mais provável é que já não existissem nem o EI nem a ditadura de Assad. Mas os governos imperialistas não fazem isso porque veem o perigo principal não no EI ou em Assad, mas no povo sírio sublevado que, se tivesse acabado com o EI e a ditadura, não iria aceitar o controle imperialista novamente e utilizaria as mesmas armas para defender seu país, o que não é nada conveniente para o imperialismo.

A revolução armada é o menos desejado por Obama, Merkel, Hollande e Putin. Inclusive os bombardeios da aviação norte-americana e francesa contra o EI não só não podem vencê-lo como não têm esta tarefa como objetivo principal. Na atual situação, com a ausência de um aparato burguês alternativo forte, isso só fortaleceria a revolução. Esses bombardeios, de fato, servem apenas para conter o EI. Negando-se a dar armas para os rebeldes, os governos dos grandes países são de fato cúmplices dos crimes cometidos pelo EI e por Assad, que estão bem armados.

Como resultado, nos atentados em Paris, são os franceses comuns que pagam pela política externa e interna de seu governo (e a dos governos anteriores), determinada pelos interesses do capital financeiro francês. Hollande e toda a elite burguesa francesa têm uma responsabilidade direta pela trágica morte das pessoas nas ruas de Paris.

Hoje, todos esses “responsáveis” em todos os sentidos chamam à luta contra o EI, que se desenvolveu por culpa deles. E vão fazê-lo mediante a intensificação e o aprofundamento de sua política, a que sempre aplicaram e que levou à situação atual: as intervenções militares ainda maiores na região, a discriminação ainda mais forte dos muçulmanos e dos imigrantes (que em grande parte fugiram precisamente do EI), o controle policial ainda mais estrito que pode ser eficaz só contra as pessoas comuns e contra a luta social dos trabalhadores, e que serve para manter a dominação sobre eles por parte do capital financeiro e da burocracia. Esta política da “segurança” serve apenas à oligarquia financeira diante do povo que tem um só direito: morrer nos atentados. Com esta política, os governos dos EUA, da UE e da Rússia fertilizam o solo para novos atentados e novos sofrimentos das pessoas humildes na África, no Oriente Médio, bem como em seus próprios países.

Hoje, o governo francês, assim como outros governos, tenta utilizar o choque e o medo da população para unificar, sob a bandeira da “unidade nacional”, as pessoas comuns ao redor da política antioperária e antidemocrática dirigida precisamente contra elas mesmas. A ultradireita se precipita em utilizar o que aconteceu para estimular o conflito entre os trabalhadores de origens diferentes. E o desdobramento deste fato vai depender de que os trabalhadores e as pessoas humildes não caiam nesta armadilha e possam se contrapor a esta política de seus governos e contra a propaganda xenófoba da ultradireita.

Contra a aplicação de novas medidas policiais e contra os ataques aos imigrantes.

Fim das intervenções da França e de todas as potências no Oriente Médio e na África, inclusive pelo fim dos bombardeios na Síria.

Fornecimento de armas pesadas aos rebeldes sírios e curdos necessárias para a vitória sobre o EI e o regime criminoso de Assad.

Ruptura de todas as relações com a ditadura síria e contra os possíveis acordos “de transição política” com ela.

Tradução: Rosângela Botelho

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