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sexta-feira, abril 19, 2024

Que o 21N seja uma verdadeira Greve Geral: democratizar o CNP e unificar as lutas

O dia de protesto de 21 de outubro (21O), apesar de ter sido realizado em meio ao temor de uma segunda onda da pandemia e da estigmatização do governo, levou milhares de pessoas às ruas para protestar contra as medidas que Duque tomou no meio do Estado de Emergência contra a classe trabalhadora. E contra o assassinato de lideranças sociais, a brutalidade policial e os planos de reforma trabalhista, previdenciária e tributária, e pela saúde.

Por: PST-Colômbia
As mobilizações foram convocadas pelo Comitê Nacional de Greve (CNP), impulsionadas por uma greve de 48 horas da Federação Colombiana dos Trabalhadores na Educação (Fecode), uma greve dos trabalhadores do carvão e pela Minga (Mobilização) Indígena, que mobilizaram mais de 8.000 pessoas, do departamento[1] de Cauca, no sudoeste do país até a capital.
Ao final do dia, a mídia destacou seu caráter pacífico, em Bogotá – por exemplo – a passeata terminou no início da tarde e não alterou o sistema de transporte coletivo. Muito menos alterou a agenda do governo, que nesse mesmo dia tramitava o projeto orçamentário no Congresso da República, no qual corta recursos para a saúde e educação, aumenta o orçamento de defesa e pagamento de dívidas e o financiamento via Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Acreditamos que o dia de protesto de 21 de outubro faz parte do processo de aumento da mobilização que vem ocorrendo desde o final do ano anterior, que chamamos de “Greve Nacional”, mas que na realidade foi uma série de mobilizações em que a juventude e os setores populares saíram para enfrentar a crise social e econômica em que se encontra o país, agravada pela pandemia. Com desemprego de mais de 20%, os jovens, que não encontram oportunidades de estudar ou trabalhar, têm sido o setor mais dinâmico e têm protagonizado corajosas mobilizações contra a brutalidade policial, mas também contra os planos do governo em favor dos banqueiros, empresários e proprietários de terras.
A Greve Nacional de 2019 superou CNP
O aumento da mobilização de massas desde o ano passado superou a burocracia sindical, que atuou de forma consciente para desativar esse processo. Em meio a um processo de lutas, no final de 2019 o CNP convoca a Greve Nacional e milhões de pessoas saem às ruas. Mas essas mobilizações não acabaram com os discursos da burocracia sindical e dos parlamentares do reformismo e do progressismo nas praças, mas se estenderam noite adentro com panelaços nos bairros de diferentes cidades e continuaram com os chamados por novas mobilizações.
A Central Unitária de Trabalhadores, CUT, imediatamente tentou ignorar essas manifestações, mas no final teve que se curvar a elas e até abrir um espaço para outros setores além das centrais sindicais no Comitê Nacional de Greve. Mas a intenção dessa burocracia era frear as mobilizações para sentar para negociar com o Governo, que não tinha interesse em fazê-lo.
No início deste ano, após um Encontro Nacional, o CNP se dividiu em dois setores, o CNP do Centro de Convenções que reunia a burocracia sindical e o CNP de La Concha da Universidade Nacional do qual participavam todos os setores excluídos. Mas a pandemia e a decisão de várias organizações de esquerda de se curvarem à burocracia enfraqueceram o CNP de la Concha.
No entanto, os setores populares continuaram lutando dispersos em meio ao confinamento, voltaram a convergir ante o assassinato do estudante de direito Javier Ordóñez por abusos policiais, que gerou uma explosão social em Bogotá que resultou no massacre de 13 jovens pela Polícia Nacional.
Parar para avançar…
Meses após o confinamento, o CNP publica uma pauta de reivindicações de Emergência e se diz disposto a negociar com Duque, na referido pauta não há medidas urgentes para garantir a quarentena ou contra a brutalidade policial, uma das reivindicações mais sentidas da juventude e do movimento estudantil.
Com essa mesma pauta e com o mesmo CNP reduzido às burocracias sindicais foi convocada a Greve Nacional do dia 21 de outubro, que na verdade é um dia de protesto que não afetou a produção e, com a orientação da direção central, nem mesmo parou o transporte nas cidades.
La Minga indígena, que recorreu do sudoeste do país até a capital, o que gerou solidariedade nas populações por onde passou, chegou a Bogotá e voltou no mesmo dia, não só pelo comportamento das lideranças indígenas que sempre optaram por manter suas demandas sem unificar com outros setores, mas sim como um rechaço à burocracia sindical que instrumentaliza as lutas sociais, mas nem mesmo é capaz de reconhecer outros setores nos espaços de direção do CNP.
Fazer do 21N uma verdadeira Greve Geral
Para que o dia 21 de novembro (21N) se transforme em uma Greve Geral, é urgente que o CNP convoque todos os setores para um Encontro Nacional, que as decisões sejam democratizadas e um plano de lutas seja elaborado a partir da base.
A direção da CUT deve entender que apenas 4% da classe trabalhadora é sindicalizada, que a maioria tem vínculo trabalhista precário e que a reconstrução do movimento sindical envolve campanha de filiação aos terceirizados e combate às reformas trabalhistas que são propostas pelas associações empresariais e financeiras com o consentimento do governo de Duque.
Por isso, é preciso democratizar o CNP, incluir setores desorganizados da classe trabalhadora, setores populares, jovens, o movimento de mulheres e LGBT, os camponeses, a Minga indígena, as comunidades afro que lutam por seus territórios.
A pauta de Emergência deve incluir demandas fundamentais como a luta contra os massacres, os assassinatos de lideranças sociais e a brutalidade policial, que envolve o desmantelamento do Esquadrão Móvel de Combate a Distúrbios (ESMAD) e de grupos paramilitares, e não se limitar à pandemia.
A Greve Geral deve parar a produção e ter caráter indefinido, as lutas devem ser unificadas e dar continuidade, sabendo que o governo criminoso de Duque não vai deter seus planos e massacres com um fraco dia de protesto, como tem sido proposto a partir do Bloco pela Greve Indefinida e da Coordenadora Nacional Sindical, Social e Popular.
[1] Divisão político administrativa na Colômbia
Tradução: Lena Souza

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